De Repente Papai escrita por Lady Black Swan


Capítulo 38
Antecedentes familiares.


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente, espero que gostem do capitulo. :D



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Foi tio Inuyasha quem salvou o almoço, impedindo-o de acabar queimando.

Rin confiava em Sesshoumaru-Sama e sabia que ele não estava “barganhando os termos de seu resgate” como Sango insistia enquanto discutia com Miroku porque ele a estava impedindo de ir bisbilhotar e escutar o que estava sendo discutido no escritório, mas a presença de Keiko-san ali a deixava muito desconcertada.

Rin amava Keiko-san e certa vez, mesmo que apenas por um momento, até pensara que se fosse difícil demais para seus avós ficar com ela, então talvez Keiko-san pudesse… mas era impossível. E internamente uma partezinha bem pequena e secreta sua desejava nunca mais vê-la, mas quando admitia isso, mesmo que apenas para si mesma, sentia-se horrivelmente culpada, Keiko-san era boa e a queria muito bem e Rin também a amava, porém não havia outra forma porque… Keiko-san tinha  o mesmo rosto de Mariko, e isso doía muito.

—Rin. — Sesshoumaru-Sama a chamou abrindo a porta da cozinha — Eu vou comer apenas mais tarde, então se certifique de separar uma porção para mim antes que os parasitas devorem tudo.

—Está bem Sesshoumaru-Sama! — concordou de imediato.

—Sesshoumaru! — Sango o chamou, quando ele já se virava para sair — Do que é que você e aquela mulher estiveram falando durante todo esse…?!

—E sua prima quer se despedir de você. — acrescentou, interrompendo Sango — Grite se ela tentar enfiá-la num saco.

Rin piscou sem compreender.

—Hã… tudo bem.

Keiko-san não tentou enfiá-la em saco algum, e também não disse mais nada sobre Rin ter que ir pegar suas coisas para ir embora com ela, e enquanto tio Inuyasha, Sango e Miroku fingia não estar olhando (vigiando) ela abaixou-se e a abraçou para dizer ao pé de seu ouvido:

—Você sabe que Mari-nee-san te amou mais que qualquer um nesse mundo, não é Rin? Mas nós também te amamos muito, muito mesmo, eu… e também titio e titia.— Rin balançou a cabeça silenciosamente para cima e para baixo, Keiko-san hesitou, e então se afastou minimamente para olhá-la nos olhos, ainda segurando-a pelos ombros, e dizer-lhe: — Nós nunca faríamos nada propositalmente que pudesse magoá-la, mas às vezes os adultos dizem coisas que não queriam. — Rin não entendeu, mas acenou com a cabeça mesmo assim, e Keiko-san colocou-se de pé olhando-a seriamente — Diga aquele homem que eu vou me certificar de tirar essa história a limpo por mim mesma, está bem?

—Tudo bem. — concordou mesmo sem entender direito o que se passava.

Mas agora sua curiosidade havia sido atiçada ao máximo. Afinal o que é que Sesshoumaru-Sama havia dito a Keiko-san para que ela simplesmente fosse embora? Keiko-san não era de desistir fácil das coisas nunca!

—Por que você não pergunta? — Soten perguntou-lhe no tom mais óbvio possível quando as três saiam do colégio no dia seguinte.

Rin balançou a cabeça.

—Sesshoumaru-Sama é muito fechado, se ele quisesse que eu soubesse já teria me dito.

—Mas ele te disse quando ia viajar depois que você perguntou. — Shiori comentou.

—Sim, mas isso foi diferente. — retrucou relutante.

Será que ela estava com medo? Mas… por quê?

—Você devia perguntar. — Soten incitou-a — O máximo que pode acontecer é ele não querer responder, ele não vai ficar bravo apenas por você perguntar.

—Acho que não. — concordou.

Soten deu-lhe duas tapinhas no ombro.

—Nós vamos pelo outro lado, então amanhã você nos conta como terminou. — despediu-se.

Elas estavam certas. Rin pensou consigo mesma enquanto se dirigia ao costumeiro ponto de encontro onde Sesshoumaru-Sama a recolhia. No máximo ele se recusaria a responder, mas certamente não ficaria bravo com ela… ainda assim seria melhor perguntar sobre Keiko-san depois de perguntar se ele por acaso lhe conseguiria um autógrafo de Kagura-sensei antes da estreia de seu anime, pois se fosse para se arriscar a deixar Sesshoumaru-Sama calado e sem querer responder mais coisa alguma, que fosse depois disso.

Aí está você!

—Tio Inuyasha! — Rin piscou aproximando-se ao ver o tio na esquina — O que faz aqui?

—Feh, Sesshoumaru me ligou e disse para vir pegá-la, o imbecil nem quis saber se eu tinha outros planos. — o tio reclamou cruzando os braços — Eu disse ao estúpido que não estava indo para casa e ele me disse “vá buscar Rin ou você não terá uma casa para onde voltar”, feh!

Finalizou lhe estendendo a mão, que Rin aceitou sem pestanejar.

—Então Sesshoumaru-Sama não vem? — quis certificar-se.

—Não. — o tio começou a levá-la dali.

—E para onde vamos? — afinal ele havia dito que não estava indo para casa.

—Para a casa de Kagome!

Seu tio agiu de forma estranha durante boa parte da viagem, no metrô ficou digitando no celular e resmungando o tempo todo, acabaram descendo uma estação antes e não escutando quando Rin lhe disse que era a estação errada, só se dando conta do engano quando saíram para a rua.

—Pirralha, por que não me avisou?! — reclamou.

—Eu avisei! — defendeu-se.

—Feh! Que seja!

Ele puxou-a para que começassem a andar, mas vinte passos depois percebeu que estavam indo na direção errada e, praguejando, refez seus passos, até que cruzaram o caminho de um floricultura e seu tio parou ali, olhando para a vitrine por vários instantes.

—Gosta de flores, tio? — perguntou sorrindo.

—De que flores você gosta Rin? — ele perguntou de repente.

—Margaridas amarelas. — respondeu surpresa, sem pensar.

Amarelo era sua cor favorita e as margaridas a lembravam de sua mãe, elas eram as flores favoritas de Mariko. 

—Feh, isso é besteira, vamos logo Rin! 

Chamou levando-a dali, mas dez passos depois ele mudou de ideia, voltou e comprou uma dúzia de margaridas, enquanto repetia sem parar que tudo aquilo era uma grande besteira.

E além de tudo, seu tio sempre usava o uniforme desarrumado: ele nunca colocava a gravata nem fechava o blazer, nem colocava a camisa para dentro das calças, e até a mochila, que ele simplesmente jogava de qualquer jeito sobre um ombro. Mas naquele dia estava tão impecável quanto Sesshoumaru-Sama quando precisava “se fazer apresentável” para dar autógrafos.

