De Repente Papai escrita por Lady Black Swan


Capítulo 34
Hipócrita e mesquinha sociedade.


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas!
Obrigada por voltarem e me desculpem pelo sumiço repentino, sobre esse hiatos, aconteceu devido a alguns "probleminhas técnicos", lê-se: meu computador morreu.
Quando eu consegui comprar um computador novo ele não tinha word para escrever, e a internet estava muito lenta para escrever pelo google drive ou instalar o word, resolvemos o problema da internet, voltei a escrever e o pen drive com todas as minhas histórias (e a minha vida nos últimos... 4 ou 5 anos? Simplesmente queimou kkkkk (cada k uma lágrima) francamente, foi uma coisa atrás da outra, sinceramente ainda não sei se já estarei voltando com a força total, mas só queria dizer que ainda estou viva e não os abandonei. Ok?



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Por toda a sua vida Rin dividiu um quarto com Mariko, mas depois que ela se foi já não conseguiu mais fechar os olhos ali, antes não podia dormir até que a mãe voltasse de suas exaustivas horas de trabalho, arrastando-se cansada até seu futon onde desabava e começava a ressoar quase imediatamente, e Rin aproxima-se dela… colando-se as suas costas, cheirando seus cabelos, e só então adormecia. Mas agora… mesmo que ela seguisse acordada esperando durante a noite inteira, Mariko já não voltaria nunca mais, e o imenso vazio do quarto, que se tornava cada vez maior a cada noite a mantinha continuamente desperta, ela podia ter pedido aos avós para dormir junto deles, mas eles já estavam sofrendo tanto.

 De fato a primeira vez em que ela havia tido uma noite completa de sono depois da morte de sua mãe foi quando ela chegou ao apartamento de Sesshoumaru-Sama e ele a alojou no quarto de tio Inuyasha e lhe deu sua cama, uma noite inteira de sono, sem sonhos, ou pesadelos… mas antes disso, quando ainda estava na casa dos avós, ela costumava arrastar-se do quarto até a sala para deitar-se no sofá e ali conseguir cochilar um pouco, sempre se levantava cedo e retornava ao quarto para que os avós não percebessem o que estava lhe passando, afinal eles já estavam sofrendo tanto, ela não podia lhe pôr mais aquele peso sobre as costas também...

—Se Mariko nunca tivesse dado à luz...! — era a voz de sua avó, chorosa e desesperada, mas inconfundível.

—Pare com isso! O que você vai fazer se Rin nos escutar?! — seu avô exclamou em um nível diferente de desespero.

Em nenhum momento as vozes se ergueram, mas no silêncio da noite elas quase pareciam ressoar como trovões, enquanto as sombras das paredes alongaram-se quando ele agarrou-lhe pelos ombros e a sacudiu.

—Eu sei! — sua avó exclamou frágil e trêmula, sua voz erguendo-se agudamente —Mas se ela apenas não tivesse nascido... Foi ela quem a matou!

—Pare com isso! — a sombra do avô levou as mãos à cabeça enquanto a sombra da avó caiu pesadamente sobre a sombra do sofá e fundiu-se a ela — Eu sei que está machucada, eu também estou, lembre-se de que Mariko também era minha única filha! E sempre que olho para Rin meu peito dói e sinto o coração sangrar, mas pare de dizer todas essas barbáries! Você não está se ouvindo?! E se Rin nos ouvir?!

Mas se a avó não estava escutando a si mesma, tão pouco o estava escutando.

—Sim, Rin, Rin, Rin! — ela soluçou histericamente — Você disse a Mariko que abortasse! Ninguém a julgaria por isso! Ninguém precisaria saber de nada! Mas ela se recusou, a nossa menina, ah, a nossa menina, ela sempre foi tão… tão obstinada. Disse-nos que se a obrigássemos a matar seu bebê ela sairia de casa. Mas ela era tão nova...! Então a deixamos ter a criança e ela ficou junto de nós… e agora ela morreu! Minha menina se foi! Está morta! Morta! Morta! E agora ficamos com Rin e o que faremos com ela?!

