Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 10
Berker?




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             O clima fica tenso entre os dois garotos. Os mais próximos se afastam um pouco, mas não muito, afinal ninguém quer perder nenhum detalhe.

—Se você não parar com suas gracinhas, Pivete, vou pendurá-lo feito carne de porco secando no varal. - esbraveja Ricardo.

          Nicolas acha a conversa estranha e não entende o que Ricardo queria fazer com a mão aberta na sua frente. De repente ambos são interrompidos por uma voz feminina.

—Ricardo Berker! Pare de fanfarrice e comporte-se. - ordena a Sra. Berker, que logo volta a conversar com sua amiga. - Me desculpe Sra. Liadan, mas sabe como são essas crianças. Não dão um minuto de sossego...

          Após alguns segundos, Ricardo obedece a sua mãe e aos poucos abaixa o braço. Nicolas percebe que ele recuou, mas permanece encarando-o. Novamente o sobrenome dele chama a atenção de Serena e uma lembrança do passado volta a sua mente...

<< -Mamãe, mamãe... - repetia a pequena Serena sentindo que sua mãe sairia pela porta daquela prisão com um largo sorriso e de braços abertos. E em meio aos afagos de carinho lhe explicaria o que os outros tentaram e até aquele dia ela ainda não entendia. Um misto de ansiedade e esperança a domina. De repente a multidão silencia... a porta abriu. A figura de um homem gordo, de bigode e cabelos grisalhos rompeu a entrada da porta com passos firmes. E logo que viu a menina se empalideceu por um instante. A expressão de surpresa desapareceu de seu rosto e um olhar fixo e ameaçador toma conta daquela face. Com medo, Abigail ficou atrás da menina com as mãos em seus ombros, como se a usasse como um escudo. Mas Serena não estava nem aí para as pretensões do xerife. Sua atenção se voltou para as pessoas que saíam da prisão, seguindo pelo lado direito da porta, se afastando daquele local discretamente. Eram seis homens muito bem vestidos, provavelmente gente ligada à corte, responsável por acompanhar o julgamento. Havia também duas mulheres trajando vestidos finos, usando chapéus e com véus que cobriam seus rostos. A primeira usava vestido verde com tons claros e escuros e a última um vestido vermelho bem chamativo. A de vestido verde para por um instante e vira o rosto em sua direção.

—É aquela ali? - pergunta a dama de verde, interrompendo o caminhar da outra.

            E a mulher de vermelho também vira o rosto na direção da menina e a olha de tal maneira que chega a causar calafrios em Serena, mesmo sem olhar diretamente em seus olhos.

—Sim, Sra. Berker. - responde aquela estranha mulher. Por alguns segundos elas a observam. - Vamos embora! >>

           Serena olha para a Sra. Berker conversando com sua amiga. Agora podia ver sua face. Ela não sente aquela sensação de calafrio de antes, talvez porque agora esteja mais preparada. Curiosa, ela volta-se para Ricardo.

—Berker? - pergunta a garota. Ricardo olha para ela e depois para Nicolas.

—É Ricardo Berker Terceiro para vocês, gentinha!

—Terceiro? Quer dizer que os anteriores não deram certo? Que pena, Ricardo Beco, pois parece que você também está indo pro mesmo buraco.

—É Berker, Pivete!

          Serena suspeita que Ricardo seja filho do Lorde Berker, o homem que assinou a sentença de morte de sua mãe. E novamente outra lembrança daquele fatídico dia invade sua mente...

<< –E-eu não quis vir, Xerife, mas... Mas a menina... Bem, ela... - Abigail não encontrava palavras para responder a pergunta do xerife, cujo rosto estava bem próximo ao dela. Com impaciência ele a agarra e a puxa para si, com a intenção de terem uma conversa mais íntima. Serena notou o tranco forte dado por ele, que fez com que Abigail a soltasse, mas preferiu não reclamar para não ser notada e resolvessem tirá-la dali.

—Ouça bem o que vou lhe dizer, mulher! Você recebeu uma quantia considerável para que pegasse essa menina e saísse o quanto antes do vilarejo. E justamente são as primeiras pessoas que vejo ao sair da prisão? O que deu em você, criatura?

—Não foi minha culpa, Xerife. A menina desapareceu ontem quando já estava tudo pronto para partirmos. Só a encontrei hoje cedo. Não se preocupe, vou tirá-la daqui agora!

—Não, não quero um escândalo aqui. Só me falta ser acusado de maltratar criancinhas. Depois da execução, pegue essa pirralha e desapareça, entendeu? Fique ao lado dela e não deixe que faça nenhuma besteira. Não preciso dizer o que vai acontecer a você se eu vir uma das duas andando pela vila depois disso tudo.

—Não Senhor, isso não vai acontecer.