Tudo muito estranho.

—Tio Inuyasha está tudo bem? — perguntou curiosa — O senhor vai procurar emprego?

—Que? — ele olhou-a quando pararam no sinal, esperando para atravessar — Já disse que estamos indo até a casa de Kagome, Rin.

Soltou sua mão para ajeitar a gravata.

—Vai me deixar lá enquanto procura emprego? — sugeriu.

Se bem que isso ainda não explicava as flores.

—Por que cismou com essa história de emprego agora? — ele voltou a pegar sua mão para atravessarem a rua.

—Mamãe se arrumava assim para ir procurar emprego, e Sesshoumaru-Sama também se arruma desse jeito para ir dar autógrafos, e ele disse que já está na hora de você deixar de ser um vagabundo.

—Miserável! 

Algumas pessoas lançaram olhares feios ao tio, e ele encolheu os ombros e resmungou qualquer coisa, já estavam a apenas duas quadras da casa de Kagome, quando ele parou ao lado da janela de um carro estacionado na rua para arrumar o cabelo.

—Então o senhor não vai procurar emprego? — quis confirmar enquanto o esperava.

—Já disse que não. — negou afastando-se do carro.

Ela o seguiu.

—E vai continuar sendo um vagabundo, tio?

—Que droga, Rin, eu não sou um vagabundo! — reclamou — Eu vou à escola, tá legal? E estou estudando para o vestibular! E dá pra parar de ficar ouvindo o que aquele imbecil do Sesshoumaru diz?!

Rin achou graça daquilo, e ainda estava rindo quando chegaram à casa de Kagome, e uma empregada, uma moça jovem e bonita de cabelos pretos cortados curtinhos, com um laço vermelho na cabeça que combinava com o batom — e que Rin não vira da última vez em que estivera ali, afinal quantas pessoas trabalhavam naquela casa? —, os recepcionou.

—A senhorita nos avisou de que o senhor viria. — Ela assegurou curvando-se respeitosamente antes que seu tio pudesse dizer qualquer coisa sobre o porquê de estarem ali. — Já o estão aguardando.

E então lançou um breve olhar de dúvida em direção à Rin, que lhe sorriu sem jeito.

Movendo o peso de um pé para o outro, seu tio pareceu incomodado com aquele tratamento formal e cortês… talvez porque ele estivesse mais acostumado a ficar discutindo o tempo todo com Sesshoumaru-Sama.

—Eu tive que trazer minha sobrinha. — avisou colocando uma mão em suas costas para que ela desse um passo à frente.

A empregada sorriu-lhe gentilmente.

—Você gostaria de um lanche, querida? Posso levá-la para se juntar aos nossos outros convidados e então levar-lhe o lanche lá.

—Que outros convidados?

Sempre sorridente a empregada voltou-se para seu tio e respondeu:

—Seus amigos, o simpático senhor Miroku e a senhorita Sango.

—Mas o que é que esses intrometidos fazem aqui?! — tio Inuyasha praguejou na mesma hora.

Então Sango e Miroku não deviam estar ali? Rin havia achado que haviam todos combinado de se reunir na casa de Kagome, como na vez em que seu tio havia ficado hospedado ali.

Um pouco sem jeito a empregada pegou suas mochilas e depois os guiou pela casa, mas não os conduziu para o mesmo “quarto de jogos” de antes — aquele cômodo que parecia uma dimensão totalmente paralela dentro daquela mansão de estilo clássico japonês — e quando se sentou sobre os calcanhares e anunciou a presença deles ali logo antes de deslizar a porta para o lado, revelou um salão completamente diferente, muito mais clássico e que definitivamente fazia parte da casa, onde Sota-kun, que estava usando quimono e haori, jogava cartas junto com Sango e Miroku ainda usando os uniformes escolares assim como o tio de Rin.

—O jovem mestre Sota está sendo o anfitrião aqui, jovem senhorita, por que não se junta a eles? — ela indicou a Rin que entrasse também.

—Muito obrigada. — Rin murmurou curvando-se antes de entrar.

—Yura, será que dá pra não ser tão formal?! — Sota-kun reclamou — Só estamos jogando cartas aqui! E você vai ter que esperar até a próxima partida começar para poder entrar.

Finalizou apontando para Rin quando ela sentou-se ao lado de Sango.

—Não seja ruim com a nossa Rin-chan, Sota. — Miroku tentou apaziguar — Não seria ruim pararmos a partida aqui para recomeçarmos uma nova e assim deixá-la jogar também.

Rin estava prestes a se desculpar e dizer que aquilo não era necessário, ela esperaria a partida terminar para entrar na próxima, quando percebeu a forma cheia de desprezo como Sota-kun e Sango olhavam para Miroku.

—Está dizendo isso só porque acabamos de te pegar trapaceando pela segunda vez e ainda assim você está perdendo, não é? — Sango perguntou com voz monótona — Seu lixo.

Miroku encolheu-se.

—Sango não acha que está exagerando um pouco…?

—Que verme. — Sota-kun completou, também usando o mesmo tom monótono de Sango.

—Oi! Seus estúpidos enxeridos! — tio Inuyasha os chamou repentinamente, e muito irritado. — O que é que estão fazendo aqui?! E você também pirralho! 

Sota-kun, Sango e Miroku olharam-no como se não soubessem do que tio Inuyasha estava falando, Rin também o olhou da mesma forma, mas suspeitava que os outros estavam apenas fingindo.

—Eu moro aqui. — Sota-kun olhou para tio Inuyasha como se ele fosse louco.

—E é óbvio que viemos aqui para visitar o Sota. — Sango responde calmamente.

Mas o tio não engoliu aquela história e apontou-os acusadoramente. 

—Você devia estar na aula de arco e flecha, ou de piano ou sei lá qual outra das dezenas de atividades extracurriculares que você faz pirralho! E que droga de desculpa é essa que estão aqui para visitá-lo?! É óbvio que só estão aqui para me espionar! 

—Oras, por favor, não é cara? — Miroku o interrompeu deixando suas cartas na mesa e girando os olhos — Eu te adoro cara, mas qual é? O mundo não está resumido ao seu umbigo.

—Seu bando intrometidos cínicos de m…!

Tio Inuyasha já estava ameaçando entrar na sala, quando Yura-chan segurou-lhe a barra da calça.

—Senhor, a senhorita, o mestre e a senhora o estão aguardando. — relembrou-o.

Tio Inuyasha puxou a perna, soltando-se, estalou a língua e deu meia volta.

—Feh! Vamos logo então!