—Cale-se mulher! — vovô sussurrou urgentemente — Ela vai nos escutar, controle-se mulher! O que fará se Rin nos escutar?!

E vovó grunhiu e continuou a chorar sentidamente.

Mas Rin os tinha ouvido, sentada no alto da escada ela havia ouvido palavra por palavra, e silenciosamente retornou ao quarto de Mariko para mais uma noite em claro.

Ela tinha matado a própria mãe, e se ficasse ali mataria também aos seus amados avós, quer fosse por exaustão — como Mariko — ou por tristeza.

Assim, na manhã seguinte, nem seu avô e tão pouco sua avó a contestaram quando Rin pediu permissão para passar uma temporada na casa de Keiko-san, a prima de sua mãe e também uma querida amiga dela.

Keiko-san também estava muito sentida por Mariko, mas disse-lhes que receberia Rin com muito prazer, ela estava de férias do trabalho e as duas podiam passar um bom momento estando juntas… no entanto Rin nunca pretendeu ir realmente à casa de Keiko-san.

Para Sesshoumaru-Sama não lhe custava quase esforço nenhum ficar com Rin, por isso ela achou que tudo estava bem do jeito que estava… até tio Inuyasha sair para atender ao telefone e voltar dizendo que o avô de Rin estava ali para vê-la e já estava subindo.

—Rin! Rin querida! — Kagome-chan a chamou batendo sem parar na porta — Rin o que aconteceu?

Rin era a única a ter a concessão de poder entrar no quarto de Sesshoumaru-Sama sempre que quisesse, mas ela nunca achou que chegaria a usar aquele privilégio para encerrar-se ali dentro, passando inclusive a chave na porta, mas que escolha tinha? Era-lhe seu último porto seguro.

—Rin diga-nos alguma coisa! — Sango suplicou.

E Rin pressionou seu pequeno corpinho contra a porta, como se temessem que a qualquer momento Kagome e Sango fosse derrubá-la.

—O que está acontecendo? O que? — Miroku perguntava ao fundo.

Tremendo Rin desejou com todas as suas forças que Sesshoumaru-Sama estivesse ali, mas ele havia saído para conseguir mais caixas para empacotar o resto das coisas… dezoito horas atrás.

—Rin.

A infanta arregalou os olhos saltando para longe ao ouvir a voz profunda e séria de Sesshoumaru-Sama.

—Sesshoumaru-Sama? — balbuciou.

—Sim. — respondeu — E agora será que poderia abrir a porta do meu quarto para mim?

Rin arregalou os olhos.

—Sim! Claro! Perdão!

Ela pulou para frente e girou a chave fechando os olhos, pois estava esperando um grande alarde por parte de Kagome e Sango, e talvez Miroku e/ou seu tio Inuyasha, mas ali fora parado no corredor estava apenas Sesshoumaru-Sama.

—Muito bem Rin, o que aconteceu dessa vez? — ele perguntou calmamente, entrando e fechando a porta atrás de si.

Sem pensar no que fazia Rin correu e abraçou ao pai.

—Rin. — Sesshoumaru-Sama a chamou, e Rin sentiu sua mão passeando-lhe pelos cabelos — Por que se trancou aqui? Acaso não quer ver seu avô?

Rin conteve um soluço, como poderia explicar-lhe? Ele já sabia que ela havia matado sua mamãe, mas ainda assim resistia em contar-lhe o quanto ela realmente era uma criança ruim. E se acaso ele quisesse se livrar dela novamente?

—Vovô tem o coração fraco. — murmurou. — Ele toma dois remédios por dia e são muito caros, mas se ele me ver…

Sesshoumaru-Sama a afastou, empurrando-a suavemente pelos ombros antes de se por sobre um joelho para ter seus olhos à altura dos dela.

—Rin eu não a estou escutando. Faça-se mais clara.

