Memórias de um garoto apaixonado escrita por Chão


Capítulo 9
- G


Notas iniciais do capítulo

A vida passa diante de uma janela. Porém, são poucos que param para observa-la e ver como ela é bela.



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E então aconteceu.

Olá caro amigo!

Desta vez não passei tanto tempo sem escrever em você. Afinal, você voltou a ficar sobre minha escrivaninha, ao lado dos livros.

Há dois dias, e apenas isso, eu tive meu colar de volta e acho nobre da minha parte lhe contar sobre todo o acontecimento para a volta dele.

Eu estava em casa. O dia estava quente e chegava ao fim, mas o céu estava sem nuvens. Algo meio engraçado, já que o dia havia passado completamente nublado e chuvoso. Bem, meu celular estava ao meu lado, os fones estavam plugados e tocava Angela do The Lumineers, quando senti a leve movimentação da vibração indicando a chegada de uma mensagem. Deslizei os dedos pela tela e li a mensagem, ficando completamente confuso em seguida.

“Estou com algo seu. Talvez você o queira de volta e volte a ser leve como uma pena. – G”

Os minutos se arrastaram enquanto eu tentava entender a mensagem. E então outra chegou.

“Me encontre as dez, no mesmo lugar aonde foi perdido. – G”

A leve interrogação tomou conta de mim, mas meus dedos foram exatamente de encontro até meu pescoço, e só por fim eu entendi do que se tratava.

As horas seguintes foram uma mistura de desespero e ansiedade, cada segundo parecia demorar uma perfeita eternidade para se passar. O clack do relógio apenas ecoava por minhas têmporas e a dor se espalhava por minha cabeça. Maldita ansiedade.

Enfim eram 21:30 e era o tempo exato e perfeito para eu sair e chegar na praça sem me atrasar. Eu sei que devia ter me arrumado mais, porém a minha velha camiseta cinza, com o desenho de um chacal caveira, e meu shorts preto, pareciam a melhor combinação para aquele momento. Por fim, o perfume e o desodorante foram muito mais do que bem vindos. E a água que escorria de meu cabelo, ajudou a me refrescar em meio ao calor noturno.

Eu praticamente estava correndo, meus passos estavam indo rápidos demais. Por uma fração de segundos, os carros pareciam lentos demais e o mundo parecia um perfeito borrão. Eu estava correndo ladeira a baixo, tudo havia ficado deserto demais, sem vida. As luzes alaranjadas, que vinham do postes, refletiam nos paralelepípedos que formavam o chão da rua. Meu pé se chocou contra alguns, levemente levantados e eu tropecei, mas isso não me fez diminuir o ritmo, pelo contrario, apenas me fez querer ir mais rápido. Meu coração parecia querer sair pela boca, e ele teria conseguido se pudesse. Talvez com uma faquinha gritando: - Morra seu idiota iludido.

Passei pela frente da minha escola. Nunca havia reparado como ela parecia sombria e assustadora durante a noite. O portão azulado, e o pequeno caminho de concreto pareciam levar até algum outro mundo, um mundo sobrenatural repleto de mistérios.

Virei para a esquerda e continuei a subir a rua, indo em direção a praça. A rua estava vazia. O vento parecia estar soprando mais forte. As arvores que enfeitavam a rua, lançando sombras assustadoras sobre o chão. Suas copas se agitando levemente.  Por um milésimo de segundo eu achei que talvez fosse uma piada e um grupo de garotos estaria ali para me zuar.

Foi então que eu o vi.

Não sei como descrever as emoções que passaram por mim, enquanto eu me aproximava.  Um pouco de surpresa com uma leve pitada de medo devem qualificar um pouco do que me atravessou, de resto? Fica no ar.

Ele estava parado ao lado do banco, olhando para a direção oposta da qual eu vinha. Talvez tivesse achado que eu viria pela outra rua. Ele vestia uma calça preta e uma camiseta branca. Seu cabelo parecia estar se agitando com o vento.

Ele deve ter percebido minha presença ou ouvido meus passos, não sei ao certo, já que se virou. Um sorriso abobalhado se formou em seus lábios e seu rosto se avermelhou.

