Como Ser um Príncipe - Interativa escrita por Mila


Capítulo 33
Pode me dizer quando houver acabado


Notas iniciais do capítulo

Acredite nos seus olhos, isso não é uma alucinação ou uma miragem! É real! É um novo capítulo! "Como ser um príncipe" ainda vive!!!! Uhuul

Tenho certeza de que vocês acreditaram que eu desisti de verdade dessa fofura trabalhosa aqui. Mas eu tenho uma desculpa muito boa... Nesse tempo em que eu estive ausente... Escrevi um livro inteiro. Original. Do começo ao fim. (Acreditem se quiserem, nem eu to acreditando).
Ele está em fase de correção, me dando bastante trabalho ainda... Mas achei que já estava na hora de voltar a aparecer por aqui!
Senti muita saudade de vocês! Estava lendo os comentários de novo e fiquei... Ah, por que eu me afastei mesmo? Preciso voltar!

Antes da tão esperada leitura, preciso dizer que esse capítulo já estava 90% escrito quando eu postei o anterior... ~rindo de vergonha e medo~ Por favor, não me matem! Eu pretendia postá-lo logo, mas emperrei em uma parte e comecei a escrever um livro (as condições mais malucas possíveis para me ausentar).
Mas por que eu estou dizendo isso? Para vocês me odiarem e eu implorar que não façam bonecos de vodu com a minha pessoa? Nãooo (não só isso), mas porque para demonstrar que o jeito, o modo como esse capítulo foi escrito continua o mesmo que os anteriores... E quanto aos próximos, que eu preciso escrever ainda... talvez eles tenham algumas mudanças na forma como são apresentados, porque, vocês sabem, faz muitoooooo tempo que eu não escrevo nada sobre Liam, Caitlin e toda a turminha! Então, alegrem-se com esse capítulo (e eu também), que os próximos talvez sejam um pouco prejudicados pela minha ausência.

E já estou voltando com várias bombas para vocês (eu jurava que vocês já estavam sabendo de tudo isso). Então preparem-se... e boa leitura!



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Dia 62 

Ter concedido uma entrevista aos moldes desejados e orquestrados pela jornalista Mirela Fitz-Gerald, fora a parte do acordo que beneficiava a ardilosa profissional do Irish Newspaper. Para Branka, sua conquista fora mais simples e aparentemente inocente, segundo a óptica de Mirela. A jovem ex-selecionada havia trocado todas aquelas palavras desvantajosas a respeito do novo Príncipe Herdeiro de Nova Irlanda por apenas uma passagem de avião.  

Para a Rússia. 

Fora o país em que nascera, explicara a russa à jornalista, sua terra natal que tanto amava e desejava retornar.  

Mas ela pediu por um jato particular, claro. Pois se estava fazendo um acordo, poderia exagerar um pouco mais em seus pedidos. 

Entretanto, Branka Pietrov Vanschmitz tinha outra carta na manga que ela não contou ou sequer planejou com Mirela Fitz-Gerald, mas que se encaixou sutilmente ao acordo das duas.  

No início, Branka contava que sua entrevista em si já era um feito grande o suficiente para cair novamente nas graças dos Conselheiros Reais da Rússia como também do próprio rei. A entrevista, segundo ela, valia mais que a sua viagem de jato particular como passagem à vida no país em que nascera.  

Depois da bagunça que seu pai fizera, que o levara a ser exilada, assim como a própria Branka e a mãe dela para Nova Irlanda; a jovem passara muito tempo e muitos quilômetros de distância de Viktor Bellaroff, seu namorado. E ela faria de tudo para corrigir os erros de seu pai e recuperar sua antiga vida de volta.  

Seu claro e inicial plano consistia apenas na entrevista negativa sobre Liam Éire que fornecera à maior mídia de Nova Irlanda, como um presente ao rei russo para que ela se redimisse dos erros de sua própria família. 

Entretanto, ela dera um toque especial à entrevista: Ela incitara à curiosidade e talvez a rebeldia de todo o povo novo-irlandês a questionar quem seria o próximo sucessor ao trono. Ela própria estava curiosa e tinha seus palpites a respeito, mas, felizmente, a resposta que procurava foi difundida em vários blogs amadores da internet, porém corretos. A população tinha seus muitos conhecimentos secretos. 

Depois de Liam Éire, o próximo sucessor vivo ao trono de Nova Irlanda era o ninguém menos que Iuri Andrei Dimitri Nikolai, o rei da Rússia.  

E essa foi informação que de fato mostrou-se como sua mais promissora “passagem” de volta ao lar.  