Ele levou um lenço ao seu rosto para que ela pudesse assuar o nariz, suas mãos estavam geladas.

—Desculpe.

—E agora recomece. — ordenou calmamente — Por que não quer falar com seu avô?

Rin respirou fundo.

—Vovô tem o coração fraco. — recomeçou. — Ele toma dois remédios por dia e são muito caros. Mas se ele me vê… se ele me vê vai morrer também.

Sesshoumaru-Sama franziu o cenho.

—O que quer dizer com isso?

A menina mordeu o lábio inferior.

—É que… quando vovô me vê, o seu peito dói e o coração sangra, e isso é perigoso porque o coração de vovô é fraco… e eu não quero que vovô morra por minha culpa também.

Seu pai franziu o cenho e passou a mão pelos cabelos, ele estava com os cabelos molhados e a gola da camisa estava úmida com a água que lhe pingava dos fios.

—Não sei se estou compreendendo tudo que me está dizendo. — começou — Isso se trata de algo que ouviu? — Rin concordou, e Sesshoumaru-Sama suspirou profundamente. — Rin eu não posso ajudá-la se não sei do que se trata, no entanto não vou obrigá-la a me dizer nada, tudo bem? E se você realmente não quiser ver seu avô, então eu posso mandá-lo ir embora. Está certo?

Sesshoumaru-Sama ficou ali parado por mais algum tempo, a espera de sua decisão, e quando Rin não tomou nenhuma, ele começou a se levantar, mas então Rin repentinamente atirou-se sobre ele, passando os braços em volta de seu pescoço.

—Vovô tem um coração fraco, e ele não sabe, mas eu o ouvi quando disse que seu coração sangra quando ele vê-me. Porque Mariko era sua única filha. — recomeçou, com um nó em sua garganta, tremendo enquanto agarrava-se ainda mais forte ao pai — E ela morreu por minha causa! — não podia olhar para o rosto de Sesshoumaru-Sama agora, não agora! — Então isso significa que sempre que me vê… sempre que me vê… — Rin tentou engolir os soluços, ela fechou os olhos, mas suas lágrimas ainda assim caíram, molhando ainda mais os ombros de Sesshoumaru-Sama — Eu o mato aos poucos.

Sesshoumaru-Sama ouviu calado sem proferir nenhum som sequer, e Rin tremia tanto que nem tinha certeza de que ele estava respirando.

A cada dia ele descobria ainda mais o quão horrível ela era.

Ela era uma erva daninha que matava e sufocava tudo ao seu redor.

Por um segundo Rin pôde sentir os braços de Sesshoumaru-Sama em volta de seu corpinho, como se ele a estivesse prestes a abraçá-la, mas então eles afastaram-se, e segurando-a duramente pelos ombros o pai a afastou de si, obrigando-a a soltá-lo.

—Rin. — chamou-a seriamente. — O que você pensa de mim?

Confusa e surpresa Rin abriu os olhos de repente.

—O que?

—O que você pensa de mim? — repetiu calmo e seriamente.

Como se aquela fosse simplesmente à pergunta mais natural de se fazer em um momento como aquele!

E o que ela deveria dizer?

Rin hesitou. Afinal o que se passava pela cabeça de Sesshoumaru-Sama?

—É um homem sério e de poucos sorrisos, também é solitário. — começou por dizer, mas inclinou a cabeça de lado, gostar de estar sozinho e ser solitário eram as mesmas coisas? — É muito teimoso, mas inteligente, e tem uma resistência anormal ao frio… acho que sempre fala de maneira cortante, mas também é muito gen…

—Cruel. — ele a cortou.

Rin arregalou os olhos.

—Gentil, eu ia dizer gentil! — exclamou apressadamente.

Sesshoumaru-Sama sorriu-lhe brevemente, num gesto que quase lhe pareceu um escárnio e também suspeitosamente cruel e irônico. Ele certamente não ouvia muito o adjetivo “gentil” associada à sua pessoa.

