Kingdom Come — Interactive escrita por Ártemis


Capítulo 5
Capítulo 4 ▬ Corações Divergentes


Notas iniciais do capítulo

Feliz Natal ♥



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12/07, 00:20 — Praia do Golfo, Clermont.

Recebeu a mensagem  cerca de dez minutos após o término do Jornal Oficial. Não foi uma surpresa, ela imaginou que os superiores entrariam em contato quando a Seleção foi anunciada. 

“Reunião urgente às 00:30 no porão para deliberar sobre o concurso.

Eram poucos os cidadãos de Clermont que faziam parte do Rerum Novarum, popularmente conhecidos como “rebeldes”. O RN era um grupo que lutava pela abolição das castas, o fim do absolutismo monárquico e os privilégios das pessoas de castas mais altas. Apesar de todos os boatos, os revolucionários, como se autodenominavam, buscavam atingir seus objetivos sem o uso da violência e o derramamento de sangue inocente. Reuniões eram realizadas de tempos em tempos para discutir a situação atual de Illéa, e em possíveis soluções para os problemas. Há anos que tentavam encontrar uma maneira de iniciar uma revolução pacífica. 

       Rosie suspirou e apressou o passo, já havia passado o horário do toque de recolher e a rua estava deserta. 

A Praia do Golfo estava localizada na região mais pobre de Clermont, a polícia não se incomodava em fazer a ronda noturna por lá. Era o local perfeito para encontros secretos do RN. A reunião seria no local de sempre, “o porão”, como foi apelidada a casa no fim da rua.

Ao chegar, deu cinco batidas seguidas na porta. Sabendo que estava sendo vigiada através da câmera instalada no olho mágico, limpou a garganta e proferiu a senha:

— Acabou o combustível. 

A porta se abriu e Rosie entrou, fechando-a em seguida. 

Todos estavam reunidos na sala, aguardando-na. Havia cerca de vinte cadeiras distribuídas em torno de uma mesa grande e redonda no centro, onde Jeff, um senhor de estatura mediana e cabelos grisalhos, indicou um lugar vago ao seu lado. Rosie se sentou e comprimentou as pessoas ao seu redor, a maioria eram jovens de sua idade, mas os mais velhos também se faziam presentes.

— Bem, agora podemos iniciar a reunião. — proferiu Jeff, em voz alta. — Como bem sabem, uma Seleção foi anunciada. Não sabemos ao certo o quê o rei Arthur pretende ao organizar este evento. A única certeza que temos, é que ele não pretende apenas simplesmente dar aos filhos a oportunidade de escolher uma noiva. Nós, Anciãos, acreditamos que seja uma estratégia política para evitar um golpe.

Bem como Rosie havia suspeitado. Os boatos de que um herdeiro de Gregory Illéa ainda era vivo corriam por todo o país, as pessoas duvidavam muito da veracidade do boato, mas o passavam adiante. Ela era uma das pessoas que acreditavam em quase tudo, se Arthur Ryeo negava algo ou se mantinha calado, era um motivo suficiente para acreditar.

— Não iremos obrigá-las, é claro. Mas é de total importância que se inscrevam na Seleção, precisamos do maior número de jovens infiltradas no palácio. —  Jeff continuou, observando cada garota na sala. — A missão de vocês será simples, apenas observar e relatar tudo o que ocorre por lá.

— Senhor, como iremos relatar a missão? — questionou uma jovem de cabelos castanhos. — Todas as cartas e telefonemas serão interceptados pelos guardas. Certo? 

— Há guardas infiltrados, Lenier.  — Rosie respondeu por Jeff. Lenier estreitou os olhos e a ignorou, olhando para Jeff que confirmou com a cabeça.

Rosie suspirou, era tão difícil lidar com as pessoas que entravam para o RN há pouco tempo, pois apenas respeitavam a palavra dos Anciãos, homens e mulheres de idade avançada que lideravam o grupo. Eles, os jovens, não eram nada perto das pessoas que já haviam visto Illéa nascer e morrer diversas vezes. Contudo, Rosamée tinha suas divergências com a liderança, pois odiava receber ordens diretas. Ninguém nunca era obrigado a nada, claro. Essa era apenas uma forma dos jovens pensarem que tinham algum tipo de controle sobre a própria vida. Porém, os integrantes do grupo buscavam nos Anciões um propósito, algo para lutar e seguir. 

Ela estava farta das mentiras contadas, o falso moralismo, a desculpa de que tudo seria para um bem maior. Arthur Ryeo, vossa majestade, era um ditador corrupto que governava sobre uma constituição cesarista, calcada em princípios religiosos que a própria família real adorava ignorar.

