Sacrifício escrita por Mrs Moon


Capítulo 24
O fim das mentiras


Notas iniciais do capítulo

Nem sei o quê falar desse capítulo. Ele é grande e deu um trabalhão para escrever, muitas cenas foram refeitas, mas todas banhadas a lágrimas. Preparem os lenços porque vai difícil ler ele inteiro sem chorar nem um pouquinho.



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O céu estava estrelado e a lua brilhava intensamente sobre a colina da Alameda dos Anjos onde costumava ficar o Centro de Comando, depois da sua destruição a relva começou a crescer sobre os destroços. O local vivia deserto, mas nessa noite uma chuva de luzes coloridas brilhou no céu quando os rangers se teletransportaram para lá. 

No centro dos antigos heróis estavam Trini e Jason com o pequeno Charlie enrolado em uma manta vermelha. Ao lado deles estavam Tommy, Kimberly, Billy e Andros. 

— Nessa noite - começou Jason. - Nós voltamos ao local onde  ganhamos os poderes para invocar a sua proteção.

— Pedimos proteção para o nosso filho Charles. - continuou Trini. 

O silêncio caiu sobre os rangers, todos calados em expectativa olhando para as estrelas. 

— Guardiões dos poderes nós os convocamos! - recitou Billy. 

No céu a figura de Dimitria e de Dulcea apareceram, o espírito das duas guardiãs olhando para os rangers. 

— Dulcea! - exclamou Kimberly. 

— Não podemos ajudá-los, não somos os guardiões dos poderes na Terra - respondeu a guerreira ninjeti.

— Dimitria! - pediu Jason. 

— Quem em sua alma olhar, a resposta irá encontrar. - enigmática como sempre ela respondeu.  

— O poder está dentro de nós… - disse Kimberly, ela ergueu seu morfador e gritou:

— Pterodáctilo! 

Um silvo surgiu do longe e o pássaro surgiu no céu:

— Tiranossauro!

— Tigre Dente de Sabre!

— Mastodonte!

— Dragonzorde. 

Os demais ranger começaram a invocar os seus poderes antigos e os espíritos dos seus poderes, apareceram no céu da Alameda dos Anjos. Todos eles brilhando e deixando sua luz cair sobre o pequeno Charlie. 

— Estão todos aqui! - murmurou Trini com lágrimas nos olhos.

— Os poderes estão dentro de nós - afirmou Andros. - Se algum dia o pequeno Charlie precisar, iremos protegê-lo. 

— Não vejo a Garça! - murmurou Kat para Kimberly. 

— Garça! - clamou Kimberly um pouco assustada. 

Ouvindo o clamor de sua antiga dona, a graciosa Garça surgiu no céu da Alameda dos Anjos. Imediatamente o pterodáctilo se aproximou protetor, o espírito do pássaro ninjete não se aproximou como os outros, mas emitiu um canto  melodioso. 

Lágrimas escorreram dos olhos de Kimberly, aquela era a música que a Garça cantava durante a sua gravidez. 

— Obrigada! - murmurou Kim. 

A garça desapareceu e foi seguida por todos os animais do poder.

— Muito obrigada pessoal! - disse Trini emocionada, Jason abraçou-a sorrindo contente. 

— Que o poder esteja com vocês rangers! - disse Dimitria ao desaparecer. 

— Acreditem em seus corações e os poderes dos Espíritos dos animais sagrados sempre os protegerão! - Dulcea também desapareceu no céu. 

— Acho que é hora de irmos também! - disse Billy. 

— Foi um longo dia! - concordou Aisha.

— Obrigada a todos vocês pela ajuda, irmãos! - disse Jason.

— Nos vemos amanhã! - disse Zack.

Um a um os rangers se despediram e se teletransportaram para a Alameda dos Anjos, sobrando apenas Jason, Trini, Charlie, Kimberly e Tommy. Ainda emocionada a ranger rosa, apertou a mão do namorado e falou para os amigos:

— Nós vamos ficar mais um pouco - Tommy a olhou surpreso e concordou.

— Boa noite! - Trini balançou a cabeça concordando e se teletransportou com a família de volta para casa. 