—Um homem cruelmente sincero. — ele levantou-se se afastando dela em direção à sua cadeira de vidro, em meio às caixas de livros — Não foi assim que você me descreveu muito recentemente?

Será que o havia ofendido? Irritado?

E por que Sesshoumaru-Sama estava falando daquilo logo agora?

—Eu disse, e é verdade, mas…!

—E o que quis dizer com isso? — Sesshoumaru-Sama apoiou o rosto de lado sobre o punho e cruzou as pernas.

—Eu apenas… apenas…

—Que eu sempre digo a verdade? — sugeriu arqueando uma sobrancelha — Que eu nunca minto?

—Não… não exatamente que o senhor nunca minta. — ouviu-se dizendo, afinal no começo ele até mesmo negava que se lembrava de Mariko. — Mas geralmente o senhor não tem muito tato e fala sem medo de que possa machucar alguém, é cruel, mas sincero.

—Cruelmente sincero. — ele repetiu como se meditasse sobre aquelas palavras — Então me diga Rin: Você confia em mim?

—O que? — Rin piscou.

—Confia em mim? — perguntou novamente — Estaria disposta a ouvir, e acreditar, no que tenho para te dizer agora? Por mais duro, cruel, e implacável que seja?

O que ele queria dizer a ela? Rin mordeu o lábio inferior.

—Sim.

—Vai te machucar bastante. — ele a avisou. — Ainda assim irá acreditar em mim?

—Sim. — respondeu engolindo em seco.

Sesshoumaru-Sama assentiu.

—Muito bem. Então ouça bem o que tenho a lhe dizer. — ele fez uma pausa, fechando os olhos por alguns segundos antes de prosseguir. — Você não matou Mariko.

Sentindo o lábio inferior tremer, Rin sentiu as pernas cederem sob o peso de seu corpo e caiu de joelhos.

—Mas foi por minha causa! — exclamou cerrando os punhos sobre o chão de tatame — Mamãe trabalhou até morrer para me fazer feliz!

—Não foi sua culpa. — ele reafirmou absoluto.

Os lábios de Rin se entreabriram e ela balançou fortemente a cabeça, havia prometido acreditar no que quer que ele tenha para lhe contar, mas aquilo era demais.

—Mas se eu não tivesse nascido…! — ouviu sua própria voz dizendo, era como se já não tivesse mais controle do que falava — Vovô e vovó disseram a ela que eu deveria morrer e ela escolheu...

—Mariko escolheu. — Sesshoumaru-Sama repetiu suas palavras — Você nunca pediu para nascer. Mas se quer realmente ver as coisas por esse ponto de vista por que então não culpa o homem que a abandonou grávida? Creio que a culpa seria maior sobre ele do que sobre você por simplesmente nascer.

—Mas o senhor não sabia de nada! — defendeu-o, ele queria ser odiado? — Mamãe nunca te contou!

Sesshoumaru-Sama arqueou as sobrancelhas, e então, após comprimir os lábios por meio segundo, disse:

—E você nunca escolheu nascer.

—Isso não muda nada! Ainda foi por me amar que...!

—Não foi sua culpa. — Sesshoumaru-Sama repetiu implacável. Um homem de gelo em seu trono de vidro. — Quer saber o que realmente matou sua mãe? — semicerrou os olhos — Hipocrisia.

Confusa, e um tanto quanto surpresa, com a linha de pensamento que Sesshoumaru-Sama estava seguindo, dessa vez Rin não lhe respondeu nada, e ele acenou para que ela se aproximasse.

—Venha até aqui. — chamou-a. — Você ainda se lembra do que eu lhe disse sobre pais e mães solteiros?

O que ele dissera sobre mães e pais solteiros? Rin ainda tentou forçar a memória, mas nada lhe veio à cabeça, quando ele havia lhe dito qualquer coisa sobre algo assim?