Mas Yura-chan deixou-se ficar ainda mais um momento para trás, e curvou-se respeitosamente para dizer:

—Logo mais estarei de volta com o prometido.

Assim que a porta fechou-se, Sota-kun, Sango e Miroku suspiraram em conjunto.

—Eu disse que ele iria descobrir na mesma hora em que nos visse. — reclamou Miroku.

Sango concordou com uma careta.

—Inuyasha é um idiota, porém também não é tão cego assim, mas em primeiro lugar ele nem deveria ter nos visto…

—Então vocês vieram mesmo espionar! — Rin exclamou.

—É claro que sim, acha que poderíamos perder algo assim? — Sango admitiu dando de ombros.

—Pelo menos ele não desconfiou da… — Sota-kun começou a dizer.

—E toda aquela história sobre Miroku trapacear nas cartas e ser um lixo e um verme era falsa também?! — Rin acabou por interrompê-lo sem perceber.

—Ah não, essa parte era verdade. 

Sota-kun afirmou, lançando um olhar escuro e vazio a Miroku, que começou a tossir.

—Por que não esquecemos isso por agora e nos concentramos em nosso verdadeiro objetivo aqui? — sugeriu.

—E o que vamos espiar? — Rin perguntou animada,

Sango olhou-a.

—Então também está interessada Rin?

—Bem… — ela remexeu-se um pouquinho — É que você disse que era algo que não dá pra perder. Fiquei curiosa.

—E de fato trata-se de algo imperdível, minha cara Rin-chan! — Miroku exclamou excessivamente animado, claramente ainda tentando desviar a atenção de todos de si mesmo — Acontece que hoje nós nos reunimos aqui para assistir em primeira mão o dessecamento de Inuyasha!

—Destacamento? — repetiu sem entender.

—Dessecamento. — Sota-kun a corrigiu. — É quando você abre um corpo para estudá-lo, tirando todos os órgãos internos dele.

Rin já estava com os olhos muito arregalados, portanto Sango deu uma tapa na nuca de Sota-kun e os repreendeu:

—Vocês estão assustando-a, seus idiotas, expliquem de uma maneira que faça sentido!

Esfregando a nuca e girando os olhos Sota-kun recomeçou:

—Então escute bem, garotinha. — disse, mesmo que ele mesmo provavelmente não fosse nem sequer dois anos mais velho que ela — Ser rico é muito maneiro, eu não vou negar, mas muitas das famílias mais ricas também são muito rigorosas e gostam de controlar cada mínimo detalhe e minuto da vida de seus herdeiros: onde vamos, quando vamos, o que vestimos, o que comemos, o que e como fazemos, e com quem casamos.

—Casar?! — engasgou-se.

—Pois é, coisas do tipo. — Sota-kun encolheu os ombros — Por sorte nossa família não é tão rigorosa quanto poderia ser, e a mana e eu temos liberdade para fazermos o que quisermos desde que cumpramos com nossas obrigações.

—Que obrigações? — já estava curiosa sobre isso há um tempo.

Sota-kun começou a enumerar nos dedos:

—Coisas básicas, sabe? Tirar boas notas, comparecer a eventos sociais quando solicitado, ser educado,  e nunca socar o nariz de alguém ou ameaçar virar suas orelhas do avesso…

—O que?!

—Nada! 

Corou rapidamente, enquanto Sango e Miroku continham suas risadas colocando a mão sobre a boca, e Miroku inclinou-se sobre a mesa arqueando bem as sobrancelhas para sussurrar a Rin o mais alto que podia:

—Com esse histórico eu fico realmente surpreso que tenham deixado-o fazer aulas de arco e flecha!

—Aquele metidinho estava merecendo, ele estava provocando a Hitomi há dias! E jogou a mochila dela na lama, mas ninguém nem quis me ouvir… — Sota-kun defendeu-se com as orelhas tornando-se vermelhas: — De qualquer jeito. — pigarreou empurrando Miroku para trás e voltando a contar nos dedos como se nada tivesse acontecido: — Não ficar na rua até tarde, sempre avisar quando e para onde vai e a que horas vai chegar, mas nunca sair sozinho e sempre chamar o carro para nos buscar, em caso de viagens, mesmo que viagens escolares e apenas para o final de semana, deve-se avisá-las e começar a planejá-las com pelo menos três semanas de antecedência.

—É muita coisa. — comentou.

—Na verdade nem são tantas assim. — suspirou — Também devemos praticar algum tipo de atividade extracurricular, pelo menos três delas, algo que “equilibre mente e espírito” e/ou acrescentar algo de valor a nossos currículos.

Rin não estava entendendo mais da metade do que ele dizia, ela sacudiu a cabeça tentando clarear os pensamentos.

—Mas Kagome não faz nenhuma atividade extracurricular. — isso pelo menos ela sabia, afinal Kagome estava quase sempre na sua casa.

Sota deu de ombros.

—Uh, bem, a mana tem um pouco mais de liberdade do que eu…

—Afinal não é como se Kagome quase tivesse feito alguém engolir os próprios dentes certa vez, e agora eles queiram mantê-la ocupada e sob vigilância pelo máximo de tempo possível para garantir que não vai mais acontecer. — Sango comentou sorrindo zombeteira.

—Caramba não foi para tanto! — Sota-kun reclamou.

—Tem razão. — Miroku concordou — Eles ainda te deixam manejar arco e flecha afinal.

—De qualquer forma. — Sota-kun pigarreou — Nem mesmo a mana pode simplesmente decidir que vai começar a sair com alguém sem que ele tenha sido aprovado pela família antes. E agora que vovô descobriu sobre o irmão cachorro ele exigiu conhecê-lo para uma avaliação.

—Uma autópsia! — Miroku brincou rindo.

Rin bateu com o punho na palma da mão.

—Por isso que tio Inuyasha estava tão nervoso e estranho e até comprou flores! — compreendeu.

—Para o avô de Kagome? — assustou-se Miroku.

—Não seja idiota, é para a Sra. Higurashi, a mãe deles também está aqui hoje! — Sango o corrigiu, logo antes de franzir o cenho — Pelo menos eu espero que seja para ela.

Mas Sesshoumau-Sama sempre dizia que tio Inuyasha era tão idiota e hoje especialmente ele parecia tão estranho e distraído, e se acabasse mesmo dando as flores para o vovô Higurashi…?!

A porta do salão deslizou suavemente, Yura-chan estava de volta, Rin achou que ela havia trazido o lanche, mas ela estava carregando um notebook.

—Venha rápido! — chamou acenando com a mão. — O velho mestre já está a caminho!

Sota-kun saltou sobre a mesa e correu para a porta.

