No light, no light escrita por I like Chopin


Capítulo 12
Trinta degraus separam o Céu e o Inferno


Notas iniciais do capítulo

OI, GENTEEEE.
Então, eu to é mega atrasada. (Mas perdoa e não desiste de mim ♥)
LEVANTA A MÃO QUEM TÁ DE FÉRIAS. UHUUUUUL!
Então, vai dar pra manter o ritmo mto mais fácil agora. ♥
Eu amo, amo esse capítulo e espero que vocês não me matem. :3



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—Como eu já disse, sou romântica como um cacto. Mas a cerimônia realmente foi linda. – confessou Roxie quando, ao subir ao terraço para a troca de turnos, Janine lhe perguntara como tinha sido o casamento.

A ruiva riu ao ver Roxanne secando uma lágrima imaginária.

—E como está a situação lá em baixo? – perguntou em seguida.

—Bem chata. – a morena deu de ombros – Os Moroi foram jantar agora, então está tudo bastante parado. E aqui em cima?

—Igualmente entediante. – depois abaixou a voz para que os outros guardiões não pudessem ouvi-la – Mas você tem sorte de não ter caído num turno junto com Stan e Hans. Acho que a noiva deve ter algo contra a minha pessoa.

—Ah, meus dois colegas são adolescentes que acabaram de sair da Academia, completamente deslumbrados com a capacidade que pensam ter. Estão todos se achando capazes de matar cinqüenta Strigoi de uma vez só.  – pensou um pouco e acrescentou – Com os olhos fechados. E em uma perna só.

—Conheço bem o tipo. Mas você dá conta do recado, Roxie. – ela piscou.

—Claro. – quando a amiga abria a porta do terraço para descer pelas escadas de serviço, gritou com um sorriso – Ah, é mesmo! Dê uma passadinha na cozinha depois. Os garçons estão fazendo pratadas generosas aos guardiões de plantão. Só comida de primeira.

—Não vou me esquecer. – ela acenou e fechou a porta atrás de si.

O prédio no qual tinha acontecido a cerimônia de casamento de Hathor e Claire era o tipo de lugar em que não só a comida era de primeira, como também cada detalhe do ambiente. Tinha três andares, além do subsolo e do terraço.

O subsolo funcionava como garagem; no primeiro andar acontecera a cerimônia do casamento e agora, a recepção; no segundo, havia as cozinhas; no terceiro, salas administrativas e logo acima, o terraço.

O lugar tinha sido especialmente cedido para a ocasião por ninguém menos que Ibrahim Mazur.

Ao chegar ao primeiro andar, constatou que a decoração estava próxima à da noite anterior: havia milhares de pequeninas luzes no teto, a mesma banda tocando sobre um palco, rosas brancas em vasos de cristal sobre as mesas com toalhas rendadas.

Essa era a parte coberta do lugar, onde alguns Moroi dançavam e outros desfrutavam de um ‘‘jantar de primeira’’, como diria Roxie. Enormes portas de vidro do lado esquerdo do salão abriam-se para a parte externa do prédio.

Um gramado impecável, ciprestes idênticos uns aos outros e até mesmo um pequeno lago artificial com peixes de verdade formavam um cenário de beleza forçosamente maquiada.

E foi acercando-se dessas portas que Janine viu um menininho que, inclinado sobre o lago, remexia com a mãozinha na água.

Rapidamente foi até ele, segurando-o pela cintura e impedindo no último minuto que escorregasse para dentro da água.

—Ei, você precisa ter cuidado! – avisou enquanto o punha de pé e o observava com olhos atentos, procurando algum ferimento.

—Eu quelia pegar o peixinho. – o garotinho defendeu-se, um tanto magoado com a bronca e a interrupção da sua brincadeira.

Janine suspirou. Por que crianças eram tão teimosas?

—Eu sei, mas você podia ter caído na água.