—Foi quando eu a levei àquele salão para que arrumassem seu cabelo. — ele pronunciou-se, como se pudesse ler seus pensamentos, Rin não havia se dado conta de ter se levantado, mas quando deu por si estava ali, aceitando a mão que o pai lhe estendia e ele seguiu falando: — Quando um homem é pai solteiro, ele é visto como alguém sensível, amável e responsável, mas quando uma mulher é mãe solteiro ela é vista  como uma irresponsável, uma qualquer e, acima de tudo, alguém a procura de um marido para sustentá-las. Ela te amava demais, disso não há duvida, e mesmo que você tenha lhe dito que não precisava da escola cara, das roupas e dos brinquedos, que só queria a ela, Mariko seguiu trabalhando e se matando aos poucos, isso porque ela não queria que você sofresse, não queria que você se sentisse diferente.

—Eu sei, eu já sei de tudo isso! — os olhos de Rin encheram-se de lágrimas — É por isso que digo que ela morreu por minha causa! Morreu por amar-me demais!

Um soluço estrangulado escapou-lhe da garganta, e Sesshoumaru-Sama olhou-a diretamente nos olhos.

—Não. — negou duramente, mas quando secou a lágrima de sua bochecha foi com gentileza que o fez — Foi à sociedade que a matou, o Japão possui a cultura de que devemos trabalhar até cair e nunca descansar. Aqui se um funcionário sai no horário certo de seu expediente, ele não é bem visto, ele não está se esforçando, então eles devem ficar e trabalhar até mais tarde, até a exaustão e só assim será uma pessoa digna. No entanto, mulheres não podem receber tanto quanto os homens, e por que deveriam? O lugar delas é em casa cuidando do lar e das crianças, certo? Se Mariko trabalhava demais, era uma desnaturada por nunca ter tempo para você, se trabalhava de menos, ainda era uma desnaturada por não se importar o bastante com o futuro de ambas, ela trabalhou e se esforçou, forçou seu corpo para além do limite, mas ainda assim eles as julgaram, a ela e a você também, eles as excluíram e lançaram-lhe olhares por cima dos ombros enquanto falavam às suas costas, e foi tudo isso que matou Mariko pouco a pouco. Mas você ainda acha que foi sua culpa? Então preste atenção Rin. — o pai segurou-a pelo queixo e implacavelmente a obrigou a encará-lo nos olhos — Sou um pai solteiro agora, você é inteligente, então me diga: Quantas vezes você já percebeu as pessoas me julgando por isso? Olhando-nos por cima do ombro, rindo e cochichando? Excluindo-me? É justamente o contrário, sou quase um herói, um mártir, criando-a sozinho. E sabe por quê? — ele sorriu de lado, um sorriso cruel — Porque é assim que as coisas são Rin: A sociedade é mesquinha, e cruel e, acima de tudo, hipócrita.

Rin ainda tentou se contiver, mas o choro escapou-lhe da garganta, cortando-a dolorosamente, enquanto as lágrimas caiam-lhe como cascatas de seus olhos, e ela jogou a cabeça para trás e gritou, logo antes de curvar-se sobre os joelhos do pai, chorando e tremendo ali quase histericamente.

Lentamente a mão de Sesshoumaru-Sama passeou-lhe por seus cabelos.

—Não foi sua culpa. Nada disso foi. — o ouviu dizer — Nunca foi sua culpa.

E ainda enquanto chorava teve a nítida impressão de ouvi-lo dizer um “sinto muito”, mas quanto a isso ela não teve certeza.

Ela também achou ter ouvido batidas na porta e vozes perguntando acusadoramente o que Sesshoumaru-Sama havia feito para ela dessa vez — talvez até seu avô ameaçando chamar a polícia —, ela não soube o que ele disse a eles, mas continuou ali a seu lado e ninguém chamou a policia.

Muito tempo depois quando já havia parado de chorar e o pai lhe havia entregado um copo de água para beber e um pano gelado para por sobre os olhos — embora Rin também não soubesse dizer em que momento ele saíra para pegar aquelas coisas — ele lhe disse que o avô ainda estava esperando-a lá fora, e que se ela realmente não quisesse vê-lo então ele o mandaria embora, mas se decidisse vê-lo, então ele seguraria sua mão.

