(Un)Lost escrita por Nightmare


Capítulo 7
#06. O sangue dos inocentes


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente povo o/
Nesse capítulo teremos a primeira batalha da história, wee. Está longe de ser a mais emocionante, mas espero que gostem.
Deixei umas explicações nas notas finais, para não atrasar a leitura já atrasada de vocês. Vejo vocês lá embaixo~



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/709890/chapter/7


Região de Hoenn, 6 de julho de 2024.

 

O silêncio completo perturbava as mentes dos presentes. Não se ouviam os comuns barulhos da floresta, os sons do vento ou a respiração dos outros; era como se, por segundos, houvessem parado no tempo.

A ausência de som, psicológica, não era tão perturbadora como a verdade à sua frente, no entanto. O odor forte do líquido vermelho recém derramado, o qual cobria de forma fúnebre o verde vivo da grama, era perceptível não mais apenas para o Houndoom, mas para todos os Rangers. Ao centro do lago de sangue, jazia o corpo desfigurado do cachorro de pelos marrons, mutilado de forma a tornar quase impossível sua identificação – era como se fosse a vítima de um sádico assassino em série. Tudo indicava que o pobre pokémon muito sofrera antes de, enfim, ser assassinado: seus olhos haviam sido perfurados, sua língua arrancada e seu pescoço estraçalhado, separando sua cabeça de seu corpo. Fora possível reconhece-lo apenas devido aos pedaços de sua coleira espalhados pelo chão, com a medalha contendo seu nome e o da fazenda à qual pertencia.

Encontrar um monstrinho morto em uma floresta não era algo incomum, uma vez que, seguindo a cadeia alimentar, predadores perseguiam suas presas para alimentar-se; era o sentido natural da vida. No entanto, pokémons apresentavam um comportamento majoritariamente dócil, sendo quase impossível deparar-se com uma briga intraespecífica resultando em morte – ainda mais uma tão intensa. O corpo da pobre vítima refletia o comportamento extremamente agressivo de seus assassinos, como se os mesmo estivessem cegos de raiva e matassem por puro prazer. Para Caesar, tudo indicava que o caso era apenas mais um relacionado à Ghost e quais fossem os experimentos doentios por eles feitos em pokémons.

O líder do time foi o primeiro a aproximar-se, apenas para confirmar se o Herdier realmente estava morto, embora o estado deplorável do pokémon fosse o suficiente para se fazer tal afirmação. Todos os outros permaneceram em silêncio, provavelmente deglutindo os diversos pensamentos que atordoavam suas cabeças, até o homem musculoso, enfim, se pronunciar.

— Precisamos relatar o ocorrido ao Senhor Calhoun. — murmurou, dando as costas ao Herdier falecido.

— Que tipo de criatura faria isso? — sussurrou a loira de cabelos em corte Chanel, mais como se pensasse alto. Suas orbes esmeralda estavam arregaladas e, sua pele, extremamente pálida.

— Esses pokémons selvagens não são normais. — constatou Caesar, aproximando-se do corpo, como se para analisá-lo. — Há algo de errado com eles.

— Não há nada de errado, novato. — Marcus virou-se para fitar o mais novo. Era fúria transbordando por seus olhos? — Pokémons agem de acordo com seus instintos, não vamos fingir que é algo incomum.

— Certamente não é um comportamento comum. — retrucou o jovem de cabelos negros, incapaz de acreditar nas palavras do líder. — A agressividade de selvagens raramente gera mortes, a menos que seja uma etapa da cadeia alimentar. Esse Herdier foi dilacerado, mas não fora morto para servir de alimento. — o rapaz apontou para o corpo sobre o chão, mostrando as diversas marcas de dentes e garras que o cobriam. De fato, não havia sinais de ter sido usado para alimentação; o bando o atacara até a morte e, então, o abandonara. — Nós temos que investigar o que está acontecendo com...

— Nada está acontecendo! — o moreno musculoso aumentou seu tom de voz. A insistência e teimosia do mais novo certamente o irritavam. — São apenas pokémons normais, selvagens. Talvez tenham raiva. — repetiu, acalmando-se. — Agora, temos de retornar ao Senhor Calhoun e certificar-nos de sua segurança. Caso esse bando ataque novamente, devemos estar preparados para apanhá-los e retirá-los da natureza.

Após o comando, o homem tomou a frente, liderando o caminho para fora da mata. Frustrado, o garoto de cabelos negros cerrou os punhos; como poderia o líder de um grupo de guardas florestais não estar interessado em algo afetando os pokémons selvagens? Fitando os outros presentes, Caesar interpretou seu silêncio e olhares baixos como respeito à Marcus, embora parecessem não concordar com suas ações. Entretanto, incapazes de questionar sua autoridade – como o rapaz franzino fizera – os Rangers restantes decidiram segui-lo.

