Who stalk the stalkers? escrita por HellFromHeaven


Capítulo 2
Senhorita Hiperatividade




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Levei cerca de meia hora para chegar ao meu apartamento, correndo ininterruptamente. Passei direto por alguns vizinhos sem sequer cumprimentá-los e entrei rapidamente onde eu considerava ser seguro. Fechei a porta atrás de mim com força e tranquei todas as sete fechaduras que adaptei para aquela entrada, trancando a janela da sala e a do banheiro, com três trincas cada uma. Meu cérebro estava a mil e meu corpo estava à beira da exaustão. Sentei-me na cama e levei as mãos à cabeça, tentando digerir os acontecimentos daquele dia. Percebi que meu corpo todo tremia com o nervosismo que habitava minha alma e meu coração parecia querer acompanhar as batidas de uma música eletrônica frenética. Apenas cerca de vinte minutos depois, os quais passei inteiramente encarando o chão, fui capaz de me acalmar o suficiente para a exaustão me vencer e eu desabar sobre a cama.

Acordei horas mais tarde, ainda atordoado pelo trajeto até o apartamento. Meu corpo não estava acostumado a passar por toda aquela quantidade massiva de estresse, nem a correr tanto sem descanso. Levantei-me com dificuldade e dores nas panturrilhas e na cabeça. Meus olhos estranharam uma grande fonte de luz em meio à escuridão do meu quarto e levaram alguns segundos para notar que meu computador estava ligado em sua tela inicial, marcada por uma imagem de uma textura de vários cubos coloridos. Fui até a cadeira, confuso e cansado. Não me lembrava de ter ligado o aparelho, mas minha mente estava conturbada demais para tentar investigar este ocorrido. Por sorte, ou azar, não precisei gastar meus neurônios com esta dúvida, pois logo ouvi passos atrás de mim e virei-me extremamente assustado.

A mesma garota da cafeteria estava bem ali, parada no meu quarto, com o mesmo sorriso e os mesmos olhos cor de rosa que me encaravam em silêncio. Pensei em fugir por impulso, mas desisti ao me lembrar de todas as sete fechaduras devidamente trancadas na porta da frente e, com este pensamento, notei algo muito importante em toda aquela situação:

— Como você entrou aqui? - perguntei enquanto tentava disfarçar meu desespero.

— Sou boa em entrar e sair de lugares sem ser notada. Aliás, não é a primeira vez que entro aqui. Deveria trocar as fechaduras da janela do banheiro, são bem fraquinhas.

Até aquele momento eu podia jurar que ninguém tentaria arrombar meu apartamento pela janela do banheiro que dá para o lado de fora do quinto andar. Eu realmente havia comprado trincas menos resistentes, mas… Bem, essa não era a hora de pensar neste tipo de coisa. Fiquei tentando deduzir como caralhos ela conseguiu subir até o meu apartamento, mas desisti e resolvi me focar no presente.

— Tudo bem, tudo bem… Outra hora eu me preocupo com a segurança do meu banheiro. O que você está fazendo aqui? E como entrou? Não, espera… Eu já fiz essa segunda pergunta.

— Fique calmo, rapaz! Não estou aqui para te matar, tampouco para te enlouquecer. É normal demorar um pouco para digerir as informações que eu taquei na sua cara. Tudo em seu tempo, SG.

Larguei meu corpo sobre a cadeira do computador, que andou alguns centímetros para trás e suspirei profundamente, enquanto tentava acalmar os inúmeros pensamentos que surgiam em meu cérebro em estado de hiperatividade. A garota pareceu estar bem à vontade e sentou-se na minha cama, se espreguiçando casualmente, como se estivesse em casa. Aquela visão me incomodou um pouco, mas acabou me ajudando a focar na situação atual, uma tarefa que se mostrava difícil para minha mente.

— Então vamos ver se eu entendi, você está aqui por causa de sua proposta sobre a sociedade secreta dos stalkers?

— Exatamente! Eu disse que era uma proposta irrecusável, uma vez que você descobre a nossa existência, não há como fugir. Como pôde ver na cafeteria, estamos em todo lugar.

— Eu prefiro não me lembrar desse lance da cafeteria.

— As pessoas sempre ficam chocadas com essas coisas. Por isso eu adoro recrutar novos membros.

— O que me difere de um membro dessa sociedade?