♕ ♕ ♕ 

Na fria terra de Gales, Liam Éire desembarcou do avião particular acompanhado da Rainha Kiara e do Rei Donavan, que tossira a viagem inteira. Seguido deles, os pais do herdeiro, Duque Douglas e Duquesa Maire, acompanharam o filho naquela triste visita ao país aliado. E por fim, para completar a tropa, Lady Sienna e sua mãe, a Princesa Éileen, vieram prestar suas condolências aos velhos amigos.  

Ao ver aquele grupo o lado mais criança de Liam não pode deixar de pensar: Que estranha família eu tenho, ein? 

Mesmo estando pela primeira vez em Gales, o herdeiro de Nova Irlanda não pode deixar de reconhecer que o clima, a agitação, as expressões dos galeses não estavam como costumavam ser. O falecimento de um rei abalava profundamente todo o reino e o silêncio era intenso em todos os lados.  

Uma assistente pessoal da monarquia, que muito fez lembrar Liam de Caitlin, aproximou-se do grupo com algumas reverências e educadas boas-vindas.  

Do aeroporto, uma limusine os encaminhou para o Palácio Real.  

Liam de inclinou para conversar com Sienna discretamente: 

—Você conhecia o Rei Owen? 

—Se eu conhecia meu sogro? - Ela rebateu com um sorriso fraco no rosto.  

—Desculpa. - Respondeu o herdeiro e imediatamente se perguntou como não havia pensado nisso antes. Lady Sienna estava comprometida com o Príncipe Caleb e viagem no que seria apenas respeitosas e honráveis condolências aos familiares e ao falecido monarca assumiria um tom diferente para a lady. Ela estaria ali cumprindo um papel mais íntimo naquele luto, o papel de uma figura familiar. - Você conseguirá lidar com Caleb? - Perguntou-lhe num tom ainda mais baixo.  

Sienna sorriu do mesmo jeito de antes e deu dois tapinhas no joelho de Liam, que pegou as mãos delas nas suas para reconfortá-la. 

—Não há muito o que se pensar racionalmente agora. É mais uma questão emocional. - Ela apertou as mãos dele em retribuição. - Acontece que eu sei como é perder um pai. 

—Desculpa. - Repetiu Liam. Suas habilidades comunicativas não eram das melhores em situações de tristes. Não era a falha de um Príncipe Herdeiro, era a incapacidade de um jovem, a qual era presente durante toda a sua vida. Definitivamente não lidava bem com perdas.  

 

Na porta de entrada do castelo, eles foram recebidos pela Princesa Isidora. Seu sorriso caloroso de sempre, porém mais comedido para o momento. Ela abraçou a rainha, Éileen e Sienna e cumprimentou os demais.  

O velório começaria dentro de uma hora e eles poderiam descansar e se trocar nos aposentos aos quais foram designados.  

Por mais que Liam quisesse prolongar aquela pequena hora por um dia inteiro, ela passou voando, como se fosse feita de apressados minutos. Logo, ele desceu, acompanhado dos pais, para a cerimônia nos jardins.  

A neve ali estava mais espessa que nos gramados de Nova Irlanda e flocos continuavam caindo do céu naquele momento. Vários convidados, todos de pretos, se escondiam em baixo de roupas finas, porém quentes, e guarda-chuvas da mesma cor das vestes. Uma banda tocava melodias calmas num coreto enfeitado com muitas flores ali ao lado.  

O Príncipe Christian, acompanhado da esposa e do irmão mais novo, apareceu sobre um palanque e pronunciou algumas palavras em homenagem ao pai, provocando risos e lágrimas dos convidados.  

No final do dia seria realizada a sua coroação como novo rei de Gales. E aquele, para Liam, não se parecia o melhor momento para um evento assim. As monarquias vitalícias eram vistas por ele como um pouco cruéis com o sentimento dos familiares, que deveriam lidar com o luto e com novas questões burocráticas. Ele não sabia ao certo quando ele mesmo seria coroado rei de Nova Irlanda, mas esperava que não fosse frente ao falecimento do Rei Donavan.  

Ao final da cerimônia todos os convidados caminharam por alguns metros, contornando os muros do castelo, até um declive na neve que levava a portais de entrada externa às catacumbas. Velas foram acesas nas mãos de cada um dos presentes e algumas últimas preces foram feitas. Em seguida, funcionários fecharam e carregaram o ornamentado caixão do Rei Owen para os portais.  

—Ao Rei Owen! Que ele descanse em paz! - O cardeal presente no evento proclamou, e um coro de vozes o seguiram. As velas foram assopradas e o caixão, carregado pelos funcionários, lentamente desapareceu de vista. Apenas Christian, Isidora e Caleb acompanharam a procissão por dentro das catacumbas.  

