Who stalk the stalkers? escrita por HellFromHeaven


Capítulo 11
Caçadores de fantasmas




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Fui direto para casa depois do encontro com Petúnia e rapidamente destranquei o local, o lacrando logo em seguida. Certifiquei-me de que tudo estava fechado e que ninguém tinha invadido minha privacidade e logo percebi que esse ritual era insano. Só existiam duas pessoas que poderiam estar interessadas em entrar ali sem minha permissão e eu tinha me despedido de uma delas há pouco. A segunda seria Ana, mas acho que ela teria coisas mais importantes para fazer do que ficar provocando minhas paranoias, tipo cuidar de suas irmãs ou trabalhar no caso de Juan de la Montana. Assim, sem nem mesmo convocar uma assembleia com minhas paranoias, decretei esse ritual obsessivo compulsivo como encerrado para sempre… Ou, pelo menos, até segunda ordem.

Encerrando um assunto insano, liguei meu computador e sentei-me à mesa. Assim que o sistema se iniciou por completo, executei o A.S.E. e entrei na seção do nosso grupo, obtendo acesso aos arquivos mencionados por Sherlock. O conteúdo das pastas era pesado e mesmo com a alta velocidade da minha internet, levaria pelo menos um dia para baixar todo o conteúdo. Executei alguns comandos rápidos e ordenei minha máquina para que fizesse o download de tudo e fui tomar um banho. Demorei uns dez minutos e saí do banheiro enrolado em uma toalha azul escuro, caminhando até meu quarto, onde vesti meu pijama e me joguei na cama, adormecendo em pouco mais de uma hora.

Acordei por volta de duas horas da tarde, meio atordoado e com fome. Levantei-me vagarosamente e estiquei meus braços para o alto, assim que ergui meu corpo. Olhei para a tela do computador para verificar o progresso de meu velho amigo. Restava ainda seis horas para o término da tarefa. Sendo assim, fui até a cozinha inspirado e preparei ovos mexidos crocantes com bacon flambado. Por algum motivo, eu estava animado naquela manhã. Devorei meu café da manhã… Almoço… Enfim, minha refeição e preparei uma nova garrafa de café. Assim que meu néctar divino ficou pronto, enchi minha fiel caneca negra feito o vácuo do espaço e me dirigi até meu quarto, sentando na cadeira e admirando o monitor onde era exposto o progresso do download.

Dei um grande gole no café quase sem açúcar e deixei a caneca ao meu lado. Decidi checar o conteúdo que já havia baixado e me deparei com pastas nomeadas com datas de até três meses atrás, o conteúdo foi filtrado pelas informações levantadas por meus companheiros, restando apenas trinta pastas com horas e horas de gravações, assim como uma pasta com as informações sobre a mulher que atropelou a marionete. Não queria passar seis horas esperando e a grande quantidade de material exigia urgência, então fui até a cozinha e trouxe a garrafa de café para o quarto, ciente de que seriam longos e cansativos dias de trabalho.

Minha previsão estava certa e assim, dez dias que mais pareciam ter quarenta e oito horas cada se passaram na velocidade do caminhar de uma preguiça manca. Acredito que um único stalker levaria mais de um mês para analisar tudo e captar todos os detalhes importantes, mas admito que deu graças aos senhores do Universo por estar em uma equipe. Ficamos em contato o tempo todo, avisando sobre detalhes importantes e onde estavam, assim o restante dos stalkers podia se dividir e analisar estes detalhes por outros ângulos. Daí esses indivíduos relatavam o que encontraram e depois todos voltavam a analisar tudo. Alguns dias, eu e Petúnia nos programamos para assistir as gravações ao mesmo tempo, cada um em sua residência. Ela me convidou para fazer isso no quarto dela, mas eu preciso do meu cantinho para fazer essas coisas da melhor maneira possível.

Enfim, depois destes dias trabalhosos, monótonos e cansativos, entramos em um acordo e repousamos por um dia inteiro antes de nos reunirmos. Passei o dia inteiro dormindo, obviamente. Aliás, aposto que meus companheiros fizeram o mesmo. Passado o dia do descanso, combinamos de nos reunir às quatro horas da tarde no condomínio de Leather. As informações que discutiríamos eram sigilosas demais para um local público. Porém, esse encontro me intrigava. Compartilhamos o maior número de informações possível durante todo o processo investigativo, então eu achei que sabíamos das mesmas coisas. Entretanto, uma reunião indicava que meu raciocínio estava errado.

