I still walk escrita por Claymore


Capítulo 7
Capitulo 7




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Ao sair do quarto e caminhar, me sentir leve. HÁ quanto tempo eu não me sentia limpa e leve? Esse vestido me fazia sentir que estava em casa, de alguma forma ainda estava na fazenda esperando mamãe me chamar para jantar. Eu sabia que isso não ia acontecer, nunca mais a veria, nem ela nem o papai, nunca mais teria minha vida antiga de volta.

Quando você para de fugir começa a pensar nas coisas, e de alguma forma aquele aperto no peito crescia a cada momento que eu relaxava. Isso me fazia querer dar o fora, aquilo era insuportável,  porque mesmo que não tivesse minha família de volta eu deveria estar feliz, mas agora que eu deveria me sentir segura e calma , meu coração não permitia.

Chegando a escada eu conseguia ouvir Michonne e Rick brincando com a Judith. Talvez eu tivesse sorte e Daryl já tivesse ido dormir, então eu não precisaria olhar para ele, não me entendam mal, eu queria vê-lo mais que tudo, mas eu não sabia se conseguiria fazer isso sem derramar um litro de lágrimas. Eu queria preservar minha imagem por mais um tempo ou pelo menos fazer isso somente com nos dois.

A escada era curta então logo eu conseguia ver a sala e uma passagem que daria a cozinha eu imaginava. Fiquei um momento parada no inicio da escada, não que fosse uma escolha minha, eu congelei praticamente. Não sabia o que fazer, o que falar. Porque a Maggie tinha que me deixar aqui? Não acredito que depois de saber que eu estava viva, ela simplesmente não se incomodou de ir embora. Mas eu já deveria imaginar, as pessoas seguem suas vidas, mesmo antes e ainda mais agora. Então foi isso que todos fizeram, seguiram suas vidas, e esqueceram a Beth, como eu havia esquecido as pessoas que passaram por nos .

Como se ouvisse meus pensamentos Carl saiu da passagem do tamanho de uma porta e veio ate mim. – Você esta bem diferente.

— Eu ? Olha só para você!

Nos sorrimos e era engraçado. Agora ele era mais alto que eu e seus cabelos estavam na altura dos ombros, seu rosto estava mais madura e ele já havia perdido toda a gordura infantil. Agora era um adolescente e isso era engraçado, nos conhecíamos a um bom tempo agora, nos tornamos uma família.

Carl me levou ate a cozinha e antes de chegar eu podia sentir o cheiro de comida. Quando ficou visível eu consegui ver que era uma cozinha nos tons amarelo e branco. Tinha um balcão com cadeiras e uma mesa de 4 lugares quadrada no canto, próxima a uma janela grande entreaberta sem cortinas. Tinha uma porta que provavelmente levava ate a parte de traz da casa e tinha até uma porta para cachorro.

Tinha uma parede repleta de armários embutidos de madeira na cor branca a frente de uma parede com azulejos brancos com pequenas flores amarelas. Tudo era muito limpo e combinava com a casa. Mamãe adoraria cozinhar naquele lugar.

Michonne estava no fogão fazendo alguma coisa em uma frigideira, Rick estava na mesa sentado ao lado de Daryl comendo o que parecia ser uma omelete e tomando uma limonada em um copo grande de vidro. Na mesa havia dois outros pratos com omeletes meio comidos, imaginei que fossem da Michonne e do Carl. Judith estava no chão brincando um quebra cabeça que eu ainda não conseguia ver qual desenho iria se formar, mas tinha o que parecia um céu com nuvens brancas.

Quando entrei Rick e Michonne olharam para mim e eu conseguia sentir o sorriso e a recepção deles, menos Daryl que me olhou por um segundo e logo voltou à atenção para sua refeição.

— Venha, sente aqui. Deve estar faminta.

Segui o conselho de Michonne e me sentei na bancada em uma cadeira alta de frente para quem sentava na mesa e de costas para o fogão. Como uma habilidade típica dela, logo apareceu uma omelete grande no meu prato. Aparentemente, tinha cebola e tomates vermelhos, tinha um tom dourado e parecia bastante saboroso, em quanto ela enchia um copo de limonada para mim eu agradeci com um “obrigada” que quase não era audível e ela voltou para seu lugar.

Agora todos da mesa comiam e o único barulho era Judith que emitia alguns sons de desaprovação por não conseguir juntar algumas pesas. Peguei um garfo e meio que não sabia o que fazer. O que tinha de errado comigo? Havia esquecido como se comia? Minha garganta ia se fechando e meus olhos já estavam quase cheios de lágrimas, prontos para transbordar.