Os convidados se dispersaram, voltando às acomodações quentes dos castelos, caminhando juntos e conversando entre si. Sem saber direito como reagir, Liam Éire seguiu alguns dos convidados que se retiraram para seus aposentos. Ele precisava descansar nas poucas horas que tinha até o início do próximo evento.  

 

Lady Sienna foi uma das últimas que ficou para trás. Sentou-se em um dos bancos gélidos dos jardins e se distraiu com os botões de rosa branca do arbusto mais próximo.  

Em pouco tempo, ela sentiu a presença de alguém próximo de si. Sem dizer nada, Caleb contornou o banco e sentou-se ao seu lado. Seu rosto estava pálido e com escuras olheiras. Olhá-lo fez Sienna lembrar-se da sensação de perder o próprio pai – uma ferida ainda bastante aberta e dolorida.  

—Eu sei como você se sente. - Ela sussurrou empaticamente. - Nunca estamos prontos para momentos assim. É algo que ninguém pode impedir ou evitar.  

Suas palavras surtiram efeito no príncipe, que soltou um soluço e sem hesitar puxou Sienna para um forte abraço, enterrando a cabeça em seu ombro, escondendo as lágrimas quentes que caíam.  

A lady ficou ligeiramente desconfortável com o contato, mas não ousou se afastar.  

A clara lembrança de Caleb ao seu lado quando fora a sua vez de sofrer pela perda do pai sempre esteve vívida em sua mente. Ela havia se apaixonada por uma visão idealizada de Caleb, do relacionamento e do casal, mas ela amou o rapaz a partir daquele momento em que ele permitiu que ela dividisse sua tristeza com ele.  

Não importava muito as questões burocráticas e todos os desentendimentos que tiveram desde então.  

Era a vez de Sienna retribuir o carinho e companhia que o príncipe havia lhe oferecido uma vez. 

Aquela era uma dívida que ela desejava quitar há muito tempo.  

♕ ♕ ♕ 

O salão das Selecionadas parecia estar no mesmo clima de luto que todo o Reino de Gales, entretanto, o silêncio das seis garotas ali presentes não se devia principalmente ao falecimento do Rei Owen, que não conheceram pessoalmente.  

Era resultado da entrevista da ex-selecionada com a qual elas tiveram bastante contato.  

Passado a euforia do dia anterior – a alegria e empolgação de rever as famílias depois de semanas; o peso de serem as últimas na competição à coroa de rainha de Nova Irlanda como também esposa de Liam Éire se agravou subitamente. E o silêncio era recheado de reflexões. Preocupações e agonias.  

Anne e Shawn conversavam discretamente sentados em duas poltronas próximas da lareira. Ele não estava muito apto para acalmar o nervosismo de Anne, pois ele próprio estava bastante silencioso, porém, ela cumpria a parte de falar da conversa.  

Ali Mackiney olhava para a chuva que escorria do lado de fora da janela e se lamentava de não poder fugir para os jardins naquele momento. Um pouco de ar livre sempre conseguia lhe animar.  

E Brianna estava simplesmente quieta, mastigando o lábio inferior com o olhar perdido. Não gostava nenhum pouco de calúnias e, segundo sua percepção, era exatamente isso que havia acontecido com Liam Éire naquela entrevista. 

“Eu sempre fui tão bem recebida pelo povo de Mayo e Liam está recebendo tão duras críticas de todo o reino...” Sky pensava com pesar. Todo aquele ódio em relação ao Príncipe Herdeiro não se cessaria com ele casado com uma das seis garotas restantes. Skyla sabia bem disso: A Seleção era uma distração, não a solução. O prognóstico era bastante sombrio.  

Ela ainda acreditava no potencial de Liam de ser um grande líder, com a ajuda necessária, claro. Desde que se inscrevera no concurso, Sky se identificara com o jovem herdeiro: Embora mais bem recebida pelo povo do que ele, a moça sabia o que era a pressão da nobreza. 

Gwendolyn, acomodada em das largas poltronas, com as pernas puxadas para cima, escrevia e rabiscava no caderno que encaixara em seu colo. Ela tentava dar continuidade ao seu projeto vencedor da Semana da Paz que logo seria colocado em execução. Queria estar presente nas etapas e contribuir com mais ideias e planejamentos – rever seus pais no dia anterior havia revigorado sua criatividade.  

Entretanto, seus pensamentos não estavam fluidos como gostaria – a entrevista também a abalara de seu próprio modo. Liam estava sendo injustiçado, era sua visão mais clara no momento. Sua intuição de que ele era um bom rapaz só se tornou verídica nas últimas semanas em que ela o conheceu melhor e vê-lo sendo tão atacado, lhe doía mais do que poderia confessar.   

Então passou a rabiscar qualquer coisa que pudesse lhe parecer uma solução.  