Agachada para conseguir ficar mais ou menos na sua altura, olhou bem para o menino à sua frente. Ele era um pequeno Moroi, com cabelo castanho e grandes olhos familiarmente verdes. Estava bem vestido, apesar de ter os joelhos da calça social sujos de barro.

—Qual é o seu nome? – perguntou.

Adlian. – ele respondeu com um sorrisinho.

Janine presumiu que, no seu idioma particular de criança, isso quisesse dizer ‘‘Adrian’’.

—E quantos aninhos você tem, Adrian? – agora que ele não estava mais fazendo birra, conversar com ele tornara-se até divertido.

O menino levantou três dedinhos da mão direita.

—Três anos? – colocou no rosto uma expressão surpresa – Já está um mocinho, não é mesmo?

Adrian sorriu com satisfação ao ser chamado de ‘‘mocinho’’.

—E você sabe onde está sua mamãe? – ela voltou a perguntar.

Ao mesmo tempo em que ele fazia que não com a cabeça, ouviu-se o grito de uma mulher que se aproximava rapidamente para o lago:

—Adrian! – a moça, mesmo de saltos altos, agachou-se e pegou o garotinho no colo, falando sem parar – Meu Deus, eu não posso deixar você com o seu pai nem por um segundo que ele já perde você! Eu não disse para você não vir aqui fora sozinho?

Ao mesmo tempo em que ralhava com o filho, o abraçava com força e cobria seu rostinho de beijos. Atônita, Janine pôs-se de pé.

—Muito, muito obrigada por ter encontrado meu filho...

Pela primeira vez, a Moroi e dampira se olharam.

A mãe de Adrian era ninguém menos que Daniella Ivashkov.

—Guardiã Hathaway. – a frase fora uma mistura de surpresa, pergunta e incredibilidade.

—Lady Ivashkov. – a ruiva respondeu, tão ou mais atônita que a própria Moroi.

—Eu não sabia que você estava no Cairo. – comentou Daniella, salientando o óbvio.

—Posso dizer o mesmo.  – respondeu automaticamente.

—Você... Está trabalhando para algum Moroi atualmente? – ela ainda tinha uma ruga de dúvida entre as sobrancelhas.

—Sou guardiã da família de Kyle Badica. – sorrindo com orgulho, pela primeira vez pensou que essa informação pudesse ser útil em alguma coisa, nem que fosse para esfregar na cara de Daniella que os Ivashkov não tinham conseguido derrubá-la.

—Um Moroi da realeza! – sem êxito em esconder sua surpresa, pigarreou antes de continuar – Bem, fico realmente muito feliz por você, Janine.

E a guardiã podia sentir que ela falava a verdade. Os olhos azuis esverdeados de Daniella não mentiam.

Mas, mesmo tendo certeza de sua honestidade, não entendia a raiva que se acendera nela, forte e duradoura. Sempre pensara que fosse maior que todas as intrigas daquela família, mas aparentemente o ódio nela esteve apenas adormecido durante todo aquele tempo.

 -Obrigada de novo por ter encontrado o Adrian. – ela deu um sorriso fraco antes de se despedir e voltar para a festa, quase tão rapidamente quanto aparecera. Jenny conseguiu ouvi-la falando com filho com a voz mansa: ‘‘Vem, Adrian... Vamos achar o papai. ’’

O menino, abraçado ao pescoço da mãe, acenou com a mãozinha para a guardiã.

Parada ao lado do lago, Janine permanecia totalmente sem reação enquanto absorvia a notícia. Os Ivashkov estavam no casamento.

‘‘Bem, era óbvio que estariam!’’ Repreendeu-se mentalmente por não ter pensado nisso antes. Eles eram, sem sombra de dúvida, a família real mais influente naqueles dias. Se não os encontrara no dia anterior, tinha sido apenas uma questão de sorte.

Sorte esta que parecia ter recentemente se voltado contra ela.

Mecanicamente, deixou que suas pernas a conduzissem para longe da noite, onde seus pensamentos a flagelavam o tempo todo, para o meio das pessoas no salão.