A tarefa de relatar o falecimento do fiel Herdier do fazendeiro não fora fácil. Marcus – talvez por sua experiência ou responsabilidade – voluntariara-se para fazê-lo, enquanto os outros integrantes do grupo tentavam confortar o senhor, o qual encontrava-se aos prantos. A julgar pela ausência de sua mulher, o garoto de cabelos negros concluíra que a mesma houvesse falecido e, portanto, o canídeo seria seu único companheiro na vasta fazenda, evidenciando-se o motivo pelo qual o velho fazendeiro tanto sofria por sua perda.

Incapaz de sentir empatia por um desconhecido, Caesar apenas observou a cena, à distância, apoiado em uma das cercas de madeira. Embora seus olhos azul-acinzentados estivessem fixos no homem choroso, sua mente vagava por outro lugar, analisando os acontecimentos de minutos antes. A postura defensiva e orgulhosa de Marcus diante do ataque do grupo selvagem certamente o incomodara, embora pudesse ser apenas seu comportamento usual ao ter uma de suas ordens questionadas. Talvez o homem desejasse não alarmar os outros integrantes de forma desnecessária ao levantar dúvidas sobre algo incerto, optando por tirar suas conclusões ao capturar os selvagens. Mas, na opinião do garoto sombrio, todo cuidado era pouco; especialmente após descobrir sobre a organização criminosa e os casos que acreditava terem relações com a mesma.

Caesar perdera a noção do tempo por estar mergulhado em seus devaneios, como de costume, mas notara haver passado quase uma hora quando sua atenção fora chamada por Mary Jane, a qual o convidava para retornar ao Centro Pokémon com o grupo. Depois de certificarem-se sobre a estabilidade emocional do idoso, os Rangers estavam prontos para retornar ao local onde estavam hospedados, pedindo para que o velho fazendeiro ligasse caso os monstrinhos selvagens voltassem a atacar seus pokémons. Calado, o rapaz de cabelos negros os seguiu; pela primeira vez, não tentaram iniciar uma conversa com o mesmo, talvez por estarem todos ainda tocados pela cena com a qual haviam se deparado e respeitarem seu espaço. Mas, surpreendentemente, o silêncio não agradava o garoto naquele momento, pois este obrigava-o a revisitar todos os pensamentos sombrios em sua mente.

Se o caso dos selvagens agressivos tivesse relação com a Ghost, será que Dakota e seus pokémons ainda estavam bem?

 (***) 

Ao chegar no Centro Pokémon, a equipe decidiu almoçar no pequeno Coffee Shop ao ar livre do mesmo; ainda eram cerca de onze horas da manhã mas, como o grupo tomara café da manhã cedo para sair em missão, todos estavam famintos. Caesar descobriu que os Rangers tinham direito não somente à estadia, mas também refeições gratuitas em estabelecimentos médicos ao redor do mundo, uma vez que eram vistos como heróis, de forma semelhante aos policiais e bombeiros. A comida que lhe fora oferecida, no entanto, não fora muito de seu agrado – mas, isso já era esperado.

Após finalizarem seus pratos, Marcus e Jolene iniciaram uma longa e tediosa conversa sobre seu trabalho, enquanto Archie e MJ jogavam uma partida de xadrez em uma das diversas mesas de mármore, nas quais haviam sido pintados tabuleiros.

Então é assim que os naturebas agem para esquecer dos acidentes traumáticos de seu trabalho? O garoto de cabelos negros certamente desaprovava o descaso com o qual os outros de seu time tratavam o assunto, preferindo esquecê-lo ao invés de debate-lo e chegar a uma conclusão para procurar pelo culpado. De fato, seria mais fácil esperar até o próximo ataque das criaturas do que rastreá-los pela enorme floresta, certificando-se de estarem prontos para apanhá-los no momento certo em vez de imprudentemente andar pela mata atrás dos mesmos, onde estariam em desvantagem. Porém, não precisavam fugir de seus problemas fingindo que os mesmos não existiam.

Indisposto a ser o primeiro a iniciar o assunto e deixando que os outros tratassem de livrar-se das imagens em suas mentes como preferissem, Caesar pôs-se a escovar os sedosos pelos negros do Zorua Shiny em seu colo, observando o jogo de xadrez entre a loira de olhos esmeralda e o jovem de cabelos castanhos.

— Xeque mate. — pronunciou o mais novo, tentando não demonstrar qualquer tipo de humor, mas falhando em esconder um sorriso orgulhoso que surgia no canto de sua boca.

— Eu nunca vou entender como você faz isso. — balbuciou Mary Jane, cerrando os olhos e cruzando os braços.

— É um jogo de estratégia. — Archie deu de ombros, limpando seus óculos com um paninho.

