Dracônica escrita por Ashkynn


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Postando o "primeiro" capítulooo!
Então, se ficar confuso por favor me avisem. Queria agradecer pelas visualizações que tive, é muito reconfortante :3
Qualquer erro ou qualquer dúvida, me deem um toque ou nos comentários ou por MP ou qualquer coisa.
Obrigada, espero que gostem
Beijos, Ash.



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Enquanto descia as escadas com os braços, que seguravam a grande tigela de Schobb, tremendo, Morrigan só conseguia pensar em uma coisa. "Eu vou vê-lo". Ela estava acostumada a alimentar os presos, sempre designada para essa tarefa depois que se voluntariou pela primeira vez, mesmo sendo filha de pequenos lordes.

 "O melhor lugar para uma dama é o castelo", eles disseram. "Já está na hora de aprender a se portar como uma dama, Morrigan. Já está quase na idade de casar, querida, você tem quinze anos." E assim, seus pais, com seus contatos, mandaram-na para morar no castelo como protegida de Gortand, um nobre amigo do rei, há dois anos atrás. Antes de morrerem. "Além do mais, minha filha, estamos perto da guerra."

Ela estava acostumada a alimentar os presos. Mas nunca havia trazido comida à um dragão. "Eu vou ver um dragão". A garota tremeu mais uma vez, antes de abrir a porta que dava para a masmorra. O local, mesmo durante o dia, estava escuro por conta da falta de iluminação. Não haviam nem velas nem lamparinas ali, e a única luz, tirando a vela que trazia consigo, provinha das frestas entre algumas das grossas pedras da construção. Colocou a tigela de Schobb no chão, do lado da bandeja com o resto da comida que havia trazido antes.

Demorou um pouco até seus olhos se acostumarem com o local que tanto conhecia, e pôde ver pessoas por entre as barras de ferro que a separava; uma ou duas por divisão, jogadas nos cantos das paredes, sentadas, dormindo, e algumas até mortas. As mais perigosas estavam em salas completamente fechadas, com uma porta de metal que possuía uma pequena aba de metal, por onde passava comida. Ela se encolheu por causa do frio, agasalhada com as roupas de tecido que vestia, conforme passava pelas celas e distribuía comida para os presos, vestidos com o que restava dos farrapos com que foram jogados ali, no pequeno quadrado de pedra gelada.

Evitou olhar por muito tempo, se não, não conseguiria aguentar de culpa. Ver as pessoas mal cuidadas e jogadas, senhores com barbas gigantes por falta de higiene e mulheres com dentes podres, todos exalando com um cheiro de ovo podre e urina por falta do banho. A magreza excessiva se tornava explicável conforme ela deixava meio pão e um copo d´água, para cada um: era a comida para todo o dia. Ela ia lá sempre, mas nunca deixava de se impressionar com a morbidez do lugar.

Tinha se oferecido para "ajudar" na masmorra há um tempo atrás, quando percebeu que nenhum dos outros serviçais se oferecia, e todos os que eram designados nunca iam, com a intenção de ajudar os presos. Desde então Gortand passou a designá-la para a Masmorra, para "levar comida para a escória com que simpatiza" e subir todas as escadas, andar por todos os pisos da torre de pedra, até ter alimentado todos. Normalmente, o trabalho era feito por cinco pessoas; mas, de acordo com Gortand, também poderia ser facilmente realizado por uma incompetente como ela. Morrigan achou que todos evitavam a torre de pedra por conta das escadas, mas descobriu, desde o dia que se ofereceu, que era mais que isso. Evitavam as masmorras por conta da sensação de morte.

Ela havia terminado de colocar a comida para os presos normais e agora voltava o corredor estreito para pegar a tigela de Schobb, a mistura feita pelo ajudantes de cozinha. Estava indo até o final, quando percebeu que a tigela não entraria pela abertura de metal, onde a comida para os presos mais perigosos era posta. O dragão estava ali dentro, uma fera gigante em uma cela para um homem, feita de pedras grossas e de aproximadamente 3 metros quadrados.