— Tudo bem, Kim? - perguntou Tommy para a namorada. 

— Tudo - ela murmurou com um sorriso triste. - Eu só queria ficar sozinha com você. 

Tommy a abraçou sorrindo, Kimberly descansou a cabeça nos ombros dele e deixou mais algumas lágrimas escorrerem. 

— Qual o problema beautiful?

— Mamãe descobriu que nós éramos os Power Rangers.  

— Como? - perguntou Tommy surpreso. 

— Ela viu os Rangers do Espaço e ligou os pontos. 

— E agora? - Tommy assumiu uma expressão preocupada. - Ela precisa guardar segredo, nós precisamos…

— Shiuuu! - murmurou Kimberly calando-o com um beijo. Kimberly o abraçou forte e acariciou o seu cabelo com a mão direita. Tommy retribuiu o beijo com igual fervor, não tinham tido muito tempo sozinhos nos últimos meses.

— Kim? - ele murmurou quando se separaram para respirar.

Ela o calou novamente com outro beijo apaixonado, lágrimas escorriam dos olhos de Kimberly enquanto ela o beijava como se aquela fosse a última vez. 

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Melissa nunca tinha visto uma noite tão linda. Sentia-a o vento batendo em seu corpo, olhou para baixo e viu um grupo de adultos e um bebê no topo de uma colina.  Eles pareciam tão pequenos, quando ela tinha ficado tão grande? Soltou uma exclamação e um silvo saiu de sua garganta, assustada ela percebeu que não era mais uma menina e sim um grande pássaro. 

Sobrevoou a colina com suas novas asas e sentiu o vento ao seu redor. A sensação de liberdade era inebriante, agora, ela era uma gigantesca ave, quase idêntica a sua pelúcia de passarinho.

— A Garça! - ouviu uma voz exclamar lá embaixo. 

— Sim, eu sou a Garça e sempre a protegerei - a voz saiu de sua garganta como uma canção. Cantou junto a alma da garça, a mesma canção que ouvia em seus sonhos todas as noites.

Ao seu lado, podia sentir outros espíritos animais, tão grandes e poderosos como o seu passarinho. Todos reunidos nesta noite para abençoar o bebê. Sobrevoando a colina, a garça cantou para o bebê como sempre cantava para ela quando criança. Sentiu as poderosas asas batendo e desceu até a colina…

A menina acordou assustada e sentou-se na cama. Esfregou os olhos e abraçou com força a sua pelúcia, o sonho parecia tão real.

— Meu passarinho é uma Garça. 

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Tommy passou a semana seguinte ao batizado de Charlie em Reefside, com a mãe de Kimberly ficou hospedada na Alameda, ele aproveitou para resolver algumas pendências na universidade. Ele se formou com honras e foi um dos melhores alunos da turma, seu projeto de doutorado foi muito elogiado. Graças a isso recebeu muitas ofertas de trabalho tanto em museus como nas escolas da região.  Ficou especialmente tentado com a possibilidade de desenterrar alguns fósseis em uma ilha no Pacífico com um colega de faculdade. 

Porém, nada o fazia mais feliz que voltar à Alameda dos Anjos para se casar com Kimberly. Na última semana, ele sentiu sua falta o tempo todo. Ligava todos os dias, porém, Kim pediu que ele não voltasse até que a mãe fosse embora. Por algum motivo, Carol Hart Blanc não estava tão feliz com o noivado e isso o deixava bastante confuso. A mãe de Kim sempre tinha sido simpática com ele no passado, mas como a sua própria mãe nunca gostou muito da ranger rosa ele não podia reclamar.

Estacionou o carro em frente a casa da namorada, usou a sua chave e entrou. Kimberly o estava esperando na sala, ele sorriu satisfeito e a abraçou: 

— Senti saudades!

Após uma leve hesitação, ela retribuiu o abraço, repousando a cabeça em seus ombros. Ele a abraçou forte e beijou seus cabelos, ergueu o rosto da namorada e a observou. A expressão da moça era triste e seus olhos estavam vermelhos. Preocupado ele perguntou: 

— Tudo bem? 

