Lost In Time escrita por VitóriaWolf


Capítulo 10
Lost with a bedtime story




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/713207/chapter/10

 

 

Sinto os raios entrarem pela fresta da parede. Não acordo, visto que nem ao menos consegui dormi durante a noite. É verdade o que dizem sobre sua passar diante de seus olhos. Na cela escura, pensei e repensei sobre tudo o que fiz errado em minha vida e o que poderia mudar, para nos final chegar a conclusão de que meus erros me trouxeram aqui, e sem eles, eu provavelmente não teria vivido nem a metade do que vivi. Involuntariamente, as feições de cada uma das pessoas que amo me vieram em mente. Era como se May estivesse do meu lado, gargalhando, como se minha mãe tivesse acabado de brigar com Gerard por ter quebro o vaso. Sinto o barulho da moeda tocando o fundo do jarro, o barulho do salto alto, e vejo, tão claro como o dia, o sorriso de Maxon, me dizendo que tudo ficará bem.
    Estou solitária, mas sei que não quem me amparar. Cansada de ouvir o som das minhas lágrimas, nervosa ao perceber que o melhor de todos os anos já se passaram. Então me apavoro e são os seus olhos a me acalmar. Para desabar depois, e me imaginar deitada como uma criança em seus braços. Onde antes havia luz na minha vida, agora só existe amor na escuridão.
    Me levanto. Sinto que flutuo, sem peso algum no coração. Caminho em direção da fenda da parede e vejo o meu temor. Homens carregam toras de madeira e a botam no centro do pátio, criando um palco. O meu palco. Onde serei a última estrela da escuridão. Onde brilharei pela última vez.
    Perco a completa noção enquanto observo minha morte se repassar em minha mente. O palanque está montado, o sol já aquece alto no céu. Eles estão vindo.
      Ouço o som de passos chegando perto, chaves e metal contra metal, mais passos. Então tudo para. Abro um sorriso leve e me viro calmamente, abraçando meu destino. Dois guardas estão dentro da masmorra, trajando o vermelho habitual e as expressões indecifráveis.
    _Está na hora. - um deles se aproxima e prende minhas mãos atrás de minhas costas, me empurrando para continuar andando.
    Enquanto marcho sozinha, a batida parece diferente. Lentamente engulo meu sofrimento, pronta para a nova estrada, me adequando as fortes batidas do meu coração. Nunca é fácil estar na minha de frente quando as bombas explodem, nunca é fácil ser a cavalaria a cair no chão, mas não é difícil desmoronar em um período de guerra. Eu preciso de uma força para lidar com essa pressão, porque sei que um sacrifício e necessário, e infelizmente eu sou o preço. 
    Cada passo eco em meu ouvido, como se eu fosse uma simples sombra assistindo ao longe o episódio. A música mórbida toca dentro da minha cabeça, deixando impossível que minha mente vague no passado ou na esperança de um próximo futuro. Levanto a cabeça, o mínimo possível para não tropeçar na escada e noto os olhares curiosos. Curiosos, não assustados ou simpáticos. Cada um que passa por nós se pergunta mentalmente o que fiz para estar sendo condenada à morte, sem se importar comigo em si. Relaxo meu corpo e paro de tentar fazer força, me deixo ser levada.
    _Ainda bem que ainda estão aqui. Soltem ela.
    Levanto os olhos para ver Arthur, posicionado imponente no fim do corredor. Seu rosto é sério. Ele não sorri. Não sei se devo ficar feliz ou triste com sua presença. Os dois homens que antes me seguravam, agora me soltam e ensaiam uma reverência perfeita.
    _Suas presenças são necessárias no pátio principal.- Arthur diz e os dois guardas somem no final do corredor.
      Permaneço no mesmo lugar, sem saber o que fazer e tentando desesperadamente me manter em pé. Estou fraca e meus pés tremem tentando conter meu peso. Quando já não consigo me manter em pé, deixo que a gravidade faça seu trabalho, mas ao invés de encontrar o chão duro, Arthur me pega antes.
    _Vou te levar para Gaius. Todos estão lá.
      _Obrigada. - sussurro. 
    Ele caminha devagar, e me olha a cada segundo, para ter a certeza de que não apaguei. O momento me lembra do dia em que o conheci. Praticamente desmaiada em seu colo.
      _Você estava certa afinal. E Merlin. Mas nunca o diga que falei isso.- completa e abro um mínimo sorriso.- Ele já acha que possui alguma autoridade sobre mim. Coitado. Se ele souber seu ego vai aumentar ainda mais. 
    _Não direi nada.
    Caminhamos em silêncio, até que a chutando, ele abre a porta da enfermaria. Vejo Morgana se levantar ao me ver, aliviada. Gaius suspira e Merlin nos olha culpado.
    _A bote na cama, ela precisa descansar. - Arthur me deposita delicadamente no colchão duro e se afasta.
    _Merlin, traga água. E comida. Diga que o príncipe está pedindo. E venha rápido.- Arthur ordena e Merlin me olha, como se para ter a certeza que deve sair e me deixar aqui.
    _Poderia pelo menos pedir por favor.- ele reclama enquanto anda em direção da porta. Não é preciso mais do que um olhar para Merlin conseguir entender o que Arthur quer falar.
    _Já sei. "Cala a boca, Merlin".- ele fecha a porta atrás de si e o regente sorri satisfeito.