—O que está acontecendo aqui? - Caitlin, a assessora das jovens da Elite, saiu de seu pequeno gabinete para a sala estranhamente silenciosa. - Achava que rever os familiares reanimaria o ânimo de vocês, não o contrário.  

Andressa Simmons deu um sorriso constrangido. Ela estava novamente sentada no chão em meio a milhares de cartas que escrevia ao mesmo tempo, mas ela não estava empenhada na tarefa. 

—A entrevista de Branka nos deixou um pouco chocadas. - Ela confessou.  

Caitlin cautelosamente olhou para o semblante no rosto de cada uma. Ela esperava que a Seleção fosse se tornar mais fácil para administrar quando alcançasse o ponto da Elite e, de fato, o silêncio lhe era benéfico... Mas definitivamente não a preocupação e a tristeza generalizada.  

—Bom, com o que exatamente a entrevista deixou todas chocadas? 

Ninguém respondeu a princípio.  

Foi Anne Chevallier que, olhando para o rosto de todas, leu e traduziu o que todas pensavam, inclusive ela mesma. 

—A Selecionada Misteriosa. Que beijou o príncipe na noite do Baile de Máscaras, lembra? - Ela suspirou, decepcionada. - Estamos na Elite, mas... Isso não parece muita coisa se Liam já tem a sua Escolhida em mente.  

—E não sabemos quem é. - Gwen completou, achando que faltava essa parte no discurso.  

O queixo de Caitlin caiu. 

—É com isso que estão preocupadas? Ainda estão pensando nisso? Eu achei que já tivessem esquecido! 

—Esquecemos... por um tempo. - Dressa comentou, ligeiramente corada pela confissão. - Mas o final da Seleção está mais próximo agora. E nós não... Não sabemos o que fazer ou pensar.  

A assessora olhou novamente para cada uma das meninas, que se silenciaram mais uma vez. O desespero de Caitlin cresceu quando olhava para cada uma das expressões abaladas e voltava pela segunda, terceira e quarta vez para “reconferir” aqueles semblantes decepcionados.  

A srta. Dublin estava empolgada demais com os novos caminhos da Seleção agora que a Elite estava estabelecida, e ver aquele clima baixo dominando as suas últimas concorrentes foi como sofrer uma desilusão. Até porque, ela se afeiçoara às meninas. Queria vê-las se aproximando do príncipe, lutando pelo o que acreditavam e... sorrindo, claro.  

—Eu... - Caitlin gaguejou pois não sabia ao certo o que dizer. 

Então ela sentou-se no chão, com as pernas cruzadas e chamou todas as garotas para sentarem-se numa roda perto dela. Um pouco surpresas, as selecionadas assim o fizeram. Shawn Keyes permaneceu próximo a lareira, porém de pé, como se também esperasse por instruções, como também para manter uma respeitosa distância.  

Caitlin olhou diretamente para ele antes de respirar fundo e conversar com as meninas. 

—Eu acredito, que depois de todas as confusões que aconteceram dentro desse palácio... A descoberta da existência da Irlanda do Norte, a Conselheira Real ser presa por traição, o outro conselheiro ser encontrado envenenado em seu gabinete, as histórias de todas as meninas que estiveram aqui conosco até então... - Relembrar tudo isso exigiu de Caitlin uma inspiração profunda. Ela própria também se abalara com todo aquele caos e todos os outros que não chegara a mencionar ali. Como ela bem sabia, Caitlin Dublin estava muito entrelaçada aos eventos que aconteciam no Palácio Real de Nova Irlanda.  

Brianna estendeu a mão e a pousou no joelho da assessora para lhe transmitir segurança. As outras garotas sorriram com a mesma solidariedade e Caitlin retribuiu o gesto.  

—Pois bem, eu acredito que depois... de tudo isso... Eu e todas nós devemos prezar pela sinceridade de agora em diante. Não vejo vocês como competidoras, mas sim como um time. - Ela se sentiu mais confiante ao dizer isso e então prosseguiu com maior facilidade: - Precisamos ser mais sinceras. E eu quero começar com isso.  

E sem mais hesitações, Caitlin contou à Ali, Sky, Dressa, Brianna, Gwen e Anne toda a verdadeira história da “Selecionada Misteriosa”, revelada agora como Veronika Égan e, o até então “Príncipe Encantado”, como o assistente da assessora: Shawn Keyes. Foi inevitável os seis pares de olhos de virarem na direção dele.  

“Foi como mágica. Como ilusão de óptica”. Anne pensou imediatamente. Ela entendia de truques mágicos como ninguém e não pode deixar de se impressionar com aquele o qual ela nem sequer duvidara da credibilidade.  

