No light, no light escrita por I like Chopin


Capítulo 4
Sorvete azul com gosto de chiclete


Notas iniciais do capítulo

Oiee! Então, mais um capítulo que estou programando antes (melhor prevenir do que remediar, né), então gostaria de agradecer a todos que comentaram. :3
Obrigada, especialmente, ao Edu. E também a Lhy e Maya, que pediram por continuações. (vlw, meninas! ♥)
Ah, e eu amo sorvete azul com gosto de chiclete. :v (Aliás, Cartagena tem o melhor sorvete de chiclete de todo o mundo!!)
Boa leitura. :)
Fonte:https://www.tripadvisor.com.br/Attractions-g294201-Activities-c26-Cairo_Cairo_Governorate.html



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—Agora é sério. Eu desisto! Se eu não encontrar um vestido decente na próxima loja, volto para a primeira e compro aquele pretinho básico.

Janine Hathaway não conseguiu esconder sua descrença. Sabia muitíssimo pouco sobre moda, mas aquela frase tinha sido uma terrível heresia.

—Pretinho básico? Você realmente está chamando um longo formal da Chanel de pretinho básico? Aquilo custa mais que um ano do meu salário! Pior, deve custar mais que a minha alma.

Roxanne Ryder riu do eufemismo da amiga.

—Como diria minha querida Coco Chanel, tudo que uma mulher precisa na vida é de um vestido preto e um homem que a ame.

—Então talvez você consiga ser uma mulher pela metade! – brincou Janine enquanto ela e Roxie entravam pela porta de mais uma boutique. Era menor se comparada às outras, mas com certeza possuía a mesma elegância.

Por mais que tivesse sido cansativo percorrer quase todo City Stars Mall em apenas um dia, as amigas tinham passado uma tarde divertidíssima juntas no imenso shopping center.

Servir de manequim por horas a fio certamente não era a atividade favorita de Janine, mas ter Roxie ao seu lado deixava tudo mais animado.

—Está vendo só! Quer dizer que você já passou na minha frente, já tem o vestido e o homem.

—Como assim? – a ruiva perguntou, levantando a cabeça e deixando de examinar os vestidos de gala.

Roxie deu uma risadinha e mordeu o lábio.

—Você sabe muito bem de quem estou falando... O príncipe do restaurante!

Janine tinha feito seu melhor desde que acordara para não se lembrar de seu perseguidor. Fora tola se pensara que Roxanne deixaria passar batido a oportunidade de lhe arranjar um namorado.

Riu da maneira que a amiga chamou Ibrahim. Se esquecesse as roupas caríssimas e berrantes que ele usava, não havia nada nele que lembrasse um príncipe. Ele simplesmente não fazia o tipo.

—Ah, claro, Ibrahim... Acho que você quis dizer perseguidor do restaurante.

Roxanne ficou ofendida por ele.

—Não o chame de perseguidor! Você só o viu uma vez e... – ela deixou a frase no ar e seus olhos se arregalaram enquanto percebia algo de extrema importância – Como sabe que o nome dele é Ibrahim?

—Ah... – Janine tentou desviar os olhos, sem graça – Nós meio que nos encontramos mais tarde na porta do restaurante, quando vocês já tinham ido embora...

Ela corou, sem entender o porquê. Simplesmente não se sentia à vontade falando sobre seu encontro, como se tivesse feito algo errado. Tal sentimento não fazia o mínimo sentido, mas era excitante.

Roxanne não notou o embaraço da amiga. Estava ocupada demais ficando furiosa por não ter ficado sabendo disso antes. Ou talvez porque percebera que tinha perdido o posto de Sherlock Holmes.

—E você não achou que era importante me contar isso? Jenny, eu sou sua melhor amiga! Nós tínhamos um toque especial na Academia!

Janine não fazia ideia da relevância que um toquinho criado por duas garotas de quinze anos pudesse ter naquela história, mas não teve a oportunidade de argumentar. Roxanne continuava sua perfeita encenação de rainha do drama.

