Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 24
Quem é Dagmar?




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    Os testes acabaram. E depois de uma manhã cheia de surpresas, Victoria decide que é hora de dar uma folga para as crianças. Ela começa a designar tarefas para sua equipe.

—Bem pessoal, acho que está na hora do almoço.

—Acho que já passou da hora do almoço. - reforça Mark - Aconteceram muitos imprevistos que acabaram prolongando os testes, principalmente com aquele garoto lá do fundo.  

—Nem me fale! - diz Victoria. - Mas apesar de tudo, acho que nos saímos bem. Flora, querida, cuide do baú com os pergaminhos. Leve-o para a Diretoria que depois lhe ajudo a organizá-los.

—Está bem! - responde Flora, com um sorriso.

—Hilda, cuide dos dormitórios. Já liberei aquela ala do castelo.

—Certo! Apesar de que não terei muito trabalho com a quantidade de alunos matriculados esse ano.

—São poucos, mas nem por isso deixaremos de cuidar deles. Vamos dar-lhes tudo que a alta qualidade e excelência dessa entidade de ensino lhes possa oferecer. Antes de irmos para o refeitório, passaremos pela Sala de Exposição.

—Sala de Exposição? - pergunta Mark, com certo receio na voz.

—É, Mark! Vou aproveitar que a sala fica no caminho para o refeitório e já lhes mostro esse recinto. Aliás, preciso de sua ajuda. Dividiremos o grupo para irmos mais rápido. Não ficaremos muito tempo por lá, só diremos o que eles precisam saber.

      Mark responde com um aceno afirmativo da cabeça. Ele sabe que a Sala de exposição está uma bagunça depois que ele e os garotos passaram por lá. Preocupado, ele pensa em uma maneira de retorna e arrumar a sala sem que Victoria e as outras professoras desconfiem. Além dos professores, outras conversas paralelas se iniciam. Os alunos deixam seus acentos e passeiam pela sala. A maioria comenta sobre os testes, enquanto outros procuram conhecer melhor os novos alunos. Serena sai de seu assento e passa por Nicolas, sem olhar para o garoto. Nicolas permanece inerte e de cara amarrada também não olha para Serena diretamente. Lucius decide acompanhá-la e para não ficar sozinho, Nicolas acaba indo atrás dele. Mas Serena não vai muito longe. Os garotos vêem várias pessoas cercar a menina, até Ricardo está entre elas.

—Ora, ora... Mas quanta diferença, hein? - diz Michelle, fitando Serena de cima a baixo. - E pensar que a primeira vez que a vi achei que você fosse um menino. Agora você é uma de nós, Serena. Uma futura feiticeira...

—Não esperaria menos de uma parenta de Dagmar - diz Munique.

—Mas o que fez é pouco para dizer se é tão forte quanto Dagmar - contradiz Paula.

—Desafiá-la nos combates será como lutar contra Dagmar - comenta Anna, o que deixa algumas crianças animadas.

—Será mesmo? - contesta Margot. - Acho que vocês estão elevando demais o potencial dessa garota.

—Margot tem razão, mas quem sabe um dia suas chamas sejam tão poderosas quanto às de Dagmar. - diz Ricardo, se aproximando dela. - Para começar, que tal conviver com as pessoas certas?

      Nicolas e Lucius apenas assistem, em silêncio, a conversa de Serena com os outros. Era como se eles não estivessem ali. Serena é o centro das atenções naquele momento. Mas a garota se sente confusa.

—Gente... Er... Será que alguém pode me dizer quem é Dagmar?

     Imediatamente se faz um inesperado silêncio. Todos se surpreendem.

—Há! Como assim ‘quem é Dagmar?’ - diz Clara, perplexa.

—Ela não sabe quem é Dagmar Fitcher. - afirma Sidney.

—A garota está mais perdida do que eu supunha. Ela não sabe quem é a própria tia. - diz John.

—Deve estar de brincadeira, não é? - desconfia Allison.

—Você tem certeza que não conhece Dagmar? - pergunta Carl.

     Serena olha para os rostos deles, que esperam uma resposta sua. Nervosa, ela sorri e abaixa a cabeça, pensativa, mas logo a levanta.

—Tenho certeza... Bem, eu já ouvi falar desse nome. E até já vi essa pessoa... Uma vez. Ela estava junto com a mãe de Ricardo.

       Novamente todos se surpreendem e olham para Ricardo. Agora é a vez de ele dar uma explicação. O garoto faz uma expressão de espanto, mas depois se recupera.