— “Estratégia”. — a menina repetiu, de forma sarcástica, bufando. — Aposto que você não consegue me derrotar em uma batalha; isso sim é um jogo de estratégia.

— Isso é um desafio? — o moreno sorriu, levantando-se.

Caesar não compreendeu como um jogo de xadrez havia tomado um rumo totalmente inesperado em tão poucos minutos mas, a julgar pelos sorrisos estampados nos rostos de cada um dos presentes, assumiu que batalhar era mais um modo de desvencilhar-se do estresse de seu trabalho. Revirando os olhos, o garoto de cabelos negros apenas seguiu Marcus e Jolene, após a morena chamá-lo.

A equipe de Rangers retornou ao saguão principal do Centro Pokémon, dirigindo-se ao balcão central onde encontrava-se uma das diversas enfermeiras de cabelos rosados. Reconhecendo que a maioria dos estabelecimentos possuía um ou dois campos de treinamento em seu subsolo, para treinadores hóspedes exercitarem seus companheiros, Mary Jane perguntou sobre a disponibilidade do mesmo, liderando o grupo até uma escada escondida no canto esquerdo do local, após Joy relatar não ter visto ou ouvido ninguém por lá.

O campo de batalha era como o de todos os outros centros médicos, uma vez que os estabelecimentos eram extremamente padronizados, por serem organizados pela mesma família. Talvez por ter um movimento menor de treinadores, por ser mais afastado do centro de Verdanturf, o Centro Pokémon no qual encontravam-se apresentava apenas um campo, o qual consistia de uma espécie de quadra de terra, nas dimensões aproximadas de uma de basquete, apresentando linhas brancas para contorna-la e indicar as posições devidas de cada treinador. Um comprido banco estava encostado na lateral atrás do campo, permitindo que amigos ou curiosos se sentassem para assistir ao combate; alguns estabelecimentos tinham arquibancadas de até três andares mas, aparentemente, tal espaço não era necessário.

Enquanto a loira se posicionava na extremidade direita do campo de batalha e o moreno na esquerda, Jolene e Marcus dirigiram-se ao centro do banco, obrigando Caesar a fazer o mesmo. Antes que o rapaz pudesse questionar o objetivo de assistir ao fútil combate da dupla, a alta morena de cabelos presos em um rabo de cavalo o respondeu, como se fosse capaz de ler seus pensamentos.

— Uma das nossas formas de treinamento é batalhar. — a morena dirigia-se ao mais novo, embora seus olhos estivessem fixos no combate prestes a se iniciar. — Assistir é importante pois, assim, podemos dar dicas aos que estão se enfrentando e também aprender coisas novas. Todos se beneficiam, mesmo os que estão só observando.

— Exato. — Marcus continuou, fitando o garoto com seus olhos negros. — Além disso, habituar nossos pokémons a se enfrentarem prepara-os para quando somos chamados para conter um grande ataque de selvagens ou auxiliar a polícia na luta contra um criminoso que tenha como arma essas criaturas. — completou.

A explicação dada pelos dois fazia sentido, de certa forma. De fato, o combate entre seus semelhantes possibilitaria aos pokémons dos Rangers estarem preparados para enfrentar outros de sua espécie, especialmente tratando-se de um treinador mal intencionado usando a força dos monstrinhos para desrespeitar a lei, uma vez que os guardas florestais sempre eram chamados na impossibilidade de contatar um líder de ginásio. Mas, diante dos eventos recentes, Caesar ainda julgava o momento importuno para distrair-se com algo tão irrelevante como uma batalha amistosa.

De qualquer forma, o rapaz de cabelos negros sentou-se para observar o combate. Duvidava da capacidade da dupla de surpreendê-lo – afinal, em seus dois anos de jornada havia presenciado as mais emocionantes batalhas e, até mesmo, vivido muitas delas – mas, por não assistir à uma luta ao vivo desde que vencera a Liga de Kalos, decidiu dar-lhes uma chance. Certamente, ele preferiria utilizar seu tempo de forma mais sábia, procurando por pistas dos monstrinhos selvagens ou visitando a delegacia na qual Giovanna e Dakota haviam se conhecido; no entanto, desaparecer sem explicações geraria muitas dúvidas e, considerando que os Rangers ainda estavam “a trabalho”, desconfiava que o líder eu-mando-em-você não o deixaria partir.

O garoto de cabelos negros abandonou seus devaneios ao ouvir a voz estridente da menina loira, observando-a sacar uma pokébola e atirá-la ao alto, libertando sua doce Sylveon. A gata apresentava um olhar sereno e sua pose delicada não condizia com a postura esperada para uma batalha, provavelmente devido à presença de conhecidos apenas, certificando-a de que se encontrava em um ambiente seguro.