Kimberly se desvencilhou dos seus braços e deu dois passos para trás. 

— Não… - com um sorriso triste ela continuou. - As coisas não estão bem a muito tempo. 

— Como assim Kimberly? O quê está acontecendo? - um tremor percorreu o corpo de Tommy ao ouvir as palavras da moça, sentiu seu corpo gelado, o mesmo frio que sentia todas as vezes que se lembrava da maldita carta.  

— Nós precisamos conversar… - ela caminhou nervosa até a estante onde ficava a televisão. Com um olhar triste ela tirou o anel e o colocou em frente a um porta retrato dos dois. 

— Kimberly? 

A cada minuto ele se sentia mais temeroso, não podia ser possível. A história não podia estar se repetindo, estava tudo bem entre eles, ela não podia abandoná-lo de novo. Como ela não respondeu, ele foi até a estante e pegou o anel. 

— O que é isso? Estava tudo bem até a sua mãe chegar? - magoado ele perguntou: - Você não quer mais se casar comigo? 

Uma lágrima brilhou nos olhos de Kimberly e ela respondeu:

— Eu quero me casar com você desde o primeiro dia em que eu te vi… - a voz de Kimberly saiu trêmula de emoção, vendo a expressão confusa dele  continuou. - Mas você não vai querer se casar comigo quando souber a verdade. Por isso, eu estou te devolvendo o anel para que decida depois que me ouvir. 

— Kim, não tem nada que você possa dizer que me faça deixar de amá-la - Tommy sorriu se aproximando.

Kimberly recuou e pediu:

— Por favor, me escute! 

Ele parou e concordou com a cabeça compreensivo:

— Eu menti para você, eu não te contei o verdadeiro motivo para ter enviado a carta. Eu não estava confusa ou doente. Eu só queria te afastar e eu sabia que a única maneira de fazê-lo era magoá-lo. Eu escolhi cada palavra cuidadosamente para te machucar.

— Kim? 

— Eu tinha um motivo muito importante para mantê-lo longe - Kimberly colocou a mão no bolso e colocou frente ao lado do anel uma pequena foto polaroid e um sapato de lã cor de rosa. 

— Eu precisava te afastar,  porque quando eu escrevi aquela carta, eu estava grávida. 

Tommy abriu a boca surpreso, mas antes que ele pudesse falar ela continuou:

— Eu nunca tive outro namorado ou fiquei doente antes dos jogos. Eu me afastei do treinamento, de você e dos meus amigos porque eu estava esperando um bebê. 

A expressão de Tommy ainda era de incredulidade, ele não parecia estar entendendo o que ela estava falando.

— Eu dei a luz a uma menina no dia 10 de Setembro a sete anos atrás, Charlie não é o primeiro bebê ranger a nascer da nossa geração. 

Tommy sentiu as forças se esvaindo de seu corpo, não conseguia acreditar nas palavras que ouvia. Kimberly tivera um bebê em segredo. Por que ela esconderia isso dele? A confusão se transformou em desconfiança e em fúria e ele gritou:

— Não! Não pode ser verdade! 

— É verdade - com a voz trêmula ela continuou: - Nós não fomos cuidadosos no Natal… e eu fiquei grávida. Nossa filha nasceu no ano seguinte. 

Tommy parou petrificado. Em um instante, com algumas palavras, sua vida inteira mudou.  Todas as suas certezas foram destruídas, o presente se tornou escuro e seu futuro com a mulher que amava estava destruído por esse passado que ele desconhecia. Nada disso era importante mais, a única coisa importante era confirmar a verdade, com a voz baixa e fria ele perguntou: 

— Onde ela está? - não era mais seu namorado que falava, mas o líder dos Power Rangers. - Onde está a minha filha Kimberly?

— Eu não sei… - juntando todas as suas forças ela respondeu séria. - Quando descobri que estava grávida, eu fiquei apavorada. Eu tinha muito medo que Rita e Zedd a roubassem. Eu precisava protegê-la e a única maneira de mantê-la a salvo era longe de nós. Então… eu a dei para adoção. 