—Eu sempre ajudei você a conseguir os meninos mais lindos e agora que tem um cara simplesmente... – Roxanne parou a frase subitamente pela segunda vez naquele dia.

Seus olhos escuros se arregalaram e Janine pensou que ela tivesse se lembrado de mais uma omissão sua. Como dez segundos se passaram sem que Roxie demonstrasse qualquer tipo de reação, Jenny tentou acordá-la de seu transe estalando os dedos à sua frente.

Roxanne empurrou sua mão para longe enquanto dizia com a voz maravilhada:

—É esse, Jenny! Finalmente achei! Esse é o vestido da minha vida!

Ela saiu em disparada para o outro lado da loja e Janine a seguiu com o olhar. Roxanne pegou um cabide e sem deixá-la olhar melhor, trancou-se em um dos provadores.

Suspirando, Jenny sentou-se em um pufe roxo em frente a um grande espelho. Menos de cinco minutos depois, uma Roxie simplesmente radiante parou à sua frente usando um lindo vestido longo de cetim vermelho.

—Não é perfeito? – ela riu e deu uma voltinha.

O vestido tinha a cintura alta e descia solto pelo corpo, vestindo Roxanne perfeitamente. Tinha também alças largas, sem mangas e um decote que a liberal Roxanne chamaria de ‘‘aceitável’’. No entanto, estava tão maravilhada que nem argumentou que seria interessante ter um pouquinho mais de pele à mostra.

—Você está linda! – Janine disse com sinceridade. Segurou sua mão e a girou mais uma vez, entrando na brincadeira.

A morena virou-se ainda rindo, parando de frente para o espelho. Para Janine, seu sorriso era um milhão de vezes mais encantador que o vestido. Fazia tempo que não a via gargalhar tanto.

—Mas, Roxie, isso custa uma fortuna! – ela disse, sem pensar. Estava assustada demais ao espiar o preço na etiqueta.

—E quem liga? – ela desdenhou – Finalmente encontrei minha alma gêmea!

Enquanto esperava que Roxanne tirasse o vestido e pagasse por ele, Janine procurava alguma coisa para usar. Começava a ficar com saudades do pretinho básico da Chanel.

—Jenny! – a amiga gritou do outro lado da loja. Continuava extremamente animada por sua incrível compra – Achei um para você!

A ruiva ficou simplesmente boquiaberta. Era exatamente aquilo que estava procurando.

—Meu Deus, isso vai fazer seus olhos ficarem mil vezes mais azuis! Anda, pode comprar.

—Roxanne, você viu o preço disso? Aqui não tem nada que valha menos de mil dólares?

A morena deu-lhe um olhar cortante.

—Eu não estou dando uma sugestão. Você vai comprar o vestido. Isso é uma ordem. Juro que não perdoo você se não comprar.

—Roxie...

A amiga cruzou os braços em frente ao peito, impassível.

—Eu estou falando sério, Jenny. Até esqueço aquela história de você se encontrando com o príncipe do deserto às escondidas.

Janine suspirou e correu as mãos pelo tecido. Era simplesmente divino.

—Acho que não faz mal experimentar.

A peça lhe serviu com uma luva, encaixando-se perfeitamente ao seu corpo.

—Uau! –Roxanne ficou de queixo saído quando a viu sair do provador – Dê uma voltinha! Você está linda como uma princesa, Jenny. Diga que vai levar, por favor!

Janine suspirou mais uma vez. Estava completamente dividida entre ser financeiramente responsável ou assumir aquele gasto gigantesco.

—Você sabe é um desperdício gastar todo o dinheiro que economizo há anos em uma única compra, não sabe?

—Não vou nem me dar ao trabalho de discutir. Sei que não vai ser trouxa o suficiente para não comprar.

Seu coração estava apertado quando tirou o vestido e o entregou para Roxanne. Pegando o cartão de crédito na bolsa, virou o rosto ao dá-lo à amiga.

—Você paga. Não tenho coragem.

A outra ainda tentou consolá-la.

—Vai dar tudo certo. Você sabe que está fazendo a coisa certa.

