(2004)

Os adolescentes sentados no sofá marrom encaravam-se, sem saber ao certo do porque de estarem ali. Sirius convocara Harry para uma “conversa séria”, e é claro que Rony e Hermione foram juntos, pois eles sempre estavam juntos. Sirius sabia muito bem que eram um pacote completo e inseparável, um não vinha sem o outro.

Quando naquela infame tarde, há quase dois meses, Harry questionara veementemente os sentimentos de Lily por James, Sirius decidiu tomar uma atitude drástica, julgando insuficiente o seu simples “não, não odiava” perante às dúvidas do menino. Claro que Sirius não o culpava, afinal aquela carta realmente mostrava uma personalidade questionável por parte dele e de James, mas Harry não conhecia toda a verdade, e precisava saber.

O pai que conhecera era um homem bom e decente, mas seu jeito foi o resultado de uma longa jornada de amadurecimento e descobertas pessoais. O menino não compreendia toda a história dos pais, e Sirius decidiu que seria sua responsabilidade contá-la. O trio não sabia disso, é claro, então ficaram se olhando demoradamente, até Sirius pigarrear de maneira dramática e atrair a atenção dos jovens.

“Crianças” Começou em tom solene “Vou contar uma história incrível. A história de como Lily Evans e James Potter se apaixonaram.”

Harry, Rony e Hermione se entreolharam novamente. Rony segurando o riso, Hermione se inclinando de forma a escutar melhor e Harry arqueando a sobrancelha.

“Mamãe me deixou de castigo ou algo assim...?”

“Mas é claro que não.” Sirius revirou os olhos “Apenas tomei a liberdade, como seu padrinho, de relatar essas memórias maravilhosas.”

“E vai demorar muito?” Indagou Rony, pensando na bronca que levaria de sua própria mãe se chegasse atrasado ao jantar. Hermione lhe lançou um olhar fulminante, repreendendo silenciosamente a falta de educação do garoto, ao que ele respondeu com um simplório dar de ombros. Já o homem o encarou, ultrajado com seu desinteresse. Era realmente uma história incrível.

“Sim.” Sentenciou Sirius, ignorando o gemido sofrido de Rony e começando o sua narração.

 “Sei que você teve muitas dúvidas ao ler a carta de Snape, Harry, mas em 1985 eu e James éramos pessoas muito diferentes. Ele havia acabado de começar seu novo emprego em uma empresa de arquitetura, e eu trabalhava como diretor executivo em um dos prédios comerciais de meu pai. Não fazia muito anos, havíamos terminado a faculdade, e nossa mentalidade não era exatamente desenvolvida.

   Tudo começou a mudar quando nosso amigo decidiu pedir a mão da sua tia Tonks em casamento. Vocês bem sabem, Tonks é minha prima mais nova e eu era muito ciumento em relação à ela, mas Remus sempre foi um cara incrível. Ela não poderia ter escolhido alguém melhor, e eles eram perfeitos um para o outro.

   Seu tio Remus teve alguns problemas de infância e isso o tornou bastante reservado. No geral ele não era muito de se comunicar com outras pessoas além de nosso grupo – Eu, James e Tonks. Contudo, no nosso último ano na faculdade (e o primeiro dela), eles começaram a se aproximar, e até hoje estão juntos. Eles se completam: Ela com seu jeito extrovertido o fazia ser mais sociável, e ele com seu jeito mais racional a impedia de cometer muitas loucuras. Enfatizo o "muitas" porque o poder de convencimento de Remus não é tão forte assim, e sua tia é muito teimosa.

      Mas voltando. A notícia do futuro noivado mexeu com James. Ele nunca foi um mulherengo, porém também não era nenhum santo. Não corria de compromissos como eu, mas no ápice de seus 25 anos um relacionamento estável não era exatamente aquilo que mais almejava. Até o noivado de Remus chegar e ele ver o quanto os amigos estavam felizes, quando percebeu que era isso que queria para sua vida.

         E foi nesse contexto que conhecemos Lily. Estávamos no bar onde sempre nos reuníamos- O três vassouras- comemorando o noivado de Remus e Tonks, quando ela entrou. Eu já havia visto muitas ruivas- e ficado com várias- mas nenhuma se destacava tanto quanto Lily. Sua mãe sempre foi linda, Harry. E chamou a atenção de todos os caras quando entrou no bar- especialmente a de James. Ela varreu o bar com seus incríveis olhos verdes, até eles pararem em nossa mesa. Lily acenou para Tonks e depois virou-se para o barman.

—É ela- declarou James, batendo as mãos na mesa. – Definitivamente é ela.

