A lua lá fora deixava um feixe de luz que se estendia da janela até os pés dela. As chaves douradas pareciam cintilar na noite, mesmo ela estando tão parada quanto uma estátua. Subo meus olhos pelo corpo dela lentamente, admirando cada detalhe com o máximo de cuidado possível, como se a qualquer instante ela pudesse desaparecer: a curva do seu pescoço onde eu gostaria de deitar meu rosto até toda essa dor passar; os traços finos de seu rosto que se parecem com os de uma princesa; os lábios vermelhos que me hipnotizam. Em seus olhos demoro uma eternidade. Estão quase esbugalhados, como se ela estivesse com medo.

Mas medo do quê?

Enfim solto minha respiração e fecho meus olhos. Estou sonhando, tenho de estar. É como nas outras noites, ela vai desaparecer assim que eu abrir meus olhos.

— Natsu...? — ouço a voz dela chamar, quase que em um sussurro. Isso é o suficiente para me fazer abrir os olhos e, pela primeira vez em muito tempo, ela realmente está aqui. O lábio dela parece tremer levemente e vejo seus olhos se encherem de lágrimas. Não, quero dizer, não chore. Mas som algum sai de minha boca.

Ficamos ali parados, como duas estátuas. Ela com os olhos cheios de lágrimas e eu com o coração estilhaçado.

Você está bem?

Onde passou todo esse tempo?

Por que nos abandonou?

Há tantas coisas para perguntar, coisas que precisam ser ditas. Mas nada disso parece fazer sentido agora pois tudo o que consigo pensar é: ela está aqui. Ela realmente está aqui. Vejo ela mexer os lábios, provavelmente tentando dizer alguma coisa e, por mais que eu anseie em ouvir sua voz, não quero que nada quebre esse momento. Permanecemos assim, presos um ao outro sem que realmente haja qualquer contato. Até que explodimos. Passo meus braços ao redor da cintura dela com um desespero que jamais senti e tomo seus lábios com urgência.

Quando me dou conta já estamos embolados no tapete da sala, e posso sentir as mãos dela em meu pescoço, com a maior delicadeza do mundo. E só continuamos assim, neste ritmo frenético como se não mais pudéssemos viver sem o outro. Há tanto para ser dito porém isto não importa agora. Não há tempo para palavras, apenas para sentir. Então é isso que faço: sinto cada milímetro da pele dela e inspiro seu cheiro como se fosse tudo que eu preciso para continuar vivendo. E de fato é mesmo.

— Senti sua falta, Luce — é tudo que digo enquanto deixo um beijo em sua bochecha. Posso senti-la sorrir.

~♥~

O sol que entra pela janela ilumina o rosto dela, deixado seu cabelo ainda mais dourado. Puxo o cobertor mais para perto e o cheiro de morangos é mais forte do que nunca. Os olhos dela estão fixos nos meus, como se tentasse ver minha alma.

— Desculpe — ela balbucia baixinho enquanto se aproxima mais de mim e não hesito em passar meus braços por sua cintura e enterrar meu rosto na curva do seu pescoço.

— Tudo bem. Agora está tudo bem. Você está de volta e isso é tudo que importa. — as palavras saem tão baixas de minha boca que não tenho certeza se ela escutou. Sinto algo molhar meu cabelo e não demora muito para ela começar a soluçar e chorar como uma criança.

— Tudo bem, está tudo bem — volto a repetir mas não sei mais quem estou tentando consolar: se à ela ou eu mesmo. E de repente eu desmorono também, e estou chorando pior do que um bebê. Sinto os braços dela me apertarem, como se tentasse conter minha dor quando não é capaz nem de conter a dela própria.

— Está tudo bem — volto a dizer, olhando nos olhos dela. E desta vez é mesmo verdade. Está tudo bem, está mesmo tudo bem. Lucy está aqui, está de volta.

— Você realmente voltou, mesmo depois de todo esse tempo — sussurro — e é apenas isso que importa. Não se preocupe com o resto.

Ela está me encarando com aqueles olhos enormes dela que são simplesmente a coisa mais linda que já vi. Volta a me abraçar e desta vez puxo o cobertor para cima de nós dois e, por tudo o que houver de mais sagrado no universo, eu não trocaria este momento por nada. Eu te amo, o olhar dela parece dizer. Estou prestes a dizer o mesmo quando ela abre um pequeno sorriso e diz tudo o que eu preciso ouvir:

— Também senti sua falta, Natsu.