O Destino do Amor escrita por Lilissantana1


Capítulo 20
Capítulo 20 - Um pouco de Jon - parte IV


Notas iniciais do capítulo

Quase que não saiu...



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Tarde de sol. O caminhar tranquilo do cavalo pela estrada estreita os levava para longe de casa. Jon ia pouco a frente, os cabelos escuros parcialmente escondidos sob o chapéu preto. De repente ele parou, fez o animal se voltar e indicou a direção que seguiriam dali em diante.

Annie aceitou a indicação. Ele conhecia tudo por ali. Andaram por mais alguns metros, adentraram uma faixa entre duas gigantescas árvores. Diante deles surgiu um morro, do outro lado do morro o lago. O lago que Bridgite explicou. E da margem do lago, Annie conseguia ver a casa principal.

Era realmente uma construção imponente, com muitas janelas e torres se estendendo contra o azul do céu limpo. Havia ainda um jardim extremamente verde, imenso, repleto de ciprestes. Mas já não lhe atraia como a casa pequena e sem graça onde estava hospedada há uma semana. Jon desmontou, largou as rédeas do cavalo que tranquilamente seguiu pastando e veio em direção à esposa. Para ajuda-la a descer.

Estendendo os braços a enlaçou pela cintura puxando-a para o chão. Annie se apoiou nos ombros masculinos, e deixou o corpo deslizar suavemente pelo dele. Jon tocou seus lábios gentilmente. Aquecendo seu peito.

— Pensei em fazer um piquenique. – ele falou segurando a mão da esposa. Carregando-a em direção a margem do lago. – Mas ainda há muita umidade.

— Se o clima permanecer firme, logo será possível. – ela concordou gostando da ideia.

— Não se incomoda se ficarmos aqui por mais alguns dias?

Perguntou despreocupado.

— É um lugar bonito para se estar. – ela respondeu animadamente.

Se Annie gostasse daquele lugar tanto quanto ele gostava, eles poderiam vir ali mais vezes no futuro.

— Aquela é a casa principal. – ele estendeu o braço para indicar, sem saber que não era preciso.

— Parece grande daqui. – ela comentou simplesmente, atraindo os olhos dele. Annie não parecia tão entusiasmada com a imponência do lugar quanto ele achou que ficaria.

— É grande... grande demais para mim. – se voltou para a casa outra vez – Quando tivermos filhos talvez ela pareça menor.

Filhos... ela pensou. O contrato falava apenas em um filho. Mas nada disse. Não sabia exatamente o que dizer. Não depois da declaração dele algumas horas antes.

Jon não seguiu o assunto, apenas a conduziu em uma caminhada lenta e regular pela beirada da água. O cão, um Sabujo que os seguira até ali, continuava no encalço dos dois, trotando e farejando o chão, latindo de vez em quando para alguma ave que alçava voo.

— Venha Bufão. – Jon chamou e o animal balançou o rabo alegremente se aproximando.

Annie levou a mão e tocou a cabeça do animal desengonçado. Ela não tivera cães quando criança por causa dos problemas de saúde da mãe. Nem convivera com algum depois de mais velha, pois Daisy não gostava de cachorros. Porém, estava descobrindo que se sentia bem em ter um por perto.

O cão a olhava, com aqueles olhos caídos, graúdos, tristes. Sacudia o longo rabo e arquejava parecendo satisfeito.

— Gosta de cães? – Jon perguntou parando para ver a interação entre a dupla.

— Acho que gosto. – ela respondeu calma afagando a cabeça graúda do animal com as duas mãos.

Jon sorriu para si mesmo, lembrando que poderia lhe oferecer uma visão e um contato ainda maior.

— Acho que você vai gostar dos filhotes também.

Não estava errado. O modo como a esposa o observou certamente demonstrava que seria agradável ver os pequenos seres.

— Há filhotes?

— Doze. – Jon falou rindo.

— Tantos!

Um pato do campo alçou voo curto atraindo a atenção de Bufão, afastando-o de Annie.

— Sim. São muitos. Agitados e barulhentos.

— Quando podemos vê-los? – ela perguntou segurando o braço dele enquanto voltavam a caminhar.

— Assim que voltarmos para casa.