          A espera de Serena termina e finalmente Silvia Fitcher aparece.  A menina abre a boca querendo gritar pela mãe, mas sua voz é abafada pelos gritos da multidão que volta a se manifestar freneticamente. O xerife se afasta delas e ergue as mãos pedindo calma. A mãe de Serena a vê e seu rosto se surpreende. Serena também fica surpresa. Aquela ali não parecia sua mãe. Estava tão debilitada e fraca e vestia um hábito usado pelos frades, gasto, sujo, com uma cruz pintada de branco ao centro e sem o capuz nas costas. Suas mãos estavam para trás, amarradas, e os auxiliares do xerife a cercam assim que ela sai do recinto.

—Acalmem-se, acalmem-se, povo de...

—SILÊNCIO! – grita Watson, ajudante do xerife e seu maior puxa-saco, percebendo a intenção do chefe. Aos poucos a multidão se cala.

—Obrigado, Watson! Hum-hum... Povo de Kolkingham! Estamos aqui reunidos para dar fim as constantes calamidades que se abateram sobre nossa gente e nosso vilarejo. Culpa desta mulher, desta criatura que se infiltrou entre nós e só trouxe a desgraça e a desonra para nossas famílias. Mas hoje, com a graça de Deus, isso terá um fim...

—O que ela faz aqui, John? - a mãe de Serena o interrompe - Eu lhe disse que não a queria aqui, o que ela faz aqui? Você não cumpriu o que disse SEU VERME INÚTIL!

Silvia se mostra enfurecida e procura fazer um gesto com as mãos, mexendo-as como se quisesse se soltar, mas inexplicavelmente ela sente uma dor que a faz cair de joelhos no chão. Serena fica com o coração apertado vendo a dor no rosto da mãe e tenta correr em sua direção, mas Abigail a segura firme e não a deixa escapar. O xerife se aproxima de Silvia e procura se justificar.

—Estão vendo! Mesmo presa ela ainda procura fazer o mal. Eu espero que isso sirva de lição às futuras gerações, para que não ousem se levantar contra o poder de Deus, pois ninguém é superior a Ele. - imediatamente o xerife pega um pergaminho de um dos bolsos e começa a ler a sentença - Por ordens dadas pelo Lorde Berker, representante real e governante do Condado de Warwick, ao qual este vilarejo de Kolkingham faz parte e está subordinado a sua jurisdição, a corte formada nesta vila julgou Silvia Fitcher culpada pelos seus crimes...

—Tire-a daqui, tire-a daqui! - dizia a mãe de Serena, enquanto se contorcia de dor e tentava se levantar - Você não cumpriu com a sua palavra, IMBECIL!

—Mamãe, mamãe...

            Por mais que mãe e filha se manifestassem, o xerife não lhes dá atenção e continua lendo a sentença.

—... Devido aos atentados graves à ordem social e a santíssima fé que nos foi dada pelo Senhor, Silvia Fitcher foi condenada a morte pelo Auto de fé. Seu corpo será queimado até que não reste qualquer vestígio de sua presença entre nós. Que o fogo reduza a nada a lembrança de seus crimes contra Deus e a humanidade. E o mesmo fogo que alimenta as chamas que arde em nossos corações lhe purifique de seus pecados. E que Deus tenha piedade de sua alma.>>

          Serena se sente confusa. Parece que aquilo que ela queria tanto esquecer, mas sempre aparecia em sua mente, agora voltou com mais força. Talvez a resposta sobre o que aconteceu a sua mãe estava bem na sua frente. “Isso não pode ser verdade! Feiticeiros não matam feiticeiros, são da mesma classe de criaturas místicas. Bom, pelo menos não da forma que minha mãe foi morta. Talvez o sobrenome Berker seja comum”. Ela pensa em fazer perguntas, mas Ricardo e Nicolas continuam a trocar ofensas.

—Pivete!

—Pó de arroz!

—Da próxima vez vou crucificá-lo feito um condenado.

—Da próxima vez vou chutar esse seu traseiro gordo.

           De repente o centro do muro começa a soar um som semelhante ao deslizamento de terras e a se desmanchar, revelando uma abertura. Todos se viram e olham para aquela direção. Alguns deixam seus colegas e vão para junto de suas respectivas mães. Nicolas nem repara quando Ricardo se distancia dele. Serena o acompanha com os olhos, mas logo vira-se para o muro. Todos olham admirados. Parecia que partes do muro não desmanchavam e sim desapareciam, revelando uma entrada retangular de aproximadamente uns dez metros. Apesar de estarem atrás, Nicolas e os outros notam que o lado de dentro era inexplicavelmente bem maior que o de fora. A vista dava para uma floresta interna, cortada por um caminho aonde vinha uma mulher. Está com um vestido de mangas compridas, dourado e com detalhes laterais em preto e tulipas e folhas bordadas da mesma cor. Seus cabelos grisalhos estavam presos e pelo caminhar nota-se de que se trata de uma senhora já de idade avançada. Ao se aproximar ela para diante deles e olha de um lado ao outro, como se contasse quantos estavam a sua frente. Depois esbanja um largo sorriso, abre os braços e profere:

—Sejam bem-vindos ao Castelo de Merlin!


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