Fazendo uma careta, insistiu.

—Cale a boca e pegue meu dinheiro, Roxie.

A amiga riu e Janine tentou conter a vontade de dar pulinhos que crescia dentro dela. Se pensasse bem, o mais lógico era que ficasse triste. Ela era oficialmente pobre agora.

Enquanto ela e Roxie faziam o caminho até a porta do shopping, fazendo seu melhor para carregar quase uma dezena de sacolas, pegou-se imaginando qual seria a reação de Ibrahim quando a visse usando seu novo vestido na festa.

Repreendeu-se mentalmente pelo pensamento ridículo. De que lhe importava a opinião daquele homem?

Quando passavam ao lado de uma sorveteria decorada em tons de rosa e verde chiclete, Roxanne segurou seu braço. Seus olhos escuros brilhavam e ela tinha uma expressão de criança travessa.

—Jenny... Sorvete.

—Ah, nem pensar! Roxanne Rose Ryder, já gastamos todo o dinheiro a que tínhamos direito nessa vida.

Contrariada, a morena fez um biquinho e começou a enumerar seus argumentos contando nos dedos.

—Primeiro, não me chame pelo meu nome do meio. Segundo, eles têm sorvete azul.

Arregalando os olhos tanto quanto possível, Janine tentou argumentar contra.

—Você está blefando. Os egípcios não têm nem liberdade de expressão. Como quer que eu acredite que têm sorvete de chiclete?

—Não imaginei que pudesse ter tanto preconceito nesse coraçãozinho, Hathaway. O sorvete é só uma compensação governamental por não terem o direito de se expressar. E se quiser, pode até checar os sabores.

Janine logo descobriu que não valia a pena contrariar a lógica de Roxanne. Aquela sorveteria realmente tinha sorvete azul.

Ela sorriu, agradecida por não ter nascido mãe de Roxie. Estaria condenada a concordar com todas as idéias e desejos da morena para sempre.

—Você paga. –a amiga avisou enquanto olhava com paixão seu sorvete de morango e chocolate.

—Por que eu? A idéia do sorvete foi sua!

—Porque, depois das compras de hoje, vou ser obrigada a reduzir minha dieta a pão e água pelos próximos dez anos.

Janine simplesmente deu de ombros; não estava com humor para brigar. Duas bolas de sorvete de chiclete com casquinha tinham esse poder sobre ela.

—E eu não vou? Meu vestido era mais caro que o seu.

—Você tem um príncipe do deserto só seu. Peça para ele comprar seu caviar e vinho importado.

—O que? Você sabe que detesto caviar! – respondeu rindo.

—Pode ser foie de gras, tanto faz. Você é a princesinha, não eu.

Janine revirou os olhos e decidiu entrar de vez na brincadeira de Roxanne.

—Admita que só está com ciúmes porque eu tenho um príncipe e você não.

—Ah, agora sou um príncipe? Pensei que me parecesse mais com perseguidor.

Ibrahim Mazur encontrava-se em pé com as mãos nos bolsos, atrás da mesa delas, em toda a sua pose elegantemente descontraída.

As reações de Janine e Roxanne à sua aparição repentina foram totalmente opostas: a última desatou a gargalhar enquanto a primeira deu um grito de espanto. Isso só serviu para aumentar a risada de Roxie e fazer com que Ibrahim se juntasse a ela.

—Por favor, perdoe minha amiga por ser tão escandalosa. –a morena abriu a Ibrahim seu melhor sorriso e estendeu-lhe a mão – Sou Roxanne Ryder, penso que deve se lembrar de mim do Sabaya. É um prazer finalmente conhecê-lo.

—Minha querida, seria impossível me esquecer de uma mulher tão bonita. Ibrahim Mazur, o príncipe perseguidor. – como de costume, ele apertou a mão de Roxie e então a beijou.

Recuperada do susto, Jenny não pôde deixar esse gesto passar despercebido. Ela sabia que Ibrahim não estava tentando conquistar sua amiga: ele simplesmente tinha aquele jeito naturalmente bajulador com as mulheres.

