No light, no light escrita por I like Chopin


Capítulo 9
A pão e água


Notas iniciais do capítulo

EU SINTO MUITO PELO TÍTULO, MAS VCS JÁ SABEM COMO SOU BOA COM ESSAS COISAS. KKKKKKKKK
Oi! E aí, como vão?
Se como eu, vocês estiverem com o psicológico destruído com esse Enem, espero que esse capítulo alegre o dia de vocês. ♥
Fonte: https://www.tripadvisor.com.br/RestaurantsNear-g294202-d317746-Pyramids_of_Giza-Giza_Giza_Governorate.html
(Quem quiser entrar, tem até uma foto do restaurante, que eu achei linda demais.)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/707916/chapter/9

—Sinceramente, os Moroi sempre têm que fazer uma pausa em um restaurante que cobra os olhos da cara por um pedaço de carne?

Janine Hathaway empurrou o cardápio para longe na mesa, visivelmente emburrada.

—É hora do almoço, Jenny.  –Roxanne Ryder explicou pacientemente, ao mesmo tempo em que sua expressão tornava-se cada vez mais desanimada ao passar os olhos pelos preços.

—Sim, claro. Em qual fuso horário, aliás? Não faz nem meia hora que acordei!

Roxie sorriu, o que só indicava que uma provocação estava por vir.

—Você pode até ter passado a noite toda acordada pensando no seu príncipe encantado, Jenny, mas para o resto de nós já são onze e meia da manhã.  

 ‘‘Na verdade’’, pensou a ruiva, tentando não corar, ‘‘perdi a noite beijando o príncipe encantado. ’’

Mas esse era um assunto para outra hora. Então ao invés de contar seu segredo, fez uma careta e retrucou com um comentário qualquer.

—Esse horário está me matando. – arrumou as costas na cadeira, gesticulando com as mãos – Quer dizer, num dia estamos agindo como morcegos e vivendo ao contrário da norma comum, e depois temos que passar novamente ao horário humano. E agora, é como se estivéssemos perdidos em algum lugar bizarro entre os humanos e os vampiros, participando de excursões durante o dia e montando guarda em festas quando cai a noite.   

—Isso é mais ou menos o que turistas esquisitões com chapéus de sol gigantes fazem durante as férias, Jenny. Tentam aproveitar tudo ao mesmo tempo e acabam não levando nada para casa além do seu cansaço e um monte de souvenires que vão ficar amontoados em algum armário.

Com um pequeno aceno de cabeça, Janine pensou que Roxanne, com suas divagações inesperadas e excêntricas sobre o sentido da vida, mais uma vez tinha conseguido levar embora seu mau humor.  

—Acho que nós duas estamos filosofando demais, Roxie. Lembra de como você fazia piada com os nerds da Academia? –a ruiva perguntou com uma risada – Estou me sentindo como um deles agora.  

—É, a gente zoava muito esses caras. – Roxie tinha um olhar estranhamente sonhador e divertido ao sussurrar – Caras como Hugo Badica.

Janine revirou os olhos e decidiu não responder ao comentário.

—Pobrezinho. Ele até que é fofo.  – continuou Roxanne.

—Faz quanto tempo mesmo que você não visita seu oculista? – perguntou com uma ponta de sarcasmo.

—Ah, qual é, Jenny. Nem todas têm sua sorte em conseguir alguém como Ibrahim Mazur. – ela provocou – Temos que nos contentar com os loiros de olhos azuis que a vida nos dá.  

Roxanne suspirou com seu pesado destino; o que arrancou um pequeno sorriso da ruiva, mas não abrandou sua raiva ao todo.

—Acho que ele seria aceitável se não fosse tão irritante.

—Tudo bem, Jenny. – suspirando, apoiou o cotovelo na mesa e o queixo na palma da mão – O que é que está acontecendo?

—Nada... – a ruiva desviou o olhar, mexendo no cabelo. Como era de se esperar, Roxanne não desviou os olhos dela, adivinhando uma mentira. – É só que... Não é porque eu trabalho para uma pessoa que ela tem que se meter na minha vida pessoal!

—Completamente apoiado. – Roxie concordou enquanto o garçom do Kabagy Abou Khaled, o restaurante escolhido pelo grupo, fazia o extravagante pedido de dois sucos de laranja, já que não havia mais nada que realmente coubesse no orçamento de qualquer uma das dampiras.

—Quando você disse que ia ter que viver de pão de água depois de comprar o vestido, não achei que estivesse falando sério. – Janine suspirou.

—As coisas ainda não estão tão ruins, Ruivinha. Ainda posso bancar suco de laranja. – ela sorriu – Um copo por semana.  

Balançando a cabeça, Janine concentrou-se na cidade lá em baixo. Tinham novamente sido postas para montar guarda juntas por Stan, que escolhera uma mesa ao lado de uma enorme parede de vidro.  