Juro que foi uma das cenas mais fofas que eu vi na vida.  Não sei o porquê, mas meus lábios se abriram e eu sorri junto com ele. Parei a meio metro dele e o encarei, com uma das sobrancelhas erguidas.

— Você veio. – disse ele. Sua voz estava tremula. Ele parecia impaciente, ou ansioso demais. Seus dedos se mexiam, batendo contra a calça, havia algo dourado brilhando entre eles.

— Eu tinha que vir. – Droga! Minha voz também estava tremula, e ia ser um saco me fazer de difícil. – Você escreve bem e de modo enigmático.

— Na verdade foi o meu irmão. Ele tem jeito pra essas coisas. – ele corou mais ainda, enquanto chutava alguma pedrinha no chão. – Quer sentar?  Eu comprei sorvete. Espero que você goste de maracujá.

— Se ta tentando me fazer dormir, ta no caminho certo. – respondi, enquanto me sentava no banco.

Naquele momento, eu já não sabia mais o que pensar, e deixei as coisas fluírem do jeito que elas deviam.

Eu queria escrever cada palavra dita por ele. Descrever cada toque e olhar que aconteceu durante aquelas duas horas seguintes, que pareceram meros minutos, talvez meros segundos. O sorvete estava bom, e tudo estava tão calmo. Apesar de terem sido apenas duas horas, eu senti como se o conhecesse por completo. Seus medos, segredos, desejos, e a forma como as covinhas apareciam quando ele sorria.

Descemos a rua, pela qual eu tinha vindo. Ele segurava minha mão. Seu toque era quente, e sua mão meio macia. Seu polegar ficava deslizando por sobre minha pele, e isso me causou arrepios, mas eram bons arrepios.

Agora deixa eu falar da melhor parte.

Estávamos na metade do caminho, quando ele parou bruscamente. Sério! Ele travou no chão, e sua mão me fez gira, fazendo com que eu ficasse de frente para ele. Seus olhos encontraram os meus, e seus lábios se abriram em um sorriso gentil.

— Eu queria que tivéssemos um pouco mais de tempo. Mas o tempo nunca estava a favor dos amantes.

— Amantes? Que palavra estranha para definir esse momento. – brinquei, enquanto uma de suas mãos ia de encontro a minha cintura, me puxando para mais perto.

Ele era mais alto, o que me fez ficar nas pontas dos pés para tocar seus lábios. Estes eram macios e quentes. Sua língua deslizou pela minha. Suas mãos haviam se tornado pesadas, me prendendo gentilmente contra seu corpo.

E foi assim que o pequeno momento mágico chegou ao fim. Ele me olhou nos olhos e sorriu novamente, sem dizer uma palavra. Seus olhos pareciam brilhar em meio à luz dos postes. E então seus lábios tocaram os meus novamente, em um selinho demorado. E então ele se virou e subiu lentamente a rua.

— Não deixe de ser leve como uma pena. – sua voz cortou o silencio que havia se instalado. Então ele se virou e passou a caminhar de costas, de frente para mim.  – E os cortes? Como toda ferida, eles se fecharam e os períodos escuros, como você disse, estão chegando ao fim.

— Você não tem irmão, né?

— Quem sabe. Ainda somos uma caixinha de surpresas. – e então ele dobrou a rua e desapareceu em meio à penumbra da esquina.

Sabe caro amigo. Existem bons momentos, que estão prontos a nos cercar e nos faz esquecer as trevas que se instalam dentro de nós. E esse foi um deles, e eu sei que coisas boas estão vindo. Afinal, passar as madrugadas acordado, nunca foi tão prazeroso. 


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Notas finais do capítulo

Primeiramente, DESCULPAAAAAS POR TER SUMIDO. Aconteceu tanta coisa, e eu não pude aparecer.
Segundo. Eu sei que deixei transparecer que os capítulos iriam girar só entorno do Paul e do Vini, mas eu achei paginas do diário que narram dias tão perfeitos, alegres, e felizes, que eu decidi dar isso para vocês.
Muitos vieram me perguntar se o Paul em algum momento ia ser feliz, e é justamente isso que vai acontecer por agora. Eu realmente espero que vocês se sintam agraciados com as pequenas narrativas que viram a seguir.
E entendam o porque de eu finalmente ter trazido a conhecimento, esse pequeno herói.

Beijos!
Chão ♥



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