—Mas por que você demorou tanto? — reclamou.

—Bem, jovem mestre, acontece que essa é uma missão que exige cautela e não pressa! — Yura-chan respondeu de queixo erguido — E devia agradecer-me, pois eles não desconfiaram de nada!

Rin olhou-a surpresa, então ela estava no complô também?!

—Onde você a colocou? — Estava dizendo Sota-kun.

—No vaso de plantas, conforme me foi instruído. — Yura-chan respondeu — No entanto, jovem mestre, temo que a câmera tivesse um tamanho um pouco indiscreto, por isso tive que ocultá-la um pouco mais entre as plantas então talvez a imagem fique um pouco obstruída…

—Tá, tá, desde que possamos assistir! — Sota-kun puxou o notebook para si — E corta logo essa de “jovem mestre” Yura.

Yura-chan sorriu-lhe estendendo a mão.

—Como quiser, então creio que já seja hora de cumprir com a sua parte no acordo So-ta-kun. — cantarolou a última parte.

—Tá. — Sota-kun bufou.

Segurando o notebook debaixo do braço ele puxou uma carteira de dentro do obi, de onde tirou duas notas de ¥ 1.000,00 e as entregou para Yura-chan com tanta naturalidade quanto se fossem alguns meros trocados — Mesmo que, há menos de uma semana tio Inuyasha tivesse discutido por quase dois dias inteiros com Sesshoumaru-Sama apenas para convencê-lo a pagar-lhe uma mesada de ¥ 1.000,00 por mês.

—Voltarei dentro de um instante com os lanches. — Yura-chan prometeu fechando a porta com um sorrisinho.

—Não se deixem enganar pela atuação inocente e prestativa dela. — Sota-kun avisou-os retornando para junto deles — Ela confiscou meu notebook para ter certeza de que eu cumpriria com a minha parte no acordo e também tenho sérias suspeitas de que foi ela quem denunciou ao vovô sobre a mana e o irmão cachorro.

Enquanto todos se amontoavam à sua volta para verem melhor, Sota-kun colocou o computador em cima da mesa, mal dando atenção às cartas de baralho que ainda estavam espalhadas por ali, e o ligou fazendo a imagem de Kagome e tio Inuyasha surgir. Havia algumas folhas no canto da tela e a imagem também estava entrecortada pelo que parecia ser um pequeno galho, mas isso em nada atrapalhava para que eles vissem o quanto Kagome estava bonita e elegante usando um quimono verde e com os cabelos presos num coque e como tio Inuyasha estava nervoso puxando a própria gravata enquanto cheirava a manga de seu blazer.

—… fedendo Kagome! — seu tio estava dizendo — Eu sabia que deveria ter passado em casa para me trocar!

—Não seja idiota Inuyasha, se tivesse feito isso só teria se atrasado a troco de nada e vovô gosta de pontualidade! — Kagome o forçou a baixar o braço e parar de cheirar a manga — Eu já disse que você está ótimo!

—Sim, mas…

Engasgou-se quando Kagome arrumou sua gravata apertando-a tanto como se fosse um nó de forca, eles estavam sentados sobre os calcanhares no que parecia uma versão um pouco menor da sala onde Rin se encontrava e o buquê de flores estava esquecido no chão entre os joelhos de ambos.

—Vai ficar tudo bem, é só ficar calmo. — garantiu Kagome… embora ela mesma tenha se posto imediatamente ereta juntamente com tio Inuyasha assim que ouviram a porta sendo aberta.

Pela forma como estavam se comportando Rin já estava de olhos arregalados torcendo o tecido da saia entre seus punhos, esperando ver um velho grande e assustador… mas quando ele entrou no foco da câmera era apenas um senhorzinho pequeno e curvado quase completamente careca usando hakamas e kosode e Rin piscou surpresa, ao lado do vovô Higurashi havia uma mulher usando um quimono simples lilás e cabelos castanhos cortados curtos.

—Meu avô e minha mãe. — anunciou Sota-kun.

—Espero que não tenha esperado muito, meu jovem. — o vovô Higurashi iniciou, se dirigindo ao estrado e estendendo seu braço a Sra. Higurashi para que ela o apoiasse e ajudasse enquanto ele se abaixava para sentar-se sobre uma almofada ali, enquanto a Sra. Higurashi acomodava-se tranquilamente logo à frente de Kagome e o tio de Rin.

—De forma alguma senhor! — tio Inuyasha negou rapidamente.

—Não? — vovô Higurashi tossiu — Então suponho que não tenha chegado há muito tempo, isso significa que já chegou atrasado à primeira reunião com a família de…?

—Vovô! — Kagome o repreendeu, a essa altura tio Inuyasha já tinha os olhos bastante arregalados — O senhor mesmo acabou de se desculpar pelo atraso!

—Eu sou velho e vocês sãos jovens, Kagome. — o vovô respondeu, apoiando-se num apoio para braço — Vocês têm tempo de sobra para esperarem por mim, já a mim obviamente não resta muito.

—Francamente vovô! — Kagome girou os olhos.

—Eu trouxe essas flores! — tio Inuyasha exclamou repentinamente lembrando-se do buquê próximos aos seus joelhos e estendendo-o para o vovô Higurashi, assustando-se e corrigindo o movimento um segundo mais tarde, voltando-se agora para a Sra. Higurashi — São para a senhora!

Ao lado de Rin, Sango-chan bateu na própria testa.

—Mas que idiota. — resmungou.

Sorrindo gentilmente a Sra. Higurashi aceitou as flores.

—Muito obrigada querido. — pronunciou-se pela primeira vez — Veja só que grosseria a nossa, nem sequer lhe oferecemos um pouco de chá. Está servido?

—Claro! — ele respondeu de imediato, e a Sra. Higurashi bateu palmas para chamar uma empregada e pedir-lhe que lhes trouxesse chá.

Rin arqueou as sobrancelhas com ar surpreso, ela nunca soube que seu tio gostava tanto assim de chá…! Ou era o que estava pensando até Miroku comentar entre risadas:

—Do jeito que ele está, aposto que aceitaria tomar até um copo de vinagre se lhe oferecessem!

—Shiu! — chiou alguém, mas Rin não teve certeza se havia sido Sango ou Sota-kun.

Todos estavam tão concentrados no que se passava na tela do notebook que sequer ouviram quando Yura-chan retornou com os lanches, sobressaltando-os quando ela pareceu simplesmente materializar-se junto a eles com uma bandeja, anunciando:

—Trouxe chá e bolinhos de arroz.

—Yura! Caramba! — exclamou Sota-kun.

Ao mesmo tempo, Rin pegou para si uma xícara de chá e um bolinho de arroz murmurando seus agradecimentos, juntamente com Sango e Miroku. 