Ela lançou um segundo olhar para Shawn Keyes, dessa vez mais sutil, que nem ele mesmo percebeu, por estar com a cabeça baixa. Seria por Veronika Égan que Shawn Keyes estava estranho, abalado, daquela maneira? 

Aparentemente Nova Irlanda conseguia ser mais misteriosa e mágica do que todas as crenças e superstições de seus habitantes.  

♕ ♕ ♕ 

Já havia parado de chover quando Shawn Keyes bravamente bateu à porta do escritório de Caitlin Dublin.  

—Você foi sincera e pediu por sinceridade. - Ele disse humildemente após se acomodar à cadeira frente a escrivaninha, com a assessora, curiosa, do lado oposto. - Eu não sou assim tão corajoso, mas quero tentar... ser sincero.  

A srta. Dublin se empertigou. Nervosa, hesitante, muito curiosa. 

—Minha irmã costuma discutir muito comigo devido ao jeito com que lido com as situações... - Ele explicou lentamente. - Ou não lido. Eu não gosto de brigas e conflitos e tendo a evitá-los sempre... Prefiro... a sinceridade.  

Caitlin olhou diretamente para Shawn e, apenas naquele instante, ela sentiu que poderia confiar nele, como nunca havia confiado antes. Ela fez um sinal para que ele pudesse falar.  

Aquela era uma história que ela com toda certeza gostaria de ouvir. 

♕ ♕ ♕ 

“Tudo piorou quando Lorena faleceu há pouco mais de um ano. Ela era a líder mais centrada que tínhamos e todos os conflitos internos, divisões de grupos, que sempre estiveram presentes em nossa história se intensificaram imediatamente sem a presença de Lorena.”  

“Foram essas divergências de opiniões entre a mesma população que enfraqueceu a Irlanda do Norte na última guerra.”  

“E foram as graves consequências da guerra que nos fez viver nas sombras por muitas décadas. Sem dinheiro, eu confesso que roubos de caminhões, desvio de energia e outros materiais eram muito frequentemente usurpados para nosso sustento... E o dinheiro continua, até hoje, sendo uma questão delicada e importante para nós, da Irlanda do Norte.”  

“Ao longo desses anos, nós crescemos conforme nos fortalecemos pouco a pouco e nossos grupos começaram a invadir regiões mais distantes da fronteira: Como Wicklow Hills.”  

“Os caçadores e seus lobos treinados descobriram os minérios raros sob o solo da província e começaram a retirá-los. A princípio isso foi feito com cautela, mas a audácia desses saqueadores cresceu rapidamente, e Wicklow Hills tornou-se... caótica.”  

“Esse nunca foi o objetivo de Lorena, anos atrás. Ela tentou centralizar divergências e, com muito esforço, obteve o melhor resultado organizacional que tivemos em vários anos.”  

“Ela era uma excelente líder.” 

“Não tinha muita fé na suposta existência do acordo entre Irlanda do Norte e Nova Irlanda e, portanto, não contava com a recuperação desse documento, nem com a cobrança do pagamento dessa taxa, para auxiliar a vida dos moradores da Irlanda do Norte.” 

“Lorena assumiu uma abordagem mais diplomática. Precisávamos de dinheiro e sua estratégia era a sutil reaproximação com nações aliadas. E Nova Irlanda é a nossa vizinha mais próxima.”  

“Ela auxiliou a integração de várias pessoas nas cidades e empregos desse reino, como também dentro do Palácio Real. A intenção era aproximar-se dos funcionários, conquistar sua confiança e, aos poucos, revelar quem éramos, irlandeses do norte. Revelar nossa existência, nossos bons modos, nossas intuições... Queríamos uma relação amistosa. Uma aliança.”  

“Pois nosso maior objetivo era nos reestruturamos, passo a passo, como uma nação novamente.”  

“Entretanto, Lorena levou dois tiros numa tentativa de roubo de energia elétrica e... faleceu. Isso desestabilizou toda Irlanda do Norte e todos os planos de Lorena.” 

“O povo se dividiu em dois principais grupos: De exploração armada e pouco sutil às riquezas de Wicklow Hills, visando apenas o lucro monetário a nossa nação. E o outro grupo visou a busca por esse misterioso acordo entre os dois países... sendo bem mais sutil que o outro, porém também focando apenas o rápido lucro monetário.”  

“Toda essa agitação que nosso povo causou dentro dos territórios da Nova Irlanda tornou perigosa a vida de todos aqueles infiltrados no Palácio Real. Com base na ação dos grupos violentos, todos nós seríamos taxados da mesma forma e nunca conseguiríamos obter a confiança e aliança que Lorena almejou para nós.”  