Acordei às sete da manhã, motivado por minha curiosidade e percebi que tinha feito merda. Angustiado por ter que esperar várias horas para o início da reunião, levantei em um pulo e fui tomar café. Tentei ser o homem mais vagaroso do mundo para que as horas voassem diante de meus olhos. Falhei miseravelmente por causa de minha ansiedade, tendo tomado meu café da manhã nutritivo de ovos mexidos com duas finas fatias de bacon e trocado meu pijama pelas roupas que usaria para sair de casa em meia hora. Vesti uma camiseta vermelha com estampa de padrões abstratos e pretos, uma calça jeans azul escura e sentei-me na cadeira do computador.

Fiquei girando lentamente por meia hora naquela cadeira com rodinhas, sendo cauteloso para não ficar tonto. Acredito que nunca fiquei tão ansioso em toda a minha vida e cheguei a amaldiçoar o dia em que decidi me juntar a esse grupo de lunáticos. Alguns minutos depois, pedi desculpas para o universo por ter praguejado sobre uma das melhores coisas que me aconteceram. E nessa brincadeira, mais uma hora se passou. Com o tédio em seu ápice, decidi navegar pela A.S.E. Fazer isso para passar o tempo havia se tornando um hábito recorrente para mim. Porém, o meu tempo livre me motivou a ir além de minhas pesquisas rotineiras.

Notando minha motivação e conhecendo muito bem como meu cérebro funciona, programei vários alarmes em meu celular para que eu não me atrasasse e mergulhei de cabeça na rede dos stalkers. Mais uma vez, me deparei com vários stalkers perguntando sobre o tal Watcher, sem nenhuma resposta. Sua identidade era a informação com a maior recompensa da rede, mas isso pouco me importava. Por algum motivo, essa busca por um stalker invisível não me atraia no momento. Entretanto, não pude deixar de relacionar algumas coisas em minha mente. Continuei indo mais a fundo, usando minhas habilidades de hacker em alguns momentos para checar a segurança da rede por mero impulso de minhas paranoias. Então, me lembrei de meus amigos antigos na rede e decidi pesquisar um pouco mais sobre Leather e Sherlock, chegando à conclusão de que eles ajudaram a fundar o programa e, consequentemente, devem ter conhecido o tal Watcher. Até aí, nada demais para mim. Porém, por mera vontade do acaso, encontrei um arquivo de texto dentro de um dos códigos de programação da área onde meu grupo compartilhava informações. Achei aquilo bizarro e extraí o arquivo, que continha apenas uma linha de dezoito números aleatórios, com vários zeros. Fiquei encarando aquele arquivo por quase uma hora, mas como não consegui a chegar em nenhuma conclusão do motivo de ele estar ali, apenas o salvei em uma pasta qualquer de meu computador e deixei para pensar sobre isso em um outro dia.

Por sorte, minha atividade terminou duas da tarde. Pensei em cozinhar alguma coisa, mas não estava com vontade de lavar a louça, então apenas desliguei meu fiel companheiro mecânico e tranquei todo o apartamento, saindo para comer no caminho para o condomínio da Leather. Assim, parei em uma lanchonete de fast food e comi um hambúrguer com uma fatia queijo e duas de bacon e uma porção de batatas fritas, acompanhadas de um copo de refrigerante. Alimentado, parti para o tão almejado fim de minha ansiedade e o deleite de minha curiosidade.

Acabei chegando dez minutos adiantado, mas como já não tinha um medo mortal da Petúnia, decidi entrar de uma vez. Tenho muito orgulho da minha memória fotográfica e a utilizei para chegar até o apartamento da garota. A porta estava fechada, então bati algumas vezes contra a madeira, sendo atendido em poucos segundos. Leather abriu a porta, usando uma camiseta branca com estampa de petúnias que mais parecia um vestido em seu corpo, indo até quase seus joelhos. Ela sorriu e me conduziu até seu quarto, onde estavam Hiperatividade e Daisy. A primeira usava uma peruca branca comprida com um rabo de cavalo que ia até metade de suas costas. Seus olhos estavam vermelhos e a garota vestia uma camiseta branca sem estampas e uma calça também branca. A ruiva estava com seu cabelo preso em um coque, usando um vestido azul claro simples e sem estampas. As duas estavam sentadas na cama de nossa anfitrião, que logo se sentou à mesa de seu computador. Havia mais três puffs cor de rosa no quarto, formando um círculo com a cama e a cadeira. Supus que seriam nossos assentos. Como ainda tinha espaço, sentei-me ao lado de S.H. e tirei meus sapatos, deixando-os no chão logo à minha frente.

