(Un)Lost escrita por Nightmare


Capítulo 6
#05. O anoitecer chegara cedo demais


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente povo o/
Venho aqui deixar mais um capítulo, espero que gostem. Também tem bastante diálogo nesse, espero que eu esteja fazendo isso direito... De qualquer forma, vejo vocês lá embaixo~



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Região de Hoenn, 5 de julho de 2024.

 

A riqueza da flora de Hoenn era incontestável. Mesmo próximo da grande metrópole, conhecida como o coração da região, o desmatamento não fora intenso, permitindo ainda o crescimento de diversas árvores e flores das mais belas cores e dos mais doces perfumes. Tal variedade não se fazia tão presente em Kalos, onde a maior parte da vegetação original havia sido destruída para ceder lugar aos mais grandiosos centros urbanos. Até mesmo os pokémons selvagens aparentavam ser mais serenos, a julgar pelo modo harmônico como seus cantos ecoavam à medida que a dupla adentrava a Rota 117. A música natural seria ainda mais encantadora, caso não houvesse um Chatot em forma de loira oxigenada tagarelando nos ouvidos do garoto de cabelos negros desde que saíram de Mauville.

Apesar de Mary Jane ter se oferecido para relatar à Caesar os pontos principais da missão em Verdanturf – e tê-lo convencido a segui-la por aquele motivo apenas –, a garota não pronunciara sequer uma palavra sobre tal, optando por revelar diversos fatos sobre a sua vida, assunto pelo qual o garoto de cabelos negros não podia demonstrar menos interesse. Na verdade, ele simplesmente desistira de escutar a loira no momento em que ela iniciara um monólogo sobre as mais recentes tendências na moda.

Desviando sua atenção da desinteressante conversa, Caesar passou a observar as duas raposas caminhando juntas. Enquanto Dark mantinha uma postura calma, apesar de visivelmente incomodado pela presença da outra, Ivy tentava insistentemente convencer o Zorua a brincar, não desistindo nem mesmo quando o vulpino de pelos negros ameaçava mordê-la. A Vulpix apresentava um comportamento muito similar à um filhote, apesar de ser já uma adulta, a julgar pela quantidade de caudas que possuía; de acordo com os estudos do rapaz, a espécie era conhecida por nascer com apenas uma cauda, e outras cinco crescem à medida que o pokémon amadurece. Apesar de não se entenderem muito bem, as tonalidades opostas das duas raposas realmente lembravam o símbolo do Yin Yang.

— Caesar? — chamou a menina ao perceber que o rapaz não mais acompanhava a conversa.

— Hm. — o garoto de cabelos negros limpou a garganta, piscando algumas vezes para, enfim, reerguer sua cabeça. — Estava olhando eles... Brincando. — explicou-se, apontando as raposas com a ponta de seu fino nariz.

— Ah, sim! — exclamou a jovem, alegre, fitando os pokémons. — Eles combinam muito, não acha?

— ... Claro. — respondeu o garoto, arqueando uma de suas sobrancelhas. Obviamente, Dark detestava a insistência da outra, e qualquer leigo seria capaz de perceber.

Aproveitando o momentâneo silêncio da loira, uma vez que a mesma cessara seu tedioso monólogo, Caesar decidiu perguntar-lhe sobre o assunto pelo qual ele realmente estava interessado, antes que Barbie Maníaca e Tagarela resolvesse ingressar em mais uma de suas conversas sobre roupas ou maquiagem.

— Diga-me, Mary Jane. — chamou, conseguindo a atenção da outra imediatamente. — O que exatamente vocês foram fazer em Verdanturf hoje?

— Ah, claro! Me empolguei tanto falando sobre mim que acabei esquecendo de te contar o mais importante. — riu-se e, a partir da conclusão à qual a garota chegara sozinha, o rapaz pálido deduziu que a atitude da jovem era algo recorrente. — Bem, um fazendeiro do subúrbio de Verdanturf disse estar sofrendo ataques constantes de pokémons selvagens. Ele relatou que, inicialmente, era um bando de três ou quatro Poochyenas, os quais seu Herdier conseguia afastar com facilidade. Mas, recentemente, mais alguns pokémons agruparam-se ao bando e estão atacando seu rebanho de Mareep e suas Miltank, gerando até mesmo algumas perdas. — ela murmurou, com uma expressão séria.

— Ataques assim não representam o comportamento natural de pokémons. — concluiu Caesar, mais como se estivesse falando alto do que respondendo a garota. — Eles não costumam atacar sem motivo, muito menos matar. — levando a mão ao queixo, o garoto recordou-se da experiência do dia anterior, em sua primeira missão, onde um homem sozinho havia sido perseguido por um bando de Poochyenas e Houndours agressivos. Teriam esses dois ataques alguma ligação à Ghost?

— De fato, não são nada comuns. — concordou Mary Jane, prosseguindo. — Nós tentamos rastrear os pokémons, mas não conseguimos encontrá-los. O medo de Marcus é que, com o crescimento do grupo, eles sejam capazes de avançar até áreas mais populosas da cidade e atacar outras pessoas. Por isso, concluímos ser melhor retornar para a Central e apanhar o equipamento certo, bem como descansar e preparar nossos pokémons, para aumentar nossas chances de descobrir o esconderijo desses monstrinhos e o motivo pelo qual estão causando tanto terror.