    Dizer que esqueci sobre minha verdadeira origem, minha família e meu amor, após menos de um mês presa em Camelot é dizer que estou feliz. Se eu pudesse esquecer, ter perdido a memória como disse para todos, as coisas seriam muito mais simples. Eu não choraria todos os dias sozinha em minha cama dura e desconfortável, eu não me sentiria deslocada e uma intrusa. Na verdade, acredito até que adoraria minha vida nesse século. Eu seria normal na multidão, com uma família, um trabalho e quem sabe alguém que pudesse amar. Mas estar aqui, sabendo que não existe nenhuma possibilidade deu conseguir voltar para aqueles que amo é o pior sentimento que existe. 
    _Alguma coisa aconteceu, Gwen? Têm estado quieta nos últimos dias. - Morgana comenta enquanto arrumo seu cabelo. É manhã e ela já está atrasada para o café.
    _Me desculpa Senhorita, problemas pessoais. - termino de pôr o último grampo e me afasto. 
    _Quer conversar sobre isso?- se senta na cama e me pede para me juntar a ela. 
    _Sente falta da sua família?- me abraça e deixo com que as lágrimas rolem. Morgana é caridosa e gentil, me envolve em seus braços e espera com que me acalme. - Sabe, eu não conheci meus pais.
    _Achei que Uther fosse o seu pai.- me assusto e ela sorri doce.
    _E ser irmã de Arthur? Nem pensar. - sorrimos. - Minha mãe morreu ao dar luz a mim e meu pai era uma grande amigo de Uther. Morreu em uma luta, salvando a vida de seu rei. Ele diz que meu pai o fez prometer que tomaria conta de mim. E assim tem feito desde que me entendo por gente. - o tom triste é visível em sua voz, mas não consigo saber se é pelo fato de ela nunca te-los conhecido ou pelo simples fato de não estarem aqui mais.
      _Acho que já está na hora de descer, Senhorita.- Rio internamente sempre que pronuncio essa palavra. Senhorita. A imagem de Anne, Mary e Lucy me vêem em mente toda vez e não consigo deixar de imaginar Morgana em meu lugar. Somos tão parecidas. 
    _Quantas vezes tenho que mandar parar de me chamar assim? Somos amigas Gwen.


    _Não achou nada?- Merlin me pergunta pela quinta vez. 
    _Não. - bufo e deixo meu rosto ir de encontro a mesa de madeira. 
    _Eu achei que mágica pudesse fazer tudo. Qual o intuito de ter mágica se não pode me levar de volta para casa?- pergunto retoricamente, mas ele responde do mesmo jeito.
    _Te salvar de ser morta na fogueira? 
    _Não precisaria ser salva se você não tivesse feito estupidez. - sai mais frio do que esperava. Ele se cala.
    _Me desculpe. Não foi o que quis dizer. Só estou frustrada. - ele sorri, fraco. Um sinal de que estou perdoada.
    _Eu não entendo. Já vi a magia fazer coisas incríveis, salvar meus amigos mais de uma vez. Porque não existe nada falando sobre isso?- joga o livro no chão com raiva.
      _Como vocês fizeram afinal? Provar minha inocência.
      _Convencer Arthur foi a parte mais difícil. Aquele cabeça dura sem sentimentos.
      Sorrio internamente. Porque não simplesmente admitir que não se odeiam mais?
      _Gaius chegou a conclusão de que água era a única coisa em comum entre nobres, contrabandistas e camponeses. Então fomos até a fomos até o poço e vimos aquele bicho nojento envenenando a fonte. Depois foi só fazer Morgana convencer Arthur a mata-lo.
      _Gaius.- sussurro para mim mesma.
    _Você nem ao menos ouviu o que eu disse, não é?- me viro para ele, sem entender.
    _O que?
    _Você acabou de responder a pergunta. - dou de ombros, com preguiça de entender o que está acontecendo.
    _ Temos que falar com Gaius.
    _Por quê?
    _Ele com certeza saberá o que fazer.
  