— Simples: a rede de conexões. Não somos tipo um culto que faz reuniões em locais abandonados para falar sobre o Deus stalker. Somos uma imensa rede de trocas rápidas e precisas de informações que visa reunir cada vez mais informações e por aí vai. Por isso pessoas talentosas como eu e você somos importantes para o crescimento deste grupo. Quanto mais olhos tivermos espalhados pelo mundo, menos coisas passarão despercebidas. É bem legal, cara.

A garota estava nitidamente empolgada enquanto tentava me explicar no que eu havia me metido. Tudo ainda soava estranho para uma pessoa cautelosa como eu, mas eu não parecia ter bem uma escolha. Analisando a situação, havia uma possibilidade de que os membros fossem apenas as pessoas reunidas no café e que tudo não passasse de uma estratégia para me intimidar. Isso tornaria muito mais fácil a possibilidade de eu me livrar desta situação confusa e estressante. Porém, se o que aquela pessoa dissesse fosse verdade, então escapar seria impossível e eu acabaria complicando ainda mais minha vida. Acreditar e seguir o fluxo ou duvidar e correr o risco… Era um dilema para qual minha mente não estava sã o suficiente para encarar.

— Cara, relaxa! Você está muito tenso! Quer uma massagem? Nunca massageei ninguém, mas sempre há uma primeira vez para tudo na vida.

— Você é sempre assim tão animada?

— Só nos dias pares do mês.

— Mas hoje é dia treze.

— Oh… Mas se somar um com três dá quatro não é? Aí, um par.

— Desisto de tentar te entender.

— Não seja assim! Vamos! Animação! Agora você tem uma caralhada de informações novas à sua disposição! Só aceita que dói menos, rapaz.

— Menos dessa empolgação toda e dessa gritaria hiperativa. Ainda estou digerindo todas essas novidades. É difícil aceitar que invadiram minha privacidade tão facilmente.

— Não diria que foi fácil. Eu só sou boa em invadir lugares mesmo. Não menospreze seu sistema de segurança. Foi difícil conseguir extrair os dados do seu computadorzinho, já que não é lá minha especialidade.

— Nada disso importa agora. Vamos supor que minha mente processe todo esse contexto surreal e eu aceite que faço parte dessa sociedade estranha e secreta. Qual seria o próximo passo?

— Pensei que nunca perguntaria!

A garota ergueu o braço direito para o céu e fuçou em um de seus bolsos com o esquerdo, retirando um pequeno pedaço negro de papel retangular, do tamanho de um cartão de visitas. Ela o arremessou para cima e o pegou no ar com sua mão direita, estendendo o objeto para mim. Encarei pequeno objeto suspeito por alguns segundos, analisando o máximo possível antes de finalmente pegá-lo com minha mão direita. O papel era espesso e pesado demais para seu tamanho, com uma impressão de tinta negra uniforme em suas duas faces, exceto por algumas pequenas esferas de verniz ao longo de uma das faces, que refletiam a luz do monitor conforme eu movia o cartão. Cansei de procurar substantivos femininos para me referir à figura que me encarava com um sorriso largo em seu rosto e resolvi “investigar”:

— Antes de perguntar qual é a do cartão, gostaria saber seu nome ou pelo menos algum apelido ou termo para me referir a você.

— Hohoho, o rapaz quer saber meu nome? Quer meu número de telefone, endereço, email e senha das minhas redes sociais também?

— Isso eu descubro mais tarde. Por hora, só não quero ficar te chamando de “garota” no pensamento.

— Confiante em sua habilidades? Gostei de você SG. Pode me chamar de Diva Suprema, Deusa de todos os seres.

— Que tal Senhorita Hiperatividade?

— Serve também, mas só vou aceitar até você entrar no grupo. Depois disso vai ter que me chamar por meu “nome de stalker”.

— Vocês realmente usam esse termo para os “apelidos”?

— Na verdade, só eu uso, mas é extremamente maravilhoso. Não me venha falar mal dos meus termos na minha frente, senão vai acordar com a casa pintada de rosa e cheia de purpurina.

— Isso seria realmente terrível. Vou ficar sem opinar a partir de agora.

— Bom mesmo!

A Senhorita Hiperatividade cruzou os braços e ergueu o queixo, orgulhosa por sua vitória insignificante. Aquele ser, que não arrisco chamar de humana, parecia ter saído de uma história fictícia aleatória da internet. Pensar que uma pessoa tão exótica e, aparentemente, idiota poderia descobrir minha identidade e se infiltrar na minha vida e na minha casa destruía o pouco orgulho que restava em minha mente. Para tentar dissipar minha dor, voltei minha atenção novamente para o cartão negro e decidi investigar mais a fundo.