Caesar apenas assentiu. Aquele era só mais um dos acontecimentos misteriosos que estavam a ocorrer por toda Hoenn e, ao descobrir sobre a organização, o rapaz não podia evitar associar todos eles à Ghost. Mas, se esses “fantasmas” realmente estavam por trás de tantos crimes, como a polícia ainda não havia sido capaz de rastreá-los? Talvez, os criminosos fossem mesmo extremamente habilidosos e determinados a cumprir seu propósito. A maior angústia do garoto no momento, entretanto, era descobrir esse propósito, bem como a utilidade de Dakota para que esse fosse alcançado – afinal, se seus raptores a haviam mantido viva até então, era porque ela tinha algo a lhes oferecer.

— Chegamos! — exclamou a loira, saltando à frente de Caesar e tirando-o de seus devaneios com seu grito estridente.

Ajeitando seus óculos para melhor enxergar o ambiente à sua frente, o rapaz de cabelos negros surpreendeu-se. Tratava-se de uma espécie de clareira, inteiramente rodeada por árvores extremamente altas, com um pequeno e raso lago de água cristalina em seu centro, sobre a qual os raios dourados do sol refletiam – à noite, o efeito seria ainda mais belo devido à presença da lua, imaginou Caesar. A julgar pela ausência de um trilha próxima e pelo tempo que haviam caminhado, o garoto julgou encontrarem-se em uma parte mais densa e afastada da rota em si. Olhando ao seu redor, verificou que, de fato, havia espaço o suficiente para os maiores pokémons e, por ser consideravelmente longe de onde outras pessoas transitavam, não chamaria muita atenção.

— É muito belo, não? — murmurou uma Mary Jane sorridente ao notar o azul dos olhos acinzentados do rapaz intensificar-se.

— De fato. — o rapaz teve de concordar, embora mantivesse o tom desinteressado de sempre.

Dirigindo-se à uma grossa tora de árvore caída horizontalmente sobre a grama da planície, Mary Jane sentou-se, convidando o rapaz pálido para fazer o mesmo. A contragosto, Caesar acabou por fazê-lo; já que estava no local com a garota, poderia aproveitar o tempo para ganhar a confiança da mesma e descobrir se ela teria alguma informação significante sobre sua amiga perdida.

— Você disse que queria tratar de seus pokémons maiores, certo? — indagou a loira, continuando antes mesmo de receber uma resposta. — Bem, aqui tem espaço suficiente para isso. Será bom para eles passar um tempo fora de suas pokébolas também, já que não pôde libertá-los ontem na hora de recreação. — constatou, apanhando a Vulpix albina em seus braços, para o alívio de Dark.

Suspirando, o rapaz assentiu. Não queria mostrar seu time inteiro à garota mas, se iria conviver com os Rangers, mesmo que apenas por um tempo, seu time precisaria ser revelado em algum momento. Ademais, não havia liberto seus outros dois pokémons desde sua saída de Kalos e, embora estes gastassem menos energia quando estavam dentro de suas esferas, quase como se estivessem em um estado de hibernação, ainda precisava alimentar e exercitá-los. Após encontrar os quatro dispositivos restantes em sua mochila de um tom mostarda, o garoto libertou seus pokémons, um a um.

Primeiramente, a ave de coloração azul marinho surgiu, esticando suas longas asas. Malchior estava já mais descansado desde a viagem que fizera pela manhã com seu treinador, pronto para desempenhar outras tarefas. Ao perceber o local a sua volta e a garota loira, soltou um corvejo desinteressado e pôs-se a limpar suas belas penas brancas com seu bico amarelado.

Um segundo raio branco fez-se visível na clareira, revelando o grande cachorro dos infernos. Deparando-se com o enorme espaço verde no qual se encontrava, o Houndoom imediatamente começou a abanar sua cauda pontuda, não hesitando em correr de um lado para o outro antes de finalmente notar a presença de Mary Jane e disparar em sua direção, permitindo que a mesma o afagasse.

Quando o terceiro feixe de luz iluminou o local, a loira não fora capaz de identificar sua silhueta. O pokémon era realmente grande, ultrapassando os dois metros e meio de altura, e assemelhava-se à um urso panda. Sua cabeça era branca, bem como sua barriga, e suas orbes eram negras como a mais escura das noites. Seus punhos pretos cerrados e seus dentes afiados – por entre os quais carregava uma espécie de planta – confirmavam visualmente seu temperamento antissocial. Fitando seu treinador, o Pangoro apenas rosnou, afastando-se e buscando uma rocha forte o suficiente para aguentar seus poderosos socos.

Por fim, a última esfera liberou uma energia branca, a qual, aos poucos, adotou a forma de um dragão. Seu corpo era majoritariamente azul, exceto por uma densa camada de penas negras iniciando-se logo abaixo de sua cabeça e estendendo-se por seu peito e seus longos braços. Suas asas eram extremamente peculiares, constituídas por seis grossos espinhos inteiramente cobertos por penas saindo de suas costas – três de cada lado – e, apesar de não aparentarem ser as responsáveis por manter o monstro no ar, eram articuladas e certamente auxiliavam em seu equilíbrio. Duas listras de um tom rosa arroxeado cortavam verticalmente sua barriga, desaparecendo na altura de suas musculosas patas traseiras e transformando-se em uma apenas ao descer por sua comprida cauda, a qual terminava em um tufo de penas negras. Seus olhos eram completamente vermelhos, como aqueles de monstros que apareciam apenas em pesadelos, sua aparência assustadora sendo complementada por suas longas presas afiadas e a língua similar à de uma cobra. Uma coroa de espinhos rosados adornava sua cabeça e seus pulsos, estando no final dos mesmos o detalhe mais chamativo: no lugar de suas mãos, encontravam-se o que pareciam ser duas cabeças, embora não aparentassem ser vivas e de pensamento próprio como a maior.