Como na noite anterior, sentia-se a rainha do mundo ao enxergar tudo de cima; bonito, adorável e perfeito como uma maquete de criança.

Eram pequenas coincidências assim, como acabar conseguindo o lugar que queria, que tornava a vida mais espontânea e divertida. E embora estivessem a pouco mais de um quilômetro de distância, tinha certeza de que se fizesse algum esforço, seria capaz de enxergar as pirâmides.

—Mas, sério. – Roxanne chamou sua atenção pelo uso involuntário da palavra ‘‘sério’’, que quase não fazia parte do seu vocabulário – Hugo Badica está incomodando você? Porque eu ainda sei onde arranjar pó de mico. Podemos simplesmente passar um pouco no papel higiênico daquela suíte enorme em que ele dorme.

Janine riu, lutando contra a tentação de aceitar sua ideia maléfica.

—Ainda não estou pronta para perder meu emprego tão facilmente, Roxie.

—Você é a melhor guardiã que conheço, Janine, só não foi descoberta ainda. E acredite quando eu digo que mais cedo ou mais tarde vai ser a mais disputada também. – com um sorriso genuíno, Roxie apertou sua mão por cima da mesa.

—Obrigada. – murmurou a outra, realmente emocionada. Também sorriu ao responder – E você será a melhor instrutora de combate da Academia.

—A Petrova que se prepare! – a morena riu.

—É só uma pena que professores não possam pregar peças contra os alunos. – observou a ruiva com fingido pesar.  

—Quem disse que não? – o sorrisinho irônico de Roxanne Ryder estava de volta.

—Acho que a ética profissional.

—Ah, eu me divertia tanto com essas peças! E elas nunca fizeram mal a ninguém.

Janine a encarou com um olhar descrente.

—Fazer Roger Selzsky passar vergonha na frente da escola toda por pintar as roupas dele de rosa nunca chegou a matá-lo. – retrucou a outra com sabedoria.  

—Com certeza. – balançou a cabeça em concordância - Lembra aquela vez em que invadimos o dormitório da realeza e colocamos talco dentro dos secadores de cabelo?  

Com a mão sobre a boca, Roxie não pôde evitar dobrar o corpo de tanto rir.

—Lembra quando entramos de penetra na festa da Daniella e colocamos laxante no ponche?  

Janine parou de rir para fazer uma careta de nojo com a lembrança.

—Eu sempre me senti um pouco mal com isso. Ainda mais depois que ela me defendeu no julgamento. – acrescentou um pouco triste.

Roxanne tomou um gole de suco e franziu os lábios em desagrado. Por um momento, Janine pesou que talvez tivessem confundido o açúcar com sal; mas pela maneira agressiva com que Roxie levantou o canudinho na direção dela, soube que a questão era muito maior que essa.

—Ela não defendeu você, Jenny. Daniella estava apenas tentando manter as aparências daquela família desprezível do marido dela. Porque é disso que lady Ivashkov é feita: simplesmente aparência.

—Você está soando como uma Moroi da realeza. Por que sempre julga as pessoas assim, Roxanne? – a pergunta não fora feita com qualquer intenção de magoar, apenas com um pouco de cansaço diante daquela postura de revolta permanente contra o mundo.

—Você está realmente me comparando com as pessoas que te julgaram como prostituta de sangue?

Ao ver seu olhar inflamado, Janine arrependeu-se de tudo que tinha dito. Nunca era boa ideia discutir com Roxanne Ryder. E embora Roxie não fosse o tipo que parte para briga por qualquer bobagem, algumas coisas bem específicas a tiravam do sério muito facilmente. Coisas como ser comparada a Moroi da realeza, que para ela só não chegavam a ser piores que os Strigoi.

—Claro que não estou comparando você àqueles monstros, Roxie. – seu pedido de desculpas, da mesma forma, possuía um tom cansado de quem argumenta contra uma criança.

A morena continuava emburrada, com os braços cruzados contra o peito e o rosto voltado para a janela.

—Roxanne. – chamou com autoridade, fazendo com que ela finalmente a olhasse nos olhos – Você é minha melhor amiga e eu nunca faria nada com a intenção de magoá-la.  

Suspirando, ela relaxou o corpo.

—Eu sei. – respondeu a contragosto e estendeu a mão por cima da mesa, segurando a de Janine mais uma vez – Também amo você.

Isso arrancou um pequeno sorriso da ruiva, que com cuidado fechou o assunto:

—Eu não sei quais foram as intenções de Daniella Ivashkov, mas sejam elas quais fossem, ela acabou me ajudando de verdade. Então tento não reclamar muito dela.  

Mesmo com a careta ainda no rosto, Roxanne parecia estar se conformando com a ideia da amiga enxergar a fútil Lady Ivashkov como uma espécie de aliada.