—Não vai convidar seu namorado para se sentar, Jenny? – Roxie lançou-lhe um olhar provocativo.

Ibrahim não precisou de outro incentivo, puxou uma cadeira e sentou-se ao lado de Roxanne e de frente para Janine. Com uma sobrancelha levantada, ele dirigiu-se à ruiva.

—Jenny... Como em Jennifer Hathaway?

Ela o olhou aborrecida pelo erro tão grave com seu nome.

—Como em Janine Hathaway. – ela enfatizou.

—Está vendo só? Já estamos progredindo, agora sei seu primeiro nome e seu apelido. – ele piscou.

Roxanne parecia surpresa.

—Como assim? Ela não quis dizer nem o primeiro nome?

—E quase me obrigou a chamá-la pelo título. – para Roxanne, Ibrahim lançou um olhar sentido de cachorrinho abandonado. Para Janine, seus olhos eram maliciosos.

Roxie estava obviamente torcendo para deixar os dois juntos e essa seria a perfeita oportunidade do homem vingar-se da falta de espírito esportivo da ruiva no dia anterior.

—Isso não é verdade! – ela bradou. Mas para sua infelicidade, a amiga nem a ouvia mais. Com uma mistura de confusão e desapontamento no rosto, alternava o olhar entre os dois colegas de mesa.

—Que tipo de encontro foi esse, afinal? Vocês não conseguiram ter sequer um momento interessante para me contar?

—Para você ter uma noção, o ponto alto da nossa escapada romântica foi quando fomos atacados por um Strigoi. – Ibrahim continuou pondo mais lenha na fogueira.

Janine pensou que talvez conseguisse desviar a atenção de Roxie pelo fato de vampiros do mal estarem rondando o Cairo e terem atacado sua melhor amiga; mas ela levou a conversa para outro lado.

 -Ah, Jenny... Por que sempre acaba misturando sua vida pessoal com o trabalho?  Você sabe que isso destrói um relacionamento.

Relacionamento? Não existe qualquer relacionamento entre nós! – seu rosto ficou tão vermelho quanto seu cabelo e ela gesticulou apontando para Ibrahim e para si mesma.

Para seu desespero, ele ainda não havia terminado sua tentativa de enlouquecê-la.

—Isso é porque você sempre dificulta as coisas, Ruiva. Poderíamos ser um casal de tirar o fôlego.

Ela deu-lhe uma risada sarcástica.

—Senhor Mazur, acredite, eu não vejo qualquer possibilidade de nós dois virmos a ser um casal. Eu jamais me envolveria com um homem que usa roupas tão bizarras.

—Ora, isso é fácil! Peça que ele tire a roupa! – Roxanne tentou fazer sua péssima idéia ser ouvida, mas não obteve qualquer êxito. 

Janine e Ibrahim encaravam-se como se não houvesse mais nada para ver no mundo. Tanto nos olhos azuis quanto nos negros havia fogo. Estavam prestes a começar uma batalha de farpas e Janine já havia tocado no ponto fraco do homem: seu estilo.

—Acho que eu tenho o direito de usar a roupa que me convir, não é mesmo?

—O seu direito de usar uma camisa verde chiclete acaba quando começam os direitos do meu olho. Mas, dessa vez, você pelo menos está combinado com o lugar. Talvez devesse desistir da carreira de conquistador barato e tornar-se sorveteiro.

Roxanne ensaiou uma risada, mas calou-se sob o olhar de Ibrahim. Por coincidência, o tom de sua camisa era o mesmo das paredes berrantes da pequena sorveteria. Podia muito bem passar-se por atendente.

—Não importa que você não me queira pelas minhas roupas. Eu nunca daria uma chance a alguém que toma sorvete com gosto de pasta de dente infantil. Sabe-se lá as outras manias estranhas que a pessoa deve ter. Hoje, você fica irritada e mexe no cabelo; amanhã está comendo plástico ou enchimento de sofá.