— Meu Arceus... — sussurrou a loira, seus batimentos cardíacos acelerados ao deparar-se com a enorme criatura a sua frente. Ela beirava os três metros de altura.

Apesar de sua fisionomia sugerir que a criatura era um ser feroz, seu comportamento transmitia o oposto. Ao invés de um rugido intimidador, o dragão apenas emitiu um baixo grito, como se murmurasse um simpático “olá”. Aparentemente ciente de sua aparência e tamanho assustadores, o Hydreigon optou por permanecer parado, até que um dos dois treinadores o convidasse a se aproximar. Para sua felicidade, após acalmar o coração acelerado, Mary Jane bravamente estendeu a delicada mão em direção ao pokémon, o qual tocou-lhe gentilmente soltando mais um guincho brincalhão.

— Malchior e Kaiser você já conhecia. — o rapaz franzino revirou os olhos e cruzou os braços. — Esses são Maximillian e Zeddekiah. — mencionou, apontando com seu indicador o Pangoro e, em seguida, o Hydreigon.

— Nossa, todos eles são muito bem cuidados mesmo. — observou a garota, acariciando as escamas azuladas do dragão. — E parecem ser muito fortes.

— E são. — Caesar deu de ombros, colocando as mãos dentro do bolso de sua bermuda.

— Você capturou todos ou eles lhe foram dados de presente? — questionou a jovem, desviando sua atenção do Hydreigon para fitar o rapaz com suas orbes esmeralda.

— Capturei todos, ora. — o garoto de cabelos negros revirou os olhos novamente, como se sua revelação fosse óbvia demais. Talvez o fato de nenhum dos Rangers ter-lhe reconhecido como Campeão da Liga de Kalos estivesse começando a incomodá-lo; por um lado, era bom manter em segredo sua conquista, deixando que todos o subestimassem para surpreendê-los ainda mais ao provar o contrário, mas não reclamaria de receber um pouco de reconhecimento por seu excelente desempenho. — Dark é o único presente que recebi, de meus pais. Ele foi meu inicial. — continuou, deixando seus pensamentos de lado e acariciando o topete azulado da raposa negra. — Você por acaso não capturou os seus?

— Não todos. — respondeu a jovem, fazendo uma careta. — Sabe, o motivo pelo qual eu entendo tanto de roupas é a minha mãe, ela é designer de moda. Já a minha paixão por pokémons, eu herdei do meu pai, Otto Gardiner. Ele é...

— Um dos mais famosos pesquisadores pokémon de todas as regiões. — completou Caesar, atônito. Recordava-se perfeitamente do autor de grande parte dos livros que tivera de estudar enquanto fazia seu curso preparatório, antes de sair em jornada para se tornar um treinador.

— Ah, você o conhece. — a menina riu, brincando com a ponta de seus cabelos dourados. — Bem, como ele está sempre viajando o mundo desvendando mistérios sobre pokémons, ele me deixou adotar alguns dos que estudava. — ela relatou, fazendo o jovem franzir o cenho. Como uma treinadora, especialmente uma Ranger, não fora habilidosa o suficiente para capturar os integrantes de seu próprio time? — Ivy foi o primeiro presente de meu pai. — continuou, afagando os macios pelos da raposa branca em seu colo. — Em uma de suas viagens à Kanto, ele a encontrou ferida na floresta, com apenas alguns dias se vida. Por causa de sua diferença em relação aos demais filhotes, sua família a abandonou, provavelmente temendo que ela atraísse perigos por chamar muita atenção. Nós cuidamos dela até que estivesse saudável novamente. — sorria, fitando a Vulpix e endireitando o laço vermelho ao redor de seu pescoço. — Ah, falando nisso, eu deveria te mostrar o resto do meu time também! — exclamou animada, levantando-se em um salto.

Ainda vestida com o uniforme dos Rangers, a menina tinha todas as suas seis pokébolas organizadas em um cinto – uma regra da profissão, objetivando facilitar a tarefa da libertar os monstrinhos em situações de emergência. Uma a uma, Mary Jane apanhou cinco das esferas bicolores, revelando as criaturas que nelas repousavam.

A primeira a surgir na frente do garoto de cabelos negros assemelhava-se a um canídeo, de pouco menos de meio metro de altura. Sua pelagem curta, porém densa, era inteiramente verde, exceto pelo claro tom de amarelo que tingia a ponta de sua cauda espetada e uma listra surgindo da ponta de seu focinho e seguindo as laterais de sua comprida cabeça como um raio. Seus olhos eram dourados como o sol e sua expressão animada como a de um filhote, a boca aberta com seus afiados dentes à mostra e a língua rosada a balançar junto ao vento. Ao deparar-se com a sua treinadora, a Electrike disparou em sua direção, saltando e correndo ao seu redor.

O segundo raio branco a ser emitido revelou um mamífero quadrúpede, de anatomia similar à de um felino. Sua pelagem era de um tom extremamente claro de rosa, podendo facilmente ser confundido com branco, enquanto suas compridas orelhas, patas e cauda eram de um doce rosa-bebê. Seus olhos azuis, tão grandes e perfeitos que faziam-lhe parecer uma boneca, fixaram-se no desconhecido rapaz de cabelos negros, demonstrando curiosidade. Dois laços, um em sua orelha esquerda e um em seu pescoço, enfeitavam seu pelo brilhante, terminando em duas fitas que dançavam com o vento. A espécie fora facilmente reconhecida por Caesar; tratava-se de uma Sylveon, evolução de Eevee descoberta primeiramente em Kalos.