Mal sentiu quando um homem esbarrou contra ela, só se dando conta do fato quando ele começara já a pedir desculpas.

—Janine?! – o homem perguntou, com o mesmo tom de surpresa misturado a constrangimento que ouvira na voz de Daniella Ivashkov.        

Encarando o Moroi, reprimiu um palavrão.

—Nathan!

Lord Ivashkov, marido de Daniella, tinha uma expressão confusa no rosto que era ridiculamente parecida com a da mulher.

—Eu não sabia...

—Que eu estava no Cairo? Pois é, estou. Daniella disse exatamente a mesma coisa. – ela riu com nervosismo.

Ótimo. Agora sua crise de nervos tinha feito com que passasse de ‘‘muda’’ para ‘‘tagarela incansável’’ em um minuto. 

—Você viu Daniella?

—Sim, ela e Adrian estavam procurando por você.

—Ah, claro, claro... Aquele menino não para quieto um minuto. – riu também, sem saber o que dizer. – Bem, acho que deveria tentar encontrá-los. Foi bom vê-la, guardiã Hathaway.

—Nathan.  –ela chamou antes que ele se afastasse muito, em um ato corajoso de precaução – Seu irmão está aqui?

Com medo da resposta, permitiu-se respirar um pouco quando Nathan Ivashkov finalmente respondeu:

—Não, Randy não veio. Ele tinha... Bem, negócios a tratar na Rússia.

Janine Hathaway sabia exatamente qual era o único tipo de ‘‘negócios’’ que interessavam a Randall Ivashkov.

Enojada, e, talvez, um pouco aliviada, deixou com que suas pernas a conduzissem inconscientemente para o banheiro feminino.

Só naquele momento, ao ver o sangue nas palmas das mãos, foi que percebeu que estivera o tempo todo com as unhas enterradas na pele. Abriu a torneira e jogou copiosamente água fria no rosto, tentando lutar contra a vontade de vomitar.

—Os Ivashkov estão aqui. – a frase dita para si mesma em voz alta pela primeira vez dava um ar ainda mais aterrorizante ao fato.

Dentro de uma das cabines, a única ocupada, alguém deu a descarga. Com os olhos fixos no espelho, Janine viu num desespero mudo a porta se abrir e Tatiana Ivashkov sair ajeitando o vestido verde.

—Bem, isso é um tanto constrangedor. – a Moroi comentou enquanto, sem alterar a expressão do rosto, aproximou-se de uma das pias para lavar as mãos.

Janine abaixou a cabeça rapidamente e murmurou um ‘‘Lady Ivashkov’’ um tanto assustado.

—Dispenso suas formalidades, Janine. –um gesto de desprezo com a mão fez pingar água no banheiro.  – Devo confessar, fiquei surpresa por vê-la no Cairo.

‘‘Aparentemente, essa é a frase da noite’’, a ruiva pensou cruzando os braços em frente ao peito.

—É bom encontrá-la também, Lady Ivashkov. Boa noite. – respondeu com cinismo, pronta para sumir novamente.

Mas Tatiana Ivashkov já secava as mãos e não parecia disposta a deixá-la ir tão fácil.

—Ainda não acabei de falar com você, Guardiã.

Janine rodou nos calcanhares, ficando novamente de frente para a Moroi. Seus olhos brilhavam com ódio.

—Sabe, é uma pena que Kyle Badica nunca tenha sido tão atento à escolha de seus guardiões quanto deveria ser. Eu tentei alertá-lo sobre o perigo que seria contratar você, mas aquela Petrova parece realmente ter feito a cabeça dele. A sorte dele, na verdade, é que o filho seja um rapaz tão responsável e comprometido com a família.

Janine não entendia por que Tatiana estava tão disposta a ser cruel com ela. Aquela mulher horrorosa já não havia feito o bastante?

—Ainda bem que isso não é problema seu, não é mesmo? – perguntou com raiva.