— É com você, Snowball. — murmurou o rapaz de cabelos castanhos bagunçados, segurando uma das esferas bicolores, a qual removera de seu cinto.

Ao ter seu botão central pressionado, o dispositivo irradiou um feixe branco, o qual lentamente ganhou forma, revelando uma espécie de porco bípede beirando um metro de altura. A metade superior de seu corpo apresentava um tom lilás, assim como suas patas, enquanto a inferior era de um preto fosco, bem como seus longos braços e pontudas orelhas. Sua cauda rosada era enrolada como uma mola e parecia conferir-lhe certo equilíbrio, sendo forte o suficiente para aguentar o peso de todo o seu corpo. Seus olhos eram negros, assim como duas orbes enfeitando sua testa, além de uma em sua barriga. O Grumpig sorria, aparentemente ciente do combate do qual participaria e animado com o fato.

— Vamos fazer as honras, Lavender! — bradou a menina, observando sua Sylveon finalmente posicionar-se de frente para seu oponente. — Fairy Wind! — comandou.

Ao ouvir a voz de sua treinadora, a pokémon fada fechou seus olhos e uniu as fitas que adornavam suas orelhas e pescoço, enquanto as mesmas adquiriam um brilho azulado. Quando reabriu suas orbes azuladas, chicoteou o ar diversas vezes, criando lâminas brilhantes e direcionando-as contra seu oponente.

— Snowball, esquive e revide com um Psybeam! — retrucou o mais novo, gesticulando para seu companheiro.

O porco arroxeado assentiu, fitando as lâminas de ar que vinham em sua direção. Em uma fração de segundo, as orbes negras em sua cabeça e barriga foram envoltas por uma aura rosada, a qual rodeou todo o seu corpo em seguida. Pouco antes do ataque da Sylveon atingi-lo em cheio, o Grumpig utilizou seus poderes psíquicos para levitar rapidamente para cima, desviando efetivamente do golpe, seguindo em direção à gata imediatamente. Antes mesmo de Mary Jane ser capaz de ajudar sua pokémon a se proteger, Snowball já a havia atingido com um raio rosado envolto por anéis roxos.

Atordoada, Lavender soltou um guincho de dor, sendo arrastada alguns metros para trás. Sacudindo sua cabeça, no entanto, retomou sua posição e virou-se para a loira, aguardando um próximo comando.

— Essa foi uma boa combinação, Archie. — comentou a morena sentada na arquibancada. — Levitando-se com seus poderes psíquicos, Snowball conseguiu desviar do ataque e colocar-se em uma posição favorável para utilizar seu golpe. — analisou.

— Mary Jane, você só precisa pensar mais rápido. — foi a vez do líder de pronunciar-se, fitando a loira. — Lavender é inteligente, mas precisa de alguém observando por fora para ajudá-la a se defender. — instruiu, recebendo um aceno de cabeça da garota como resposta. — Vou buscar um copo de água mas, por favor, não parem na minha ausência. — sorriu, levantando-se e deixando o local.

Caesar se manteve calado, sendo sua única reação bufar diante do combate trivial ao qual assistia. Embora estivesse ainda em seu início, a batalha não parecia poder tornar-se mais interessante, uma vez que as técnicas utilizadas por ambos os lados não haviam despertado sua atenção. A luta, de fato, não se equiparava àquelas pelo garoto de cabelos negros presenciadas durante a Liga Pokémon de Kalos e, apesar de não esperar que as habilidades dos Rangers em combates fossem tão vastas como as dos treinadores classificados para a maior competição regional, o rapaz julgava a batalha indigna de seu tempo e consideração.

— O que está achando, novato? — a voz de Jolene ecoou pelos ouvidos do mais novo, retirando-o de seus pensamentos.

— Frívolo. — o garoto respondeu, prontamente, mantendo seus olhos fixos no combate, o qual prosseguia, embora sem demonstrar interesse. — Iniciar uma batalha com um simples golpe à longa distância, sem preparar seu pokémon para uma segunda ação, obviamente não renderá frutos, pois o oponente terá tempo o suficiente para desviar. Archibald executou seu primeiro golpe de maneira sábia, mas seu Grumpig apenas foi capaz de desviar por descuido da Sylveon, já que a mesma poderia ter dado continuidade a seu golpe, atingindo-o mesmo no ar. Seria muito mais efetivo proteger-se do ataque com um contragolpe, possivelmente desestabilizando sua oponente como consequência. — concluiu, observando o porco lilás ser derrubado por um golpe direto da pokémon fada.

Por alguns segundos, a morena permaneceu calada, fitando o mais novo com uma de suas sobrancelhas arqueada. Embora não retribuísse o olhar, o garoto de cabelos negros interpretou o silêncio da outra como uma certa forma de indignação diante de seu comentário. Contudo, Jolene apenas desfez a careta, transformando-a em uma expressão curiosa, dispensando qualquer bronca ou insulto, reação esperada por Caesar.