— Nãooo! - Tommy gritou, pela primeira vez Kimberly ouviu ódio em sua voz, ela tremeu e  as lágrimas que estava segurando caíram. 

— Você não podia ter feito isso! Ela era a minha filha também - gritou Tommy. - Eu a teria protegido.

— Não, não teria - rebateu Kimberly. - Eu falei com Zordon e Dulcea, nenhum deles podia garantir que ela estaria em segurança. Nós dois éramos rangers quando a concebemos e você era o líder dos Power Rangers na Terra. Nosso bebê era um alvo antes mesmo de nascer e eu fiz o que precisava fazer. Eu a mantive em segurança. 

— Eu morreria antes que alguma coisa acontecesse a ela. 

— Eu sei… mas isso não era o suficiente. - desesperada ela continuou. - Eu não podia arriscar, ela precisava estar a salvo Tommy. A única maneira de mantê-la a salvo era longe de nós. 

— Não, não era! - ele vociferou.

— Era sim, lembra do que aconteceu quando Jason e eu voltamos à Alameda dos Anjos? Nós fomos raptados por Divatox só por ser seus amigos, o que ela não faria com a sua filha - limpando as lágrimas ela continuou decidida - Eu não ia deixar que isso acontecesse com o meu bebê. Nenhum deles podia chegar perto dela, eu a protegi da única forma que podia. Mandando-a para longe de mim. 

— Você não podia ter feito isso! - gritou Tommy. - Você não podia ter decidido por mim. 

— Eu precisava… - juntando toda a coragem que lhe restava Kimberly continuou. - Eu te amo Tommy, mas eu amo mais a nossa filha. Por isso, eu escolhi protegê-la. 

— Ama? - a palavra saiu dos lábios de Tommy como um insulto. - Quem ama não mente, não magoa, não importa quais tenham sido os seus motivos. Você me traiu e roubou a minha filha. 

As últimas palavras de Tommy feriram Kimberly como um punhal, as lágrimas turvaram a sua visão e ela soluçou algo. Indiferente ao sofrimento da moça, Tommy se aproximou da estante onde estava o porta retrato e o anel. Com um gesto violento ele jogou tudo no chão.

— Isso não é nada além de lixo - gritou. 

— Cuidado! - exclamou Kimberly correndo para salvar das mãos de Tommy o sapato e a foto. Ela se ajoelhou aliviada pegando o sapatinho. 

—  É a única coisa que eu tenho dela - ainda no chão, ela apertou o sapato forte nas mãos e deu a foto para Tommy. - Mamãe tirou uma foto no berçário.

Tremendo de raiva ele pegou a foto e olhou. A foto não era boa, em um berço tinha um bebê com uma matinha rosa, ao lado da criança estava a Garça de pelúcia que ele deu para Kimberly. Tentou ver as feições da criança, mas a foto era muito pequena, ele não conseguia vê-la direito. Seus olhos ardiam com lágrimas não derramadas, a foto era a prova final. Ele era pai, em algum lugar do planeta estava a sua menina. A filha que ele nunca vira, que nunca pegara no colo. Ele, Tommy Oliver, era pai de uma menina que não conhecia. 

— Onde ela está?

— Eu não sei… - admitiu Kimberly. - Eu a entreguei para um orfanato, eu nem sei seu nome. A única coisa que sei é que ela foi adotada por uma boa família. Ela está bem…  longe de nós. 

Tommy gritou de indignação:

— Você não sabe o que é ser uma criança abandonada Kimberly! O que você fez não tem perdão. Eu te odeio! - gritou Tommy. 

— Eu sei… - ela murmurou triste.

Tommy fechou os punhos com raiva, só sentira tanto ódio quando estava sob o efeito do feitiço de Rita. Ele deixou um urro de raiva sair de sua garganta e se teletransportou para fora da casa. 

Kimberly de joelhos no chão soluçava vendo a dor que causou. Conseguia sentir o ódio de Tommy, em sua fúria ele invocará os poderes do Falcão e do Tigre Branco. 