O passeio se prolongou por algum tempo, ali, na volta do lago, sob as sombras das árvores e também numa faixa estreita de terra que levava a casa de um dos arrendatários.  Quando eles retornaram, a tarde se fora, a noite caía. Jon sugeriu que fossem direto até a cavalariça, largar os cavalos e ver a cria de Bloodhound acomodada sobre palhas, em um canto, perto do que um dia poderia ter sido um forno. Annie aceitou o convite e eles passaram alguns momentos junto à cadela e seus doze barulhentos e extremamente agitados filhotes.

Depois, lentamente voltaram para casa. O assunto da manhã parecia ter ficado definitivamente para trás. Annie não mencionou ou questionou uma única vez o que ouviu do marido, mas isso não queria dizer que as palavras tivessem sido esquecidas. De vez em quando, ao olhar para ele ou ouvi-lo contar algo, era como se as escutasse novamente.

Assim que ingressaram na casa, pela porta dos fundos, Bridgite informou sobre o jantar, Annie desejou um banho e o casal se separou pelo curto espaço de tempo que levaria para satisfazer esse desejo. Quando ela finalmente desceu, Jon já estava a sua espera, devidamente banhado, arrumado e perfumado. Sentado junto à lareira acesa ele lia um livro enquanto bebia seu brandy.

Annie decidira que naquela noite não usaria os vestidos feitos pela senhora Carey. Colocou um dos que costumava usar na cidade. Parecia, ou assim ela sentia, como se fosse uma ocasião especial. Para tanto se vestira de acordo com aquela sensação.

Jon a olhou detidamente tão logo sentiu a presença feminina no ambiente em que se encontrava, medindo a aparência da esposa antes de sorrir e por alguns segundos Annie teve medo de ser recriminada. Ou de que sua atitude fosse tomada como uma provocação, o que naturalmente não era.

O vestido amarelo, delicado, salientava a tonalidade da tez e dos cabelos dela que caíam lateralmente em uma trança despretensiosa. Ele não conseguiu desviar os olhos do colo nu, da pele sedosa e chegou a pensar em dispensar o jantar.

— O aroma do assado está incrível. – Annie comentou animada e ele nada disse em contrário.

— Então vamos provar... – sugeriu estendendo o braço à esposa, para conduzi-la por meia dúzia de passos até a mesa.

O delicioso jantar se estendeu mais tempo do que Jon esperava. O passeio e todo o movimento do dia provocara fome na dupla. E enquanto se deliciavam com os quitutes preparados por Bridgite, partilharam aquele momento conversando amenidades. Coisas que se referiam ao cultivo das rosas ou sobre a vida de Annie na escola para moças.

E logo estacionaram no relacionamento intimo e muito intenso de Annie e Daisy.

— Nós fomos colocadas no mesmo quarto, temos idades próximas. – Annie comentou distraidamente - Ficamos amigas logo de cara. Passávamos muito tempo juntas, em sala de aula, estudando, passeando.

Ela fez uma pequena pausa, brincou com a taça de vinho e logo depois continuou:

— Muitas vezes passei com ela e com sua família o período de férias escolares. – com George também, Jon pensou apoiando os cotovelos nos braços da cadeira, ouvindo atentamente tudo o que a esposa tinha para contar. - Especialmente depois que meu irmão nasceu.

— Você me disse que ela é sua melhor amiga.

— E é verdade. – ela confirmou encarando os olhos dele.

— Vocês são intimas, confidentes...

Annie moveu a cabeça afirmativamente. Não havia porque esconder isso.

— Sim.

— Ela conta tudo a você?

— Nós contamos tudo uma a outra. Ela tem na mãe uma amiga, o que não se aplica a mim. Então, sempre que precisava de ajuda ou conselhos, recorria a ela.

— Que é como uma irmã.

Jon estava muito sério.

— Sim. - Annie sorriu, tentando aliviar a tensão que via no rosto do marido sem conseguir.

— E George?  

— Não tive muito contato com George, ele é mais velho, raramente estava conosco.

Mesmo que a resposta tenha sido clara, Annie sabia a que Jon se referia.

— De qualquer forma duvido que sua amiga não tenha lhe contado coisas sobre mim... – ele confirmou a ideia de Annie - coisas que George deve ter falado.

O tom de voz de Jon indicava o desafeto que sentia por George, talvez até pela família de Daisy. Aquilo a incomodava profundamente. Ela amava a amiga. E prontamente saiu em sua defesa:

— Já lhe falei que tudo o que sabia a seu respeito vinha de outras pessoas. De Daisy também, mas não apenas dela...

