Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 23
Agindo como uma feiticeira.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/714864/chapter/23

        Serena a observa, assustada. Depois do que passou e de tudo que fez para chegar até ali seus esforços pareciam ter sido inúteis. Victoria gira o braço da garota, examinando a palma da mão. A platéia fica em silêncio. Lucius está surpreso e receoso e Nicolas sente uma fúria incontrolável crescer de repente dentro de si. O garoto não se contém diante de tamanha injustiça.

—Ei! O QUE É QUE ESSA BRUXA TÁ FAZENDO? - grita Nicolas, o que chama a atenção de todos. Rapidamente ele se levanta e sobe na cadeira - ISSO NÃO VALE! Mulherzinha miserável atrapalhou a Serena! O que é isso, minha gente? Vocês também viram. Ela atrapalhou o teste da Serena DE PROPÓSITO que EU vi! QUÉ QUE ESSA MULHER TÁ PENSANDO, HEIN? HEIN? A Serena ia fazer o negócio lá e a outra atrapalhou sem mais nem menos, todo mundo viu! Tá pensando o quê? Aí como é que quer que a gente passe no teste? NÃO! Assim não pode, assim não vale, assim não dá...

        Os professores trocam olhares, mais preocupados com a reação da diretora do que com as reclamações de Nicolas, que ora grita, ora fala, ora bate os braços na lateral do corpo, ora aponta para Victoria e volta a falar... Victoria começa a ficar com uma expressão nervosa. E não era para menos, novamente aquele garoto a chama de bruxa.

—Grrr... Eu ainda vou acabar matando esse garoto insuportável!— mesmo falando em voz baixa, Victoria percebe que Serena, bem a sua frente, a escutou - Me desculpe, eu falei sem pensar...

—Tudo bem, Diretora, mas será que a senhora poderia soltar meu braço?

—Oh, sim... Claro! - diz Victoria, que inconscientemente apertava o braço da garota na medida em que sua ira crescia.

—...E ela fica fazendo pressão em todos os teste, querendo reprovar a gente de propósito que EU sei! Como é que alguém passa no teste assim, hein? Me diz, como, COMO?

—Silêncio, Nicolas! - ordena Victoria, se recompondo - Eu não atrapalhei o teste de Serena por querer, eu o interrompi porque ela estava fazendo o feitiço de maneira errada, ia acabar se queimando ou poderia acontecer coisa pior. Ninguém aqui está querendo prejudicá-los ou algo do tipo e a única coisa que podem reprová-los no teste é sua própria falta de capacidade de manifestar a magia.

—Ah é? E quem me garante isso?

—Eu garanto, lhe dou a minha palavra.

        Por um breve momento parece que a discussão havia terminado. Nicolas e Victoria trocam olhares, ele desconfiado e ela se contendo, contando até dez mentalmente. Serena toca no braço da diretora e a chama para uma conversa particular.

—Por favor, Diretora Victoria! Se o que eu estava fazendo era errado, me ajude a corrigi-lo. Não dê importância ao Nicolas, não o leve tão a sério.

—É que às vezes eu acho que o dom desse garoto é nos fazer perder a paciência.

—Eu entendo, mas é o jeito dele. Tudo para ele é novidade e por isso o assusta tanto. Ele desconhecia o mundo da magia e o que aprendeu foi por experiência própria e o que ouviu dos comuns. Ou seja, ele não se aceita como um feiticeiro porque só conheceu o que há de ruim no mundo da magia, graças às estórias dos humanos. E qualquer coisa que a senhora fizer contra ele só fortalecerá essa crença negativa do que ele acha que somos. Esse jeito agressivo é uma forma de se defender, mas eu sei que ele é uma boa pessoa...

—Hum... Você falando assim, parece sua mãe.

        Esse comentário traz à mente da jovem a imagem de sua mãe. E parece que Victoria também via a mesma imagem. As duas se olham por um instante e com um leve sorriso Victoria decide ajudá-la. Os outros professores se sentem aliviados que pela lembrança de Silvia Fitcher a diretora acabou desviando a atenção de Nicolas, que volta a se acomodar na cadeira. Serena novamente se posiciona de frente para a mesa. Concentrada, ela olha para o móvel e coloca a mão esquerda próxima a boca, dedo indicador esticado e os outros curvos, pareciam formar um ‘zero’, mas apenas o dedo médio toca o polegar, formando um círculo. De repente ela aponta o dedo para a mesa ao mesmo tempo em que pronuncia o feitiço.

—Inflamarium! - pronuncia Serena.

         Um brilho avermelhado cobre repentinamente seu braço e chamas de um amarelo vivo saem da sua mão, expelidas a uma grande velocidade, seguindo a direção apontada pela garota e atingindo a superfície do móvel. E como se tivessem sido rebatidas, as chamas continuam seu trajeto formando uma coluna de fogo até o teto e finalmente se espalham. Parecia um guarda-chuva de fogo. Logo se iniciam os aplausos e Victoria anuncia sua aprovação no teste. Ao fechar a mão, Serena encerra o feitiço.