Ficamos conversando sobre ansiedade e coisas do tipo por dez minutos, quando os últimos três participantes chegaram. Lance usava uma camiseta salmão apertada de uma marca famosa, usando uma bermuda vermelha, também de marca, com óculos escuros de armação vermelha escura. Deadman usava a mesma roupa que usou na lanchonete, o que não me surpreendeu muito. Sherlock usava uma camiseta verde claro sem estampas, uma calça marrom escuro e sua fiel boina. Eles se aconchegaram nos puffs e depois de alguns cumprimentos, finalmente iniciamos a reunião.

— Boa tarde, caros stalkers. - disse Sherlock. - Devem estar curiosos a respeito do motivo deste encontro. Como devem ter deduzido, estamos no condomínio de nossa colega aqui porque precisamos de sigilo absoluto. Nós descobrimos quem é o fantasma.Ou, melhor dizendo, Dark Rose descobriu.

O olhar curioso de todos os presentes se voltaram para a Senhorita Hiperatividade, que esboçava seu esplendoroso sorriso vitorioso. Ela coçou a cabeça, fingindo estar envergonhada na maior cara de pau, ainda sem tirar seu sorriso do rosto e começou a falar.

— Que isso gente, não me olhem assim que eu fico toda envergonhada.

— Se tem uma coisa no mundo que você é totalmente desprovida, Dark Rose, essa coisa é vergonha na cara. - disse.

— Nossa, quanta agressividade, S.G.! - respondeu a sem vergonha. - Isso tudo aí é puro recalque, aposto.

— Deixem suas discussões para depois, poxa. - disse Daisy, visivelmente irritada. - Eu estou curiosa, caramba!

Eu e Hiperatividade nos desculpamos com o resto do grupo e o ar de seriedade finalmente tomou conta do ambiente.

— Eu estava analisando aquelas gravações, uma após a outra e notei uma coisa bem interessante. - disse a desbravadora da verdade. - Existia uma pessoinha que sempre estava presente nos dias das negociações e que saía do local poucos minutos após os términos. Devem estar se perguntando “oh céus, como não notei isso?”, mas acalmem-se. Nosso fantasma utilizou um artifício que eu mesmo costumo usar algumas vezes: a invisibilidade social.

— … Oi? - dissemos em coro.

— A maioria de vocês já sabe, mas eu sou careca por causa da minha fofuchinha que tem câncer. Só que as pessoas da rua não sabem disso, então eu aparento ter câncer aos olhos do mundo. Vivendo assim, eu descobri que ter uma aparência “desconfortável” como a de alguém à beira da morte ou de pessoas com deformidades físicas chama a atenção de todos, mas ao mesmo tempo os cega para isso. As pessoas naturalmente olham à primeira vista, mas logo desviam o olhar e tentam esquecer uma visão que os deixa inconfortáveis. Então eu cansei de entrar e sair de lugares movimentados sem ser notada.

Sei que deveria estar puto da vida com o mundo por ser tão cruel com pessoas diferentes e tudo mais, mas eu não podia parar de pensar em como isso seria útil, cogitando seriamente a possibilidade de raspar minha cabeça. Porém, meus planos foram interrompidos quando meus pensamentos se organizaram e se ligaram à minha memória, me espantando com a conclusão atingida:

— Espere um pouco aí. Você está dizendo, então, que a garotinha de rosto queimado é Juan de la Montana?

— Exatamente! - exclamou Hiperatividade, gloriosa.

— Aquela mini piranha! - exclamou Petúnia. - A gente foi lá, bonitinhos e sorridentes pra dentro do restaurante crentes que tínhamos acabado de enganar uma pobre mendiga e era ela quem estava nos enganando.

— O mundo dá voltas e vacilão roda, Leather. - disse Ana. - Enfim, eu sei que ela é a líder porque cacei nas câmeras das redondezas e a vi dando ordens pras capangas que identificamos. Ela provavelmente já faz isso há tanto tempo que se acha completamente invisível. Deu mole, trouxa.

— Com isso, temos informações suficientes para vender a identidade do fantasma e resgatar nosso lucro. - disse Sherlock.

— Gente, esperem um pouco. - disse. - Essa garota está há anos sobrevivendo no submundo no crime sem revelar sua identidade. Estes vacilos dela só podem significar que ela realmente é invisível tanto para a sociedade quanto para seus rivais, parceiros e tudo mais. Não acham interessante ter uma pessoas com tais habilidades entre nós?