O Rerum Novarum há anos se reunia para tentar fazer de Iléa um lugar melhor, estava mais do que na hora de começar a agir.  Apesar de todos os conflitos internos que tinha com o grupo, Rosie estava mais do que ansiosa para se inscrever na Seleção. Era a oportunidade perfeita, não poderia ser desperdiçada. Afinal, ela também queria brincar de ser da realeza, quem sabe rainha.

Rosamée tinha medo de admitir para si mesma que, talvez o real motivo para se inscrever não fosse o “bem maior ou o desejo de mudança”. Talvez fosse a simples vontade de tudo ser imprevisível, o concurso, as pessoas, os dilemas e o seu coração.


14/07, 14:30 — Studio Sanny Righetto, Likely.

— A coroa é sua, xuxu. — gritou Sanny, com a câmera na mão. — Dê o sorriso de rainha, Made!

Madelyn sorriu, mas não com um sorriso de rainha. Foi o seu sorriso, discreto e sexy.

O seu cabelo estava solto, ondulado e cheio de laquê, a tintura preta estava desbotando, deixando a vista as queridas mechas castanhas. Ela teria que retocar em breve, não havia nada em seu contrato com a Chauffé que a obrigava a pintar o cabelo de preto, mas a marca já havia jogado indiretas e Madelyn não via problemas. 

A maquiagem trabalhada no preto destacava seus olhos azuis cristalinos, contrastando com as delicadas rendas creme de sua lingerie. O look escolhido era uma representação de si mesma, misturando a inocência e a sensualidade.

Ela fazia poses, sentada em um banco branco, e sorria. As fotos eram para uma matéria da revista Lurie, que faria um especial com todas as celebridades que haviam se inscrito na Seleção. Madelyn não havia entendido muito bem o motivo, pois a inscrição são significava aprovação. Porém, segundo Bernard, seu agente, a matéria era apenas uma forma de todos se auto promoverem socialmente.

Madelyn não ficaria de fora, mas não ficaria mesmo.

—  Cruze as pernas e levante o pé direito. — indicou Sanny. — Agora, nada de sorrisos. Quero o carão, Made!

— É o que todos querem. — comentou antes de mais fotos serem tiradas.

As luzes, o cenário, as pessoas no estúdio, ela amava cada detalhe. Gostava da atenção, dos flashes e o fato de ter cada movimento registrado por uma camêra. 

Concluindo a sessão, vestiu um robe de seda preto e subiu as escadas até o escritório de Sanny. Abriu a porta e juntou-se a Bernard, que estava jogado em uma poltrona do estúdio, lendo uma revista qualquer, completamente entediado.

— Cadê a animação, Bernard? Vamos tirar férias, isso não é ótimo?

O homem apenas revirou os olhos e jogou a revista em Madelyn.

— Você vai passar uma temporada no palácio, enquanto curte as mordomias e nada mais. Eu terei que resolver os pepinos de contratos quebrados. — disse de forma dramática.

— Estarei vivendo a minha vida de princesa, Bernard. — deu de ombros.

Bernard a encarou por cinco segundos antes de revirar os olhos. Estavam juntos há cinco anos, desde que ela decidiu que a vida de atriz não era para si. Madelyn havia iniciado a carreira cedo, cantando, sendo modelo mirim e o rosto de diversas campanhas publicitárias de roupas infantis. Havia conseguido o seu primeiro e único grande papel, para o seu azar, na série infanto-juvenil mais chata da história, Caramelo Encantado. Devido ao sucesso da série, Madelyn buscou sua independência financeira aos quinze anos, quando decidiu se emancipar. Seus pais não viram problema, mas levaram a independência da filha muito a sério. Afinal, se ela queria ser independente, que fosse independente.

Mas, com a ajuda de Bernard, ela havia se tornado uma das modelos mais famosas do país ao assinar um contrato milionário com a maior marca de lingerie e produtos de beleza do mundo.

Era grata a Bernard por tudo, principalmente por cuidar de sua vida profissional e pessoal. Ele era honesto e sincero, muito sincero e, nos últimos três dias, não fazia questão de esconder o quão desapontado havia ficado por Madelyn ter feito a sua inscrição na Seleção sem antes consultá-lo. 

É claro que ela tinha omitido fatos importantes no formulário, como não ser mais virgem.

 — Já soube que sua amiga Chanel também está tentando a sorte? Acha que ela também quer “brincar” de ser princesa, Made? — o homem comentou, quebrando o silêncio.  