—Estou tentando ajudar, Janine. – ela suspirou como a professora de algum aluno bagunceiro – Mas parece que você simplesmente não aprende.

—Do que é que está falando? – estava sem paciência alguma para brincadeiras.

—Tenho certeza de que você ainda não se esqueceu do que se passou quando se envolveu com meu sobrinho. Então por que está repetindo o mesmo erro com Ibrahim Mazur?

Janine estava sem palavras diante de tal discurso. Riu sarcástica antes de praticamente cuspir a reposta como se fosse veneno:

O que? Eu não me envolvi com o seu sobrinho desprezível! Ele tentou me estuprar! Ele me drogou e tentou beber do meu sangue!

Tatiana inspirou profundamente, massageando um ponto acima da sobrancelha direita. Exatamente o mesmo ponto onde Janine costumava ter suas dores de cabeça.

—Eu sei como Randall é, Janine, não vou negar. Mas não finja que não lhe deu todos os motivos para agir assim. Todos sabem como eram suas relações com os Moroi na Corte.  – impedindo que ela tivesse tempo de se defender, aumentou a voz para se fazer ser ouvida – E eu conheço Mazur há bastante tempo. Vi vocês dois juntos ontem, e só há duas explicações possíveis para a maneira com que ele vem agindo: ou ele não sabe sobre seu passado, ou sabe e também quer se aproveitar de você. Então sugiro que fique longe dele, para o seu próprio bem.

Janine encarou os olhos verdes daquela mulher que tanto odiava e que tanto fizera para destruir sua imagem a fim de preservar o nome de sua família. Com a voz surpreendentemente baixa, disse simplesmente:

—Você não me conhece. Você não conhece Ibrahim. E não tem o direito de nos julgar.

Dessa vez, virou-se e realmente saiu do banheiro sem olhar para trás. Com o coração acelerado e a boca amarga, procurava na multidão por um certo príncipe perseguidor.

Precisava provar a si mesma que Tatiana estava errada. Não entendia por que, mas sentia que também precisava de Ibrahim Mazur.

E como se soubesse que ela estava à sua procura, Janine o encontrou sozinho perto das portas de vidro do salão. Estava pronto para partir.

—Já vai? – ela perguntou, aparecendo repentinamente ao seu lado.

Ele sorriu ao vê-la.

—A festa até que está boa, mas tenho muito que organizar para amanhã. – ele fez uma pausa e sua expressão tornou-se séria – Janine, você está bem?

Ele aproximou a mão do rosto dela, mas ela se afastou rapidamente. Levou sua própria mão gelada à testa, tendo consciência do quão pálida deveria estar.

—Eu preciso falar com você. – ela avisou sem rodeios e com o corpo ainda elétrico – Em particular.

Ele riu e concordou.

—Claro. Tudo que minha garota quiser.

Ela não teve reação alguma à brincadeira, boa ou ruim; e foi quando Ibrahim começou a perceber que alguma coisa deveria estar terrivelmente errada.

—Vamos ao meu escritório. – ele sugeriu, agora também sério.

Andando na frente dela, subiram juntos as escadas de serviço até o terceiro andar.

Ele abriu a porta da maior sala e esperou que a guardiã entrasse para fechá-la novamente.

Todo o andar estava deserto, e nenhum dos dois tomou qualquer iniciativa para acender as lâmpadas. O luar que entrava pela janela já fornecia claridade suficiente.

Ibrahim encostou-se a mesa de madeira que se encontrava ao lado oposto à porta, jogando o paletó em cima de uma poltrona.

Os olhos de Janine passeavam pelo cômodo, indo das prateleiras cheias de livros para o chão polido sem nunca cessar.

—Sala legal. – ela comentou após alguns segundos.

—Janine. – a voz de Ibrahim era firme – O que está acontecendo?

Ela finalmente se aquietou, encostando-se à parede e fixando os olhos azuis nele:

—Os Ivashkov estão aqui. – ela disse.