—Está bem... – deu o braço a torcer – Mas é bom que ela não se esqueça da história do laxante.

Janine gargalhou.

—Ah, Roxie, pode ter certeza de que essa é a última coisa da qual ela vai se esquecer na vida.  

Os Moroi iam aos poucos terminando a refeição, e logo Alicia Zeklos escorregou para uma terceira cadeira na mesa das dampiras, com dois pequenos pedaços de papel estilizado na mão.

—Claire me mandou os convites de vocês e também avisou que todos os guardiões designados para proteção da cerimônia devem chegar uma hora mais cedo no sábado.

—Qualquer coisa para participar da festa do ano. – comentou Roxanne bem-humorada enquanto Ally lhe entregava o convite.

Alicia riu e entregou o outro a Janine. De um lado, havia as informações básicas da festa impressas, como os nomes dos noivos, data, local e hora. Do outro, seu próprio nome em linhas finas e cheias de adornos enfeitava o papel branco.

—Ah, finalmente o Abe chegou. – a Moroi comentou ao inclinar o corpo para frente sobre a mesa, espiando a rua lá em baixo.  

—O que? – Janine tinha consciência do quanto sua voz saíra fina e do quanto seus olhos deveriam estar arregalados.

Ibrahim Mazur tinha mais uma vez invadido seu horário de almoço.

—Bem, foi ele quem nos convidou para esse passeio, afinal. – a loira deu de ombros – Bem, na verdade, ele chamou os Voda e os Badica e eu meio que vim de penetra.

Ela riu sem entender toda a preocupação repentina de Janine. Os dois por acaso não pareciam estar trabalhando juntos na noite anterior?

—Bem, eu deveria dizer ‘‘oi’’. – acrescentou ao levantar-se em direção ao outro lado da sala.

E claro, quando o chamativo Ibrahim, com sua camisa amarelo limão e seu cachecol de caxemira, passou pela porta do restaurante, o mutirão de Moroi logo se adiantou para cumprimentá-lo.  

—Ah, não. – Janine murmurou com as mãos contra a testa, virada para a rua numa recusa de assistir à entrada triunfal de seu perseguidor. – Como é que ele sempre dá um jeito de aparecer quando estou comendo? Quer dizer, quais são as probabilidades?

Virou-se desesperada para Roxanne, que apesar de tudo, conservava o sorriso irônico no rosto. Franzindo a testa por um segundo, a ruiva logo arregalou os olhos em compreensão.  

—Você sabia! Por isso todo aquele drama com o meu cabelo!

—Não precisa me agradecer. – Roxie não se deixou abalar, respondendo à acusação com alegria.

—Roxanne, vou matar você. 

Pelo menos, havia muitos membros da realeza presentes naquele dia para ocupar a atenção de Abe antes que ele passasse a bombardeá-la com suas indiretas, olhares e perguntas bizarras.

—Meu Deus, Jenny, você é realmente a Rainha do Drama. – a morena cortou sem paciência alguma para aguentar choros – Por que tudo isso?

—Porque nós nos beijamos! – ela sussurrou com as mãos quase tremendo.

—Ah, então é só isso? – Roxanne, ao invés de impressionada, parecia bem entediada com a história toda.

—Como assim ‘‘só isso’’? – estava muito mais que óbvio que para Janine a palavra ‘‘só’’ nunca caberia na descrição da última noite.

            -Se dependesse de mim, vocês já teriam uma filhinha linda de olhos escuros com o meu nome.

            Janine deu uma risada nervosa e prometeu:

            -Roxanne, se eu algum dia tiver uma filha de Ibrahim Mazur, juro que darei seu nome a ela.

—Então é uma promessa? De verdade? – ela perguntou animada.

—Com certeza. – a ruiva respondeu cética enquanto apertava a mão da amiga. Tinha toda a certeza do mundo de que nunca teria que colocar tal promessa em prática.

—Não tem mais volta, viu? – Roxanne enfatizou. Depois, inclinou o corpo para frente e perguntou com a expressão curiosa. – E como foi o beijo? 

— Foi só selinho.  – Janine corou ao sussurrar a resposta.

A morena revirou os olhos, fazendo uma cara muito parecida com a de alguém prestes a vomitar.

—Não acredito que você esteja entrando numa crise de nervos por causa de um selinho!

—Foram dois! – ela exclamou, decida a se defender do pouco caso de Roxanne.

—Dois o que? – perguntou uma voz conhecida atrás dela.

Novamente Ibrahim Mazur tinha surgido repentinamente com a função de deixá-la o mais desconcertada possível.  

Janine se fez imediatamente vermelha, enquanto em consideração à amiga, Roxanne tentava ao máximo não rir.

Para todos os fins, aquela seria certamente uma tarde memorável.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Próximo capítulo vai ser de arrasar. :v
Comentem!
Beijinhos! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "No light, no light" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.