Ela tinha ouvido que ele estava preso com metal. Perto, decidiu que teria que abrir a janela e passar todo o conteúdo para a dentro com a mão, em formato de concha. Os soldados sempre deixavam algum preso sem comida, as vezes até por diversão, mas a garota não sabia a rotina deles para saber se podia fazer isso também ou não. E, acima de tudo, a garota não era um soldado. Não era malvada.

Com os joelhos tremendo por conta do frio e do nervosismo, abriu a portinhola e pôde ver: espremido por conta do local pequeno, deitado com a cabeça inclinada do lado do corpo, ambos o pescoço e a cauda fazendo meia volta, com as asas fechadas e patas encolhidas sob o tronco. Se do jeito que estava tinha a altura da garota de comprimento, deveria ter quase o dobro disso ao contar com a cauda, a cabeça e o pescoço. Em relação à envergadura, cabiam mais de duas delas ali, deitadas. Ela não era muito mais baixa que o resto dos homens do castelo, perdendo talvez por três ou quatro dedos. O borrão, levemente avermelhado devido à pouca luminosidade, abriu os olhos azuis e a encarou com aquelas íris de gatos.

Ficou parada sobre o olhar intimidados dos olhos do dragão, círculos azuis com uma fenda preta no meio, gélidos, observadores. Sentia que, à qualquer ação que fizesse, seria vítima do bicho, como muitos antes foram. Atacada com as garras gigantes e despedaçada com os dentes mortíferos, pedaço por pedaço, até não sobrar mais nada. No entanto, a imensidão azul só a encarava, calma e com desprezo. E a garota, de olhos verdes espantados, encarou de volta, com medo demais para fazer qualquer coisa se não observar.

Com certo fascínio, percebeu a imensidão do animal, o quanto indestrutível era: escamas vermelhas, provavelmente duras como metal, cobriam todo o corpo dele, menos as asas. Essas, eram feitas de uma pele mais fina, delicada porém resistente, e se estendiam como um escudo sobre o contorno do dragão deitado, indo até o chão. O animal, não tão pequeno quando deitado, devia possuir por volta de três metros em posição normal. A cauda, grossa e pesada, servia como uma arma junto das garras e dentes, uma combinação mortífera, principalmente se somada à armadura natural da criatura.

No entanto, o animal estava preso com correntes de aço reforçadas em todas as quatro patas, assim como tinha uma em volta do pescoço também. Na cabeça triangular, além dos olhos azuis, se encontrava uma mordaça de ferro, competindo espaço com seus dentes brancos afiados. Algumas correntes estavam por cima do animal, fazendo peso e limitando seu alcance e algumas posições.

Elas se prendiam às paredes de pedras da masmorra, algumas presas à só uma superfície e outras presas na junção de duas paredes, de acordo com o alcance e a força necessária, variando de grossura e algumas com curtas partes no chão, indicando uma possibilidade de movimento. A mordaça conseguia ser regulada de acordo com a necessidade do dragão de abrir a boca, agora fechada e com parte da corrente reguladora no solo. As asas, embora magníficas, continham alguns buracos de flechas. E no corpo, faltavam uma ou duas escamas de vez em quando, dando lugar, ainda, há uma camada meio rosada e lisa, que parecia uma mistura de couro e de borracha.

Tremendo, abriu a janela da comida com uma mão e mergulhou a outra, em formato de concha, na tigela verde com a mistura de pão, vinho branco, ervas e flores-da-lua. Levou a mão cheia de Schobb até a abertura e ficou paralisada de medo, enquanto a fera vermelha só encarava ela. Com aqueles olhos azuis-gelo cortantes. Se não o alimentasse, Gortand a espancaria mais que o normal.

—Vamos lá dragão, não me morda. A comida aqui é o Schobb, não eu. - Falou, fria de medo, enquanto reunia coragem para atravessar o espaço que os dividia, o animal sempre encarando, parado. Como se estivesse preparado para atacar a qualquer momento. - Eu só vou colocar a minha mão do outro lado da cela e deixar a comida cair no chão perto de você... E vou fazer isso até tudo o que está na tigela acabar. Não sei se me entende, ou muito menos se pensa, mas por favor...