    
    _Está ocupado?- Merlin bate na porta e o alquimista deixa os vidros cairem no chão. Ele nos olha bravo, mas logo se acalma.
    _O que querem dessa vez? Acredito que deveriam estar no trabalho. - cruza os braços, como um verdadeiro pai e por um momento, me sinto em casa.
    _Morgana me liberou durante a tarde. - justifico e olhamos para Merlin, esperando sua justificativa.
    _Eu estou me escondendo mesmo. - dá de ombros e nos sentamos.
    _Eu preciso de sua ajuda, Gaius. - pego sua mão, a apertando e olho firme em seus olhos. - Preciso da sua ajuda para chegar em casa.
    _Pensei que tivesse perdido a memória. Elas começaram a voltar?- me pergunta preocupado.
    _Eu nunca perdi minha memória. - abre a boca, em uma mistura de susto e ofença.- Se eu contasse a real verdade sobre de onde venho, Uther me enforcaria.
    _Você possui magia?- pergunta.
    _Não, nada disso. Acredita em viagens no tempo?
    Ele permanece em silêncio. Alterna o olhar entre meu rosto determinado e o sério de Merlin. Se levanta, manca corcunda de um lado para o outro, então finalmente se senta na cadeira.
    _Já vi muitas coisas na vida, Gwen, coisas que sempre acreditei serem impossíveis. Não desacredito de nada ultimamente. 
    _Passamos o último mês procurando por feitiços e poções que possam nos auxiliar, mas não há nada. Achamos que você possa saber de algo.
    _No meu tempo há uma máquina, mas não existe essa tecnologia...
    _Não!- Gaius me interrompe. - Não me fale sobre o futuro. Por mais que deseje saber, o tempo é uma linha perigosa, se mexer com o passado, o futuro mudará. Tem que deixar as coisas acontecerem naturalmente.  
    Olho de relance para Merlin, que parece bastante assustado. Então resolvo prestar atenção no que diz e fico quieta. Gaius caminha lentamente em direção de uma estante e pega um livro grosso e empoeirado. O bota na mesa e assopra, deixando que a poeira flutue. Merlin tosse, mas Gaius nem nota. Suas mãos enrugadas folheiam as páginas com uma velocidade impressionante para alguém de sua idade.
    _Aqui. - ele diz e aponta para a figura no texto. Há uma imagem de uma garota, um desenho meramente infantil, ao lado de dois homens, que não parecem muito diferentes a meu ver, e um castelo ao fundo. Tento ler o escrito, mas me parece outra língua, então desisto.
    _Isso não é um feitiço.- Merlin constata.
    _É uma história, uma lenda. Diz que há muitos anos, uma garota apareceu por esses arredores, vinda de uma época diferente. Ela se apaixonou pelo príncipe e juntos, construíram um reino, que muitos anos depois viria a se chamar Camelot. Essa mesma garota iria por sumir décadas depois, deixando seu marido e um reino devastado a sua procura. O príncipe fez de tudo para encontrá-la. Inclusive trazer a magia de volta para o reino, mas mesmo assim, ela nunca voltou.
    Fecha o livro com força, fazendo com que a poeira volte a flutuar em frente aos meus olhos.
    _Acha que ela voltou para seu tempo?- pergunto ainda digerindo a história.
    _Seu corpo nunca foi encontrado para se provar que ela morreu. Então nos resta acreditar que sim.
    _Então eu posso voltar para casa?- meu coração bate mais forte.
    _Acredito que sim, Gwen. Você vai para casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lost In Time" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.