Os poderes que ele liberou ao invocar os seus antigos animais protetores foi sentida em toda a Terra, logo, os comunicadores começaram a bipar. Kimberly conseguiu ouvir o seu, sem forças para ir ao quarto pegá-lo ela preferiu usar o telefone:

— Alô! - Jason respondeu rapidamente, ao fundo Kimberly ouviu o som do bebê chorando.

— Jason… - a voz saiu rouca. 

— Kimberly, graças a Deus! - ele respondeu preocupado. - Tommy usou os poderes, vocês foram atacados?

— Não, não fomos atacados… – Kimberly tentando se acalmar - Jason! Tommy precisa de você. Por favor, vá atrás dele. Não o deixe sozinho agora. 

— O quê aconteceu? Onde você está?

— Eu estou em casa, por favor Jason cuide dele por mim. 

Sentindo, o desespero e a urgência da amiga  Jason respondeu:

— Claro, pode ficar tranquila.

— Obrigada! - respondeu Kimberly desligando o telefone. 

Sabendo que Jason tomaria conta de Tommy, Kimberly levantou e com o sapatinho nas mãos subiu as escadas. Deitou na cama e desabou, chorando sozinha pela perda da filha e de Tommy. Agora estava sozinha, sem eles continuaria sozinha para sempre. 

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— Dulcea! - gritou Tommy enfurecido. 

Graças aos poderes do Falcão ele conseguiu se teletransportar para Phaedos, no local sagrado onde ele recebeu os poderes Ninjeti. Uma coruja branca voou e ao pousar se transformou na guardiã dos animais sagrados.

— Bem vindo de volta Falcão branco - com a expressão séria ela continuou. - Eu o estava aguardando.  

Se alguma dúvida existia no coração de Tommy, ela desapareceu ao fitar os olhos de Dulcea. A antiga guardiã o olhava com pena e melancolia. Caindo de joelhos ele perguntou:

— Então é verdade?

— É verdade, a ranger rosa teve uma filha que agora é protegida pelo espírito da Garça. 

— Onde ela está?

Dulcea se aproximou de Tommy e colocou as mãos sobre o seu ombro. 

— A salvo - ela respondeu docemente. - Eu não tenho os poderes de Zordon e não posso vê-la. Mas eu posso sentir a Garça a protegendo, ela está a salvo na Terra Tommy. 

— Zordon… - murmurou Tommy. - Zordon e você sabiam. Como puderam me esconder isso?

— O falcão não sentiu a presença do ovo - respondeu Dulcea. - O pterodáctilo e a Garça foram até ele para protegê-lo. O espírito do Falcão assim como o seu estava tão focado nas batalhas que não sentiu seu filhote. Então, a Garça ficou livre para protegê-lo.

— Ela não podia ter feito isso… - clamou Tommy. - Vocês não podiam ter escondido a minha filha de mim. Vocês todos me traíram. 

— Entendo o seu sofrimento Tommy - respondeu Dulcea. - Mas não subestime o sacrifício de Kimberly e de Zordon. Ela desistiu de sua filha para garantir a sua segurança e Zordon deu a sua vida para transformar a Terra em um lugar seguro para as suas famílias. 

— O verdadeiro sacrifício foi da minha filha! Ela não vai ser criada com a sua família… - com a voz baixa ele continuou. - Eu nunca vou vê-la. 

— Não pense assim… - Dulcea o consolou. - Algum dia a pequena garça voltará ao ninho. 

— Não é justo! - gritou Tommy indignado se teletransportando de volta à Terra. 

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Trini estava com Charlie no colo e viu Jason colocando o telefone no gancho, aflita ela perguntou:

— Quem era?

— Kimberly - respondeu Jason um pouco confuso.

— Eles foram atacados?

— Não, mas ela estava chorando. Ela me pediu para ir atrás do Tommy, acho que eles brigaram. 

— Não pode ser - respondeu Trini preocupada. - Tommy não usaria seus poderes por causa de uma simples briga. 

— Alguma coisa muito grave aconteceu, Kim está estranha desde o batizado. 

— Eu vou atrás dele - disse Jason. - Você consegue ver como a Kimberly está? 

Trini concordou balançando a cabeça. Jason beijou a esposa e o filho e se teletransportou para a casa de Reefside. 