— Como você entende tanto de batalhas? — foram as únicas palavras proferidas pela mais velha, seu olhar ainda fixo no garoto misterioso.

A resposta recebida fora, no entanto, apenas um suspiro sarcástico, enquanto o rapaz retirava seus óculos para limpar suas lentes. Indisposto a revelar sobre seus anos de treinamento e experiência como Campeão da Liga, julgando o momento como importuno, Caesar preferiu mudar de assunto.

— Como vocês podem simplesmente ignorar o ocorrido e distrair-se com um combate fútil como este? — indagou o garoto, seus olhos acinzentados finalmente encontrando os da morena.

— Não estamos ignorando. — refutou, prontamente, esperando assim obter a resposta para sua pergunta anterior, posteriormente. — Mas nós todos temos um contato muito forte com pokémons. Se deixássemos isso nos abalar toda vez que nos deparamos com uma cena dessas, provavelmente desistiríamos do trabalho. — a mulher fez uma breve pausa, suspirando antes de prosseguir. — Isso não significa que o evento passou em branco; nós apenas tentaremos suprir os momentos tristes com os felizes, até sermos capazes de apreender o culpado. É uma espécie de protocolo não escrito dos Rangers. — concluiu.

Após a fala da morena, Caesar apenas assentiu, sem nada dizer. Talvez seu silêncio pudesse ser interpretado como empatia, diante da possibilidade de o jovem finalmente compreender ao menos uma das atitudes dos guardas florestais, mas, na realidade, ele somente discordava da postura inerte dos mesmos. O rapaz estava, de fato, tentando fazer como lhe fora pedido e respeitar as regras e a autoridade de Marcus, mas a tarefa se mostrava cada vez mais difícil; estava a poucos passos de levantar-se e tratar do assunto da maneira que julgava correta.

— Você ainda não me respondeu. — insistiu a morena, chamando a atenção do garoto novamente.

O garoto de cabelos negros estava prestes a comentar algo como “cuide da sua vida”, quando o líder retornou ao campo subterrâneo com uma expressão preocupada em seu rosto.

— Archie, MJ. — o homem chamou, fazendo com que a dupla cessasse sua batalha por um instante. — Não cansem demais seus pokémons. Calhoun ligou, precisamos retornar à fazenda imediatamente.

O líder não precisou balbuciar sequer mais uma palavra para que os outros compreendessem o que ocorria: certamente, os selvagens assassinos haviam retornado para importunar o idoso. Prontamente, todos se prepararam para seguir Marcus, o qual já saía pela porta; até mesmo o garoto de cabelos negros, usualmente tão desinteressado pelos afazeres dos Rangers, demonstrava preocupação e determinação.

Embora a fazenda não estivesse muito distante, os guardas florestais decidiram libertar seus pokémons voadores e montá-los, visando encurtar o tempo de trajeto, uma vez que já estavam cientes da ferocidade e rapidez de ataque do bando selvagem. E eles não estavam dispostos a permitir mais perdas.

Em pouco mais de cinco minutos, os Rangers chegaram ao local, deparando-se com caos e terror. Parte da cerca protetora de um dos cercados à frente da fazenda havia sido despedaçada, tendo sua madeira roída e os arames arrebentados, deixando quatro Miltanks vulneráveis aos dentes e garras dos cinco Poochyenas, os quais tentavam atingir as vaquinhas de qualquer maneira possível. Com horror estampado em seus olhos, o velho fazendeiro observava a cena por detrás de sua janela; ao deparar-se com os assassinos de seu companheiro, o homem provavelmente temera por sua segurança e trancafiara-se em sua casa.

— Precisamos agir rápido! — informou Marcus, sua voz firme. — MJ, peça para que Daisy chame a atenção deles e atraia-os para fora do celeiro; ela é a mais rápida que temos, conseguirá correr rápido o suficiente para fugir dos golpes deles.

Ao receber o comando do homem musculoso, a loira prontamente escolheu uma das pokébolas organizadas em seu cinto, pressionando seu botão central para libertar a Electrike. Sem hesitar, explicou-lhe o plano, preparando-a para executá-lo assim que Marcus se pronunciasse.

— Caesar, algum dos integrantes do seu time é grande e forte o suficiente para aguentar os cinco selvagens? — prosseguiu o líder, agora fitando o mais novo.

— Ele tem um Pangoro! — respondeu Mary Jane, antes mesmo que o rapaz de cabelos negros pudesse abrir sua boca.