—E como eles estão se saindo? — Yura-chan questionou sem alterar-se, estendendo sua bandeja para Sota-kun também.

—Vovô já está usando tudo o que o irmão cachorro diz contra ele e mamãe pediu chá. — Sota-kun respondeu pegando um bolinho de arroz para si.

—Oras, típico do mestre. — Yura-chan comentou com uma risadinha, acomodando-se junto a eles.

No outro salão, mostrado através do notebook, depois de o chá já ter sido servido, a Sra. Higurashi foi a primeira a recomeçar a falar:

—É um prazer finalmente conhecê-lo Inuyasha-kun, nós estávamos realmente ansiosos por isso. — Sua fala era lenta e gentil, mas havia algo nela que deixou os pelos da nuca de Rin arrepiados em estado de alerta. — Especialmente depois que fomos informados que você inclusive já esteve hospedado aqui por um tempo, não é mesmo?

Involuntariamente Rin moveu seu olhar em direção a Yura-chan, e logo percebeu que todos à sua volta faziam a mesma coisa, mas no meio de tudo Yura-chan permaneceu placidamente bebendo seu chá e fingindo nem perceber nada daquilo.

—Queira perdoar-me por não ter sido uma anfitriã adequada na época. — continuou a Sra. Higurashi — Mas creio que seria de se esperar que minha filha pudesse ter me pedido permissão antes de trazer o namorado para dormir em nossa casa.

—Na verdade, naquela época nós não… — tio Inuyasha tentou corrigir.

Mas a Sra. Higurashi prosseguiu falando, como se ele não houvesse dito coisa alguma:

—Ou ao menos que houvesse me avisado sobre sua estadia aqui. — ela estava sorrindo enquanto falava, mas tio Inuyasha permanecia com as costas tão retesadas como a corda de um arco prestes a romper-se. — Claro que, ainda assim, foi muita grosseria de minha parte ficar tão imersa em meus afazeres e deveres diários para não ter notado tão ilustre presença não convidada em minha própria casa. Porém também não foi muito educado de sua parte simplesmente dispor-se a dormir aqui sem sequer ter-se apresentado a nós adequadamente antes.

Quando ela terminou de falar, ainda tinha o mesmo sorriso tranquilo no rosto, mas tio Inuyasha estava completamente boquiaberto.

—Mamãe tem essa carinha, mas é completamente mortífera em seus ataques. — Sota-kun comentou girando os olhos.

—F-foi inadequado da minha parte! — gaguejou o tio de Rin. — Peço desculpas.

—Nessa família gostamos de tudo às claras. — a Sra. Higurashi afirmou — Quer dizer, como poderemos saber com que tipo de pessoas meus queridos filhos podem estar se envolvendo se eles me esconderem coisas? Eu poderia pensar que você tem intenções ruins com minha filha, sabe? 

—De forma alguma!

—Verdade? Sinto-me aliviada, e como parece genuinamente arrependido sei que não farão nada por minhas costas, pois do contrário, como uma mãe zelosa e responsável que sou, eu evidentemente talvez tivesse de recorrer a outros meios para manter-me informada. E quem sabe que tipo de coisas eu poderia descobrir a seu respeito, não é mesmo?

Tio Inuyasha empalideceu e engoliu em seco enquanto acenava afirmativamente com a cabeça, como se houvesse engolido a própria língua.

—Mamãe!

Kagome exclamou corando, mas sua mãe limitou-se a piscar inocentemente.

—Teremos de revistar Inuyasha antes de irmos embora, para ter certeza que ele não está levando nenhuma câmera os escuta oculta nas roupas. — comentou Sango.

—Então é melhor vocês todos também revistarem uns aos outros só por garantia. — Sota-kun aconselhou.

—E se ele tiver engolido a escuta junto com o chá? — Miroku perguntou de repente.

Engasgando-se, Rin olhou assustada para seu próprio copo, praticamente já vazio.

—Miroku não diga besteiras! — reclamou Sango, dando tapinhas nas costas de Rin.

Mas ela não deixou de notar que a própria yunomi de chá, ainda cheia pela metade, de Sango havia sido deixada imediatamente de lado, assim como a de Miroku também, e sorrindo calmamente Yura-chan ofereceu-lhe um lenço.

—Obrigada. — murmurou aceitando o lenço, mas não conseguiu evitar o olhar desconfiado.

E se tivesse uma escuta em sua barriga agora? Eles a ouviriam quando fosse ao banheiro? E também os sons estranhos que sua barriga fazia quando ela tinha fome? Rin estava corando só de pensar nisso.

Vovô Higurashi tossiu.

—Não que estejamos desconfiando de sua índole ou da capacidade de julgamento de Kagome, meu rapaz, mas Saori tem razão, e não seria nenhuma novidade alguém tentando se aproximar de um dos membros da família por outros interesses. Eu mesmo mandei que o histórico de Saori fosse investigado até a terceira geração quando meu filho simplesmente anunciou o noivado de ambos.

—Vovô ninguém aqui está noivando! — Kagome protestou.

—Mas claro que tudo dependerá da aprovação ou não dele por parte do velho mestre. — Yura-chan comentou casualmente enquanto terminava seu chá.

Então se o avô e a mãe de Kagome gostassem de tio Inuyasha, ele e Kagome iriam se casar?! Rin arregalou os olhos, inclinando-se um pouco mais para perto da tela, será que eles a deixariam levar as alianças? Ou então vir jogando as pétalas de flores na frente da noiva? Ah, mas e se, por acaso, eles fossem ter um casamento budista tradicional? A família de Kagome parecia gostar mais daquelas coisas… se bem que eles ainda estavam no colégio, e pessoas no colégio não podiam se casar, não é? Mas eles iriam se formar logo… a cabeça de Rin dava voltas, e mais voltas, quando o vovô Higurashi pigarreou e começou a discursar:

—Nós temos uma das maiores redes de cosméticos do país, os Higurashis vêm de uma extensa linhagem de monges, sacerdotes e herbologistas, e nossos registros mais antigos datam do fim da Era Meiji para o início da Era Taisho, quando um par de irmãos elaborou juntos uma série de incensos e óleos de efeito calmante que, diziam eles, haviam sido abençoados pelas mãos de Amanterasu-Sama em pessoa, um bela de uma lorota, é claro, mas ainda assim os óleos e os incensos eram realmente muito bons e por isso venderam bem, a esposa de um deles acabou também ficando famosa por seu tônico capilar que dava força e brilho aos cabelos das damas de alta classe, tempos mais tarde a neta e seu marido criaram uma linha de maquiagem e cremes cosméticos, e seu genro, um caixeiro viajante, ficou encarregado de distribuí-los pelo país, até que os produtos chegaram às mãos…

—E lá vai ele de novo. — suspiraram Yura-chan e Sota-kun.