—Muito bem, Serena! Faço apenas uma ressalva - comenta Flora - Suas chamas são contínuas, mas não consistentes. Lembro-me quando sua mãe fez o mesmo feitiço no teste dela, e ela deixou um buraco no chão depois que as chamas atravessaram a mesa.

—É mesmo? Puxa, minha mãe devia ser muito boa, quem sabe um dia eu chegue a ser como ela...

—E você será, minha cara, é só estudar e praticar mais! - diz Victoria.

—Sim! A senhora também viu o teste de minha mãe?

—Eu? Er... - Victoria se mostra surpresa com a pergunta inesperada da garota. Ela demora a responder e o mais estranho é que os outros professores parecem embaraçados com a situação. - Bem, é que eu estava ocupada com outros afazeres administrativos da escola e não pude estar presente nesse dia.

—Que pena! - diz a garota, que em seguida se volta para o corredor e caminha até seu assento.

        Victoria a observa, receosa. Talvez tenha falado mais que devia. Mal Serena chega a sua cadeira e Lucius já se levanta. Mas a garota, mal-humorada, resolve primeiro falar com Nicolas.

—O que você pensa que está fazendo?

—O que? Como assim? Você passou no teste, não?

—Sim, mas sem sua ajuda. Por que atrapalhou meu teste? Se não quer ficar fale com a diretora e pede para sair, mas não atrapalhe o teste daqueles que estão aqui buscando alguma coisa pra melhorar de vida.

—Mas, mas, eu até reclamei...

—Parece que é o que você sabe fazer melhor: reclamar. Hunf! E eu achando que éramos amigos...

     Nicolas fica sem ação diante de Serena, que o observa com indignação e depois passa por ele, pela sua cadeira, e vai sentar-se depois de Lucius, em um dos lugares vazios antes ocupados por Gabrielle e seus irmãos. O clima havia ficado tenso e infelizmente a conversa estava sendo ouvida por todos, a maioria apoia a atitude da garota.

—Agora sim ela está agindo como uma feiticeira. - diz Clara.

—Parece que o banho não mudou só a sua aparência... - diz Margot.

        Não querendo se intrometer na briga entre Nicolas e Serena, Lucius se levanta e passa cauteloso por eles até chegar ao corredor. Antes de prossegui, ele dá uma última olhada para os dois e os vêem sentados, braços cruzados, caras fechadas, olhares sério para frente, rígidos como estátuas. Decide não falar nada e segue seu caminho. Porém, antes de se aproximar da mesa, ele é abordado por Victoria, com uma expressão não muito agradável, o que assusta o garoto.

—Então você é o último. Você... É amigo daquele garoto, não é?

—Olha... Eu não sei se ainda somos amigos, eu...

—Espero que não me dê trabalho logo agora que estamos finalizando o teste de aptidão mágica. - interrompe a diretora, com certa impaciência.

—Não, não, não vou dar trabalho. - diz Lucius, apressadamente.

—Ótimo!

—Ei, é o amigo daquele garoto insuportável. - comenta Paula - Ele nem devia estar aqui. Pra falar a verdade, nenhum dos três.

—Nem a Fitcher? - pergunta Sidney.

      Paula não responde, apenas vira-se para frente. Victoria ainda continua a observá-lo da cabeça aos pés e Lucius percebe que ela quer melhorar sua aparência, provavelmente como fez com Serena. E apenas com troca de olhares ele a consente. Ela repete os movimentos com as mãos à frente de Lucius e em segundos sua aparência muda completamente. Apesar de estar banhado e perfumado, ele não está trajando uma roupa fina como a dos os outros garotos no recinto. Usava sapatos pretos e uma calça de cor acinzentada, camisa branca de manga cumprida debaixo de uma beca também com mangas cumpridas e abertura larga nas extremidades, da mesma cor da calça. Parecia um traje de formatura, cujo tamanho ia até a altura de suas coxas. A vestimenta era feita de um tecido mais rústico, e no lado esquerdo o símbolo da escola bordado.

—Aí, credo, o uniforme da escola... - comenta Margot, cobrindo a lateral dos olhos com uma das mãos, como se não quisesse ver. - Que coisa mais ‘démodé’...

—Espero não ter que usar isso, que roupa mais cafona! - diz Paula.

—Tomara que a aula de corte e costura seja uma das primeiras. - diz Munique, esperançosa. - Prefiro usar uma roupa de feiticeira a... Isso!

—Eu já tenho planos para a minha, ih! - fala Clara.

—Bem, pelo menos agora o sujeito está mais decente. – diz David, defendendo a classe masculina.

         E apesar do traje, Lucius realmente mostra-se mais belo aos olhos. Seus cabelos agora pareciam mais negros e lisos, o que destacava sua pele clara. E ele parece não se importar com a roupa, até se sente mais confortável. Ambos seguem até a mesa de testes. Victoria o direciona para Flora e o teste começa.

—Lucius Aires, idade: 13 anos, classe: aerífero.