— Perfeito. — o homem parecia satisfeito, embora não esboçasse sorrisos, provavelmente devido à seriedade da situação. — Quando Daisy conseguir tirar os selvagens do cercado, seu Pangoro aguentará seus golpes até eu e Athavi darmos conta de acalmá-los. — ele fez uma breve pausa, procurando por defeitos em seu plano. — Archie, Jo, certifiquem-se de que nada dê errado. — completou.

O garoto sombrio arqueou uma das sobrancelhas ao ouvir o nome desconhecido, compreendendo tratar-se de um dos pokémons de Marcus quando o mesmo lançou uma das esferas bicolores de seu cinto ao ar. A criatura liberta do dispositivo consistia de três pequenas esferas com olhos, conectadas uma a outra por parafusos e envoltas por imãs cujo as pontas eram vermelhas e azuis. Ao analisar o Magneton, Caesar pôde imaginar as intenções do líder.

Assimilando que, a cada segundo perdido, as Miltanks do fazendeiro tornavam-se mais vulneráveis, o jovem não mais esperou. Prontamente, levou a mão direita ao cinto, apanhando a esfera correta. Ao apertar seu botão central, um feixe de energia branco foi irradiado, revelando o grande urso de pelos brancos e pretos ao se dissipar. A criatura bípede rugiu ferozmente ao ser liberta, tornando sua atenção para seu treinador apenas para dirigir um rosnado ao mesmo.

— Agora não, Max. — o jovem revirou seus olhos acinzentados diante do comportamento rebelde de seu pokémon. Em qualquer outra situação, a falta de obediência do Pangoro seria extremamente prejudicial; no momento, porém, sua tarefa era bem simples, e Caesar tinha certeza de que o pokémon a realizaria sem precisar acatar um de seus comandos.

— Vamos, Rangers! — bradou o moreno mais velho ao perceber todos em suas posições.

Com um simples comando de sua treinadora, a cadela de pelos esverdeados fora envolta por faíscas poucos segundos antes de disparar em direção ao cercado das Miltanks, rápida como um raio. Em seguida, criou mais quatro cópias de si mesma utilizando Double Team, com a intenção de confundir e chamar a atenção dos inimigos. Felizmente, ao notar a movimentação inesperada ao seu redor, o bando selvagem cessou o ataque às vaquinhas, virando-se para a Electrike e seus clones. Assim como o esperado, a canídea se retirou do cercado, sendo seguida pelos selvagens raivosos, conseguindo escapar de suas garras e presas devido à sua velocidade superior.

Uma vez fora dos cercados, Daisy correu agilmente em direção ao urso panda que, finalmente, parecera compreender o que ocorria. Deixando seus dentes à mostra, o Pangoro rugiu uma vez mais, estendendo seus braços em direção ao bando enfurecido e permitindo que os mesmos fossem ao seu encontro. Um pouco mais afastados, Archibald e Jolene haviam libertado um Crawdaunt e um Nosepass, respectivamente, para impedir que os lobinhos se dispersassem caso o plano falhasse.

Ao observar os Poochyenas lançarem-se para o ataque, abocanhando os braços e pernas do enorme urso alvinegro, Marcus percebeu tratar-se da hora perfeita para o detalhe mais importante de seu plano. Sem hesitar, gritou um comando para seu Magneton que, em uma fração de segundo, já tinha seu corpo completamente envolto por eletricidade. Após concentrar seu poder, o pokémon metálico disparou uma onda de eletricidade que, apesar de atingir e prejudicar também o Pangoro aliado, obteve sucesso em paralisar todos os monstrinhos raivosos, forçando-os a cessar seu ataque ao caíram ao chão, com faíscas percorrendo seus corpos. Em perfeita sincronia temporal, um carro especial do Serviço de Controle de Pokémons chegou ao local, após o mesmo ser acionado por Marcus, pouco antes de deixarem o Centro Pokémon.

— Rápido, aproveitem os efeitos do Thunder Wave para enjaulá-los! — instruiu o líder dos Rangers, auxiliando os homens de uniforme preto.

Não fora necessário muito tempo para apreender cada um dos lupinos ferozes, colocando-os em jaulas separadas e, em seguida, acomodando-os na traseira do veículo especial. Com os culpados pela morte do Herdier aprisionados, a tensão no local parecia dissipar-se e expressões de alívio tomavam conta de quase todos os presentes, exceto por Caesar. Ainda inquieto quanto ao comportamento agressivo dos monstros selvagens, o rapaz de cabelos negros seguiu até Marcus, o qual terminava um diálogo com os homens do SCP.

— Seu Pangoro fez um bom trabalho, novato. — anunciou o mais velho ao notar a aproximação do garoto sombrio, embora não olhasse para o mesmo.

— Marcus. — o rapaz chamou com uma voz firme, enfim conseguindo a atenção do líder. — Eu insisto. Devemos pedir para que esses pokémons sejam corretamente analisados por profissionais.