Em alguns segundos, ele já estava lá e ficou chocado com o que encontrou. Parecia que um furacão tinha passado pela casa, em sua fúria Tommy quebrou a sala inteira, vidro e madeira esparramados no chão. No meio dos destroços, Tommy estava ajoelhado olhando para o chão. 

— Tommy - como o amigo não respondeu, Jason se aproximou preocupado. - Irmão o quê aconteceu?

— Eu não consigo ver o rosto dela… - murmurou Tommy triste. 

— Do quê está falando?

Tommy ergueu a cabeça e olhou para o amigo. Jason deu um passo para trás assustado, nos olhos do amigo ele viu uma grande tristeza. Parecia que a luz de Tommy tinha se apagado, sua expressão era angustiada e seu sorriso otimista o abandonara. 

— A foto é tão pequena e ela estava dormindo - com um soluço Tommy respondeu. - Eu nem sei a cor dos seus olhos. 

— Eu não entendo - disse Jason. - Kimberly me ligou, ela disse que você precisava de mim, mas que não tinham sido atacados quem fez isso.

Ao ouvir o nome de Kimberly, Tommy sentiu a raiva ferver novamente em seu sangue:

— Agora ela se preocupa?! - O veneno escorria de suas palavras. - Ela destruiu tudo, o passado e o futuro até essa casa ela manchou com a sua lembrança. Eu a odeio

— Tommy! - começou Jason. - Eu não sei o que aconteceu, mas Kimberly jamais faria…

— Algo para me magoar? - completou Tommy com um tom de escárnio. - Ah, ela faria e ela fez. Ela roubou a minha filha.

— O quê? - perguntou Jason assustado. 

Tommy estendeu para o amigo uma foto. Jason pegou a foto sem entender, em um berço tinha um bebê com uma roupinha cor de rosa e uma pelúcia ao seu lado. Jason olhou a foto confuso e murmurou:

— Eu não entendo… quem é essa criança?

— É a minha filha - soluçou Tommy. - Kimberly teve uma filha minha a sete anos atrás.

— Como? Quando?

— Quando nós tínhamos os poderes Zeo - respondeu Tommy. - A carta, a doença era tudo uma mentira para que ela pudesse esconder a minha filha de mim. Ela confessou tudo hoje.

— Não é possível! - Jason caiu de joelhos ao lado do amigo. - Ela não faria isso… 

— Ela fez, o bebê já tinha nascido quando vocês voltaram para a Alameda juntos. Ela mentiu para todos nós.

— Meu Deus! - murmurou Jason. - Por quê ela faria isso?

— Segundo ela para proteger o bebê - respondeu Tommy já sem forças. - Ela disse que tinha medo que ele fosse raptado pelos inimigos. 

— Trini também tinha medo disso - murmurou Jason. - Mas a menina onde ela está?

— Eu não sei, ela combinou tudo com Zordon, Dulcea e a mãe e escondeu a menina. - respondeu Tommy. - Ela deu a nossa filha para adoção e nem sabe onde ela está.  Só o que eu tenho é essa foto.

Sem palavras Jason abraçou o amigo, finalmente, Tommy conseguiu deixar que as lágrimas caíssem e chorou nos braços do amigo a perda da filha. 

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Já era de manhã quando Trini chegou a casa de Kimberly, precisou esperar que a mãe acordasse para deixar Charlie lá. Estacionou em frente a casa, mas ao invés de bater ela se teletransportou para dentro. Era a primeira vez que usava seus poderes depois de ter deixado o manto da ranger amarela. 

A sala estava vazia e tudo parecia normal, intrigada ela chamou

— Kim!

Vasculhando a sala ela não sentiu nenhuma energia maligna, tudo parecia normal, o que acontecera com seus amigos não tinha nada de sobrenatural. A única coisa errada na sala eram os objetos no chão, abaixou-se e viu os portas retratos e ao pegá-los avistou o anel de noivado jogado.  Guardou-o na estante do lado do porta retrato e murmurou:

— Eles terminaram de novo… - balançou a cabeça em negação. - Não pode ser só isso, Tommy não usaria os poderes sem um bom motivo. 