Um rugido agudo desviou a atenção do garoto sombrio para o terceiro pokémon liberto. A criatura lembrava uma espécie de dinossauro quadrúpede, ainda maior do que seu Hydreigon, e tinha seu corpo inteiramente marrom como um tronco de árvore. A semelhança fazia-se ainda mais visível devido a um colar de plantas verdes ao redor de seu pescoço e aos dois pares de asas, constituídos por folhas como as de bananeira, embora ainda mais compridas. Seus cascos eram amarelados, assim como uma barbicha em seu queixo, a qual em muito assemelhava-se a um cacho de bananas. Caesar estava atônito; Tropius era um pokémon extremamente incomum e difícil de se capturar. O rapaz jamais havia visto um ao vivo, apenas lido sobre a espécie em livros.

O quarto monstrinho liberto também surpreendeu o jovem. De aparência similar a um coelho bípede, de cerca de meio metro de altura, Caesar reconhecia o Audino devido à sua presença comum em Centros Pokémon, os quais diversas veze visitara durante sua jornada como treinador. Como todos os outros com os quais se deparara, a pokémon enfermeira tinha uma pelagem curta e majoritariamente amarelada, exceto pelo topo de sua cabeça e uma espécie de jaleco, os quais eram de um tom salmão. Seus brilhantes olhos azuis e o sorriso estampado no rosto era também muito característicos. Uma peculiaridade era o laço rosado ao redor de seu pescoço, no centro do qual havia um estranho pingente: uma pequena pedra esférica, a qual Caesar julgou ser uma Audinite.

 O último monstrinho a sair de sua esfera já era conhecido pelo garoto; ele o vira no dia anterior, durante o horário de recreação. Seu corpo cinza assemelhava-se a uma nuvem, sendo moldável como uma, fator responsável por permiti-lo alterar sua forma e composição sob influência das alterações do tempo. Tímida, a criaturinha escondia-se atrás da treinadora, fitando o ambiente a sua volta com suas orbes semelhantes à pérolas negras.

— Essas são Daisy, Lavender, Sunflower, Primrose e Clover. — a loira anunciou, orgulhosa, na ordem em que suas pokémons foram libertas.

Por breves segundos, Caesar apenas analisou os monstrinhos libertos, sem nada dizer. Todas pareciam se relacionar muito bem com a treinadora e apresentavam um comportamento dócil e sereno, diferente da maioria dos integrantes de seu time. Curiosamente, eram todas fêmeas, mas o rapaz não tinha muito mérito para falar sobre o fato; afinal, todos os seus pokémons eram machos.

— Uma Castform, uma Audino... Até mesmo um Tropius. — o garoto de cabelos negros murmurou enfim, endireitando seus óculos. — Não são aquisições comuns.

— Como eu disse, não fui em quem encontrou todas elas. — Mary Jane deu de ombros, ainda tentando cumprimentar todas as suas companheiras. — Clover e Sunflower foram estudadas por meu pai, em uma de suas pesquisas aqui em Hoenn. Como eu passava muito tempo no laboratório interagindo com elas, acabamos nos tornando boas amigas e, quando o projeto de meu pai chegou ao fim, ele permitiu que eu as levasse comigo ao invés de libertá-las novamente. — explicou, incentivando a Castform a deixar de se esconder e acariciando o longo pescoço da Tropius. — Primrose também participou de um estudo de meu pai sobre a capacidade dos pokémons de rápida recuperação e, desde que eu nasci, ela esteve na família, cuidando de mim. — a jovem sorriu, refletindo o olhar alegre da Audino. — Daisy é a mais nova integrante do time, ela fora um presente de uma amiga minha, de quando sua Manectric teve filhotes. Ela tem apenas oito meses de idade, mas já provou ser muito forte, não é, garota? — ela riu, coçando a barriga da pequena Electrike. — Já Lavender foi minha primeira pokémon, depois de Ivy, é claro. Ela foi a única que capturei, quando fui a um estudo de campo com meu pai em Kanto. — a loira fitou a serena Sylveon. A pokémon parecia ser a mais tranquila do grupo, talvez por sua idade e tempo com a menina.

Caesar considerou comentar algo sobre o quão absurdo era o fato de uma treinadora ter ganho a maior parte de seus pokémons de presente, ao invés de provado sua habilidade e experiência através de capturas. No entanto, optou por não fazê-lo, temendo estragar suas chances de aproximar-se da menina para descobrir mais sobre Dakota e seu tempo com os Rangers – já havia perdido muito de seu tempo com a insuportável Barbie Maníaca para desperdiçar seus esforços gratuitamente. Teria de guardar suas opiniões para si, pelo menos por mais algum tempo.

— Você disse que sua Vulpix foi sua inicial. — observou o garoto, endireitando seus óculos. — Por que nunca a evoluiu? — já que deveria evitar os comentários maldosos de costume, ele podia ao menos esclarecer algumas de suas dúvidas.

— Ah, eu já pensei em fazer isso. — a menina deu de ombros, apertando a raposa albina em seus braços. — Mas ela não fica tão mais fofa assim? — perguntou, com um sorriso irradiante estampado em seu rosto.