Era a segunda vez que repetia a frase; e agora sua voz estava baixa e calma, quase um sussurro. O desespero inicial havia passado.

Ela estava com Ibrahim, não havia mais perigo.

—Eu sei.  –ele respondeu calmamente.

—Eu não gosto deles. – ela completou no mesmo tom.

Ibrahim permitiu-se um sorriso leve:

—Particularmente, eu também não.

Janine suspirou e só então se lembrou de desamarrar o cabelo para dissipar o estresse.

—Você não entende.

—O que eu não entendo? – ele tentou incentivá-la a falar.

—Eles tentaram me destruir.  – ela disse em voz baixa. – Eles mancharam minha reputação e quase acabaram com a minha carreira para proteger a imagem da família.

Abaixou a cabeça, sentindo-se envergonhada.

—Como assim? – a voz dele chegou até ela fraca, como se estivesse muito longe.

—Depois que eu me formei, fui trabalhar como Guardiã na Corte. E, meu Deus, fiz coisas tremendamente estúpidas. – ela cobriu o rosto com as mãos por alguns segundos antes de continuar – Os Moroi me idolatravam, sabe? E eu deixei isso me subir à cabeça.

Tomando coragem, encarou Ibrahim nos olhos. Queria ver qual seria a reação dele ao que confessaria em seguida.

—Eu deixei que esses Moroi bebessem do meu sangue. Aconteceu só durante algumas festas, mas mesmo assim, isso começou a se espalhar entre nós, os mais jovens. Eu fiquei muito assustada e tomei consciência do quanto estava sendo irresponsável e ridícula. – novamente, ela suspirou – Decidi parar antes que fosse tarde demais e prejudicasse realmente o meu trabalho. E um dia, Randall Ivashkov apareceu me desejando para prostituta de sangue. Eu neguei, então ele simplesmente me drogou em uma festa e se juntou com mais três amigos para tentar me estuprar e beber meu sangue.

Ela respirou profundamente várias vezes antes de continuar. Ibrahim permanecia calado.

—Um guardião os viu e impediu que eles conseguissem o que queriam. Ele apresentou o caso à rainha Ekaterina e então Tatiana Ivashkov abriu um processo contra mim por difamar o sobrinho dela. Ela afirmou a toda a Corte Moroi que eu não era nada além de uma prostituta de sangue e destruiu minha carreira. Só consegui voltar a trabalhar por intermédio da Guardiã Petrova, da Academia São Vladimir. E é por isso que odeio os Ivashkov.

Abe olhava para baixo, sem dizer nada. Por fim, suspirou e encarou a ruiva à sua frente.

—Eu já sabia. Só imaginava quando você fosse confiar em mim o suficiente para contar.

Surpreendentemente, Janine não tinha raiva dele por tê-la feito falar. Sentia que, de alguma forma, um peso tinha sido tirado de suas costas por poder contar essa história para alguém em voz alta pela primeira vez.

—Então... Você me vê como uma prostituta de sangue? – ela arriscou.

Pela primeira vez, ele parecia realmente bravo.

—Claro que não. Você cometeu um erro, Janine, isso acontece. E antes que pergunte, eu não tenho a intenção de usá-la de nenhuma forma.

—Você não me julga? – perguntou um tanto surpresa.

Ele deu um pequeno sorriso novamente.

—Eu sou só um perseguidor mafioso. Quem sou eu para julgar qualquer um?

Ela deu uma risada fraca. Com carinho, ele continuou:

—Não pense mais nisso, tudo bem?

Janine conseguiu até sentir uma leve pontada de ordem nessa frase.

—Você não é mais a garota ingênua de antes. Já tem seu emprego de volta e está reconstruindo sua vida. Não se aborreça por gente como os Ivashkov.

E ao ouvi-lo terminar de falar, Janine olhou para ele com uma espécie de gratidão que não tinha ideia de onde havia surgido.