— Garoto, eu vou falar uma última vez. — o tom do homem de olhos negros era sério. — Nosso trabalho aqui está feito. Agora, deixe o SCP fazer o dele. — sem dar à breve conversa chance de continuidade, Marcus deu às costas ao mais novo, dirigindo-se ao idoso que enfim saía de sua casa, agradecendo os Rangers.

Contrariado, Caesar bufou, desistindo de tentar convencer o homem teimoso; esperava que algum dos outros membros de sua equipe fossem questionar a postura de seu líder, mas nenhum deles parecia interessado em fazê-lo. Na verdade, todos pareciam muito satisfeitos com suas atitudes, elogiando seu plano “super elaborado” e glorificando-o como um deus. Indisposto a fazer parte dos devotos à Marcus, o mais novo apenas afastou-se do grupo de escoteiros felizes, aproximando-se de seu Pangoro, o qual ainda estava liberto. Os efeitos da paralisia não haviam sido tão potentes nele como foram contra os lobinhos selvagens, mas ainda era possível verificar certa dificuldade em sua locomoção, bem como rastros de eletricidade percorrendo seu corpo ocasionalmente.

— Desculpe pela inconveniência, Max. — o rapaz estendeu as mãos em direção a um dos braços do Pangoro, com o intuito de tratar de um ferimento provocado por uma mordida de um dos Poochyenas.

O ato de preocupação do treinador, no entanto, fora rapidamente recusado pelo grande urso panda, o qual recolhera bruscamente seu braço ao perceber a aproximação de seu treinador. Com um leve rugido, o pokémon alertava o garoto sobre a indisposição de ser por ele tratado e, embora Caesar tivesse certeza de que Maximilliam jamais o machucaria, optou por respeitar a distância de seu pokémon.

— Parece que deixaremos o trabalho para uma das enfermeiras, nesse caso. — seu tom era de certo desapontamento enquanto o rapaz retornava o panda para o conforto de sua pokébola.

 (***)

Uma ducha de água fria fora o suficiente para resfriar a mente do garoto sombrio. Deitado em sua cama junto a seu fiel Zorua no pequeno quarto compartilhado do Centro Pokémon de Verdanturf, Caesar revisitava os acontecimentos do dia exaustivo e anotava em um bloco de notas cada detalhe considerado de importância futura em sua busca pela amiga desaparecida. Para a sorte do rapaz, o líder dos Rangers achara melhor passar mais um dia na pacata cidade para certificar-se de que todos os perigosos monstrinhos selvagens haviam sido recolhidos, fornecendo-lhe tempo suficiente para visitar a delegacia mencionada pela amiga de Dakota, onde, caso tivesse sorte, poderia obter mais pistas sobre seu sumiço.

Ao ouvir a porta do banheiro da suíte ser destrancada, o rapaz de cabelos negros tratou de rapidamente guardar o caderninho onde fazia suas anotações dentro de sua mochila de viagem, evitando ser questionado quanto ao que escrevia. Seu tempo na cidade certamente seria melhor aproveitado caso não tivesse de dividir o quarto com um de seus novos companheiros de equipe, fato que ainda o incomodava, mas não havia muito para se fazer a respeito. Dessa forma, passar um tempo com o jovem tímido talvez servisse para conseguir sua confiança e, possivelmente, conseguir alguma informação útil.

— Está tudo certo? — a voz baixa de Archibald ecoou pelo quarto, surpreendendo o outro.

Perdido em seus planos e devaneios, Caesar não percebera que encarava o garoto de cabelos castanhos desde que o mesmo saíra do banheiro. Restringindo-se para não levar a mão ao rosto em um ato de reprovação à sua falta de atenção, o rapaz pálido apenas balançou a cabeça, desviando seu olhar para fitar a parede e rapidamente desconversando.

— Só estava pensando no ataque de hoje. — o garoto murmurou, passando as mãos por seus fios negros. Aquela era sua deixa para iniciar um interrogatório disfarçado. — Você também acha que há algo de errado com aqueles pokémons, não é? — arriscou, baseando-se na postura do jovem ao deparar-se com o certo descaso do líder.

Archibald hesitou para responder, seguindo até sua cama e deitando-se sobre a mesma. Sua timidez era visível no modo como ele evitava fitar diretamente o garoto de cabelos negros.

— Sim. — ele respondeu, enfim, com um suspiro. — Mas Marcus sabe o que faz. — apesar de estar visível sua diferença de opinião, a julgar por seu desapontamento, a lealdade e confiança que o jovem tinha para com seu líder pareciam prevalecer. — Ele provavelmente não quer alarmar ninguém sem necessidade. Não é comum vermos ataques desse tipo, então a melhor opção é verificar se foi um caso isolado ou se é algo maior antes de preocupar a todos.

