O Destino do Amor escrita por Lilissantana1


Capítulo 13
Capítulo 13 - Desafios...


Notas iniciais do capítulo

Annie é tão teimosa quanto Jon. Ela ainda não compreendeu que se sente atraída por ele. Ela ainda ama Peter. Ela ainda guarda dentro de si a certeza de que Jon é repleto de defeitos. Ela precisa conhecê-lo para amá-lo. Não como ela pensa que ama Peter...



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Annie se moveu sentindo o corpo pesado e ainda sonolento. A claridade fraca do dia cruzava pela cortina da janela esquecida aberta. Jon não mais estava na cama. Nem mesmo no quarto. Mas o cheiro dele permanecia impregnado nos lençóis e travesseiros, e no corpo dela.

Passou as mãos pela pele nua, gostava daquela liberdade. Principalmente gostava do fato de não ser julgada por estar dormindo nua com um homem. Mesmo que esse homem fosse seu marido. As freiras da escola onde passara boa parte da vida, jamais concordariam com aquele comportamento “depravado” não condizente com uma dama, esposa de um... futuro Duque.

Algumas batidas suaves na porta a despertaram totalmente, ela se cobriu com a manta que repousava enrolada no meio da cama, ordenando:

— Entre!

Leisa surgiu perguntando se sua senhora gostaria de um banho antes do desjejum. Annie aceitou, estava com fome, porém, seu estômago poderia aguentar até que seu corpo estivesse devidamente relaxado e perfumado.

— Meu marido? – perguntou ficando em pé, se enrolando no lençol. Leisa jamais a julgaria pelo que quer que fosse, menos ainda por estar nua.

— Está lá embaixo falando com o dono da estalagem, parece que há um problema com os cavalos que conseguiram.

— Algo sério? – Annie perguntou enquanto trançava os cabelos.

— Acredito que não, creio que esteja quase resolvido senhora.

O assunto acabou por ali. O banho estava sendo preparado. Annie precisava de um vestido para usar. Observou a janela, o dia estava nublado. E uma leve brisa movia o topo das árvores. Talvez fosse uma boa ideia usar algo menos fino.

************************

Andrew em sua total eficiência, cuidara de absolutamente tudo o que lhe cabia. Entretanto, naquela manhã o estalajadeiro surgiu com um problema que dizia respeito aos cavalos. Algo referente ao valor. Jon demorou a resolver a questão, o que acabou atrasando a saída deles e também reduzindo o humor de Hawkins pela metade.

Annie logo percebeu a diferença no comportamento do marido quando desceu e o encontrou carrancudo, com as mãos apoiadas na cintura, diante da carruagem.

— Bom dia... – falou sem se aproximar.

— Bom dia. – ele respondeu ainda sério sem olhar para ela.  

— Quando sairemos?

— Assim que tudo estiver pronto.

— Bem! Eu estou pronta! – se ele estava mal humorado a culpa não era dela, cumprira adequadamente sua parte na noite anterior – Esperarei no salão, quando decidirem que estamos prontos para sair, peça para me avisarem.

Deu meia volta atraindo Leisa consigo. Sem ter a oportunidade de ver a expressão no rosto de seu marido, que parecia querer dizer o quanto estava cansado e irritado com aquele inconveniente. Annie que não lhe testasse a paciência, coisa que ela parecia gostar muito de fazer, pois estava bem curta.

O atraso rendeu mais do que Jon esperava que rendesse. Pois além, do tempo perdido na estalagem ainda havia o fato de que a estrada que os levaria para a propriedade dele estava bastante ruim. O que dificultava a passada das carruagens pesadas.

Enquanto seguiam Annie permanecia silenciosa, percebendo a falta de humor do marido persistir por prolongado tempo. Ele sequer aceitou a parada para o almoço, obrigando Annie a comer algo enquanto sacolejava na carruagem. Seus olhos preocupados só se afastavam da estrada de chão para correrem em direção ao céu. Estava calado, agitado, nervoso. Ela desejou perguntar o motivo daquilo, se era apenas o atraso da manhã, porém nada falou. E remoeu a certeza de que Jon tinha um temperamento dubio que a confundia e incomodava.