—Vovô! — Kagome o interrompeu — O senhor queria conhecer meu namorado e aqui está ele: seu nome é Taisho Inuyasha. — abraçando ao braço de tio Inuyasha ela puxou-o para mais perto e continuou: — Ele é bastante atlético, mas não faz parte de nenhum clube da escola, e também não é particularmente inteligente, suas notas variam de médias para ruins e provavelmente vai apanhar bastante para conseguir entrar na faculdade, se é que vai conseguir ser aprovado de primeira, e não estou dizendo que ele é burro, mas às vezes parece que ele gosta de agir como se fosse e demora bastante para entender as coisas, mesmo quando elas são bem óbvias, como por exemplo que posso ficar zangada se ele me diz umas quinze vezes que esperar duas horas numa fila por um bolo de edição limitada é uma completa idiotice e depois ainda querer comer um pedaço!

—Bruxa por que está falando disso agora? — tio Inuyasha reclamou — Eu já pedi desculpas, não pedi?

—Mas você comeu metade!

—Eu disse que pagaria se você quisesse!

—Ai, mas por que você não entende?! — Kagome ergueu as mãos como se fosse arrancar os cabelos, mas baixou-as novamente — Não é pelo dinheiro, é…!

Vovô Higurashi pigarreou e de repente o casal se lembrou de que não estavam a sós ali, ajeitando-se Kagome recuperou a compostura e continuou a falar:

Ele é irmão mais novo de Taisho Sesshoumaru, um escritor de histórias de suspenses policiais e terror psicológicos, e filho de Izayoi Taisho e Inu no Taisho, ambos grandes executivos da Dai youkai company e atualmente empregados na filial de Dublin na Irlanda. 

—É realmente impressionante pensar que alguém tão desocupado como tio Inuyasha é mesmo relacionado a pessoas tão incríveis! — Rin exclamou admirada.

—Rin-chan, você está começando a soar um pouquinho como o Sesshoumaru, sabia? — Sango perguntou-lhe parecendo inexplicavelmente preocupada.

—Ah, eu amo os sapatos deles! — A Sra. Higurashi comentou gentil.

—Uma empresa respeitável. — o vovô concordou — De fato já fizemos alguns negócios com eles, no entanto mesmo não tendo uma boa memória para nomes, creio não ter tido o prazer de conhecê-los.

—Isso é algum tipo de checagem de referências? — Miroku perguntou.

Sango franziu o cenho.

—Será que haverá checagem de antecedentes também?

—Creio... Que provavelmente não, senhor. — tio Inuyasha respondeu polidamente — Meus pais só vêm ao país de uma a duas vezes por ano.

—Mas você não é independente ainda, ou é meu jovem? — vovô Higurashi perguntou.

Tio Inuyasha mexeu os ombros, desconfortavelmente.

—Vivo com meu meio… com meu irmão mais velho.

—Ah claro, o escritor. — o tom de voz daquele velho senhor fez Rin cerrar os olhos com desconfiança — Sou amigo de longa data de uma porção de editores e críticos literários e, no entanto, creio que ainda não tenha ouvido falar de seu nome… Taisho, certo?

—Sesshoumaru é um tanto quanto recluso. — Kagome tentou justificar.

—E suas obras também são reclusas?

Rin colocou-se imediatamente de pé.

—O último livro de Sesshoumaru-Sama “O terceiro badalar” esteve entre os cinquenta mais vendidos do Japão por três semanas seguidas! Ele ficou em 41°, 38° e 47°! E Rika disse que o livro era tão assustador que ela voltou a fazer xixi na c…!

—Eles não podem te ouvir garota. — Sota-kun a puxou pelo braço e Rin sentou-se novamente, completamente corada.

—E também fazer uma das amiguinhas da filha fazer xixi na cama não pode exatamente ser usada como uma boa recomendação Rin. — Miroku riu.

—Rika não é minha…

—Vocês vão calar-se logo para que eu possa ouvir o que estão dizendo ou não? — Sota-kun reclamou.

No outro salão Kagome estava reclamando com o avô algo sobre, no quesito “escritores”, ele conhecer apenas calígrafos e autores velhos e chatos, quando o avô ergueu a mão pedindo-lhe que parasse.

—Muito bem, Kag, nós não estamos aqui para falar de que tipo de contatos seu namorado tem ou deixa de ter, mas sim do seu namorado em si. Só quero certificar-me de que ele lhe é adequado…

—O velhinho não sabe se dar por vencido. — Sota-kun comentou rindo baixo, e recebendo um “shhhh” coletivo de todos que estavam ali, inclusive Yura-chan.

Apenas um pouquinho de carma. Rin cobriu a boca, tentando não rir.

—Diga-me rapaz, você tem que tipo de planos para o futuro? Pretende cursar alguma faculdade? Que tipo de carreira pretende seguir? Eu preciso saber se está realmente à altura de fazer parte da minha família.

—Vovô! — Kagome reclamou incrédula.

O tio de Rin empertigou-se.

—Na verdade senhor… eu lamento dizer, mas ainda não tenho nenhuma grande ambição para o futuro de me tornar algum grande empresário ou me tornar fabulosamente rico, então talvez eu realmente não seja capaz de estar “a altura” dessa família. — confessou — Eu planejo ir para a faculdade… hã, mas ainda não sei direito o que farei por lá… mas quero seguir uma carreira estável, algo num escritório ou na prefeitura talvez, eu não preciso de grandes luxos, mas algo que com o que eu possa me manter confortavelmente e sem precisar me matar de trabalhar já estaria excelente.

Tio Inuyasha não havia mencionado nada sobre uma “vida de reclusão”, mas a Rin pareceu que ele havia se inspirado bastante em Sesshoumaru-Sama, que pouco trabalhava e ainda assim vivia confortavelmente, isso parecia bom, ela também queria viver dessa forma, não a parte da reclusão, mas poder viver moderadamente sem matar-ser de trabalhar, pois Rin sabia mais do que ninguém como trabalhar demais podia fazer mal.

—Tenho a impressão que essa resposta foi ensaiada. — Sota-kun comentou.

—Oras. — Miroku piscou — Essa foi uma resposta mais responsável do que eu esperava vindo de Inuyasha.

—E é você quem está falando isso? — Sango olhou ceticamente para Miroku — E quanto a você, o que pretende fazer? Se tornar um anfitrião?

Miroku levou a mão ao peito com um olhar chocado.