Rin ainda se lembrava daquela noite e das palavras trocadas entre sua avó e seu avô, mas eles também estavam machucados, e talvez… se fora o seu próprio avô que escolhera ir até lá para vê-la, então talvez seu coração não fosse se partir quando ele a visse.

E se o coração dele se partisse porque ela não quisera vê-lo?

Já era quase noite quando Rin finalmente saiu do quarto junto com Sesshoumaru-Sama.

—Sinto muito por tê-lo feito esperar dessa forma vovô. — desculpou-se se curvando respeitosamente.

O avô a abraçou.

Ele não sabia de nada do que estava acontecendo, disse-lhe, achou que Rin estivesse aquele tempo todo com Keiko-san e que já não queria vê-los, sua avó sempre dizia a ele que havia falado com Keiko-san, que ela estava bem, mas que ainda não pretendia voltar… mas então ele atendera ao telefone naquela manhã, e tratava-se de Keiko-san perguntando por Rin!

Como ela podia ter lhe mentido daquela maneira durante um ano inteiro? Morando com o pai, dissera? Eles sequer conheciam aquele homem!

Rin estava bem? Ele não a havia maltratado havia? Tinha-lhe feito algum mal? Ela estava se alimentando bem? Indo a escola? Como estava sua saúde? E então… ele lhe pediu que voltasse para casa.

Aquilo a assustou.

Rin amava seu vovô e sua vovó, e sabia que eles a amavam também, embora vê-la os deixassem tristes, mas ela simplesmente não podia voltar a morar com eles!

Vovó tinha problemas nas costas e vovô tinha problemas de coração, ambos já estavam aposentados e o dinheiro era o bastante para os dois, mas talvez não para três, e mesmo que ela pudesse convencê-los de que não precisava de tantas coisas caras — o que duvidava muito — ela ainda precisaria comer e vestir-se, Mariko era jovem e forte e ainda assim havia trabalhado até morrer, o que aconteceria então a seus avós, velhos e frágeis?

E ela não podia voltar a dormir no quarto que dividia com a mãe.

Nunca mais.

Além do mais ela amava o pai e queria estar com ele, não que não amasse os avós… mas se tivesse de escolher, ela realmente preferia continuar morando com seu pai.

Ela não percebeu quando seu tio e os outros saíram, mas quando falou aquilo seu avô ficou muito bravo, apesar de ela ter deixado de fora que já não poderia mais suportar dormir no quarto de Mariko, para que ele não se sentisse mal, e disse que ela e a avó não podiam continuar com aquela loucura, eles sequer conheciam aquele homem, e tudo o que sabiam sobre ele é que era um mau caráter que havia abandonado sua pequena Mariko grávida, e Rin arregalou os olhos por ele estar falando aquilo bem diante da cara de Sesshoumaru-Sama, apesar de não ter certeza se ele estava realmente escutando ou não, já que há alguns minutos havia baixado a cabeça para seu caderninho e começado a rabiscar qualquer coisa ali com sua caneta tinteiro e uma expressão muito concentrada, mas ainda assim o defendeu dizendo que ele nunca nem sequer soubera sua existência, mas seu avô retrucou dizendo que nunca acreditou nisso, e aquilo provavelmente foi uma desculpa de Mariko para proteger o cretino, e a fez se sentir muito magoada, porque ele não estava apenas ofendendo Sesshoumaru-Sama como também duvidando de sua mãe!

Foi quando Sesshoumaru-Sama decidiu dar um basta. E colocando-se de pé ele afirmou:

—Agora está na hora do senhor ir, vou ligar para pedir um táxi.

—Não vou embora daqui sem minha neta. — o avô teimou, mesmo que Rin já tivesse dito que não queria voltar. — Rin, vá pegar suas coisas.