A resposta de Archie confirmava a hipótese do garoto das sombras quanto à postura do chefe de equipe dos Rangers, embora não o deixasse satisfeito. Apesar de não acionar alarmes falsos ser uma escolha sábia a se fazer, Caesar desconfiava que o homem mais velho tivesse a certeza de que algo maior estava acontecendo; afinal, mesmo que desconhecesse sobre os outros ataques e sumiços que a polícia de Hoenn tentava esconder por não obter resultados conclusivos, Marcus já perdera um dos membros de seu time misteriosamente.

Após alguns segundos de silêncio, o rapaz de cabelos negros decidiu dar continuidade à conversa, percebendo que o outro jovem não apresentava muita relutância em responder às suas perguntas; era o momento certo para tentar descobrir um pouco mais sobre os últimos dias de trabalho de Dakota com os Rangers.

— Desculpe-me a pergunta. — ele iniciou, chamando a atenção do garoto de cabelos castanhos uma vez mais. — Sei que pareceu ser um assunto delicado, mas ouvi que o membro do time que eu substituí desapareceu durante trabalho. — com a introdução do assunto, Archie pareceu ficar tenso. — Será que o ataque de hoje tem alguma relação com isso?

— Não sei dizer ao certo. — embora visivelmente desconfortável, Archibald não hesitou para responder. — Dakota desapareceu durante uma missão, mas não deixou rastros. Acredito que, se ela tivesse sido atacada por um desses pokémons agressivos, ela seria mais do que capaz de proteger-se. Ela foi a vice-campeã da Liga de Kalos do ano passado. — Caesar teve de fingir surpresa. — Mas, mesmo que ela fosse atacada de surpresa e não conseguisse contar com a ajuda de seus pokémons, a polícia encontraria algo. No entanto, nenhuma pista foi deixada para trás; não havia sangue, não acharam seus pokémons ou suas pokébolas. É como se ela simplesmente tivesse desaparecido. — concluiu, seu tom transbordando certa tristeza.

— Mas, se vocês estavam em uma missão, ninguém viu o que ocorreu? — o garoto de cabelos negros endireitou-se sobre a cama, virando-se para o outro; finalmente, sua insistência parecia render frutos.

— É complicado. — ele fez uma careta e, assim como seu companheiro de equipe, tentou mudar de posição, mostrando-se desconfortável com o assunto. — Nós estávamos em uma busca por uma garotinha que se perdera na floresta próxima à Mauville. Por tratar-se de uma área muito grande demais para ser vasculhada em pouco tempo, Marcus ordenou que nos separássemos. — Archie fez uma breve pausa, suspirando. — Por isso ele se sente tão culpado pelo ocorrido. — a última frase foi dita em um tom extremamente baixo, como se não pudesse ser dita.

Antes mesmo que Caesar pudesse fazer uma próxima pergunta – dentre as várias que circulavam sua cabeça –, Archie deu fim ao assunto, limpando a garganta.

— De qualquer forma, acho melhor irmos dormir. — o jovem de cabelos castanhos gaguejou um pouco. — Já está tarde e não sabemos o que vamos enfrentar amanhã.

Após apagar as luzes do quarto, acionando o interruptor que ficava próximo à cama do jovem Ranger, o mesmo murmurou um ‘boa noite’ e virou-se para o lado oposto do colega de quarto, encerrando de vez o diálogo. Em poucos minutos, podiam-se ouvir os roncos baixos do garoto, mas Caesar ainda passaria um bom tempo acordado.

Afinal, os acontecimentos do dia e a conversa com Archibald teriam grande influência no planejamento de seus próximos passos na busca pela amiga desaparecida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Long time no see, huh? -tapa
Primeiramente, peço mil desculpas pelo meu sumiço. Eu nunca desisti dessa fic e provavelmente nunca vou desistir, mas, infelizmente, não tenho tanto tempo ou inspiração como gostaria. De qualquer forma, estou me empenhando para melhorar isso o máximo possível.
Aviso logo que não sei quando o próximo capítulo será postado, mas já estou trabalhando nele. Novamente, volto a desejar produzir um estoque de capítulos antes de efetivamente postar o próximo. Acredito que, com as férias, eu tenha tempo de organizar isso direito.

Maaaaaaas, sem mais enrolações. O que acharam do capítulo? Temos o primeiro look de uma batalha (quem entendeu a referência do nome do Grumpig?) e o primeiro conflito importante na narrativa. Sinceramente, esperava que tivesse ficado melhor; reconheço que não foi um dos melhores capítulos que escrevi, mas não aguentava mais esperar para postar e mostrar que estou viva lol. Espero que eu não tenha desapontado muito vocês.
Enfim, chega de falação. Aguardo vocês no próximo capítulo o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "(Un)Lost" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.