Suspirando fundo, ela subiu as escadas e correu para o quarto da amiga. Sem cerimônia ela abriu a porta e respirou aliviada ao ver Kimberly deitada abraçando os joelhos na cama.

— Kim? - ao não ouvir resposta ela chamou novamente. - Kimberly!

A antiga ranger rosa não se mexeu, mas Trini ouviu um soluço baixo vindo do corpo da amiga. Imediatamente, ela deitou ao lado da antiga ranger rosa e a abraçando. Kimberly deixou que a amiga a abraçasse e chorou baixinho. Trini sentiu os olhos arderem, ao ver o sofrimento da amiga. Ela murmurava palavras de consolo e a abraçava, aos poucos Kimberly foi se acalmando e parou de chorar. 

— O que está fazendo aqui? - perguntou Kimberly - E Charlie?. 

— Eu vim cuidar da minha melhor amiga - respondeu Trini docemente. - Charlie está bem com a minha mãe. 

— Não precisava… - Kim enxugou os olhos se sentando na cama - Eu estou bem.

— Não, não está. - disse Trini. - O quê aconteceu entre vocês Kimberly? Tommy deixou o planeta usando os poderes e você está nesse estado.  Eu vi o anel lá embaixo. Vocês brigaram de novo? 

Kimberly balançou a cabeça admitindo. 

— Jason está com ele?

— Está sim, - respondeu Trini preocupada. - Vocês não foram atacados, mas Tommy usou os seus poderes, isso não faz sentido. 

— É minha culpa - murmurou Kimberly com os olhos cheios de lágrimas. 

— Foi só uma briga - murmurou Trini - Vocês se amam desde a adolescência, só precisam conversar e tudo vai dar certo.

— Não, não vai - Kimberly respondeu balançando a cabeça. - Ele nunca vai me perdoar. O quê eu fiz não tem perdão. 

— Kimberly? - Trini perguntou olhando séria para a amiga. - O quê não pode ser perdoado? 

Por um momento, Kimberly quis negar, fugir, continuar com seu segredo e desaparecer da Alameda dos Anjos. Mas esse tempo já havia passado, agora, que Tommy já sabia de tudo, não fazia mais sentido esconder a verdade. Abaixando a cabeça e desviando os olhos da amiga ela confessou envergonhada:

— Eu tive um bebê quando estava na Flórida - Trini soltou uma exclamação de surpresa, sem coragem de erguer a cabeça, a ranger rosa continuou - Eu fiquei grávida de Tommy no Natal, eu descobri quando estava  na Flórida e meses depois eu dei a luz a uma menina.

— Kim! - murmurou Trini chocada.

— Eu terminei com Tommy e escondi a gravidez de todos. Só a minha mãe e Zordon sabiam que eu estava grávida - erguendo a cabeça para a amiga, seu olhar era desesperado - Eu precisava protegê-la, eu morria de medo que Rita descobrisse que ela existia. Eu tinha tanto medo que eles fizessem mal para ela. 

Trini sentiu os olhos se encherem de lágrimas, suspeitando da verdade. 

— Eu conversei com Zordon e com Dulcea, ele não podia garantir que ela estaria a salvo. Você entende não é? - perguntou ansiosa se justificando para amiga. - Tommy era o líder, ela seria o principal alvo dos nossos inimigos. Eu precisava protegê-la e a única maneira era que ninguém soubesse que ela era nossa filha. 

— Oh, Meu Deus! - exclamou Trini. 

— O espírito da Garça a protegia, a única maneira de Rita ou do Império descobrir que ela existia era através de nós. Por isso, eu a deixei em um orfanato. 

Agora, as lágrimas escorriam de seus olhos sem controle, soluçando ela continuou:

— Eu precisava protegê-la, ela estaria mais segura com pais adotivos e longe de nós. Por isso, eu menti e terminei com Tommy, se ele soubesse ele nunca permitiria, ele nunca aceitaria que não podia proteger a sua filha. 