Sem conversar, seus pensamentos então passaram a viajar por lembranças. Por pessoas.      

Em Hilda! A submissa e íntima governanta de seu marido. Se ela fosse mais jovem Annie se atreveria a dizer que a relação deles ia além de patrão e empregada.

A mulher geralmente via Jon com olhos únicos, quase o idolatrava. Annie descobriu através de Leisa, que ela fora babá dele. E voltava a atendê-lo sempre que o garoto retornava ao lar em período de férias. Mesmo assim, tal proximidade não justificava o modo como os dois se tratavam. Jon era cordial, ameno, dava-lhe total liberdade para fazer e dizer o que quisesse. Suspirou. Mas, também era autoritário...

Jon...

Ele era como um furacão desgovernado. Algumas vezes gentil. Amigável. Cordial. Em outras, prepotente. Mimado. Sarcástico. Certamente que ela não sabia ainda a qual deles dar crédito. Ou talvez, devesse se acostumar com todos. Seus olhos correram para o homem sentado no banco em frente. Continuava sério. Taciturno. As únicas conversas que mantiveram desde o início da manhã foram curtas, e eram momentos em que apenas ela recebia informações a respeito de decisões dele e orientações referentes ao que fazer sobre as decisões dele.

De repente a carruagem ingressou por um terreno ainda mais incômodo e repleto de curvas e ela o ouviu praguejar depois de ter sacolejado sobre o banco. Annie olhou pela fresta da cortina, era uma área de muitas árvores e pouquíssimas casas, o que confirmava a ideia inicial de que ele pretendia isolá-la do mundo.

Aquela tortura final parecia não ter fim, e o sol novamente se punha quando eles finalmente pararam. Estreitando os olhos pela janela Annie olhou a rua. Estavam estacionados diante de uma casa pequena, de apenas dois andares, e uma porta frontal. Era uma casa de camponeses! A porta da carruagem foi aberta e Jon imediatamente desceu.

— Nós vamos pernoitar aqui? – ela perguntou alto. Mas não obteve resposta imediata, Jon estava falando com Andrew.  

Eles ainda não estavam em seu destino era isso

Ainda impactada com a imagem, e sem um esclarecimento de seu marido, Annie não desceu. Permaneceu olhando a cena irreal. A casa era contornada por uma cerca baixa, branca, e um jardim minúsculo corria dos dois lados da entrada que levava até a porta. Jon não pensava em ficar ali. Pensava?

De repente, lá de dentro surgiu alguém conhecido. Leisa! Seu coração quase parou. Sim, eles  ficariam ali.

— Venha Annie. – Jon a chamou estendendo a mão para a esposa.

Ela o encarou muito séria. Desta vez quem estava mal humorada era ela.

— Nós vamos ficar ai?

— Sim, esta é minha casa.

— Sua casa? – aquela definitivamente não era a propriedade de um futuro Duque. Certamente que os Hawkins possuíam muitas opções de residências no campo. E com certeza aquela não era uma delas.

— Sim... agora é nossa. Já que você é minha esposa.

Annie cruzou os braços sobre o peito e só então lembrou dos tecidos guardados em seu baú. Era obvio que ele falava sério. Eles ficariam ali. Por isso ela precisava de vestidos novos. Vestidos simples.

— Não ficarei ai. – ela reclamou em tom zangado. Não estava acostumada a ser tratada daquela forma, mesmo seu pai, que praticamente a ignorava, lhe enviava para lugares lindos, imponentes e confortáveis nas férias. Ela balançou a cabeça, nem mesmo um contrato a obrigaria a viver em uma casa que sequer deveria ter aquecimento. Talvez nem criados... pensou apavorada encarando Jon. Ele queria subjuga-la coloca-la longe de tudo e de todos, mostrar quem mandava.  