—Sangozinha, é óbvio que pretendo me tornar um monge tal qual meu pai, e o pai dele, e o pai do pai dele! — exclamou. — Você como minha futura esposa deveria saber de algo assim!

Momentaneamente distraída da situação de seu tio, Rin arregalou os olhos, enquanto Sango ficava vermelha até a raiz dos cabelos.

—Sua futura esp…! 

Ela se engasgou, pressionou a mão contra os lábios e desviou o olhar ficando ainda mais vermelha.

—Eu… eu não sabia que você vinha de uma linhagem de monges, Miroku! — Rin comentou tentando mudar de assunto para ajudar.

Sango pigarreou.

—E-eu também não acreditei quando ouvi pela primeira vez… — ela voltou a olhá-lo lentamente semicerrando os olhos — Mas é mesmo verdade e o templo, inclusive, não é longe daqui, por isso que ele sempre pede carona à Kagome.

—Na verdade há quem diga até que somos parentes muito distantes e que somos um ramo muito menor e menos próspero dos Higurashi, mas seja como for os Higurashi são fiéis muito generosos e somos imensamente gratos a toda a sua devoção.

Ele finalizou fazendo um gesto com a mão que simbolizava dinheiro, e Sango girou os olhos e completou:

—Mas como eu poderia imaginar? Mesmo vindo de um templo você prefere passar o ano novo num templo distante só para não precisar trabalhar nessa noite!

—Então vocês estão planejando se tornarem um monge devasso e sua esposa, agora…! — Sota-kun reclamou impaciente.

—Eu tenho muito mais planejado para o meu futuro do que simplesmente casar-me com Miroku! — Sango protestou.

Mas Sota-kun fez que nem a ouviu:

—… agora calem a boca e me deixem assistir à mana e o irmão cachorro ou mando colocarem todos para fora!

Aquilo os calou… por dois segundos. E então Miroku aproximou-se de Sango, até encostar seu ombro ao dela.

—Então casar-se comigo está entre seus planos, afinal Sangorzinha. — murmurou sorrindo.

Rin a olhou também a espera da resposta, pois havia pensado exatamente a mesma coisa, mas Sango limitou-se em corar um pouco e empurrar Miroku para longe, mandando-o “calar a boca”.

De repente Yura-chan ofegou, cobrindo a boca com as pontas dos dedos.

—Acho que agora o mestre jogou baixo!

Sota-kun concordou.

—A mana vai ficar furiosa.

Rin virou-se novamente na mesma hora.

—O que foi que aconteceu?! — perguntou.

—Se você estivesse prestando atenção, não precisaria p…!

Sota-kun começou a repreendê-la quando Yura-chan o interrompeu:

—O velho mestre acabou de dizer que “uma ótima maneira de ter seu futuro garantido é certamente casando-se com a filha de uma família rica”.

Rin arregalou os olhos, seu tio nunca faria aquilo! Tudo bem, Sesshoumaru-Sama sempre dizia que ele era um vagabundo parasita idiota, mas ainda assim ele certamente não…!

—Até que isso não seria má ideia… — Miroku começou a falar, até que Sango socou-o no braço — Foi brincadeirinha amor, só brincadeirinha.

Porém agora sim Rin estava mais interessada no que se passava do outro lado da tela do que ali ao seu lado; Kagome fechou os punhos sobre o colo.

—Ouça avô, isso o que disse agora foi de uma grosseria sem tamanho! 

O repreendeu seriamente, utilizando com o avô o mesmo tom com o qual costumava censurar Sesshoumaru-Sama e que o levara a apelidá-la de “Domadora”.

—Kagome tem razão, papai. — A Sra. Higurashi apoiou-a também em tom sério, ainda que muito mais gentil. — Além do mais o rapaz não está aqui para pedir a mão dela, ainda, ele veio apenas se apresentar como namorado dela e nos cumprimentar, ele pode não ser um rapaz completamente exemplar, mas eu também acharia muito duvidoso se ele e Kagome quisessem pintar uma imagem perfeita, mas também não é de todo mal… acho que é um bom garoto. 

Kagome ofegou.

—Mamãe então…?

A Sra. Higurashi anuiu.

—Ambos têm a minha benção.

O velho vovô se engasgou.

—Saori!

—Vamos papai, o senhor e eu sabemos como Kagome é quando coloca uma coisa na cabeça. — ela afirmou calmamente — Melhor que tenha logo nossa aprovação para que tudo seja às claras, não é mesmo?

Ainda não parecendo muito convencido ele resmungou:

—Sim é verdade, mas…

—Além do mais, Kags já nos disse que ninguém está pretendendo noivar aqui. — prosseguiu a Sra. Higurashi — E mesmo que eles cheguem a esse ponto um dia, não é melhor tê-lo por perto e sob nossos olhares vigilantes para que possamos conhecê-lo melhor até lá e assim termos alguma base para nossa decisão?

Rin ficou surpresa com a velocidade com a qual os rostos de seu tio e de Kagome se tornaram tão intensamente vermelhos.

—Mamãe! — Kagome protestou.

—Está bem, Saori, você me convenceu. — o velho vovô estendeu o braço — Agora me ajude a levantar daqui.

A Sra. Higurashi anuiu.

—Com muito gosto. — eles já estavam se retirando quando, um pouco antes de chegarem à porta, a senhora parou e olhou-os por cima do ombro — Ah sim, sei que ainda é cedo, mas já que estão aqui, por que você e seus amigos não aproveitam a ocasião para ficarem para o jantar?

Yura-chan começou a recolher as xícaras de chá, e Kagome franziu o cenho.

—Que amigos?

—Feh. — tio Inuyasha cruzou os braços — Miroku e Sango se convidaram para cá também.

Yura-chan levantou-se carregando a bandeja com xícaras vazias e se curvando apressadamente.

—Creio que agora seja a minha hora, então até mais tarde jovem mestre. 

Despediu-se saindo dali quase correndo, ao mesmo tempo em que, na tela, a Sra. Higurashi afirmava calmamente:

—Sim, e eles mais Sota estiveram o tempo todo nos assistindo através de uma câmera escondida bem ali naquele vaso de plantas.

—O QUE?! — gritaram Kagome e tio Inuyasha.

E quando a câmera foi descoberta de seu esconderijo verde e ambos os grupos se encararam praticamente olho no olho através daquela lente, Rin não soube dizer qual dos dois grupos tinha os olhos mais arregalados, até que de repente Sota-kun colocou-se de pé, e gritou enfurecidamente:

—YURA SUA DONINHA TRAIÇOEIRA DUAS CARAS!