— Alguma coisa errada Beth?

Levantei meu olhar e vi que a atenção estava em mim, Rick esperava uma resposta e é claro que Daryl não se importou em olhar.

— Eu estou bem...

— Não gosta de omelete? – Michonne perguntou com um tom de preocupação. Ela parecia tão diferente agora, quase como uma mãe. Nunca tinha parado para pensar nisso, mas será que ela tinha família? Filhos? Qual era sua profissão? Eu não tinha o costume de pensar na vida dos meus amigos antes disso tudo. Tinha o costume de pensar na minha e isso mostrava o quanto eu era egoísta.

— Eu gosto, meu pai costumava fazer pra gente todo domingo antes da missa...- então eu entendi o porque minha garganta se fechava...papai. Eu não tive tempo para pensar nele, e da forma como ele morreu.

Eu fiquei parada encarando eles e vendo o clima mudar na cozinha. Incrível, menos de 30 minutos com eles e eu já tinha acabado com o jantar. Esse era o meu dom, até mesmo em um apocalipse de mortos vivos.

Dei uma garfada e coloquei um pedaço na boca, era macio e tinha um gosto forte de tomate. Mastiguei algumas vezes, menos do que o suficiente e dei um gole grande da limonada, que logo notei que não tinha açúcar, mas que os limões estavam bem doces, então não era extremamente azedos.

— Não sabia que sabia cozinhar Michonne.

— Bem ... eu não sei. Sei o básico.

— O que você fazia antes? Antes de tudo isso? – peguei ela de surpresa e Rick deu um leve sorriso , talvez de uma piada interna. Fiquei feliz em amenizar o clima desconfortável que eu havia criado.

— Eu era dona de uma galeria de artes.

— O que? Não... você esta brincando.

— o que achou que eu fazia?

— Eu não sei... Achei que você fosse uma ninja.

Todos caíram na gargalhada e eu percebi que ate mesmo o Daryl deu um leve sorriso, mesmo de cabeça baixa.

— O que você fazia?

— Eu estava me preparando para ir para a faculdade, fui aceita em Juilliart.

— O meu Deus Beth, Isso é impressionante.

— O que você ia estudar lá?- Carl me perguntou, claro que ele era muito novo eu imagino para saber o que era a Julliart , talvez estivesse sendo educado.

— Eu ia estudar composição clássica, piano.

— Você toca piano? Que legal. Podíamos achar um para você tocar para nos.

— Não acho que vocês iam gostar. E eu estou um pouco enferrujada, a ultima vez que eu toquei foi...- Então aqueles olhos verdes me olhavam, me encaravam por trás daquela franja que quase os tampavam. Como uma cortina antes de abrir para o espetáculo. Eram tão raros aqueles momentos. Me lembro de perceber que seus olhos eram verdes somente quando ficamos sozinhos na cabana. Enquanto conversávamos, e a chuva caia lá fora. Estávamos bêbados e melancólicos. Mas a única coisa que me coloca no chão eram aqueles olhos verdes escuros. Me lembro de falar com tanta convicção de que ele sentiria minha falta. Será que ele sentiu? Ele continuava me olhando e eu perdi completamente a noção do tempo e de quem me olhava. Queria que existissem somente nos dois ali, para que eu pudesse entender o que estava acontecendo na cabeça dele e no meu coração.- ...Foi a muito tempo.- terminei dizendo.

Abaixei meus olhos antes que ele o fizesse e continuei comendo. O silencio se estendeu por mais alguns minutos ate que Carl se levantou e disse que ia dormir e logo Rick e Michonne se levantaram. Rick pegou Judith e se despediram, mas eu me levantei e fui até eles.

— Boa noite Princesa. – ela obviamente não me reconhecia, porque se encolheu no colo do pai.

— Logo ela se acostuma com você. – Rick me consolou.

— Sim... Logo nos voltamos a ser amigas.

Então fiquei feliz em ver um pequeno sorriso no rosto da pequenina. Mas me fez lembrar de que eu fiquei muito tempo fora.

Eles foram e eu fiquei em pé no meio da cozinha, até que Daryl levantou abruptamente e foi até a pia e começou a lavar seu prato e copo. Era uma visão desconexa. Esperei ele lavar a louça e colocar o prato e o copo ao lado da pia para secar. Percebi que ele ficou parado em frente a pia de costas para mim por mais tempo que o necessário. Então ele se vira e me encara por um segundo, ele começa a andar com passos fortes na minha direção, mas passa por mim e diz “Boa Noite”, bem baixo, quase me pergunto se ele disse outra coisa.