—Aerífero? Olhe Allisom, mais um da mesma classe que você. Será que você vai ganhar um rival esse ano? - repara Renan.

—Rival? Você acha mesmo? - retruca o garoto com ar de deboche.

         Lucius percebe que estão falando dele, mas acha melhor ignorá-los. Afinal, tem que se concentrar em seu teste. Mas ao pedir que a diretora Victoria providencie um candelabro muitos se decepcionam, pois sabem que o teste dele será similar ao de Allisom. Aliás, Victoria faz aparecer sobre a mesa o mesmo objeto utilizado no teste do garoto: um candelabro com sete velas acesas. Parece que a diretora também já sabia o que está por vir. Lucius se posiciona de frente para o objeto, um pouco afastado da mesa. Ele prepara sua mão direita com a posição de dedos que aquela senhora lhe ensinou na floresta. Sua concentração em lembrar-se de tudo nos mínimos detalhes era tanta que ele até lembrou o nome da estranha senhora: “Sassá”. Apesar de já preverem o que estar por vir, Victoria e os outros professores observam atentamente o jovem aprendiz. Com firmeza e determinação, ele faz um rápido momento lançando a mão direita à frente com a palma direcionada para o objeto.

—IMPACTUUSSS...! - pronuncia Lucius, com voz consistente e postura corporal segura.

        Ele sente como se um vento passasse pelo seu corpo, começando por trás e terminando em sua mão direita, transmitindo toda aquela sensação para o objeto a sua frente. Poucos segundos depois, o candelabro se mexe e vagarosamente tomba para trás, mesmo não tendo sido tocado por Lucius. Não há aplausos nem comentários por parte do público, que de repente viram-se para trás olhando Nicolas, mas dessa vez ele não diz nada. A falta de entusiasmo deles parecia à mesma dos professores. Lucius volta a posição inicial e olha para Victoria, esperando o resultado, apreensivo.

—Bem, o que posso dizer? Você estava muito ansioso em realizar o feitiço que o fez de maneira displicente. Geralmente um feitiço é feito com o movimento das mãos ou com as palavras mágicas. E quando se utiliza os dois espera-se que o feitiço tenha o dobro de potência. Porém o seu saiu tão fraco que quase não deu certo. Sua antecipação em posicionar os dedos de maneira correta já apontou sobre o tipo de feitiço que iria fazer. E isso é uma grande desvantagem. Imagina se estivesse em um combate?

—Combate? - repetem Nicolas e Serena ao mesmo tempo, o que faz um olhar para o outro, mas depois voltam a fechar as caras e observar Lucius.

—Faltou potência no feitiço. - continua a diretora - Quanto ao teste... O que vocês acham? 

     Victoria pede a opinião dos colegas que, um por um, dão seu veredito.

—Muito fraco, mas senti a magia se manifestar. - diz Hilda.

—Para mim ele passou no teste, apesar de que tem muito que aprender. Talvez seu ponto forte não seja o ataque... - deduz Flora.

—Sinto que a magia quer sair, se libertar, mas ele ainda a prende. Provavelmente já fez o feitiço outras vezes, hoje apenas foi... um dia ruim. - Mark também dá sua opinião.

—Então que assim seja: você passou. - completa a diretora.

       Ao ouvir essas palavras Lucius se sente mais leve, como se tirassem um peso de suas costas. E apesar de saber que esse peso ainda o fere, a alegria retornar novamente ao seu espírito. Enquanto alguns aplaudem de maneira tímida, o garoto refaz o trajeto de volta ao seu assento. Realmente foi um alívio para ele; a primeira parte do seu objetivo estava concluída. Agora está definitivamente matriculado em uma instituição de ensino, como seus pais um dia estiveram. Quanto a sua magia ser fraca ou não isso não importa naquele momento, é claro que se esforçará para ficar mais forte. Ele só tem certeza de uma coisa: terá sua vingança, custe o que custar. Confiante, ele se coloca entre Nicolas e Serena, chamando a atenção deles.

—Ouçam aqui vocês dois! Agora estamos sob o mesmo teto, portanto vamos parar com essas briguinhas bestas e tomar atitudes mais maduras. Somos feiticeiros agora, tá! Então daqui pra frente vamos ser...er...mais feiticeiros, tá bom?

        Nicolas e Serena olham para ele, depois trocam olhares e voltam para a posição inicial. Lucius faz uma expressão de desapontamento e volta a sentar-se entre eles. Após alguns segundos, Nicolas decide falar.

—Foi tão fraquinho... Acho que faltou força no seu vento.

—É! Segundo os professores teve mais vontade do que força. Ah! Parece que você está certo, faltou vento. - responde Lucius, com um leve sorriso.

—Deve ser por causa dessa sala fechada. Eu conheço um lugar com bastante vento.

—É mesmo, qual?

—O convento!

—Hunf, e eu ainda lhe dou atenção... - rebate Lucius, mas depois reflete sob as palavras de Nicolas e começa a sorrir.

        Nicolas o observa e retribui o sorriso. E parece que aquela conversa boba animou o garoto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Reino da Magia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.