“Assim, a Conselheira Almirena sabia que ela corria riscos. Sua intenção, entretanto, estava de acordo com os objetivos do segundo grupo: De encontrar o acordo e conseguir o dinheiro da dívida.” 

“Sem Lorena no poder e já trabalhando tão próxima dos monarcas de Nova Irlanda, Almirena era uma das candidatas mais promissoras a ocupar o lugar de Lorena, minha irmã mais velha.”  

“A outra candidata também possuía bastante participação nas revoluções e decisões “políticas” da Irlanda do Norte, e era associada à Lorena por uma questão de... hierarquia. Estou falando de minha irmã mais nova.”  

“Com os mesmos objetivos de Lorena, porém mais destemida, sem medo das consequências e um tanto impaciente por resultados.”  

“Ela compreendeu a ascensão de Liam Éire como novo herdeiro da Nova Irlanda assim como a introdução de uma nova monarquia como uma poderosa vantagem a nosso favor. Era como uma porta aberta para outras mudanças. Segundo ela, seria mais fácil abordar um novo príncipe do que uma monarquia de ‘regras antiquadas e cabeça fechada’.” 

“Então ela se inscreveu na Seleção, sem nunca ter o objetivo de ganhar – ela definitivamente não queria ser uma rainha... ou esposa. Mas minha irmã se afeiçoou por Liam Éire ao longo do caminho. Acredita nele. Confia nele. E estaria disposta a dar o primeiro passo para conquistar a confiança dele, se ele, a princípio, não confiasse nas intenções dela.”  

“Sabe, ela pode ser bem impulsiva quando quer. E foi por isso que eu vim atrás dela. Também acredito em conversas e relações mais diplomáticas entre as duas nações, mas vim atrás de minha irmã. Para impedir que sua impulsividade a leve a cometer graves e erros.” 

“Eu já perdi uma irmã. Não quero perder a outra, senhorita Dublin”.  

“Mas você provavelmente já sabe como ela é, minha irmã. Ela foi a sua selecionada até ontem”. 

“Riley O’Codagh.” 

“Ou melhor, chamando-a pelo seu verdadeiro nome, Hanna KeyesO’Codagh.” 

“Da Irlanda do Norte. Assim como eu.” 

♕ ♕ ♕ 

 O cair da noite em Gales não contribuía para diminuir o frio do inverno, apenas o intensificava. As janelas do Palácio Real estavam todas embranquecidas pela geada, ocultando o cenário dos jardins.  

Todos os nobres presentes dirigiram-se ao salão do trono para o início da coroação de Príncipe Christian e sua esposa, Isidora, como os novos reis e rainhas da nação. Felizmente, a concentração de pessoas ali dentro tornava o ambiente mais quente e confortável. Após o longo e lamurioso dia, todos precisavam de um pouco mais de calor. 

—Bela coroa. - Liam Éire sussurrou à Lady Sienna quando ela se sentou ao seu lado na cerimônia.  

Corada, ela murmurou um agradecimento. Tentou manter-se em silêncio e guardar para si suas preocupações, mas logo desistiu, sentindo que aquela postura parecia inadequada.  

—Desculpe. Estive com Isidora essa tarde e ela me presenteou com essa tiara. - Contou Sienna, não conseguindo esquecer o literal peso em sua cabeça e o figurativo peso daquela tarde com a futura rainha. - Ela se desculpou por minha coroa não ser dourada, visto que eu renunciei. Mas disse-me que, como as circunstâncias mudaram, e não conversamos sobre isso durante a Semana da Paz, ela se certificaria de que eu seria muito bem acolhida aqui, em Gales.  

—Hm, foi muito gentil da parte dela. - Liam comentou, incerto.  

Sienna revirou os olhos e se inclinou mais em sua direção para sussurrar o que estava pensando.  

—Liam, a coroação de Christian muda a situação. Ele sendo rei, Caleb torna-se o primeiro na linha de sucessão ao trono. Isso apressa as coisas. Logo todos dirão que ele deve estar casado e...  

Ele assentiu sutilmente. Entendera onde ela queria chegar.  

O casamento planejado há vários anos de Lady Sienna e Príncipe Caleb estava, finalmente, prestes a acontecer.  

—Parece que tudo está prestes a mudar. - Sussurrou a lady pouco antes da música começar a ser tocada mais alta e todos se levantaram para a recepção dos herdeiros.  

A cerimônia só serviu para deixar Liam mais angustiado do que já estava antes. Toda a história de ser o Príncipe Herdeiro de Nova Irlanda lhe pareceu bem mais real naquele momento; afinal, herdeiro significava que iria herdar o trono da nação e seria seu rei.  

Diante àquela luz em pensamentos que ele decidira não ouvir até então, Liam Éire só pode concordar com Sienna: Havia uma sensação premonitiva no ar de que haveria mudanças drásticas no futuro próximo. A entrevista de Branka Vanschmitz definitivamente não fora um bom agouro.   

