11 de agosto

Novamente me foi difícil dormir. A felicidade me envolvia e cada vez mais eu tinha certeza de que ela, em breve, aceitaria minha mão. Claro que tal pensamento era muito fácil enquanto eu estava relaxado em minha cama. Eu sei que ainda tenho muito a progredir com ela, principalmente em uma prosa a sós. O embaraço da lembrança dos eventos passados não nos deixa conversar com tanta tranquilidade.

Georgiana também estava animada com o acréscimo nas visitas.  Estávamos tomando o café da manhã quando a entrada de Miss Bennet foi anunciada. Logo ela adentrou o salão, cumprimentando a todos. Caroline não foi cordial. “Espero que não tenha vindo andando desta vez.” Elizabeth não se deixou derrotar. “Desta vez vim de carruagem. Estou com as barras da saia sem lama.” Georgiana pareceu não perceber a indireta e levantou para mostrar a convidada o quarto que ela iria permanecer. Infelizmente, elas não retornaram para o café da manhã e eu tive assuntos a tratar com meu administrador. A propriedade estava produzindo abundantemente e eu precisava de todo cuidado para administrar tudo de uma forma para que tudo fosse aproveitado e me rendesse lucro, ao invés de ter perdas e acabar com algum tipo de prejuízo. Passei o restante da manhã e a tarde toda ocupado. E mesmo assim meus pensamentos estavam em miss Elizabeth Bennet. Como ela estaria passando seu tempo? Será que minha irmã estaria tornando sua estadia agradável ou ela estaria na mira da inveja e acidez de Caroline? Não que eu acredite que Elizabeth possa ser intimidada por qualquer pessoa, mas tudo o que eu quero é que ela se sinta tão satisfeita com sua estadia como se estivesse na sua própria casa. O que eu realmente pretendo que aconteça.

Somente quando voltei para casa e já tinha me banhado para o jantar, encontrei com Elizabeth. Estava andando pelos corredores quando avistei a mesma parada em uma janela, observando a paisagem. Sua pele estava alaranjada com a luz do dia e imaginei que o Sol estava se pondo. Ela estava linda. Aproximei-me. “A paisagem lhe agrada?” perguntei gentilmente. Ela sobressaltou-se e me olhou espantada. “Desculpe se a assustei.” Ela virou-se totalmente para mim e encostou-se levemente no parapeito. “Tem o costume de matar seus convidados de susto, sr. Darcy?” ela sorriu, divertida. Eu sorri de volta e ela olhou brevemente para a janela antes de continuar. “O por do sol está tão bonito que eu não pude resistir em permanecer aqui, observando.” Quis dizer que ela era mais bonita que qualquer por do sol, mas não sei se seria bem recebido. No momento, é preciso cautela com Elizabeth. Não posso impor meus desejos como se estes fossem dela. “Passou o dia bem, eu espero?” perguntei. “Muito bem, obrigado.” Ela respondeu. “Sua irmã é muito atenciosa. Após conhecer meus aposentos, ela me levou para um novo passeio pela casa. Uma descrição de moradora é sempre mais detalhada e interessante do que a de uma criada. Então voltei aos meus aposentos para aprontar-me para o jantar e estava me encaminhando para o salão quando parei para admirar o céu.” Aproximei-me um pouco mais dela e também me apoiei no parapeito da janela. Em silêncio, acompanhamos juntos o final do espetáculo que ocorria no céu.  “Apesar da excursão do dia de hoje, ainda não tive a oportunidade de conhecer a grande biblioteca de Pemberley.” Ela disse. Virei-me para o corredor e começamos a andar em direção ao salão de jantar. “Hoje minha propriedade tomou todo o meu tempo e estou em falta com a senhora. Permita-me que amanhã, após o café da manhã, eu possa levá-la a biblioteca?”

Ela aceitou o meu convite e andamos em um silêncio agradável até o salão. O jantar aconteceu de forma agradável e meus olhos pousaram muitas vezes em Elizabeth. Passei o restante da noite conversando com Charles e os outros cavalheiros sobre negócios, enquanto as mulheres bordavam em almofadas. Houve um momento em que me aproximei de minha irmã para ver o seu bordado e ela contou brevemente como foi seu dia com a nova hospede. Então, um dos seus comentários me deixou surpreso e feliz. Georgiana contou-me que Elizabeth não quis conhecer a biblioteca quando ela sugeriu para o próximo cômodo a ser visitado. Segundo ela, Elizabeth dissera que outra pessoa já a tinha convidado para leva-la ao cômodo, mas que não tiveram a oportunidade de se encontrarem.