O dragão não esboçou nenhum sentimento enquanto ela jogava a comida do outro lado da cela, só a encarava com a frieza de sempre. Como se ela fosse insignificante e não importasse. Só se incomodou a ponto de mostrar um dos dentes afiados, como se fosse um aviso de que estava atento. A garota, depois de finalmente conseguir colocar o terceiro punho de comida pra dentro, ficou um pouco mais tranquila com a tarefa e passou a fazer mais rápido, só pensando em sair dali o quanto antes. Além da criatura, o barulho dos gemidos e das correntes de outros presos a deixavam incomodada com a morbidez do local.

A sensação de medo era logo substituída pela de segurança, quando a mão da garota cruzava a abertura da porta. Mas depois, era substituída por um pânico crescente quando se lembrava que o conteúdo da tigela ainda não tinha acabado, e ela sabia que essa era a pior parte. Com o tempo que passava ali, demorando o quanto quisesse até se acostumar com a ideia, o pânico começou a ser acompanhado por um conformismo. Amargo e ácido, como o gosto da comida que ela dava.

Depois de um tempo, Morrigan finalmente se permitiu aliviar com o pensamento de que iria embora, afinal já tinha acabado sua tarefa. Ela recolheu a mão de dentro da cela do bicho, sempre olhando-a com os olhos inexpressivos, e trouxe até a segurança do seu lado do local. Pegou a tigela e se permitiu encarar as íris do animal, o que evitava fazer por estar mais vulnerável antes. Não o encarava com desprezo nem com prepotência, mas sim com uma admiração e fragilidade, pensando no perigo que teria de enfrentar de agora em diante, somente para alimentá-lo.

Finalmente fechou a janela, com os azul gélido gravado na sua mente, e pegou a bandeja que tinha deixado no chão antes, colocando por cima da tigela vazia, de um modo que conseguisse levar. Andou pela masmorra, o som dos seus passos perdidos em meio a tosses e gemidos, pedidos por socorro. Se permitiu olhar para o lado e ficou espantada com a visão de um senhor de cabelos longos e brancos, desgrenhados e à altura do ombro, com as costelas aparecendo e os lábios ressecados. A pele parda entrava em contraste com o sangue em volta das unhas, desgastadas e ruídas. Pela barba longa escorria gotas d’agua conforme ele bebia, e algumas migalhas de pão encontravam-se presas. Ele encarou Morrigan, com uma mistura de conformidade e raiva no olhar, sabendo que iria morrer.

No fim do corredor, a jovem se permitiu ficar um pouco mais aliviada. A tarefa de hoje tinha acabado. Abriu a porta, que formou um ruído grave enquanto se arrastava no chão, e atravessou. Olhou para baixo e só viu as escadas e andares que ainda tinha que descer, mas que também já havia servido, com o pensamento amargo na quantidade de inimigos que o reino tinha. Apertou o tecido de sua roupa contra si e soube que o dragão ainda olhava para onde ela tinha saído, perigoso e sagaz. Com um último calafrio, começou a descer, sabendo que tudo se repetiria amanhã.


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Notas finais do capítulo

Por favor, mandem algum comentário com o que acharam ou algo do tipo... algum feedback, sl.
Está lento ainda, por ser o início do início, a base da história. Também está sem diálogos por enquanto por eu querer fazer algo com pouca interação e bem explicado, no começo. Mas no cap que vem já vai melhorar em relação à isso, pelo menos um pouco. Vocês (e eu tbm) Vão pegando o ritmo com o tempo :3

Curiosidade do dia:
*Personagens e histórias criados com base em fichas de RPG. Tenho o script da história feito, e não to seguindo isso atualmente por conta de ainda estar no início, mas pretendo ir desenvolvendo o enredo mais aprofundado realmente de acordo com o RPG, com os dados e o rolar do jogo, então reviravoltas podem acontecer (talvez não tanto, amo meus personagens haha :3).

Se quiserem saber mais sobre as fichas ou as regras de um jogo de RPG, eu mando pra vcs, só pedirem por MP.

Beijos, Ash.



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