— Aquela vadia não tinha ido embora de Illéa para sempre? — respondeu irritada, levantando a voz. — Eu odeio aquela garota, ela fez um verdadeiro favor à todos ao quebrar o contrato com a Chauffé para desfilar nos confins da Itália. 

Bernard soltou uma gargalhada, o que levou a garota a fechar a cara e bufar de ódio. Madelyn e Chanel eram, segundo Bernard, inimigas mais que declaradas.

— Seria incrível se vocês fossem passar uma temporada no castelo juntas, vivendo a vida de princesa que merecem. 

— Cale a boca, idiota. Que o Criador não permita que Chanel Giusti seja uma selecionada.

— Do que estão falando? — perguntou Sanny, entrando na sala e entregando um tablet para Madelyn analisar as fotos.

Bernard respondeu algo sobre Chanel, enquanto Made preferiu ignorar a conversa paralela, concentrando-se em suas fotos. Sem dúvidas, as poses sensuais com o sorriso sedutor eram as melhores, Sanny conseguia capturar o melhor ângulo de seu rosto. Ela própria iria escolher as fotos que Bernard encaminharia para a Lurie, gostava de ter controle sobre o material que apresentava, afinal, era a sua imagem sendo negociada.


14/07, 17:10 — Parque do Pequeno Pássaro, Paloma.

Paloma era uma das províncias industriais de Illéa. Há quase cinquenta anos atrás era quase impossível respirar um ar totalmente puro, sempre haveria um pouco de poluentes tóxicos que as fábricas de automóveis e as refinarias de petróleo soltavam na natureza.

As políticas dos antecessores de Arthur Ryeo ajudaram a melhorar a qualidade de vida das pessoas que moravam na região. Hoje, Paloma tinha um setor de preservação de reconstrução da natureza, que permitia aos moradores da região buscar paz e tranquilidade, em meio a poluição.

O parque do Pequeno Pássaro era uma área pequena, com muitas árvores e plantas. ArLynn sonhava em viver em um lugar como o parque, repleto de verde e paz. 

A disparidade social em Paloma era visivelmente alta, existiam as pessoas de casta mais baixa que trabalhavam a vida toda diretamente expostas a resíduos poluentes, e as pessoas de casta alta com expectativa de vida superior. Seu pai era um advogado de sucesso, tendo como clientes quase todos os grandes empresários da província.

Sentada debaixo de uma sombra de uma árvore, ArLynn se sentia inspirada perto da natureza, sua imaginação a levava para outros mundos, lugares que ela sonhava em conhecer e morar. 

ArLynn Mackenzie era uma escritora de sucesso, escreveu o primeiro livro  quando tinha apenas doze anos de idade, publicando-o aos dezessete anos. O drama de uma jovem depressiva, nomeado Sem Alma, tornou Lynn conhecida na província de Paloma como autora revelação, infelizmente não obteve sucesso semelhante nacionalmente.

Fechou os olhos e imaginou os corredores de um palácio, com janelas que iam do chão ao teto e com cortinas bordadas a mão. Idealizou um jovem alto, de cabelos castanho escuro, olhar misterioso e sedutor, ao seu lado estava uma garota loira, baixa e magra, que o olhava completamente apaixonada.

Pegou uma caneta e um pequeno bloco de anotações da bolsa, começou a anotar as ideias antes que esquecesse os detalhes.

Essa seria a premissa de seu novo livro, um romance ambientado em um gigantesco palácio. A ideia havia surgido após o anúncio da Seleção. A jovem tivera um sonho estranho que, em sua opinião, era muito, muito estranho. Sonhou que Daniel Ryeo a escolhia para ser sua princesa e futura rainha no Jornal Oficial, em seguida, ele a beijava apaixonadamente e apertava o seu corpo contra o seu.

Ela não estava a acostumada a escrever romances. Contudo, o sonho a havia marcado de uma forma inexplicável, a imagem de Daniel permanecia viva em sua mente, pois nunca havia imaginado a si própria ao lado do monarca. Era um sinal, ela precisava escrever sobre uma garota que se apaixonava por um príncipe e vivam juntos uma linda história de amor.

Mas o que ArLynn entendia de amor verdadeiro? Nada.

Suspirou cansada e decidiu que era hora de voltar para casa. Guardou suas anotações de volta na bolsa e se levantou, pegou a bicicleta que estava encostada na árvore e a empurrou até uma estradinha de terra.

ArLynn estava certa de que a Seleção era uma excelente oportunidade de adquirir novas informações para seu próximo livro, apenas um mês vivendo como selecionada seria suficiente, ela só precisava estar no palácio para que novas ideias surgissem em sua mente.