Eu acabei falando sem pensar. Nunca fui fã de trabalhar em equipe, mas por algum motivo, recrutar o fantasma me parecia a escolha mais lógica no momento. Talvez tenha sido o silêncio temporário de minhas paranóias por estar junto de meus colegas. Talvez o trabalho de nossa equipe tenha se mostrado mais rápido e eficaz do que qualquer outro serviço que realizei por conta própria. Ou talvez era só um claro sinal de que eu havia enlouquecido completamente. Seja qual for o motivo, minhas palavras espantaram meus colegas, que se entreolharam e sorriram de volta para mim. Hiperatividade colocou as mãos em meus ombros e sacudiu meu corpo para frente e para trás freneticamente.

— Eu falei que era uma boa ideia recrutar esse cara estranho e paranoico! - gritou a garota louca.

— Pelo jeito, todos estão de acordo com nosso caro amigo caveirinha. - disse Petúnia. - Então declaro oficialmente o fim da operação “caça-fantasmas” e o início da operação “necromante”.

— Você é muito boa com esses nomes, Leather. - disse Daisy.

— Obrigada. Pensar nessas coisas me ajuda a não matar ninguém.

— Então pelo amor de todos os Deuses já idolatrados, nunca pare de pensar em nomes criativos. - disse enquanto tentava me livrar das garras de S.H.

— Tudo bem, Sr. Paranóia.

Demorei uns cinco minutos para me livrar de minha agressora e recuperar a seriedade da reunião. Então, pudemos discutir nossos próximos passos. Elaboramos um plano simples e direto, afinal, a gente só precisava se livrar das capangas e sequestrar um fantasma. Nada de mais, certo? Assim, Sherlock e suas habilidades incríveis de disfarce se uniu a Lance nos restaurantes para monitorar a presença da garota. Hiperatividade se manteve sempre próxima, conseguindo seguir nosso pequeno fantasma após uma de suas negociações, três dias depois da reunião no condomínio de Leather. Conseguimos identificar, assim, a residência de nosso alvo: uma casa de madeira simples em uma área bem afastada da cidade, o que tornava tudo mais fácil para nós.

Aguardamos por mais quinze dias, monitorando todos os movimentos da garota. Ela acompanhava tudo que suas marionetes faziam, diziam e ouviam através de escutas e parou de marcar encontros no La Plata, uma escolha muito compreensível. Suas capangas sempre se mantinham por perto da chefe, entretanto ficavam distantes umas das outras, provavelmente para não levantar suspeitas. Assim, após uma negociação bem sucedida no Stephans’s, o fantasma saiu caminhando tranquilamente pelas ruas escuras da Baía dos Pecadores, completamente ignorada por todos as pessoas que cruzavam seu caminho até sua casa. A essa altura, suas capangas já repousavam dentro do porta malas de um carro.

Ela abriu vagarosamente a porta e adentrou um corredor curto, passando pela sala, onde havia apenas uma poltrona de couro marrom escuro e uma televisão de quarenta polegadas sobre um rack de madeira escura, chegando até seu quarto, na segunda porta à direita. Era um cômodo grande, com uma cama queen size revestida por um lençol lilás, uma penteadeira branca e um grande guarda-roupas também branco. O fantasma tirou a escuta de sua orelha e deixou sobre a penteadeira, assim como os poucos trocados que conseguiu com seu disfarce, sobre um cinzeiro de vidro. Depois disso, ela sentou-se em sua cama e encarou seu reflexo no espelho da penteadeira por alguns instantes, antes de retirar uma pistola de suas vestes e a colocar sobre seu travesseiro, tirando os olhos do espelho. Neste momento, Leather saiu do guarda-roupas e a amordaçou, injetando uma substância criada por ela mesma nas veias de nosso alvo, que se debateu por alguns minutos antes de perder suas forças e adormecer completamente. A stalker enviou uma mensagem para este narrador paranóico, que esperava em um local próximo em um carro preto. Fui rapidamente até a frente da casa e aguardei Petúnia carregar o corpo da garota, envolto no lençol de sua cama. A stalker deixou o corpo completamente desacordado do alvo no porta-malas e sentou-se no banco do carona. Tratei de nos tirar de lá no mesmo momento, encerrando a etapa mais fácil do plano restando apenas o maior desafio de todos: convencer Juan de la Montana a se unir ao Eye.


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Notas finais do capítulo

Aí ó, acho que nem demorei muito dessa vez gente.

Tá chegando o fim do arco de Juan de la Montana geeente~

Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



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