Caesar não podia acreditar nas palavras da menina. O jovem até mesmo abriu sua boca para balbuciar algum xingamento, mas a fechou logo em seguida, reconhecendo que poderia se arrepender de fazê-lo. Fechando seus olhos para não perder a paciência, o garoto de cabelos negros apenas interpretou o questionamento de Mary Jane como uma pergunta retórica e decidiu não respondê-la.

Uma vez que já estava no local com a garota, longe da Central dos Rangers, Caesar decidiu utilizar a situação para realmente tratar de seus pokémons. Alimentou-os com a ração que comprara em sua viagem à Slateport e certificou-se de que estavam saudáveis, ao menos aparentemente, deixando-os interagir com os monstrinhos de Mary Jane ou exercitarem-se sozinhos, caso preferissem. Durante a permanência da dupla na clareira, a loira por vezes tentou iniciar uma conversa mas, cansado de tanta interação social para um único dia, o rapaz de cabelos negros apenas deixou-a ingressar em mais um de seus monótonos monólogos sobre um assunto qualquer, no qual ele não prestara atenção.

Após cerca de uma hora, Caesar estava certo de que seu time já havia se exercitado por tempo o suficiente e, não mais aguentando a voz da loira, decidiu retornar ao Prédio Principal dos Rangers. Recusou alguns convites de Archie e Jolene sobre dar uma volta por Mauville e apanhou uma quentinha no refeitório, fugindo o mais rápido possível para o seu quarto. E lá permaneceu até o dia seguinte.

 

(***)

 

Feixes de luz dourada atravessavam por entre as cortinas verdes mal fechadas, piorando a dor de cabeça do garoto de cabelos negros. O clima extremamente ensolarado e quente de Hoenn era apenas um dos fatores contribuintes para Caesar odiar a região; as chuvas eram passageiras e pouco frequentes, em contraste com Kalos. Resmungando algo incompreensível, o rapaz ergueu-se preguiçosamente e dirigiu-se ao lavatório para realizar sua higiene matinal, permitindo a seu Zorua alguns minutos a mais de sono.

Seguindo até o chuveiro como um zumbi, o garoto pálido deixou a água gélida cair sobre seu corpo franzino, na esperança de sair do banho revigorado. Nem ao menos preocupou-se em olhar-se no espelho, como costumava fazer pelas manhãs – estava completamente ciente das olheiras sob seus olhos tempestuosos e das marcas de cansaço em sua expressão. Além de dificuldade para dormir, devido aos recorrentes pesadelos abordando a menina de cabelos dourados como o sol, Caesar passara o resto de sua tarde e boa parte da noite estudando os mais variados casos misteriosos ocorridos em Hoenn, relacionando-os com a Ghost e analisando suas estratégias e planos em busca de respostas. Selecionara e estudara dois casos de desaparecimento – excluindo-se o de Dakota –, ambos em cidades completamente diferentes e, assim, pouco ajudaram na possibilidade de descoberta da localização da organização. Outros quatro casos, relacionados a ataques incomuns de pokémons à cidades ou pessoas, geraram resultados mais conclusivos; dois deles haviam se passado em Rustboro e os outros dois em Verdanturf, tornando possível triangular melhor uma área de atuação dos criminosos. Fora isso, qualquer forma de rastreamento era impossível, uma vez que nem a polícia fora capaz de encontrar evidências deixadas para trás e os membros da organização agiam rápido o suficiente para não serem vistos por nenhuma testemunha. Eles pareciam ser realmente muito bons no que faziam.

Uma das perguntas para a qual não obteve respostas, sendo a maior responsável por manter o rapaz acordado e imerso em conflitos, fora a motivação dos peculiares “fantasmas”. Seu melhor palpite seria a realização de uma pesquisa com Pokémons para fins sombrios, podendo ser o medo um dos fatores motivadores dos ataques das usualmente pacíficas criaturas. No entanto, não fora capaz de compreender o uso de Dakota e das duas outras vítimas para a organização; uma delas fora um treinador iniciante, o qual apresentava certo destaque em campeonatos amadores recentes, enquanto a outra nem ao menos relação aparente com o mundo dos monstros de bolso apresentava, tratando-se de uma cientista de quarenta anos atuante na área de fabricação de vacinas.

Ao escutar insistentes latidos agudos, o rapaz forçou-se a esvaziar sua mente e, prontamente, finalizou seu banho. Amarrando uma toalha ao redor de sua cintura, saiu do banheiro da suíte às pressas para verificar a causa da irritação de Dark, deparando-se com seu celular agitando-se sobre a mesa de cabeceira. O alarme do aparelho provavelmente atrapalhara o descanso do Zorua.

— Já estava na hora de levantar, de qualquer jeito. — balbuciou o garoto para o descontente raposo, deslizando o indicador sobre a tela de seu Iphone para deligar o alarme. — Temos de encontrar os outros no saguão em vinte minutos para partirmos. — informou, fazendo o Zorua soltar um rosnado similar a um resmungo.

Após vestir o horroroso uniforme laranja, Caesar guardou algumas mudas de roupa e outros itens necessários para a viagem breve em sua mochila mostarda, apoiando-a sobre seu ombro direito e convidando o vulpino a segui-lo para fora do quarto. Ainda estava cedo, mas ele planejava apanhar algo para comer no refeitório do prédio antes de partir.