15/07, 23:57 Palácio de Illéa, Angeles.

O Rei Arthur lia atentamente a ficha da jovem selecionada por seu Ministro de Estado. Ela era simplesmente perfeita, tinha tudo o que uma princesa ideal deveria ter: boa aparência; talentos admiráveis; personalidade doce e amável, querida por quase todos os jovens de Illéa; serenidade e o fato de ser considerada silenciosa.

Ernest Bennet o encarava com um olhar repleto de expectativas. 

— Fez um ótimo trabalho, Bennet. — pronunciou-se, deixando a ficha sobre a mesa. — Dalgliesh se encantará muito fácil e, caso a escolha, o tornarei sucessor legítimo ao trono oficialmente.

— Entendo, percebo o grande esforço para treinar o jovem Dalgliesh para assumir o trono. Não pretende manter Daniel como Príncipe-Herdeiro, majestade? 

— Ainda não me decidi totalmente. O moleque está me dando muita dor de cabeça, dando-me certeza de que não seja realmente digno da coroa e dos privilégios que possui. — respondeu de forma indiferente. — Pretendo propor um acordo que, caso aceito, poderá mudar a minha opinião sobre o assunto. Até lá, mantenho Dalgliesh como favorito.

Arthur suspirou cansado, sentindo-se muito à vontade perto do Ministro.

Bennet concordou com a cabeça, tentando imaginar o que o Rei tinha em mente. Contudo, não era o momento de pressioná-lo a falar.

Outro assunto pairava sobre si. Pigarreou, preparando-se para questionar o que mais tirava-lhe o sono nos últimos dias.

— Perdoe-me pela intromissão, Majestade. Mas preciso saber, o que aconteceria se Daniel se interessar pela senhorita?

O monarca o encarou por alguns segundos, perguntando-se onde o ministro estaria com cabeça. Um sorriso discreto surgiu em seus lábios, transformando-se em uma gargalhada estrondosa. Arthur Ryeo ria como se o Ministro tivesse contado a piada mais engraçada do mundo.

— Meu caro, acredita mesmo que Daniel irá se interessar por alguém na Seleção? — disse, quase chorando de rir. — Conheço-o muito bem, Bennet! Ele apenas escolherá uma garota qualquer, aquela que o incomodar menos. Além disso, a diferença de idade entre o moloque e a garota escolhida é grande.

Ernest Bennet se juntou ao rei com risadas calorosas. Ele conhecia a  grande satisfação que o homem tinha de criticar o filho mais velho, aproveitando-se da oportunidade para comentar comentando o quanto Daniel Ryeo havia sido irresponsável com o casamento em Atlin.

Era o braço direito de Arthur há anos, desde que o mesmo fora coroado Rei de Illéa. Seu sucesso era exclusivamente devido ao fato de ser uma das poucas pessoas que sabia como lidar com o monarca.

Havia prometido ao Rei que encontraria uma moça perfeita para desempenhar o papel de Futura Rainha de Illéa. Era uma mentira, é claro, pois não precisou procurar em lugar algum. Ele mesmo havia preenchido a ficha de seleção da neta e a persuadido a enviar ao Posto da Província, para que as pessoas soubessem de sua inscrição. O Ministro sabia muito bem que uma Seleção não estava nos planos da jovem, pois se dependesse dela, continuaria vivendo sua vida tranquila, longe dos jornalistas e da fama, desfrutando dos privilégios concedidos por ser simplesmente quem era. Contudo, fora tão fácil manipulá-la, fazendo-a acreditar que era o certo a ser feito.

Bennet amava muito a neta e reconhecia que não era certo envolvê-la, nestas circunstâncias, em suas artimanhas. Um dia, o Criador o perdoaria pelas diversas mentiras contadas à ela. Todavia, já havia conquistado muito na vida e estava ansioso por mais.


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Notas finais do capítulo

Fim da Fase 1.

Capítulo betado por Isnandss (Fuck Designs)

Alguém ainda acompanha essa fanfic? hahaha
Galera, dei uma leve sumida (autora sendo irônica) por um motivo: faculdade.
Finalmente consegui conciliar as minhas obrigações e, agora que estou de férias, tenho escrito bastante.
Fiquei com vontade de iniciar uma nova fanfic interativa de A Seleção, com menos personagens e tals. Contudo, KC é meu amorzinho lindo e eu não conseguiria iniciar um novo projeto e não ficar com peso na consciência hahaha.

Beijinhos, comentários são mais que bem-vindos! ♥



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