— Agora que seus termos estão protegidos de críticas maldosas, poderia me dizer o que significa este cartão?

— Claro que não! Ele é o teste para novos membros. Só posso dizer que aí estão contidas todas as informações necessárias para você encontrar o restante do grupo. Nos reuniremos em um local x às oito horas da noite de amanhã. Já é quase meia noite, então você tem vinte horas para resolver esse pequeno quebra-cabeça.

— Vocês querem mesmo novos membros? Isso me parece mais eficaz para voluntários.

— Não precisamos nos preocupar com isso. A essência de um verdadeiro stalker é não resistir a uma oportunidade de adquirir novas informações sobre vidas alheias.

Ela estava certa. Por mais que eu quisesse negar meu interesse pelo grupo, era impossível conter minha curiosidade. Uma rede de pessoas especialistas em conseguir informações ajudaria muito nos meus serviços e… Seria uma boa forma de melhorar meus métodos de atingir minha satisfação pessoal. Hiperatividade sorriu, vitoriosa mais uma vez e começou a caminha em direção à porta. Apressei-me e tomei a frente, a abrindo. A Senhorita ficou me encarando por alguns segundos, bocejou e estendeu sua mão. Demos um aperto de mão e ela saiu andando pelo corredor. Fechei a porta e todas as suas trancas, e só aí percebi que a Hiperatividade havia aberto a maioria enquanto eu dormia. Fui até a janela do banheiro e a fechei, analisando uma forma de impedir futuras invasões. Gastei dez minutos nesta análise, mas acabei decidindo deixar isso para outro dia e voltei até meu computador, largando o cartão sobre a mesa.

Após uma pequena pausa para que meus pensamentos se organizassem, comecei a pesquisar sobre o cartão. Virei aquela noite com minha inúmeras pesquisas. Coletei dados sobre tipos de papel e impressão, comparando o acabamento para descobrir os métodos utilizados em sua criação. Tendo estas informações em mão, foi “fácil” descobrir onde o cartão havia sido produzido, com base no maquinário das gráficas da região. Ainda nas descobertas a respeito disso, confirmei que o peso dele era anormal, então digitalizei suas faces, para salvar os padrões dos pontos de verniz localizado em meu computador e “desmontei” o cartão, encontrando pequenos fragmentos de um cartão de memória. Deixei alguns programas de decodificação trabalhando nos padrões dos pontos e saí pela manhã para comprar uma solda eletrônica. Tomei cuidado e vi minha ansiedade atacar minha mente de todas as direções enquanto andava pela rua. A ideia de que qualquer pessoa aleatória da cidade poderia ser um stalker sem o meu conhecimento era, no mínimo, desesperadora. Evitei ruas movimentadas e procurei utilizar o máximo de atalhos possíveis, concluindo meu objetivo em duas horas. Assim que cheguei em casa, meus programas me informaram que não havia dados suficientes para decifrar o padrão. Imaginei que isso pudesse acontecer, então apenas me concentrei em aprender a utilizar a solda. Pesquisei em sites de ferramentas, cursos, fóruns, redes sociais e vídeos de pessoas utilizando o aparato, e testei em alguns componentes antigos do meu computador que já não me eram mais úteis. Em cerca de três horas, já podia dar aulas sobre soldas de pequenos objetos eletrônicos. Analisei todos os fragmentos e os posicionei adequadamente, juntando-os. Pluguei o pequeno cartão de memória no computador com o auxílio de um adaptador e encontrei vários arquivos de textos com caracteres aleatórios. Defini estes arquivos como dados de programação e os inseri nos programas, em conjunto com os padrões, conseguido, enfim algumas linhas de texto. As palavras pareciam um idioma estranho, então joguei tudo na internet e saí perguntando em redes sociais, criando vários perfis falsos e fazendo amizade com estrangeiros, tarefa que levou cerca de quatro horas. O bom disso tudo, é que finalmente consegui as traduções das palavras, que continham cinco idiomas diferentes. Reorganizei as palavras até formar frases  com significado, que me levaram a um blog aleatório sobre jardinagem. Navegando pelo site, notei um padrão no início dos comentários que levava a um código numérico, revelando as coordenadas de latitude e longitude do local do encontro, com algumas horas de sobra. Horas estas, que usei para dormir um pouco.


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Notas finais do capítulo

Demorei bastante e passei por alguns projetos, mas finalmente voltei a essa história maravilinda aqui
Só deus sabe quando vou postar de novo nauwviuawbv
Espero que estejam gostando, obrigado por quem leu até aqui e até a próxima =D



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