♕ ♕ ♕ 

O final da cerimônia de coroação foi seguido por um baile. Estava óbvio que tudo aquilo já fora planejado muito tempo antes, mesmo que a data do evento nunca houvesse sido marcada. Liam parou um tempo para admirar a eficácia do trabalho árduo e extremamente incerto dos funcionários do palácio.  

Porém, seus pensamentos logo foram novamente tomados pela entrevista a seu respeito. Afastara-se de Nova Irlanda logo em seguida daquela situação cair-lhe subitamente no colo, então não tinha informações o suficiente para saber como as selecionadas e toda a nação pensava a respeito daquilo. Queria muito saber se a concepção que as jovens tinham sobre ele haviam mudado.  

Perdido em sua própria mente, ele se surpreendeu quando foi interrompido pelo mais novo rei de Gales.  

—Parabéns pela coroação. - Liam cumprimentou, imaginando se era esse tipo de congratulação que se fazia após um evento como aquele.  

Christian sorriu educadamente, mas sem muita emoção.  

—Nós nos preparamos para essa situação, mas nunca é fácil lidar com ela quando ela chega. - Foi o que respondeu, para surpresa maior de Liam. Porém, ele não estava se referindo ao fato de “ser rei”, mas sim ao falecimento do pai e a conseguinte cerimônia de coroação. - Esses dois grandes eventos, infelizmente, andam lado a lado.  

Liam assentiu e decidiu murmurar um “sinto muito”.  

—Obrigado. - Disse Christian. - É claro que a situação não precisava ocorrer dessa maneira. Mas meu pai sempre foi muito teimoso e insistia em dizer que seria rei até seu último suspiro. Tentei dissuadi-lo dessa ideia várias vezes, mas ele não cedeu. A transição das gerações no trono fica mais difícil para mim e para todo o reino, é claro, quando se segue a um falecimento. Seria melhor a todos se ele houvesse abdicado e me deixado assumir o trono antes de sua morte, assim poderia ter me auxiliado nesses primeiros momentos.  

O Príncipe Liam compreendia aquilo em certo nível. Imaginava, assim como Christian, que ele não seria rei logo em seguida a morte do Rei Donavan. Esperava que, em algum momento, o monarca lhe dissesse um claro “Liam, você está pronto. Estou orgulhoso e será uma honra vê-lo como novo rei de Nova Irlanda”. Ele deveria ter pensado mais a fundo nessa concepção fantasiosa antes, pois, obviamente não funcionava desse modo.  

Seria, de fato, muito melhor se Donavan abdicasse e Liam pudesse assumir o título, tendo o ex-monarca ao seu lado para orientações e conselhos. Era esse o plano de muitos reinos; a própria Escócia estava se preparando para, dentro de cinco anos, elevar a Princesa Davina ao poder.  

—Eu concordo. Mas as coisas geralmente não ocorrem como gostaríamos. - Respondeu Liam, um pouco mais à vontade com aquela inesperada conversa e intimidade com Christian.  

Seu comentário pareceu surtir efeito no novo rei, ele sorriu outra vez antes de voltar a falar.  

—Tive conhecimento da reportagem a seu respeito publicada ontem. Sinceramente, não acredito que haja alguém que não a conheça até agora.  

Liam sentiu o sangue correr para longe do rosto.  

—Mas até hoje eu admiro o modo como lidou com a situação de Caleb e seu primo. Teria sido um vexame completo se não tivesse intervindo com... bom, um pouco de comicidade, eu diria. - Ele aceitou uma taça de champanhe que o garçom lhe servia e entregou outra ao Príncipe Herdeiro. - Foi um gesto corajoso e me fez acreditar em seu potencial. O Reino de Gales e Nova Irlanda estão unidos por laços estreitos há muitas décadas e gostaria de esclarecer que Vossa Alteza tem o meu apoio político. E prometo que irei relevar aquela entrevista.  

—Muito obrigado. - Foi a resposta mais apropriada e sincera que Liam emitiu aquela noite. 

Porém, assim que Christian se afastou, Liam refletiu sobre as condições em que ele subiria ao trono.  

O pensamento fez com que Liam vasculhasse o salão com os olhos a procura do Rei Donavan. Encontrou-o junto a alguns convidados, recusando a champanhe que o garçom lhes oferecia.  

A luz que recaía sobre seu rosto mostrava uma expressão educada, mas composta por um olhar cansado, envelhecido.  

Talvez fosse o comentário de Christian, mas Liam Éire pressentia que o rei estava adoecido, e desejava que, de fato, o que via era apenas uma percepção tendenciosa. 