— Outras pessoas?

— A maioria das minhas colegas sabia quem você é. Conheciam sua reputação. As mães, irmãs mais velhas, irmãos as alertavam e elas comentavam na escola. Quando... – ela parou de falar por um segundo ponderando se deveria ou não falar o que começara.

— Quando? – ele incentivou.

— Quando meu pai me informou, através de uma carta, sobre o nosso compromisso me senti péssima. Chorei por dias. Não compreendia porque, entre tantas garotas, eu havia sido a escolhida para... para... – ele a observava tão detidamente que Annie não sabia como falar – para ser sacrificada. – concluiu mostrando um meio sorriso encabulado.

Jon sorriu abertamente mostrando que não se incomodava com a impressão que Annie tivera na época.

— O que você pensa agora?

— Acredito que não está sendo um sacrifício tão grande, e espero que continue assim.

— Você lembra das coisas que lhe digo, deve lembra que falei sobre não ser o monstro que você pensava.

O olhar dela respondeu mais claramente do que qualquer palavra que sua esposa pudesse ter usado para demonstrar que lembrava.

Jon seguiu em frente, precisava falar abertamente. E aquele era o momento para isso.

— Mesmo assim, há coisas que precisam ficar claras quanto ao meu relacionamento com George. Sua amiga deve me odiar, talvez, em parte ela tenha razão, mas a razão não está toda com ela.

— Você prejudicou o irmão dela. – Annie foi direta, aquela era a parte da história que ela conhecia. Porém, não esperava pela resposta que receberia:

— Sim. Fiz isso.

Embasbacada pelo modo como Jon falava abertamente em ter prejudicado outra pessoa, Annie não conseguiu se pronunciar. Ele aproveitou o momento para seguir em frente.

— Ao contrário de você e de Daisy, George e eu nos detestamos desde o primeiro dia. Nos provocávamos constantemente, mas não passava disso. Só que tudo mudou quando tomei a primeira surra por causa dele. Precisava dar o troco. E nossa pequena batalha se transformou em guerra.

— Ele foi advertido por sua causa. – Annie replicou.

— Também fui advertido por causa dele.

— Mas você era filho de um Duque, duvido que esse tipo de coisa tivesse algum peso em sua ficha.

Jon moveu a cabeça de um lado para o outro.

— Se falarmos teoricamente, sim. Mas em todas as vezes em que fui advertido, meu pai era chamado, e quando meu pai era chamado eu tomava uma nova surra. E culpava George por isso. E... nossa rusga não terminava nunca.

Ela não conseguia ver a situação de forma tão simples.

— Você se incomodava com George porque seu pai surrava você? - talvez a atitude do Duque não fosse correta, porém, o irmão de Daisy não poderia pagar pelo comportamento do pai de Jon.

Ele suspirou rapidamente, ia contar algo, e precisava contar com a possibilidade de que Annie não acreditasse. Porém...

— Uma das últimas situações complicadas, - começou receoso - foi por causa de um trabalho. George pegou do meu material, o rascunho que há dias estava escrevendo. Usou minha pesquisa e parte da conclusão como se fossem dele. Quando nos confrontaram, não pensei duas vezes, pulei no pescoço dele na frente do coordenador do curso querendo obriga-lo a contar a verdade. Mas, situação nunca ficou esclarecida. Meu pai não quis saber quem mentia. Apenas me surrou. Fui registrado e suspenso mais uma vez.  Só não me expulsaram da escola porque meu pai fez generosas doações à instituição.

Quando silenciou esperou pela reação de Annie. Certamente ela sabia daquilo.

— Sei quando foi isso... alguns meses depois que Daisy chegou à escola. Ela estava muito triste porque o irmão poderia perder a vaga na escola em decorrência de um incidente causado por...

— Por mim... – ele completou – Não fui eu Annie... sim eu fiz muitas coisas erradas. Sim eu provoquei. Sim eu briguei, o perturbei demais, e o prejudiquei tanto quanto ele a mim, mas isso eu não fiz.

Ela permaneceu calada.

— Você acredita em mim?

— Não sei... não sei o que pensar. - não sabia o que pensar, mas definitivamente não estava zangada.