— Ficará! – ele determinou com metade do corpo enfiado na carruagem, confirmando o pensamento dela. – Não há outro lugar há milhas de distância!

— Não posso acreditar que fez isso comigo! Como pode ter me trazido para um lugar como este? – ela ergueu a mão mostrando a casa.

Ele apertou os lábios grossos. Quando pensou que iria relaxar depois de uma viagem preocupante, onde o céu ameaçou desabar furiosamente sobre eles todo o tempo. Teria ainda de enfrentar a expressão afetada de sua esposa. Isso que não!

— Saia logo daí Annie. Vai chover a qualquer momento. Precisamos descarregar. Andrew precisa levar os cavalos para o estábulo.

Ela permaneceu no mesmo lugar. Estava tão irritada por ter acreditado que as palavras no contrato eram verdadeiras. Que ele se propunha a cumprir o que estava escrito ali. Da mesma forma que ela estava cumprindo. Se sentia tão enganada que mal conseguia raciocinar direito.

— Venha! Ou vou tira-la dai a força.

Ele que não se atrevesse. Ela pensou e o som estrondoso de um trovão ecoou pelo céu provando que as palavras de seu marido em algum ponto eram realmente verdadeiras.

— Annie! – ele chamou novamente.

Outro estrondo, desta vez mais próximo. Ela olhou para o lado de fora, viu Andrew observar o céu com olhar preocupado. Se continuasse ali, quem acabaria trabalhando debaixo de chuva forte era alguém que nada tinha a ver com o assunto.

— Com licença. – pediu sentando na ponta do banco e finalmente saindo da carruagem quando Jon lhe deu passagem. Sem aceitar a mão que o marido lhe oferecia.

Ergueu o nariz irritada, e tomou a direção da entrada. Havia duas moças paradas a sua espera. Se vestiam de modo singelo, os cabelos cor de fogo estavam trançados de forma simples, os rostos cobertos por sardas, olhos muito verdes a observavam com admiração. Quando ela se aproximou sorriram aberta e sinceramente.

— Boa noite milady ... – uma delas disse timidamente.

— Boa noite. – Annie respondeu parando diante delas.

— Seja bem vinda milady! Estamos felizes em recebê-la. Esperamos que tudo esteja a seu gosto.

— Obrigada... – respondeu antes de ingressar definitivamente na casa. A gentileza das moças ao menos indicava que poderia ser bem atendida.

E lá dentro era ainda pior do que imaginara. Havia um corredor longo que levava ao outro lado da casa. À direita, uma sala diminuta com sofás pequenos e uma lareira acesa. A sua esquerda, a sala de janta, uma mesa redonda, branca, cadeiras com acento de vime, e um armário repleto de pratos. Ali a lareira também estava acesa.

— Vá em frente senhora. – era a voz de Leisa.

Annie a atendeu, mais alguns passos e encontrou a escada, estreita que a levaria para o segundo andar. Onde os dois quartos ficavam.  As outras duas peças, que um dia também deveriam ter sido quartos, se transformaram em uma pequena sala de estar íntimo e uma ínfima biblioteca/escritório.  

— Qual deles é o meu? – perguntou mais incomodada do que nunca.

— O da esquerda senhora. Seus baús já estão acomodados ai.

— Você conseguiu acomodá-los neste quarto? – perguntou assim que abriu a porta - Você é realmente muito eficiente Leisa! – aquele cômodo conseguia ser menor do que o usado na hospedaria.  

A cama de dossel estava arrumada. Lençóis brancos, almofadas e travesseiros. Uma penteadeira ficava na mesma parede da janela e um roupeiro ao lado da porta que separava o quarto dela do de seu marido.

— Onde você ficará? – perguntou caminhando pelo pequeno espaço, indo até a janela.