            Tonks revirou os olhou.

—Você nem sabe o nome dela, James!

—Mas aparentemente você sabe. De onde a conhece?

—Nos conhecemos ontem. Seu nome é Lily e ela se mudou da Escócia para trabalhar aqui como jornalista. E é uma pessoa muito legal, então não...

—É ela o que?- Remus interrompeu, perdido.

—Ela que vai ser a mãe dos meus filhos. - Sentenciou James.

    Naquela época, quando ele fez essa afirmação, a mesa explodiu em risos, apesar dos resmungos de James. Parecia bastante improvável que aquela mulher desconhecida fosse estar presente em nosso futuro. Como o destino é engraçado, não é? Nós não fazíamos ideia da importância que o papel de Lily teria em nossas vidas.

—Vou falar com ela- Ele decidiu.

—Não vai, não. Você não tem chances com essa mulher. Eu vou falar com ela.- Retruquei, fazendo menção de levantar, mas James me puxou de volta.

“O que?” Harry cuspiu o suco que tomava, abismado. “Você ia dar em cima da minha mãe?”

“É óbvio que eu não sabia que ela seria a mulher da vida de James. Lily era somente uma mulher bonita em um bar” Sirius defendeu-se. Mas é claro que estava mentindo. Desde o momento que a vira, Sirius soubera que Lily estava longe de ser apenas uma mulher bonita em um bar. E James também, considerando que casara com ela.

      Continuando. Depois de alguns minutos de discussão, seu pai levantou-se da mesa e foi falar com sua mãe. De onde estávamos não sabíamos o que acontecia na conversa, mas teve um momento que Lily bufou e atirou seu copo cheio de cerveja em James. Ele voltou para a mesa, encharcado, mas com o maior sorriso do mundo.

—Tudo certo, pessoal. Ela está tão na minha- Declarou, satisfeito.

—Eu não sei se as coisas mudaram, mas na minha época jogar cerveja no outro não era sinal de interesse- Respondeu Remus.

—Teve aquele incidente com o barril, mas não foi proposital- Lembrou Tonks.

        Ela se referia ao fatídico dia no qual sem querer empurrou Remus para cima de um barril lotado de cerveja. Mas isso é história para outro dia, crianças.

—É, mas você definitivamente estava na minha. – Retrucou Remus, sorrindo.

—Estava mesmo – Tonks confirmou, e beijou Remus.

       Para não perder a tradição eu e James protestamos com a agarração do casal, mas eles nos ignoraram, como o usual.

—Será que poderíamos focar em mim?- Pediu James.

      Remus largou Tonks, mas não tirou o braço de seus ombros. Eu jamais ousaria admitir, mas eles eram um casal muito fofo, daqueles que nunca se desgrudavam e te faziam acreditar no amor. Obviamente o feitiço deles não me atingia tanto, por causa do meu ascendente em capricórnio. Ei, não revirem os olhos. Vocês sabem como sou com signos.

      Prosseguindo. James relatou toda a sua conversa com Lily, e confesso que no final fiquei impressionado.

—Aquela é Marlene- James apontou para uma morena bonita. Eu já estava pensando em ir pedir seu telefone (sim, existiam telefones naquela época. Eram grandes e lerdos, mas funcionavam. Com secretária eletrônica e tudo), mas as próximas palavras de James me desmotivaram- Ela odeia os homens. Então Lily, como uma amiga leal, odeia os homens hoje também. Mas amanhã ela topou de sair comigo.

Nesse ponto, ele ergueu um bilhetinho com um número escrito, bastante satisfeito consigo mesmo. Assenti em aprovação, refletindo se veria a tal Marlene amanhã também, se ela não continuasse odiando os homens, e Tonks murmurou em concordância.

—Ela parece ser incrível. Vamos ser ótimas amigas. E você, James- Ela apontou o garfo para ele, de maneira ameaçadora. Era engraçado quando Tonks tentava ser ameaçadora, com seu porte baixo e seus cabelos coloridos, mas ela realmente conseguia ser agressiva quando queria. – Não estrague tudo. Eu gosto dela.

—Claro que não estragarei tudo.

Não se preocupem, ele realmente estragou tudo no dia seguinte. Mas foi algo que precisou acontecer, porque se James Potter não tivesse agido como um imbecil em seu primeiro encontro com Lily, nós não estaríamos aqui, discutindo como ele estragou tudo.

De fato, o processo que levou Lily Evans e James Potter a se apaixonarem foi longo e bastante tortuoso, mas em nenhum momento Lily se arrependeu de derramar sua cerveja em James, e James nunca se arrependeu de tê-la chamado para sair.