Sesshoumaru-Sama colocou a mão firmemente sobre o ombro de Rin:

—A menina fica. — sentenciou.

A boca do avô tornou-se uma linha fina e apertada, e ele começou a mover o maxilar como se estivesse mastigando algo, da mesma forma que sempre fazia quando estava irritado, como quando ele descobriu que aquele homem estranho andava seguindo Mariko desde a estação.

—Ela é minha neta e vai voltar para casa comigo! — afirmou.

—Porém o senhor não pode levá-la forçada. — Sesshoumaru-Sama respondeu com seu mesmo tom implacável de sempre — Se tentar obrigar Rin a ficar em qualquer lugar que ela não queira, ela vai pular janelas, cerrar grades, armar escândalos e espernear, ou qualquer coisa assim, até conseguir voltar para cá. Acredite, eu sei do que estou falando.

O avô de Rin cerrou os olhos.

—Então o que? Eu devo simplesmente confiar minha neta a você?

Sesshoumaru-Sama deu de ombros.

—Ela já está aqui há bastante tempo agora, e está perfeitamente saudável e bem alimentada, como o senhor mesmo pode ver, creio que se eu fosse fazer algum mal a ela, já teria feito. — afirmou, e então afastando sua mão dela, ele destacou uma folha de seu caderno, exatamente a mesma em que havia estado escrevendo até poucos minutos atrás — Aqui o senhor tem meu número de celular e e-mail, para que possa manter contato sempre que necessário, posso lhe informar um número para fixo, assim que a linha estiver instalada em nossa nova endereço…

—Novo endereço?!

—Estamos nos mudando nesse fim de semana.

—O que?!

Rin achou que seu avô iria enfartar ali mesmo, mas Sesshoumaru-Sama continuou a estender-lhe a folha de papel e falar no mesmo tom inalterável:

—Também inclui o novo endereço e o número de celular de Rin.

—Rin tem um celular?

—Tempos modernos. — Sesshoumaru-Sama voltou a dar de ombros. — Não ligue em horário escolar.

Seu avô desviou os olhos para Rin, ela não conseguiu encará-lo de volta e, tentando não sentir remorso ergueu timidamente a mão e segurou na ponta da manga de Sesshoumaru-Sama, procurando ali algum apoio, e parecendo remoer aquilo uma última vez, seu avô arrancou a folha da mão de Sesshoumaru-Sama tão repentinamente que quase a rasgou, e a enfiou no bolso do paletó, amassando-a de qualquer jeito.

—Não preciso que me chame táxi algum. — afirmou soturno dando as costas aos dois e saindo da cozinha

Quando a porta da frente bateu, foi como se todo o apartamento e Rin estremecessem juntos.

Sesshoumaru-Sama sentou-se novamente cruzou as pernas e tirou o celular do bolso.

—Pensei em pedir comida para entregar, mas é provável que aqueles parasitas voltem assim que sentir o cheiro, então o que acha de sairmos para comermos fora?

Rin o abraçou.

—Obrigada. — murmurou — Obrigada! Obrigada! Obrigada!

E a cada “obrigada” ela apertava-se mais contra ele e escondia o rosto em suas roupas.

Sesshoumaru-Sama colocou a mão sobre sua cabeça.

—Quer tanto assim sair para comer fora?

Mas ela estava feliz e aliviada demais para responder, não porque fossem sair para comer fora, mas porque Sesshoumaru-Sama tivera a chance de devolve-la — de livrar-se dela para sempre —, pois seu avô viera reclamá-la de volta, o que sempre fora justamente um de seus maiores medos, e ainda assim ele escolhera mantê-la ali. Seu pai a queria por perto!

—Rin? — Sesshoumaru-Sama a chamou — Você está chorando de novo?

Rin sacudiu a cabeça e escondeu ainda mais o rosto nas roupas do pai.

Seu avô ligou na noite seguinte para o celular de Rin, e avisou-a de que estaria ligando todas as noites a partir de agora, ela já esperava por isso.