Por alguns segundos, apenas se encararam. Uma mistura de sentimentos confusos passava pelos os negros e azuis.

—Você realmente tem que ir agora? – ela perguntou ao lembrar-se que ele havia dito que estava de saída.

—Teoricamente, sim. – respondeu num tom de desculpas.

Arrumou a postura com os braços ainda cruzados em frente ao corpo. Fez o pedido em tom de ordem, mas com um sorrisinho de lado.

—Então me faça um favor, sim?  

—O que a senhorita quiser. – ele respondeu sorrindo.

—Me beije com força antes de ir.

A voz dela saíra clara, firme. E, provavelmente, surpreendera mais a ela própria que a ele.

Mas essa era a verdade: ela o queria. E estava cansada de ter que negar e esconder isso o tempo todo, com medo de ser julgada.

 E nos seus olhos negros e na sua expressão séria, Janine pôde ver que Ibrahim a queria com a mesma intensidade.

Confirmando a tese que, quando o mistério é muito grande, a gente não ousa contestar, antes que pudesse se dar conta, os lábios de Ibrahim estavam sobre os dela e ele a empurrava contra a parede.

E, seguindo o pedido dela, havia desejo e força naquele beijo; desde os lábios dele que se mostravam mais ferozes do que Janine supunha até suas mãos emaranhadas no cabelo ruivo.

Cravando as unhas no pescoço dele, sorriu, sempre sem parar o beijo, quando o ouviu gemer. Em resposta, ele a tirou do chão, soltando seu cabelo para segurá-la pelas coxas.

Ele riu e não conseguiu se impedir de dizer:

—Você é tão levinha!

Ofegante, ela prendeu as pernas ao redor do corpo dele:

—Isso deveria ter sido um elogio?

—Não. – com a respiração quente contra o pescoço dela, ele disse em seu ouvido – Você é tão linda que está me deixando louco. Agora, isso foi um elogio.

—Deixe o orgulho de lado e diga logo que eu estou deixando você excitado. – ela provocou, apertando mais as pernas ao redor dele.

Ele respondeu com uma risada, voltando a beijá-la logo em seguida.

Seus lábios mal haviam se encostado novamente quando os dois ouviram um grito aterrorizante.

Voltando a cabeça para o lado da janela ao mesmo tempo, conseguiram ver um corpo que despencava do terraço.

Rapidamente, Janine pulou para o chão e se soltou de Ibrahim, correndo para abrir o vidro.

Lá em baixo, com uma estaca de prata fincada no coração, uma criatura pálida estava estirada em uma poça de sangue na calçada.

—Strigoi. – Janine tinha os olhos azuis arregalados.

Precipitou-se para a porta, puxando a estaca de prata e gritando para Ibrahim:

—Avise os outros Guardiões e mande todos os Moroi saírem do prédio! Agora!

Não ficou para ver se ele obedeceria. Subiu os trinta degraus da escada para o terraço aos saltos e olhou assustada para o cenário que recebeu ao abrir a porta.

Os dois jovens colegas de Roxie estavam mortos no chão, próximos a outros dois Strigoi. Um deles ainda tinha a estaca de prata fincada no peito.

Perto da beirada do terraço, Roxanne lutava contra um Strigoi mais alto e duas vezes mais forte que ela. Janine já tinha começado a correr até os dois quando, aproveitando uma brecha, a morena conseguiu empurrar a estaca contra coração do monstro.

O Strigoi caiu para trás com um grito.

Os olhos escuros e cansados de Roxanne se encontraram com os de Janine por uma fração de segundo antes que a mão moribunda do Strigoi a agarrasse pela camisa branca, puxando-a para baixo junto com ele.

Janine gritou.

E nem por um segundo deixou de gritar ao ver o corpo de Roxanne caído na rua deserta.


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Notas finais do capítulo

#PosteiESaíCorrendo
Não me matem, amo vcs.
Só pra constar, o próximo capítulo é o último da primeira fase.
Turquia is coming. ♥
xoxo



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