♕ ♕ ♕ 

As salas da nobreza no Palácio da Nova Irlanda são recobertas pelo silêncio da noite; uma calmaria atípica após dias de festas e interações sociais dramáticas. Envoltos nessa quietude, Finn passa os canais da TV preguiçosamente, sem se atentar a nenhuma das programações e, Maire, sentada ao seu lado no sofá, se entretém com um livro. É Álan que, diferente deles, encontra-se num nível de agitação incompatível. 

—“Nenhum declaração foi dada quanto ao noivado de Lady Sienna e Príncipe Caleb durante a Semana da Paz, sediada em Nova Irlanda; entretanto, tendo em vista o panorama recente do falecimento do Rei Owen do Reino de Gales, é possível assumir que os preparativos para a união do casal serão adiantados.” - Álan lia em voz alta a notícia pela internet. - “Abaixo imagens do casal durante o funeral do monarca”. - Ele bufou e finalmente deixou a reportagem de lado. 

Entediado, Finn desviou o olhar da TV para o irmão. 

—Eu sei que você paga de esperto, mas as vezes você é realmente idiota. 

Álan se virou para ele, surpreso. Mas Maire interrompeu a discussão. Sem tirar os olhos do livro ela disse: 

—Eu não preciso ouvir para saber que vocês estão brigando. Parem agora mesmo! E Finn, por favor, escolha logo um canal! 

Não foi preciso dizer duas vezes, Finn imediatamente encontrou uma reportagem que atraiu sua atenção e a de todos na sala. Ele se colocou de pé num pulo, sabendo que aquilo não era boa coisa. 

—Esse é o Rei da Rússia, não é?! 

A tela demonstrava um sujeito na casa dos cinquenta anos, de terno caro e broche com a bandeira de seu país. Falava em russo, mas a legenda estava acompanhava o comunicado oficial. 

—Quando isso foi gravado? - Finn sussurrou. 

—É ao vivo. - Álan respondeu. 

Eles se calaram para se atentarem ao noticiário. A legenda trazia as seguintes palavras: 

“É nesse infeliz dia, marcado pelo falecimento do grande Rei Owen do País de Gales... Que ele descanse em paz!... Que tomo conhecimento de outros fatos, os quais necessitam com urgência de meu posicionamento a respeito.” 

“Há poucas semanas a Nova Irlanda elegeu como seu herdeiro Sir Liam Éire, de nobreza distante e nascido fora dos ensinamentos reais. Nenhum outro informativo foi transmitido, tanto aos neo-irlandeses quanto aos nossos demais amigos internacionais, quanto a linha de sucessão ao trono de Nova Irlanda. Foi sob essas mesmas circunstâncias que eu tomei conhecimento de informações não reveladas sobre a linhagem e, realizo esse pronunciamento internacional, pois creio que todos devemos saber dessa verdade”. 

“Após Sir Liam Éire, eu, o Rei da Rússia, encontro-me na posição de próximo na linha de sucessão ao trono de Nova Irlanda”. 

“Tendo em vista as árduas circunstâncias que o povo neo-irlandês tem se submetido nos últimos meses... Conflitos internos que apenas se agravam cada vez mais... Eu compreendo que as problemáticas seriam devidamente tratadas no encargo de alguém cuja experiência de governo é constatada há décadas. Sob essa perspectiva, eu, Rei Iuri Andrei Dimitri Nikolai me declaro apto e disposto a herdar imediatamente o trono de Nova Irlanda no lugar de Sir Liam Éire”. 

“Entrarei em contato com Rei Donavan nesses próximos dias. Agradeço a atenção. Um boa noite a todos”. 


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Notas finais do capítulo

~taca a granada e sai correndo~
~voltando envergonhada~

Muita coisa para quem supostamente tinha que voltar de fininho, não é?
Bom, a história continua... e eu havia programado vários caos para ela. Agora toda a bagunça está aparecendo, enfim.

Não desistirei dessa história, continuarei pensando e escrevendo ela. Não prometo nenhum tipo de estimativa para o próximo capítulo, porque esse semestre da faculdade está igual a um trem em alta velocidade. E eu no trilho. Então voltarei, tentarei ser o mais fiel possível com as minhas ideias e com todo o enredo e escrita que eu já desenvolvi, e então voltarei novamente aqui.

Obrigada mais uma vez pelos comentários! É isso que me incentivou muito a voltar. Amo as reflexões de vocês!

Se alguém tiver curiosidade para saber como anda minha vida literária além dessa história (risos da minha situação), eu tenho um blog e o meu instagram que agora está voltado para isso.

eraumavezeoutras.blogspot.com
@milenaawanderley

Obrigada de novo! Beijos! Até mais!



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