Rin não conseguiu se lembrar de imediato de algum momento em que seu tio e Kagome haviam estado tão irritados simultaneamente, embora nem um tiquinho sequer dessa raiva tenha sido direcionada a ela, muito pelo contrário: Kagome lhe deu alguns doces tradicionais e que pareciam bastante caros para comer, enquanto ela ralhava por quase duas horas inteiras com o irmão menor e os amigos, por serem intrometidos e “não respeitarem a privacidade alheia” e seu tio também não estava muito calmo. 

Na verdade todos ainda estavam muito ocupados com o sermão quando ocorreu a Rin que deveria ligar para casa e avisar que eles iriam ficar ali para o jantar, mas Sesshoumaru-sama aparentemente ainda não havia retornado e o senhor Jaken foi o único a atender, ela tentou ligar para seu celular, mas ele estava desligado, então só lhe restou deixar uma mensagem no correio de voz — apesar de o tio ter lhe dito que Sesshoumaru usava tão pouco o correio de voz que provavelmente nem sabia que existia.

—Boa noite Sango, e boa viagem! — Rin despediu-se descendo juntamente com o tio do carro que Kagome pedira que lhe levasse para casa, pois já passava das 21h.

—Até depois, Rin. — Sango continuou acenando pela janela, até que o carro desaparecesse na esquina.

—Ei tio. — Rin chamou se aproximando, enquanto ele destrancava o portão de casa — Kagome é mesmo incrível não é? Ela fica muito assustadora quando está zangada!

—Com certeza. — o tio deixou que ela passasse primeiro. — Que ótimo que dessa vez ela não estava gritando comigo, na verdade aquela família toda é assustadora ao seu próprio modo, do molequinho espalhando câmeras escondidas ao velho querendo investigar meu histórico familiar até a terceira geração! Isso sem falar da mãe, eu acho que estava tentando devorar minha alma.

Rin achou graça do tio estremecendo.

—Mas você vai ter que se acostumar a isso tio, afinal um dia vai fazer parte daquela “família assustadora”. — comentou entrando em casa.

A casa estava escura e silenciosa, portanto era óbvio que o senhor Jaken já se fora, mas não havia como ter certeza se Sesshoumaru-Sama estava ou não em casa.

—Mas por que é que você disse uma coisa dessas, pirralha? — o tio veio reclamando logo atrás — Ninguém aqui está pensando em se casar, sabia?! — ele esfregou a lateral da cabeça furiosamente — E essa conversa toda já está me dando dor de cabeça!

—Talvez Sesshoumaru-Sama tenha algum remédio para dor de cabeça. — ela abaixou-se para tirar os sapatos — Mas por que não? Hoje o Miroku pediu a Sango em casamento.

—Ele fez o que?!  — seu tio alarmou-se.

—Eu vou buscar as suas aspirinas, tio! — avisou-o alegremente. 

—Oi! Rin! Rin volte aqui e me explique isso direito! — chamou-a quando ela simplesmente o deixou ali e foi à procura do pai pela casa. — Rin não me deixe falando sozinho assim!

Com a casa tão silenciosa e escura da forma que estava, é óbvio que o primeiro lugar onde Rin foi à procura do pai foi seu escritório.

—Sesshoumaru-Sama, nós estamos de volta. — anunciou batendo na porta, não houve resposta alguma, mas quando Rin tentou girar a maçaneta, percebeu-a destrancada e a empurrou um pouco — Sesshoumaru-Sama? Tio Inuyasha está com um pouco de dor de cabeça, então eu queria saber se o senhor ainda teria alguma…?

Foi deixando de falar aos poucos, quando percebeu que seu pai não estava ali, então ele não havia chegado? 

Ela sabia que o pai guardava aspirinas na gaveta da direita da mesa — escrever era um trabalho que dava muito dor de cabeça afinal —… mas também sabia que não deveria entrar no quarto ou no escritório de Sesshoumaru-Sama quando ele não estivesse ali, e muito menos mexer nas coisas dele sem sua permissão, mas… ele não ficaria bravo por ela pegar apenas algumas aspirinas, ficaria?

Mordendo o lábio inferior a menina olhou rapidamente por cima do ombro para o corredor atrás de si.

—Desculpe pela intromissão. — murmurou e então saltou para dentro do escritório e parou no centro olhando todo o seu entorno como se fosse a primeira vez que entrava ali.

Certo… certo… agora que estava ali o que será que deveria fazer primeiro…? A cadeira de Sesshoumaru-Sama! 

Sempre quisera saber qual a sensação de sentar-se numa cadeira feita inteiramente de vidro, Rin correu até a cadeira de vidro de Sesshoumaru-Sama e sentou-se ali num impulso, prendendo a respiração um segundo mais tarde quando pensou que ela poderia ser quebrar… até lembrar-se de que Sesshoumaru-Sama passava a maior parte de seu dia ali e ela nunca tivera uma rachadura sequer, e então relaxou. Na verdade, o assento era bem mais confortável do que parecia, a menina riu consigo mesma, balançando as pernas para frente e para trás.

E agora… e agora… o que deveria fazer? Olhou a sua volta. 

Ah! Será que o notebook de Sesshoumaru-Sama tinha senha? Ela sabia que ele escrevia coisas bastante assustadoras, mas ainda assim gostaria de saber sobre o que o pai estava escrevendo agora… Não! Não! Sua mão já pairava sobre o aparelho quando, de repente, lembrou-se do porquê de estar ali: as aspirinas para o tio.

Assim, antes que voltasse a se distrair, agarrou a gaveta mais próxima e puxou-a e começou a procurar ali pelas aspirinas.

Tirou dali a caneta tinteiro que ele ganhara de Kagome e um vidro de tinta, depois um grampeador, o embrulho dos biscoitos que ela lhe dera no Valentines’day, um conjunto de chaves da casa, uma agenda preta… ah! Ali estavam as aspirinas!

Os medicamentos estavam quase no fim, mas um a menos não faria diferença para Sesshoumaru-Sama,

Rin havia recomeçado a pôr as coisas no lugar quando a agenda caiu no chão, ela abaixou-se no mesmo instante para pegá-la, mas uma folha de papel saiu voando de entre suas páginas.

Seria um rascunho de Sesshoumaru-Sama? Sorriu consigo mesma, deixando a agenda de lado e desdobrando a folha de papel.

Mas assim que passou seus olhos ali, percebeu que aquele não era rascunho algum.

E Mariko era uma mentirosa… pois Sesshoumaru-Sama não era seu pai.


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Notas finais do capítulo

FINALMENTE! FINALMENTE! Depois de quase cinco meses, e eu vou repetir, QUASE CINCO MESES, eu terminei esse capítulo, mas olha, valeu a pena.
E Então, alguém ainda está de pé depois desse tiro?
Vejo vocês na próxima!



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