E no dia seguinte, na sexta-feira, quando ela reclamou sobre o estado precário e desgastados de seus tênis ele simplesmente parou de encaixotar suas coisas, pegou as chaves do carro e foi ao shopping com ela, ao invés de comprar um par novo pela internet como ela esperava que ele fosse fazer!

—Estamos nos mudando depois de amanhã, entregas a domicilio seriam incomodas. — ele declarou quando ela lhe perguntou a respeito.

Então comprou um par de tênis novos para si… e um monte de roupas para ela, porque “as roupas dela pareciam estar começando a ficar pequenas”.

O que ela não esperava de jeito nenhum!

Mas, de alguma forma, e afora essas coisas, tudo pareceu continuar o mesmo de antes, inclusive as brigas de seu pai e seu tio:

—Pode parar de palhaçada Sesshoumaru, eu não vou de jeito nenhum no caminhão da mudança! — Tio Inuyasha exclamou irritado, e com toda razão.

—E por que não? — Sesshoumaru-Sama perguntou de volta enquanto carregava o imenso urso de Rin, que ela havia ganhado no Natal passado, para o carro.

—Não seja estúpido! — seu tio se estressou — Por que eu tenho que ir de caminhão e esse urso idiota vai de carro?

—Rin não quer que ele vá de caminhão. — seu pai respondeu empurrando o urso para o banco traseiro — Então não temos espaço para você.

—Maldição, Sesshoumaru! Coloque essa maldita coisa no porta-malas! E eu estou vendo que o banco do passageiro está livre! — tio Inuyasha reclamou, enquanto Rin colocava o cinto de segurança no urso.

—Rin vai no banco do passageiro. — Sesshoumaru-Sama declarou.

—Eu posso ir atrás… — Rin começou a dizer.

—Então eu vou atrás com o urso!

—Ou você pode ir na traseira do caminhão de mudanças junto com o resto das tralhas.

—Mas que droga, Sesshoumaru! E Rin do que está rindo? Você também quer que eu vá com o caminhão da mudança?!

Rin balançou a cabeça, mas ainda assim continuou rindo, Sesshoumaru-Sama sempre dizia que tio Inuyasha era idiota e irritante, mas ele bem que gostava de estressá-lo também.

Ela queria que as coisas continuassem daquele jeito para sempre.

—Eu sempre tive essa dúvida, mas se não consegue domesticar essa coisa, por que, ao menos, nunca comprou uma focinheira para ele? — Eleonor-Sama perguntou saindo do prédio com uma caixa nos braços.

E esquecendo-se completamente de tio Inuyasha, Sesshoumaru-Sama deu as costas a ele e voltou-se para ela.

—Geralmente ele se acalma desde que tenha algo para mastigar. — afirmou.

Tio Inuyasha girou os olhos e, resmungando, deu a volta no carro abriu a porta do carona e entrou ali de qualquer jeito.

Eleonor-Sama entregou a caixa a Sesshoumaru-Sama.

—Essas são algumas coisas suas que encontrei no meu guarda-roupa.

Sesshoumaru-Sama recebeu a caixa.

—Onde está meu moletom? — perguntou analisando seu conteúdo.

—É meu novo pijama. — ela declarou.

O pai estava de costas, mas Rin imaginava que ele havia girado os olhos naquele momento, e então disse:

—Parece que nossos caminhos se separam aqui.

Eleonor-Sama cruzou os braços e deu de ombros.

—Pode ser que sim, no entanto nós dissemos a mesma coisa no colegial e aqui estamos não é?

Os dois se encararam por alguns poucos segundos.

—Ligue quando precisar do carro. — disse-lhe Sesshoumaru-Sama.

Eleonor-Sama concordou.

—Ligue quando for aparecer. — respondeu.


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Notas finais do capítulo

Então, ainda tem alguém por aqui?
O que acharam do capítulo?
Até algum dia (espero eu que não tão distante).



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