Como o usual, o salão de refeições do prédio já tinha boa parte de suas cadeiras ocupadas por Rangers preparando-se para mais um dia de caça e pesca – ou o que fosse que as tribos de índios fizessem em suas missões. Preparando um misto quente para si, o rapaz de cabelos negros desceu até o saguão, onde deparou-se com os outros de seu time já prontos para partir.

— Bom dia, novato. — a voz da morena ecoou pelo salão. Até mesmo o seu cumprimento parecia ser uma provocação. — Preparado para tentar mais uma vez? — zombou, referindo-se ao “fracasso” da primeira missão de Caesar, o qual resultara em uma bronca do líder.

Disposto a não se irritar logo pela manhã, o garoto franzino apenas revirou os olhos e bufou, ignorando o comentário de Jolene. O Zorua, o qual encontrava-se ainda aconchegado ao redor do pescoço de seu treinador, pareceu incomodado com a provocação, no entanto. Afinal, havia sido punido por salvar um homem com o qual nem ao menos se importava.

— Sem brincadeiras, pessoal. — Marcus quebrou o silêncio, em um tom sério. — Temos de ficar atentos até conseguirmos recolher os pokémons agressivos de Verdanturf. Não podemos arriscar deixá-los avançar até a cidade, ou o número de vítimas poderá ser drástico.

Assentindo em silêncio, todos concordaram. Apesar de inexpressivo em seu exterior, internamente Caesar ria – fora a vez da morena atrevida levar a bronca.

— Todos prontos para partir? — perguntou o homem musculoso, após um longo suspiro.

— A van, carro ou qualquer que seja nosso transporte até a cidade já está aí? — indagou o rapaz de cabelos negros.

Por alguns segundos, Caesar pareceu não compreender o que estava ocorrendo. Todos os outros quatro integrantes do time de Rangers trocaram olhares, até que todos começaram a gargalhar de forma tão sincronizada que aparentavam ter ensaiado para a cena. Confuso, o garoto apenas arqueou uma de suas sobrancelhas e aguardou uma resposta.

— Você precisa se acostumar com o nosso estilo de vida, novato. — informou Marcus, controlando seu riso.

— A maioria dos meios de transporte é extremamente nociva ao ambiente. — analisou Archibald, endireitando os óculos de armação quadrada em seu rosto. — Por isso, preferimos viajar com nossos pokémons voadores, especialmente quando o trajeto é tão curto quanto o que faremos hoje. — concluiu.

Uma vez mais, o garoto de cabelos negros bufou, incrédulo. Mas, pensando melhor, realmente fazia sentido – obviamente os amantes da natureza procurariam qualquer desculpa para agir da forma mais ecologicamente correta. “Como se um carro a menos fosse fazer muita diferença”, o rapaz pensou, cruzando os braços, mas logo balançou sua cabeça. “Acalme-se, Caesar. Não perca a paciência logo pela manhã. Espere pelo menos até a tarde”, afirmou para si mesmo, antes de suspirar e seguir os outros para fora do prédio.

Distanciando-se um pouco da construção, escolhendo um local mais amplo e adequado, os Rangers libertaram os monstrinhos de bolso. Marcus foi o primeiro a fazê-lo, lançando uma de suas pokébolas ao ar e observando a majestosa águia de penas alaranjadas pousar a sua frente. Em seguida, Mary Jane liberou sua enorme Tropius, acariciando-a antes de acomodar-se em suas costas, sendo seguida por Jolene; como a morena não libertara nenhum de seus pokémons, provavelmente não possuía um capaz de transportá-la e, por isso, faria a viagem com a loira.

A criatura escolhida por Archibald, no entanto, não havia sido antes apresentada à Caesar. Tratava-se de uma espécie de dinossauro voador, de cerca de dois metros de altura, cujo o corpo era inteiramente coberto por penas bagunçadas em um tom creme. Sua cabeça e cauda eram de um tom vermelho tijolo, bem como suas patas, as quais apresentavam fortes garras afiadas. Uma listra verde água subia por sua cabeça e pescoço, e penas de mesma coloração adornavam suas patas traseiras. Suas compridas asas tinham suas pontas tingidas de um belíssimo tom de azul, o qual também se fazia presente nas penas da extremidade de sua cauda. O pokémon pré-histórico pousou em frente ao seu treinador, soltando um guincho esganiçado.

— Bom dia para você também, Zephyr. — sussurrou o garoto de cabelos castanhos, acariciando o focinho do dinossauro.

Observando o pokémon a sua frente, Caesar fora incapaz de controlar a curiosidade que o invadiu. Archeops eram incrivelmente raros, pois estavam extintos havia muito tempo, sendo possível obtê-los apenas através da revitalização de fósseis. Notando que os outros do grupo já se preparavam para iniciar voo, o garoto fez uma nota mental para lembrar-se de perguntar à Archie sobre a origem de seu monstrinho, libertando Malchior logo em seguida para acompanhar seu grupo.

O voo até Verdanturf fora relativamente rápido e tranquilo – obviamente, o trajeto teria sido mais confortável se houvesse sido feito de carro, mas o garoto apenas teria que superar o fato. Vista de cima, a cidade não parecia ter nada de muito especial, exceto por ser extremamente verde. O surpreendente, na verdade, era a perfeita combinação entre urbanização e natureza: os prédios e estabelecimentos não destruíam ou ofuscavam as árvores e flores, eles apenas coexistiam em uma harmonia jamais imaginada; Isaac Newton, ao afirmar que dois corpos não poderiam ocupar o mesmo lugar no espaço, certamente não havia ainda visitado a pacata vila. Apesar da sutil urbanização, a cidade não apresentava um aspecto rudimentar, uma vez que suas construções aparentavam ser da mais avançada tecnologia.