—Com a minha mãe? Mas que absurdo você está dizendo, garota! Quando foi isso?

—No dia em que a minha mãe morreu. - responde Serena, de maneira fria.

        Um silêncio toma conta do grupo outra vez. Após alguns segundos, Ricardo rebate as desconfianças.

—Impossível! O que você quer com essa conversa, garota? Difamar minha família? Minha mãe jamais se uniria a uma família de criminosas.

—A minha mãe não era uma criminosa.

—Era sim, senão teria vindo com você até o castelo. Não é mesmo? - continua Ricardo, fazendo Serena se calar. - Tem certeza que era minha mãe? Você viu o rosto dela?

—Ela não conhece sua mãe, Ricardo. - lhe diz Sidney.

—Mas com certeza ela a viu quando estávamos no muro, não é?

—Na verdade... Naquele dia as mulheres que eu vi estavam usando véus, mas uma falou com a outra pelo nome e eu me lembro bem, disseram Sra. Beker e Dagmar.

      Parece que a dúvida tomou conta do pensamento das crianças naquele momento. E em meio aos olhares desconfiados, Nicolas finalmente abre a boca.

—E o que isso importa! Ela era pequena e vocês querem que ela descreva as mulheres em detalhes. Eu ouvi na taverna que seu pai autorizou a execução da mãe dela. Vai dizer que ninguém de sua família esteve presente naquele dia?

—Bem... Eu não me lembro se meus pais saíram ou não nesse dia, já faz muito tempo. - responde Ricardo. - Espera! Você disse ‘taverna’?

—Minha nossa, o garoto mora em uma taverna. Isso explica muita coisa. - diz David, olhando com desprezo para Nicolas.

—E vamos ter que conviver com esse tipo de gente durante um ano. - lamenta Alice.

—Bem... Com certeza sua mãe teve bons motivos para não falar de sua tia para você. - diz Carl para Serena. - Quem sabe, quando ver o quadro dela, talvez se lembre de alguma coisa.

—Quadro? - pergunta Lucius, que de imediato troca olhares com Nicolas. Eles se lembram da sala cheia de quadros na parede por onde passaram e que agora estavam no chão, junto com outras coisas que eles deixaram cair... por acidente.

—Sim! Não ouviu a professora falar que quando os testes acabassem iríamos para a Sala de Exposição? - relembra Anna.

       Assim como Lucius, Nicolas também está preocupado com o estado em que deixaram a Sala de Exposição. Não foi reprovado no teste, mas com certeza isso poderia lhe causar uma expulsão. E o pior, Lucius também será prejudicado. Ele pensa em uma maneira de convencer os outros para que façam Victoria mudar de ideia.

—Droga, outra sala? Essa mulher quer nos matar de fome? Vocês também estão com fome... Não é?

—Muita! - diz Bertha.

—E você pretende almoçar nesse estado? - pergunta Clara.

—Pede para a professora ti limpar, como fez com seus amigos. - sugere Margot.

—De jeito nenhum - contesta Nicolas. - Nada de magia, prefiro fazer da maneira tradicional.

—Eu é que não vou sentar perto dele. - diz Alice discretamente para Munique, que parece ter a mesma opinião.

       As conversas paralelas se multiplicam, o que faz com que o assunto entre Serena e Ricardo se torne irrelevante. Menos para a garota, é claro. Ela tenta recomeçar a conversa com o garoto, mas eles são interrompidos pelo professor Mark.

—Com licença, crianças! - ele abre caminho até Lucius e Nicolas. – Vocês dois... Comigo!

       A presença repentina do professor levando os garotos para um canto da sala para terem uma conversa particular se torna o novo tema para o bate-papo das crianças. E Serena percebe que aquele não será o momento para uma conversa franca com Ricardo. Ela terá suas respostas, de um jeito ou de outro. Isso não foi uma desistência, apenas um adiamento. Mark coloca suas mãos nos ombros de Lucius e Nicolas e inclina seu corpo para que eles possam ouvir melhor seu plano.

—Meninos! Vocês sabem o que fizeram na Sala de Exposição, não é? Então não vou me alongar muito. Temos que dar um jeito naquela bagunça antes que Victoria veja o que sobrou da sala.

—Ei, nós só fizemos aquilo porque o senhor estava atrás da gente, né! - diz Nicolas.

