Acordaram na mesma posição. Quinn acordou primeiro e sentiu-se rodeada pelos braços de Rachel, que estava deitada nas suas costas tal como a noite anterior. Fechou os olhos de novo e pensou que afinal não tinha sido um pesadelo, ela tinha mesmo chorado em frente a Rachel e toda aquela cena se tinha passado na realidade. Respirou fundo, e sem acordar a morena, saiu da cama e meteu-se no banho. Estava a precisar de um banho de imersão mas só ia tomar um duche morno. Quando saiu tinha melhor cara mas ela mudou ao ver que Rachel já não estava. 

Vestiu o mesmo vestido do dia anterior e desceu para a cafeteria do hotel, serviu-se do pequeno almoço, e passado um bocadinho Rachel apareceu tão impecável como o dia anterior, mas com uma maquilhagem mais leve.

A morena chegou à mesa, pousou a sua pochette e passou por trás de Quinn. Depositou-lhe um beijo na nuca e disse um "bom dia" natural antes de sair para ir buscar o seu pequeno almoço ao buffet. Quinn sentiu um arrepio na espinha, mas ao mesmo tempo agradeceu mentalmente que as coisas não estivessem demasiado incómodas. 

Quando a morena voltou, sentou-se em frente a ela e decidiu começar uma conversa de circunstancia que achou que Quinn apreciaria.

— Tenho tanta fome, parece que não como há dias. - mas não olhou para a designer porque estava a barrar a marmelada no pão. Quinn não sabia bem o que dizer, só sorriu e concordou com a cabeça. - Cheira imenso a terra molhada lá fora, parece que choveu durante a noite. 

— A potes. - respondeu Quinn baixinho. Rachel olhou para ela com surpresa. 

— A sério? - Quinn corou instintivamente e Rachel percebeu o que ela quis dizer e sorriu com carinho. - Certo. - acrescentou sem mais conversas. 

—x-

Já estavam a caminho de NY, no carro de Rachel, e Quinn não aguentou não tocar no tema da noite anterior. 

— Rachel... 

— Sim, estamos a chegar à ponte, mas eu perguntei ao recepcionista do hotel se já estava a funcionar normalmente e ele disse que sim. 

— Não é isso... 

— Então?

— Sobre ontem... - Rachel vira a cabeça para olhar para ela e depois volta a depositar atenção na estrada à espera que ela continue. - ... desculpa a cena dramática. A minha reacção foi estúpida e eu sei disso. Mas gostava de te pedir que guardasses o que se passou ontem para ti... sabes que eu... - Rachel agarrou a mão de Quinn e levou-a à boca para a beijar. Quinn percebeu a mensagem, mas ainda assim ela quis deixá-la confortável. 

— Não te preocupes Quinn. Já passou e eu já prometi que não vai acontecer de novo. 

— Obrigada. 

O caminho decorreu tranquilo e Rachel deixou Quinn em casa inteira, como tinha prometido a Russell. O homem não estava e Rachel agradeceu mentalmente por isso. Despediu-se de Quinn com um abraço e seguiu para sua casa com a decisão de se afastar fortemente vincada no seu cérebro. 

—x-

Os dias passaram, e já lá ia mais de uma semana. Quinn estava concentrada em encontrar uma casa, e estava perfeitamente consciente de que aquela noite tinha marcado um antes e um depois na relação dela com Rachel. A morena nunca mais lhe tinha ligado e ela sentia um vazio grande nos seus dias. Como tinha um par de visitas a casas marcadas naquele dia, e uma delas era com a agente que Rachel tinha recomendado, viu nisso um motivo para escrever à estilista. Não ligou nem enviou email, enviou uma mensagem para o telefone de Rachel a dizer que tinha a visita marcada. 

"Olá Rachel. Como estás? Espero que bem. Já comecei a ver casas e hoje tenho uma visita agendada com a senhora que me recomendaste. Estou ansiosa. Obrigada pela ajuda. Beijo .-QF"

Esperou impaciente por uma resposta que acabou por a desiludir quando chegou. 

"Olá. Que bom. Boa sorte. Beijo - RB"

Aquela mensagem terminou por lhe mudar o humor pelo resto do dia. A tristeza apoderou-se dela de uma maneira descontrolada. 

—x-

— Explica-me se fazes favor porque raio é que estás assim? - pergunta Hiram preocupado. 

— Estou cansada pai...estoirada. 

— Mas porquê meu amor?

— Porque está todos os dias um bocadinho mais difícil de suportar. - diz ela sem emoção enquanto levava o garfo com o almoço à boca. Estavam os dois sentados num restaurante, porque Hiram quis saber de Rachel e levou-a a almoçar. 

— Já falaste com ela?

— Pai, esquece. Não consigo explicar. Eu neste momento só quero que o tempo torne isto mais fácil e tem sido o contrário. 

— Mas porquê?

— Pois, isso gostava eu de saber. - responde a rir-se. 

— Rachel, o que quero dizer com isto, é porque é que se torna mais difícil? Vocês são adultas, e nem estou a reconhecer-te com esta atitude. 

— Qual atitude pai?

— Pois exacto... a falta dela. Falta da atitude. Vai à luta filha, não estejas à espera que caia do céu. 

— Não vai cair do céu nem eu vou à luta. Já decidi que me vou afastar e desta vez é mesmo a sério. A Quinn nunca vai ficar comigo, e se a ideia é constrangi-la para que o faça, não estou disposta a isso. 

— Como assim constrangi-la? 

— Ela fica incomodada sempre que me aproximo ou lhe digo qualquer coisa que possa significar uma aproximação. Não quero despertar isso nela. 

— Claro que fica incomodada. A Quinn é uma pessoa difícil, é normal que se sinta incomoda ao sentir-se exposta. Se o sentimento é reciproco, és tu quem tem de a ensinar a reagir a isso, para ela é novo. 

— Pai por favor. Não quero falar mais disto. Eu já me decidi e não quero que me digas que lute por uma coisa que só faz sentido para mim. A Quinn está codificada a determinados planos futuros, e eu não entro neles. 

— Tu não entravas nos meus, e hoje não imagino a minha vida sem ti. A vida é isso mesmo, são surpresas e mudanças inesperadas de planos. - Rachel olha para ele com carinho e sorri. - Se acreditas que a Quinn é a tua felicidade, não desistas filha. 

— E se eu não sou a dela?

— Então a vida encarregar-se-à de te ensinar como agir.

Por muitas voltas que Rachel pudesse dar às palavras do pai, a verdade é que depois de ter visto Quinn naquele estado, pretendia cumprir a promessa que lhe fez a ela e que se fez a si própria de não voltar a acontecer.