Caesar seguiu o grupo até um Centro Pokémon um pouco mais afastado do centro, pousando em frente a este. À princípio, estava um pouco confuso com relação ao local escolhido; eles não deveriam visitar o fazendeiro que se queixava de problemas com criaturinhas selvagens? Mantendo a dúvida em sua mente, evitando receber risadas como resposta novamente, o garoto de cabelos negros apenas adentrou o estabelecimento, logo atrás de seus companheiros de time.

Não demorou muito, no entanto, para alguém reparar a expressão confusa do garoto.

— Todos os Rangers têm estadia gratuita em qualquer Centro Pokémon do mundo. — murmurou Jolene, revirando os olhos, mas com um sorriso em seu rosto. Ela parecia achar o comportamento do jovem engraçado.

— É tão óbvio assim? — o rapaz bufou, aquecendo suas mãos dentro dos bolsos dianteiros de sua bermuda. Ele estava ciente de que não era o melhor dos mentirosos, mas não sabia que também era terrível escondendo seus pensamentos.

— Não se preocupe. — a mulher riu-se, endireitando o longo rabo de cavalo. — Você se acostuma.

Os quatro Rangers esperaram no saguão do centro médico, enquanto Marcus trocava algumas palavras com uma das enfermeiras. Caesar suspirou, fitando o ambiente à sua volta: o chão quadriculado vermelho e marfim, as paredes brancas, o movimento de treinadores buscando cuidados para seus companheiros feridos; tudo lhe fazia sentir-se tão nostálgico. Afinal, durante seus dois anos de jornada, fizera inúmeras visitas àquele lugar, em sua maioria na companhia de Dakota. Antes que o rapaz pudesse submergir em pensamentos sobre a amiga desaparecida, no entanto, a voz alta e clara do homem musculoso o retirou de seus devaneios.

— Consegui os quartos. — informou o líder com um sorriso, entregando chaves para os membros de seu time. — Jolene e MJ, o vocês ficaram com o 22. Archie e novato, com o 27. Eu estarei no 30, se precisarem de mim.

Ao ouvir o comentário de Marcus, os olhos azul-acinzentados do garoto de cabelos negros se arregalaram. Ele realmente não esperava ter de dividir seu quarto com o outro Ranger, era algo íntimo demais. Em toda sua vida, ele jamais precisara compartilhar seu espaço com qualquer outra pessoa; era filho único e nunca tivera muitos amigos. Olhando de relance para o rapaz de cabelos castanhos, o mesmo aparentou estar mais tímido do que o normal, como se a ideia também não o houvesse agradado. Tentando deixar sua negatividade de lado – uma tarefa quase impossível –, Caesar preferiu enxergar a situação como uma oportunidade para se aproximar e conseguir a confiança de Archibald, possivelmente descobrindo algo sobre o desaparecimento de sua amiga.

— Sejam breves. — comandou o homem. — Apenas deixem suas coisas e me encontrem aqui novamente.

Ao finalizar sua frase, Marcus desapareceu subindo as escadas do estabelecimento, sendo seguido pelas duas mulheres. Como a chave havia sido entregue à Archie, o rapaz de cabelos negros apenas aguardou até que esse tomasse a liderança, seguindo-o então.

Quando o garoto de cabelos castanhos bagunçados abriu a porta, Caesar foi o primeiro a entrar. Todos os quartos de Centros Pokémon eram extremamente parecidos, adotando o mesmo papel de parede listrado, o carpete vinho, uma beliche em um dos cantos e um pequeno armário no canto, além de um pequeno banheiro. Não eram muito grandes, apesar de terem sido projetados para abrigar de dois a três treinadores por vez. O sutil cheiro de mofo era algo do que o rapaz, de fato, não sentira falta.

Um murmúrio de Archie obrigou Caesar a virar-se para fitá-lo, sem entender o que o mesmo falara. Talvez por sua falta de atenção, ou pelo tom de voz tímido e baixo do garoto.

— O que disse? — indagou.

— Com qual cama você quer ficar? — murmurou Archibald, segurando uma mochila vermelha surrada a frente de seu corpo e apontando com o fino nariz para a beliche.

— Tanto faz. — ele deu de ombros, achando o assunto de certa forma irrelevante. Porém, uma vez que lhe fora dada a preferência, depositou sua mochila cor de mostarda sobre a cama debaixo, obrigando o outro a ficar com a de cima.

Conforme pedido por Marcus, os dois jovens não perderam muito tempo. Archie fora rapidamente ao banheiro, enquanto o garoto de cabelos negros dirigiu-se novamente ao saguão do centro médico, após conferir que estava com todas as suas pokébolas organizadas corretamente em seu cinto. Caesar fora o primeiro a chegar mas, antes mesmo que pudesse se sentar, os outros começaram a surgir.

— Todos prontos? — questionou o líder, em tom alto e claro. — Então, vamos proteger essa cidade. — bradou, após todos os integrantes de seu grupo assentirem.

Por já se encontrarem em um local um pouco mais afastado do centro de Verdanturf, chegar até a fazenda antes mencionada não demorara mais do que vinte minutos. Ao aproximarem-se dos cercados de madeira, os quais protegiam algumas Miltank e Mareep, depararam-se com um senhor de macacão azul apoiado em uma das cercas. Identificando seu olhar preocupado, o grupo apertou o passo.