—Nada nesse mundo se compara a ficar perseguindo garotas inocentes por aí e testando qual o limite da paciência delas. Você conseguiu me deixar tão apavorada que cheguei a pesquisar se havia algum caso de desaparecimento de garotas ruivas nos arredores do Cairo.

Ele riu e uma parte do seu bom humor pareceu estar de volta.

—Então creio que sua pesquisa tenha sido totalmente em vão. Caso não se lembre, o meu tipo são garotas caretas que vestem-se como se estivessem indo para um funeral.

Janine contraiu os lábios, profundamente ofendida. No entanto, não se deixou abater e ainda retrucou:

—Quer dizer que, além de um psicopata de carteirinha, o senhor ainda é um belo mentiroso. Ainda ontem me disse que eu não era careta.

—Minha querida Janine, é óbvio que eu minto. O que mais você esperaria de um mero conquistador barato? – ele piscou.

—Esperaria que tivesse mais bom gosto para cachecóis, pelo menos.

O golpe de Janine fora baixo e ela sabia disso. O sorriso de Ibrahim esvaiu-se completamente e ao falar novamente, sua voz estava baixa e completamente séria.

—Não faça piadas com o cachecol.

A reação dele fora pior dessa vez que no dia anterior. Com certeza havia levado novamente para o lado pessoal e visto a alfinetada como uma agressão direta à sua família.

—Eu gosto do seu cachecol. – comentou Roxie alegremente, não notando a tensão que se instalara entre Janine e Ibrahim.

Ele sorriu e fez-lhe um aceno com a cabeça:

—Obrigado, minha querida. – quinze segundos constrangedores de silêncio se seguiram antes que Ibrahim se levantasse e retomasse a postura descontraída de antes – Bem, sinto já ter tomado muito do seu tempo. Se me derem licença, tenho negócios a tratar agora às quatro horas.

Estendeu a mão para a guardiã ao seu lado:

—Senhorita Roxanne, foi um prazer conhecê-la.

—O prazer foi todo meu. Ah, e pode me chamar de Roxie. – ela apertou a mão dele e retribuiu o sorriso.

Virando-se para a ruiva, limitou-se a um aceno de cabeça:

Guardiã Hathaway. – sua voz era perfeitamente polida, mas fria.

Janine sinceramente não conseguia entender qual era o problema do cachecol. Apesar disso, sentia-se mal por ter feito o comentário infeliz que desencadeara toda aquela série de reações estranhas de Ibrahim.

 Ele tinha realmente todo o direito de ter uma relação sentimental estranha com aquele pedaço de caxemira e já havia pedido a ela que não brincasse com isso.

Um momento de silêncio se passou entre as amigas depois que ele saiu. Janine permanecia com o olhar fixo no nada e tomando uma resolução, engoliu o último pedaço da casquinha do seu sorvete e levantou-se.

—Ei, aonde você vai? – um instante depois de ter feito a pergunta, Roxanne já adivinhara a resposta.

Não foi nem um pouco difícil avistar Ibrahim caminhando poucos metros a sua frente. Ironicamente, tinha que agradecer à camisa verde chiclete por isso.

Com passos largos, Janine logo o alcançou.

—Ei, Ibrahim!

Visivelmente surpreso, ele virou-se e baixou os olhos para ela.

—Algo errado?

—Eu... – ela suspirou, tentando deixar seu enorme orgulho de ferro de lado por cinco minutos – Queria me desculpar.

Ele fez seu melhor para controlar um sorrisinho de deboche.

—É mesmo? Pelo que exatamente?

Ela mordeu o lábio, disposta a levar aquilo até o fim. Ele realmente estava magoado, do contrário, não dificultaria tanto as coisas.

—Por ter feito piada do seu cachecol de novo, mesmo você tendo deixado claro ontem que não gostava disso. Não é minha intenção ofender você ou sua família. Eu... Só não queria deixar que a última palavra fosse sua. Sinto muito, fui ridícula.

Seu sorriso tornou-se brando e ele relaxou sua postura defensiva.