Mas antes que ele passasse totalmente por mim eu segurei seu braço, mas obviamente a força dele era maior que a minha o que fez com que eu girasse ao encontro dele. Daryl virou e me encarou. Sua respiração era pesada assim como a minha, mas ao contrario do meu medo, estar tão próxima a ele, não me fez chorar.

— Olha ...Daryl... eu sei , tá! Eu sei que eu arrisquei nossas vidas e que ....- Daryl parou meu raciocínio pegando meu pulso  que segurava o dele. Me trouxe alguns centímetros para perto dele  em um solavanco e mesmo sendo mais alto que eu, pude ver seus olhos e eles estavam focados em mim. – Daryl... eu me enganei ,  não é? Você não sentiu minha falta.

E por um segundo eu vi aquela armadura dele se desfazer e seus olhos ficaram gentis. Mas eu sabia que ali ele via uma menina desesperadas por atenção e isso me deixava louca de raiva.

— Beth...

— Não ... não faça isso.

— Beth...

— Daryl, eu sobrevivi a muita coisa e eu sei do que sou capaz. Não sou mais aquela menina que você teve que cuidar. Não sou mais essa menina.

Ele me encarava e aquilo era tortura, ele sentia pena de mim eu podia ver, e aquela rejeição era como brasa queimando em meus olhos. Eu já podia sentir as lágrimas vindo, que idiota que eu era, e claro que ele me achava patética.

— Eu senti sua falta. – Seu aperto ficou mais forte e tão devagar que eu quase não percebi que estava acontecendo,  me trouxe para mais perto e seus olhos estavam grudados nos meus. Ele sentia minha falta? O que isso queria dizer? Eu estava tão confusa.

Então dê repente ouvi uma batida na porta e como se tivesse arrancado de seu transe Daryl fechou os olhos e respirou fundo, soltou meu braço e deu um paço para trás. Isso fez com que eu fizesse o mesmo e logo ele caminhava para a sala, fui atrás dele, mas não me aproximei, fiquei na passagem entre os dois cômodos.

Ele chegou ate a porta e abriu, atrás dela uma mulher loira e muito bonita estava esperando. Ela estava molhada e sua camiseta branca ficou transparente mostrando sua lingerie.

— Oi Daryl, Boa noite. Desculpe incomodar, e que por causa da chuva um galho de arvore caiu em cima da caixa de luz. Você poderia me ajudar a desligar e tirar ? Ele e meio grande e eu não consigo sozinha.

— Claro. – então ele passou pela porta e foi. Eu fiquei ali naquele lugar, sozinha e novamente o frio passou pelos meus ossos. Quem era ela? Ela veio pedir ajuda diretamente para o Daryl?

Eu me virei e voltei para a cozinha, lavei os pratos e os copos que estavam na mesa e os meus, mas não antes de terminar de comer e tomar minha limonada. Logo eu estava no meu novo quarto e eu não me sentia à vontade. Como passar a noite na casa de uma amiga da escola, e isso me fez lembrar que eu nunca dormi na casa de uma amiga ou fiz uma festa do pijama.

Sentei na cama e fiquei pensando no que poderia ter acontecido se aquela mulher não tivesse batido na porta. Ele teria me beijado e falado que sentia o mesmo que eu? Mas o que eu sentia mesmo? O que eu queria? Ou ela teria me trazido mais para perto e falado “ Garota tola, você é uma criança para mim”. O que teria acontecido?.

Me levantei e decidi fechar as cortinas , mas ao chegar lá vi que tinham duas pessoas próximas a lateral de uma casa branca e aparentemente muito parecida com a que eu estava, então percebi que eu reconhecia uma delas, eu o teria reconhecido em qualquer lugar. Era o Daryl , e aquela mulher eu imaginei, eles estavam chegando próximo a o que parecia que fosse a caixa de força da casa e estavam retirando o galho de arvore . Que para ser sincera não achei que fosse muito grande.

Aparentemente conseguiram tirar o galho com facilidade e logo à luz da casa voltou, ela virou para ele e eu imaginei que iriam se despedir. Daryl estava virado de costas para mim e eu quase perdi a mulher de vista por causa da altura dele, mas ela se aproximou e tocou seu rosto e mesmo que eu não quisesse ver, mesmo que na minha cabeça eu falasse: “ Feche os olhos, feche as cortinas, faça alguma coisa mas não olhe”, eu não conseguia e fiquei ali parada olhando sobre a luz fraca da lua e das janelas da casa em frente , e a mulher loira se aproximar e beijar o Daryl.


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