— Há quartos para os criados depois da cozinha...

Pelo tom de voz de Leisa, Annie soube que a mulher não gostara das acomodações. E não a julgava por isso. Ela também estava detestando.

De repente Jon surgiu diante dela. A casaca respingada, provavelmente pela chuva. Entrou no quarto e sua presença praticamente preencheu o ambiente. Ele a observava de uma maneira estranha.

— Saia... – disse a Leisa.

Aquela cena lhe lembrava muito a festa de noivado. Ele usara o mesmo tom com sua criada naquela noite. E ela não gostava quando ele fazia isso. Sentou-se na banqueta, em frente a penteadeira, esperando o que o marido tinha a dizer.

— Bridgite e Margô arrumaram tudo para a sua chegada. Elas não estão acostumadas a atender “damas” como a minha esposa parece ser. Mas, tenho certeza de que farão o melhor que puderem. Seja educada!

Annie teve vontade rir.

— Costumo tratar a todos com muita educação! – ela retrucou e ele caminhou até a beirada da cama, a poucos metros dela.

— Você goste ou não goste, ficaremos aqui por vários dias...

— Por quê? Por que me trouxe para cá? – ela perguntou de repente – Não tenho cumprido minha função corretamente? Assinei o contrato, estou até...

Ele deu um passo a frente.

— Está até se deitando comigo...? Era isso o que ia dizer?

Não era exatamente isso. Ela ia dizer que estava até se sentindo menos incomodada com o casamento deles.

— Pois se realizar sua parte direito, logo não precisará mais fazer isso. – ele estava tão irritado com o comportamento dela que nem pensava no que dizia. O fato de Annie ser esnobe como todas as mulheres nobres que ele conhecia não deveria ser uma novidade. Mas, essa descoberta o irritara mais do que imaginava.

— Nós poderíamos ter ficado em sua casa... este lugar... o senhor está me punindo?

— Estou mantendo você longe de Peter!  - ele falou sinceramente.

Peter... ah, sua vida seria tão diferente se tivesse se casado com ele. Imediatamente lembrou de Daisy. Será que sua amiga tinha razão? Será que haveria uma forma de livrá-la de Jon?

Os olhos dela se perderam quando ele tocou no nome de Mitchell. Aquela era a maior prova de que estava certo. Mesmo que Annie parecesse se entregar verdadeiramente quando estavam sozinhos, em seu quarto, a noite. Ainda guardava sentimentos pelo outro. Permanecer aquele tempo longe lhe garantiria a certeza de que teria um filho seu.

— Eu assinei o contrato. Isso não lhe garante que permaneceria longe de Peter? – o bilhete do outro, escondido em sua bolsa de mão, lhe pesava na consciência como que contribuindo para os argumentos do marido.

Ela dissera a Daisy que jamais faria nada que fosse contra sua moral. Contra sua honra. Mas, só ela sabia o quanto fora difícil resistir no parque. O quanto fora difícil... Jon parou diante dela, e o aroma de verão penetrou suas narinas. Ela o olhou firme sentindo o corpo se arrepiar.

— Agora, minha garantia é totalmente segura. – ele concluiu segurando o queixo dela. – Vamos jantar em uma hora. Leisa já está preparando seu banho. No andar de baixo, na porta em frente a escada. Desça quando quiser.

Desça quando quiser... ela repetiu mentalmente retirando o queixo das mãos dele. Jon apertou os lábios, deu meia volta e saiu do quarto, dizendo a si mesmo que tudo acabaria bem, bastava apenas que fosse persistente e tivesse paciência.      


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Notas finais do capítulo

N/A: Jon convive com mulheres, ele acha que as conhece. Mas, ele nunca amou nenhuma delas. Na verdade quando estamos apaixonados nos transformamos em seres babacas não acham? BJ e muito obrigada pelos reviews, amo saber a opinião de todas vocês. Nos vemos no próximo.