—Tudo bem, eu entendo. Acho que, feliz ou infelizmente, somos orgulhosos na mesma medida. Também não gosto de deixar a outra pessoa dar a última palavra numa discussão.

—Eu notei. – ela observou rindo. – E prometo não tocar nesse assunto de novo.

Jenny já se sentia confortável na presença dele de novo, e isso era ainda melhor que suas discussões e indiretas.

—Bem, minha querida, fico feliz que estejamos entendidos, mas realmente tenho uma reunião daqui a pouco. – a voz dele soava um tanto triste por ter que partir.

Balançando a cabeça, ela deu um passo atrás.

—Ah, claro. Não quero atrasar você para os seus negócios ultrassecretos do clube dos perseguidores.

Ele riu da piada e deu um passo na direção dela. Alguns momentos se passaram sem que nenhum dos dois fizesse qualquer coisa além de observarem-se.

Janine não sabia se um aperto de mãos seria o mais correto naquela despedida. Para ela, seria um pouco frio demais. Para esconder suas dúvidas, preencheu o silêncio com outra pergunta:

—Vejo você no casamento, então?

Ele lhe deu um sorriso malicioso que fez com que seu corpo se arrepiasse. Estava perto demais. Para sua surpresa, ele passou uma mão por trás de sua cabeça e puxou o prendedor de borboleta que segurava seu coque.

Uma cascata ondulada de cabelos ruivos caiu sobre os ombros de Janine, completamente sem reação. Com a outra mão, Ibrahim correu os dedos por uma mecha teimosa que tinha caído sobre o rosto da guardiã, colocando-a com cuidado atrás da orelha dela.

Então segurou suas mãos e colocou o pequeno prendedor entre elas.

—Tenho um pressentimento de que nos veremos muito em breve, guardiã Hathaway. E costumo sempre acertar nessas questões sobrenaturais.

Ele sorriu e piscou, então deu meia volta. A guardiã baixou os olhos lentamente para a borboletinha prateada em suas mãos.

—Ah, Janine!

Rapidamente levantou os olhos ao ouvir Ibrahim usar seu primeiro nome. O sotaque dele fazia com que ficasse mais bonito.

 -Eu não menti para você ontem. Não acho que seja careta.

A confissão serviu para fazer seu rosto retomar um pouco da cor e um sorriso genuíno aparecer em seus lábios.

—Sei disso.

Os sorrisos dos dois se encontraram e então a camisa verde chiclete finalmente sumiu em meio à multidão.

—Jenny, o que foi isso? – Roxie puxou seu ombro por trás, visivelmente preocupada e cansada sob o peso das sacolas de compras das duas amigas.

—Eu... Precisava dizer uma coisa ao meu perseguidor. – ela respondeu baixinho e sorrindo. Só agora percebia o quanto suas mãos estavam geladas.

Roxanne abriu um sorrisinho malicioso.

—Pode dar a desculpa que quiser, sei que só fez essa saída dramática atrás do príncipe porque não queria pagar a conta.

Janine riu, pelo menos tinha conseguido fugir dessa.

—Você realmente pagou pelos sorvetes? Puxa, Roxie, eu fico te devendo essa.

Roxanne negou veemente com a cabeça.

—Nada disso, não fica me devendo nada. Considere isso como seu presente de aniversário. – o comentário só serviu para arrancar mais gargalhadas da ruiva.

Apesar, ou talvez por causa dos encontros dessa tarde, estava com ótimo humor.

Enquanto as duas saíam para a tarde ensolarada, Roxie passou um braço sobre seu ombro. 

—Sabe de uma coisa, Ruiva? Tanto no quesito de vestidos quanto no de homens, Coco Chanel deveria ficar com inveja de você.

Meio sem querer, Jenny pensou com um sorriso que talvez Roxanne tivesse razão. 


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Notas finais do capítulo

Só pra deixar claro, vocês terão a descrição completa do vestido no dia da festa. Aguardem. :v
Espero que tenham curtido. :))
Até semana que vem.
Kisses!



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