—Não vai dar para arrumar tudo em tão pouco tempo. - se justifica Lucius.

—A arrumação deixa comigo, só preciso que vocês atrasem Victoria por alguns minutos. Senão... Bem, eu vou levar uma baita bronca. Talvez ela me dê tarefas extras... E quanto a vocês, podem até serem expulsos. Vocês têm mais a perder do que eu. Só peço que me ajudem a ganhar tempo. Posso contar com vocês?

     Se dependesse de Nicolas o professor Mark estaria em apuros, mas ele pensa em Lucius e acha que não lhe seria justo uma expulsão. Órfão, provavelmente teria o mesmo destino que Gabrielle e seus irmãos, enquanto que ele voltaria para a taverna. E as palavras de Serena sobre aqueles que estão naquele lugar e buscam um futuro melhor o faz mudar de ideia.

—Tá, tá, tá bom! E como a gente vai...

—Ok! - diz Mark, que deixa Nicolas e se apressa em chegar até a próxima sala.

—Ei? Mas que sujeitinho miserável. - reclama Nicolas, que se vira para Lucius. - E agora? Como é que a gente vai parar...

      Não dá tempo de planejarem nada. Nicolas vira o rosto e vê Victoria bem à sua frente, com várias crianças acompanhando a diretora.

—Vocês! Juntem-se aos outros e vamos para a Sala de Exposição. - ordena a diretora. Mas assim que ela tenta prosseguir mais um passo Nicolas estende o braço a sua frente, pedindo para parar.

—Espera, espera...

     A diretora para e os que a acompanham também. Ela lança um olhar de reprovação para ele.

—O que foi garoto?

—Não... É que... - Nicolas faz uma careta de choro - A nãooo... Mais outra sala? Quando é que nós vamos comer? Tenha dó da gente, Diretora Victoria. Estou morrendo de fome...

    Mesmo tendo sido educado, Victoria não se deixa abater pelas lamúrias de Nicolas.

—Não vamos nos demorar na Sala de Exposição. Além do que é caminho para irmos até o refeitório.

      Victoria passa por ele e Lucius e segue, saindo da Sala de Aptidão e adentrando o corredor. Nicolas corre atrás dela, seguido de Lucius, e assim que a diretora entra no corredor principal ele novamente se interpõe em seu caminho.

—Espera! Tem uma coisa que eu quero saber...

—O que é agora? - diz a diretora, começando a ficar irritada.

    As crianças trocam olhares também sem entender a insistência daquele garoto. Serena se preocupa, pois Nicolas está se arriscando muito perturbando a diretora desse jeito. Com certeza em algum momento ela vai estourar e tomar uma atitude mais severa. Nicolas se mostra nervoso, mas consegue se expressar.

—É que eu estive pensando... Você disse que a Professora Flora é a professora mais antiga. Então por que você é a diretora da escola e não ela?

     Por incrível que pareça a pergunta de Nicolas faz sentido para algumas crianças, que se mostram curiosas. Victoria o encara pensativa por alguns segundos, e logo dá sua resposta.

—Isso é um assunto interno da instituição e não seu. Não tem nada a ver com idade. Quantos anos acha que eu tenho?

—Todos. - responde Nicolas, sem pensar.

—Insolente! Mas eu não o culpo, pois é típico da sua idade: a ‘aborrecência’. - diz a diretora, em tom de ironia. - Você está na fase entre o ‘acho que não sou mais criança’ e ‘pareço adulto, só que não’.

—E eu acho que a senhora está na fase entre o ‘já morreu’ e o ‘esqueceram de enterrar’.

     Victoria encara o garoto com fúria nos olhos, o que o deixa assustado, mas ela decide não prolongar a conversa e lhe dá as costas. Com passadas firmes, quase batendo os pés no chão, ela e as crianças seguem pelo corredor. Nicolas olha para Lucius.

—Me ajuda... Faz alguma coisa.

—Err... Bruxa! - solta Lucius, de maneira espontânea.

       Nicolas fica apavorado. Sabe que chamar a diretora desse nome a faz sair de seu juízo. Mas Lucius consegue fazer Victoria parar, assim como todos que a acompanham. Lentamente a diretora vira-se para Nicolas, com um olhar fulminante. O garoto só tem tempo de apontar o indicador direito para Lucius, na esperança da diretora acreditar nele dessa vez. Mas seu intento, mesmo sendo verdade, foi em vão. Com passos firmes, Victoria caminha em sua direção...


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