12 de agosto

Elizabeth esperava que eu a levasse para o pequeno passeio e chegou a recusar o convite de minha irmã. Será que ela tinha esperanças em mim? Eu mal pude dormir de ansiedade. E também não pude conter o meu sorriso amplo quando ela entrou no salão. Não conseguir conversar com Elizabeth, pois Caroline tomou todo o meu tempo contando-me sobre algo que, realmente, não prestei muita atenção. Respondia-lhe apenas pela educação e consideração a Charles, mas se alguém me perguntasse sobre o assunto, eu não saberia responder. Meu único consolo era que Elizabeth mantinha uma conversa constante com minha irmã. Ela incentivava Georgiana para falar de um modo tão natural que minha irmã acabava respondendo de forma igualmente natural.

Decidi agir de forma rápida após o café da manhã, para que Caroline não tivesse tempo de decidir nos seguir. Levantei-me e, após olhar brevemente para Elizabeth, sai do salão. Logo, ela me alcançou. Ergui o braço para ela, me aceitou o meu gesto de gentileza. O calor da mão dela fez cócegas em meu braço e achei graça. Ela olhou-me curiosa pelo meu breve sorriso e eu desconversei, perguntando sobre sua noite. Logo passamos pelas pesadas portas da Biblioteca e não pude conter uma pequena risada ao ver Elizabeth arfar e olhar surpresa para o tamanho do local. Também senti orgulho de minha coleção. Esforço-me para aumentar cada vez mais o tamanho de meu acervo e já tenho planos para uma nova ala. Comentei sobre o assunto com ela e ela afirmou que nunca se sentiria entediada em sua estadia conosco.

“Talvez agora queira falar de livros comigo?” Eu a provoquei e ela sorriu. Mostrei a ela como a biblioteca estava catalogada, apontando os meus livros favoritos. Ela encontrou alguns de seu gosto e debatemos sobre nossos favoritos. Em outros momentos ela permaneceu concentrada em algum livro e me restava observá-la, enquanto fingia também me concentrar em algum livro. Permanecemos ali até que um dos criados da casa veio anunciar o almoço. Cada um indicou um livro ao outro e assim nos dirigimos ao salão que iria ser servido o almoço.

“Onde estiveram a manhã toda?” perguntou Caroline para Georgiana e Elizabeth. “Eu e Louise nos sentimos muito solitárias sem a presença de vocês.”. Georgiana corou com as palavras dela e eu fechei minha expressão. “Perdoe-me”, minha irmã sussurrou. “Estava do lado de fora trabalhando no desenho que prometi a Miss Bennet.” Elizabeth logo interveio. “Fico muito comovida que esteja tão empenhada em me presentear, Miss Darcy.” A expressão de Georgiana se suavizou e a minha também. “Sinto que sou muito sortuda por seu cuidado e atenção comigo.” Minha irmã agora sorriu e murmurou algo que não ouvi.  O almoço transcorreu calmo, e Caroline não ousou dizer mais nada. Talvez tenha percebido que suas palavras não foram cordiais como deveriam ser. Ela tem deixado muito a desejar desde que Elizabeth chegou.

Após o almoço, fomos para a sala de descanso. Georgiana isolou-se em um canto para que Elizabeth não visse como estava o desenho. Ela queria fazer uma surpresa. Eu e miss Bennet decidimos ler nossos livros e todos os outros começaram a jogar.

“Eu declaro que não há nada mais divertido do que ler um livro!” Elizabeth exclamou e pude ver os olhos de Caroline se estreitando. Levantei o meu livro para esconder meu sorriso risonho.

O dia se passou sem mais acontecimentos. Após o jantar, Elizabeth retirou-se cedo para escrever cartas e não pude desfrutar de sua companhia. Aproveitei para conversar com minha irmã. Ela mostrou-me o progresso de seu desenho e eu fique satisfeito em poder dizer a ela que estava fazendo um ótimo trabalho.