Trini começou a chorar e abraçou a antiga ranger rosa. Desde que voltou da Suiça, imaginava que algo muito sério tinha acontecido com a amiga. Kimberly não era a mesma adolescente alegre e feliz que deixará, a anos via uma sombra em seu olhar. Só não podia imaginar que era algo tão terrível, imaginou como seria a vida sem o filho e abraçou Kimberly forte. 

— Os rangers não deveriam ter filhos… - murmurou. - Por isso, Zordon escolhia os mais jovens de nós. 

Kimberly ergueu a cabeça e tranquilizou a amiga:

— Mas agora é seguro! Zordon purificou os antigos inimigos e nós temos poderes para nos proteger. Charlie está seguro.

— Ele se sacrificou por nós… - murmurou Trini. - Mas e a sua filha?

— Eu não sei onde ela está... - Kimberly juntou toda a sua coragem para responder. - Eu a perdi, mas ela está segura. 

— E o Tommy?

— Eu contei a ele ontem - Kimberly admitiu com voz trêmula. - Eu não podia continuar com essa mentira, eu não podia me casar sem que ele soubesse. Agora, eu o perdi também. 

Trini abriu a boca surpresa, agora, tudo fazia sentido. Tommy usará seus poderes para saber onde estava a sua filha, os mesmos poderes que a afastaram dela. Os poderes que Zordon liberou com a sua morte podiam ajudar todos os rangers a proteger suas famílias, mas Kimberly e Tommy não podiam recuperar a sua. 

— Eu sinto muito… - uma lágrima rolou dos seus olhos. - Por isso você não chega perto de Charlie?

— É muito difícil - murmurou Kimberly. - Eu não consigo ficar perto de crianças. Todas as vezes que eu o olho, eu me lembro dela. Se eu fechar meus olhos eu posso senti-la em meus braços, sentir seu cheiro. É uma tortura. 

Trini olhou a amiga sem saber o que dizer, não existia palavras de consolo suficientes. Nada apagaria a dor da amiga, imaginou como seria ficar longe do filho e de Jason. Amava Jason, mas faria tudo pelo filho e ao pensar que ele poderia ser raptado como Karone sentiu um arrepio no corpo. Apertou a mão de Kimberly e lhe disse seriamente:

— Eu nem posso imaginar a sua dor, mas eu faria o mesmo em seu lugar. Você fez a coisa certa. 

Kimberly deixou escapar mais um soluço de alívio e Trini a abraçou confortando-a. 

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Tommy não voltou a pisar na Alameda dos Anjos, Jason contou que ele decidiu viajar para o pacífico para escavar fósseis com um colega da faculdade e não planejava voltar. Ele deixou o anel e as roupas na casa, Kimberly não esperava que ele voltasse e guardou seu anel junto ao sapatinho da filha.  

Os dias se tornaram semanas e Kim voltou a sua rotina. Sua vida na Alameda dos Anjos agora era igual a da Flórida, vivia para o trabalho, dedicava todas as suas horas ao ginásio. Era a primeira a chegar e a última a sair. Nos finais de semana, ela visitava o pai e os amigos. Voltou a vestir a sua máscara e sorrir para que ninguém percebesse a sua dor. Sentia os olhares de piedade e compreensão de Jason e Trini, mas nunca mais voltaram ao assunto. 

As noites em casa eram as mais difíceis, não conseguia subir para o quarto até que estivesse exausta. Então, começou a planejar a expansão do ginásio. Depois que Trini voltasse ao trabalho, ela começaria a aceitar alunas mais velhas e levá-las para competições. Assim, seus finais de semana seriam ocupados pela ginástica novamente. Todas as noites anotava seus planos e fazia os orçamento antes de dormir. 

Enquanto, anotava os números do último orçamento ouviu a campainha. Olhou para o relógio e viu que já eram onze horas, se levantou intrigada e abriu a porta: 

— Tommy! 

 


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Notas finais do capítulo

Sim, eu sei que é muita maldade terminar o capítulo assim. Mas não tinha outro jeito, ele na porta era essencial.
Espero que tenham gostado e comentários fazem meus dias mais felizes.
Eu vou fazer de tudo para atualizar antes do dia 07/11 que eu vou fazer uma viagem para os EUA. Mas se eu demorar já sabem o motivo.



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