— Algum problema, senhor Calhoun? — indagou Marcus em um tom sério, dirigindo-se ao mais velho.

— Ah, Rangers! — o homem de cabelos grisalhos parecia aliviado ao ver o grupo, mas sua expressão de aflição ainda estava presente. — Eles acabaram de voltar aqui, os monstros selvagens! Eram muitos! Meu Herdier... Ele desapareceu na floresta tentando afastá-los!

— Acalme-se, senhor. — o líder colocou uma de suas mãos sobre o ombro do fazendeiro, gesticulando para Mary Jane lhe oferecer um pouco de água. — Nós encontraremos seu pokémon. — afirmou, de forma tranquilizante.

Com um sinal de Marcus, o grupo inteiro pôs-se a correr na direção indicada pelo senhor. A fazenda fazia fronteira com a enorme floresta que cercava toda a cidade e, devido a sua densa vegetação, a tarefa de encontrar um Herdier perdido parecia ser complicada.

— Jolene, cuide da visão aérea. — pediu o homem musculoso, fitando a morena.

— Pode deixar. — a mulher assentiu, apanhando uma das esferas bicolores em seu cinto e atirando-a para cima.

O dispositivo irradiou um feixe de luz branca, o qual revelou um elegante pássaro de pouco mais de cinquenta centímetros de altura. O pokémon possuía a maior parte das penas de seu corpo em um tom azul cobalto, exceto por sua barriga branca e peito e faces de cor vinho. Suas patas traseiras, dotadas de longas e afiadas garras, estavam contraídas, favorecendo sua aerodinâmica. Seus olhos rubros transpareciam coragem e determinação, como se o Swellow soubesse que havia sido libertado para desempenhar uma importante função.

— Olwydd, procure por um grupo de pokémons ferozes nos arredores. — a morena comandou, apontando uma direção a ser seguida pelo pássaro, o qual emitiu um grito agudo em confirmação antes de desaparecer por entre as árvores.

— Novato, você tem um Houndoom, certo? — perguntou Marcus, ainda buscando por qualquer pista da trilha tomada pelo Herdier e o bando que o perseguia. — Peça para ele farejar esses pokémons.

— Kaiser não conhece o cheiro do grupo, como ele os encontrará? — indagou o rapaz, colocando a mão sobre a pokébola do canídeo.

— Ele sentirá o cheiro do medo. — explicou o líder. — Houndooms são excelentes farejadores e, se o Herdier do fazendeiro sentiu que estava em perigo, seu pokémon certamente conseguirá encontrá-lo.

Caesar odiava admitir, mas Marcus estava certo. De fato, a espécie era reconhecida por seu excelente faro, superando a maioria dos outros monstros de bolso e, por isso, eram até mesmo muito utilizados pela polícia. Assim, mesmo que desconhecesse o cheiro característico do Herdier ou dos outros que o seguiam, certamente seria capaz de encontrar rastros relacionados ao odor das substâncias liberadas devido ao seu estado emocional. Sem hesitar, o rapaz de cabelos negros pressionou o botão central do dispositivo esférico, liberando o agitado cão dos infernos. Ao notar a tensão no ar, Kaiser dispensou seu usual comportamento brincalhão, esperando receber um comando de seu treinador, o qual, prontamente, pediu para que o mesmo procurasse por qualquer cheiro fora do normal.

O Houndoom não pareceu compreender inteiramente a tarefa, mas fez o que lhe fora pedido. Após analisar o ar ao seu redor, o cachorro negro colocou seu focinho sobre o chão, farejando-o por alguns segundos. Em pouco tempo, ele pareceu encontrar algo que lhe pareceu alarmante. Com um latido forte, chamou a atenção dos outros Rangers, os quais começaram a segui-lo.

Caesar não sabia explicar ao certo o motivo, mas estava tenso. Não se preocupava com o pokémon do fazendeiro, tampouco com os selvagens, mas a seriedade com a qual o assunto estava sendo abordado e a preocupação de todos estavam-no contagiando. O clima pesado tornou-se ainda mais perceptível quando o Swellow de Jolene retornou, grasnando insistentemente; aparentemente, ele encontrara o mesmo que Kaiser e, a julgar pelo comportamento dos dois, não era nada bom.

Enfim, o grupo chegou ao local indicado pelos pokémons, cessando sua correria imediatamente. Para seu horror, no entanto, não fora com o bando selvagem que se depararam.


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Notas finais do capítulo

Olá de novo, queridos leitores o/ Mais uma vez, espero que tenham gostado do capítulo.
Não sei se repararam, mas eu alterei um pouco o tamanho de alguns pokémons (de acordo com o que está registrado em suas entradas na pokédex), baseando-me no que me parecia mais próximo da realidade – se pokémons existissem, obviamente.
A aparência do Hydreigon eu me baseei por essa imagem: https://img00.deviantart.net/6b31/i/2014/119/c/1/hydreigon_final_1_by_davesrightmind-d7giqxk.jpg



PS: Talvez o próximo capítulo só saia daqui a duas semanas. Estou tentando criar um estoque de capítulos para quando não puder escrever tanto quanto o faço agora e, atualmente, estou escrevendo em um ritmo de um capítulo por semana. Creio que, se eu começar a postar uma vez a cada duas semanas, seja mais fácil criar esse estoque.

De qualquer jeito, até o próximo capítulo o/



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