Jon moveu as mãos apoiando-as na mesa em frente. Se sujeitara ao julgamento dela ao oferecer uma versão diferente daquela que Annie conhecia como a verdade. E insistir não serviria. Ela precisava compreender sozinha que ele era capaz de falar a verdade. E que não era o monstro com quem ela acreditou se casaria.

 - Não sou o tipo de pessoa que tem vocação para santo ou mártir... na verdade acho que tenho mais defeitos do que qualidades. Mas mentir não faz parte dos meus defeitos.

— Isso eu sei... – ela concluiu com um gesto delicado. Ele ficou em pé, caminhou até o outro lado da mesa e a obrigou a se erguer.

— Não quero que nossa noite termine mal por causa dessa conversa. – sussurrou perto dos lábios femininos.

— Eu pedi a você que me contasse coisas a seu respeito. Acho que ouvirei muitas coisas surpreendentes. – passando as mãos pela fresta da camisa aberta afagou o pescoço dele, sentindo o cheiro característico do marido a invadir seus sentidos.

— Vamos para o meu quarto ou para o seu? – ele perguntou antes de roçar o nariz no dela.

— Quero dormir no seu hoje.

— Vou gostar de ter você na minha cama...

Ela gostaria ainda mais, se os lençóis, travesseiros e cobertas dele tivessem aquele mesmo aroma que Jon exalava por cada poro. De verão e grama verde.

*******************

Ela se viu sozinha, correndo em um corredor escuro. Gritando. Mas ninguém a ouvia. Seus passos eram pesados, as pernas custavam a se mover. Os gritos pareciam sussurros. Socorro! Socorro! Socorro! Ela gritava e não era atendida. Num repente, diante dela, surgiu uma dupla, Peter de um lado, Jon do outro. Ela não sabia a quem se dirigir. De repente, o homem moreno, de cabelos cacheados ergueu uma pistola, avançou sobre Peter e o matou.

Aquilo era um sonho. Annie se deu conta ao sentar na cama suando e tremendo. Nada daquilo acontecera. Peter não morrera e Jon não matara ninguém. Alivio era a palavra exata para o que estava sentindo.

Olhou para o lado, a cama estava vazia. Seu coração se apertou, num impulso saltou da cama. Onde seu marido estava? Havia um mau pressentimento em seu coração. Uma dor aguda evitando que conseguisse respirar direito. Ainda efeito do sonho nervoso.

— Jon! – chamou sem resposta – Jon! – repetiu mais alto desta vez.

— Estou aqui. – finalmente ouviu. Ele estava em seu quarto.

Quando entrou o encontrou sentado no baú abaixo da janela, vestindo apenas a calça, descalço, e sem camisa.

— O que aconteceu? – perguntou sentando no espaço restante.

— Não conseguia dormir... – respondeu afagando o rosto dela.

Muitas coisas diferentes povoavam sua mente. Mas, a principal delas se referia ao sentimento descoberto recentemente e que parecia impulsiona-lo em direção a problemas. Especialmente depois que ouvira Annie chamar por Peter durante o sono.

— Você ficou preocupado com o que conversamos?

— Não... você é uma mulher inteligente. Vai compreender logo se é verdade ou mentira... há coisas que não se consegue esconder Annie. Não por muito tempo.

Ele ia repetir a declaração, as palavras queimavam na garganta, quase escapavam por sua boca, mas considerou que não seria adequado naquele momento. Não depois de saber que Annie ainda sonhava com Peter.

Não estava preparado para ser rejeitado.

— Então venha deitar comigo. – ela pediu, ficou em pé, beijou a face masculina, e estendeu a mão para ele.

Jon se ergueu, a enlaçou pela cintura. Queria esquecer o que ouvira. E talvez se esconder entre os braços de Annie o ajudasse. Como que percebendo isso, ela o abraçou, carinhosamente apertando o rosto contra o peito dele.

Annie suspirou lentamente. A imagem de Jon com a pistola na mão provocava nela uma sensação de angústia. Nunca permitiria que ele fizesse tal coisa. E assustada percebeu que seu desespero nada tinha a ver com a morte de Peter. E sim porque temia por Jon.   


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Notas finais do capítulo

Esse sonho tem um significado muito claro para mim. O q vcs acham q significa? BJ a todas as meninas q estão acompanhando, mas especialmente a Beatriz, Felicity e luzilane pelos reviews.



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