Love me like a Cat escrita por Lunathck


Capítulo 1
Não Chore


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! Obs: Atualizado com betagem 29/03/2018



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Dênis se inclinou para o espelho e apertou os olhos, tentando descobrir o que estava diferente em seu rosto. Havia deixado a escova de dentes de lado, e sua boca ainda estava cheia de espuma.

Logo que se lembrou, deu um tapa na testa por ser tão burro. Até riu sozinho. O aparelho dental. Ele havia tirado há menos de uma semana.

O garoto era o tipo de pessoa que acordava de bom humor e costumava rir das próprias piadas mesmo que essas não tivessem graça. Inclusive, um dia, no trabalho, ele contou uma piada sobre calvície para o chefe, que por pouco não o demitira. Sim, por acaso ele era careca. Dênis não era tão tapado assim. Aquilo tinha sido uma aposta que fizera com Luana, a balconista e filha do dono do Pet Shop.

Como sempre, naquela manhã, ele chegou ao trabalho todo sorrisos. Deu um abraço apertado e um beijo na bochecha de Luana; Chegou por trás do irmão dela, Fred, e pulou em suas costas. Não se preocupou em machucá-lo, ele era muito maior e o ato não gerou nem um tropeço. Além disso, já estava acostumado com aquele pirralho.

"Sua peste!" praguejou o mais velho.

 

Dênis só fez rir enquanto era puxado para baixo por Fred. Por pouco não caiu, sendo impedido no último segundo pelos braços fortes do colega.


Mas Dênis parou de rir quando viu a expressão dele.

"O que aconteceu?" perguntou baixinho.

 

Fred desviou o olhar, respirou fundo.

 

"Anda, diz!" insistiu. Mas, pela cara triste, ele já sabia.

 

Não precisou de resposta: foi até a sala onde ficavam os cachorros doentes da ONG e procurou por ali, jaula por jaula. Alguns lhe latiam, outros o olhavam com curiosidade, mas a maioria apenas ignorou.

Chegando na última jaula e não encontrando quem procurava, o garoto olhou as coisas em volta. Havia uma caixa em cima da mesa. Ele parou, temeroso, na frente dela. Todavia já podia adivinhar. Ao ouvir o barulho da porta rangendo, viu seus dois amigos ali, espiando com um olhar de solidariedade.

 

Dênis apertou os lábios e se forçou a abrir a caixa. As lágrimas já escorriam, discretas. Quando ele viu o corpo sem vida da cadela com a língua pra fora, não houve nada de discreto mais. Sua garganta doía pelo esforço de prender as lágrimas que escorriam livremente pelo seu rosto. Luana foi até ele, afagou sem ombro e fechou a caixa, puxando-o porta afora e o colocando sentado em uma cadeira.

"Shhhh, não chore, ela já estava sofrendo demais quando você encontrou" A menina tentava acalmá-lo.

"Ô Lu, ela tava ficando boa, ia sarar. Eu ia levar ela pra casa" lamentou-se.

O sininho da porta tocou, anunciando a chegada do primeiro cliente do dia. Luana suspirou e voltou até o balcão. Fred ficou escorado na porta olhando Dênis chorar por alguns segundos e então voltou ao trabalho.

Luana quase arregalou os olhos ao ver o homem esperando com uma tez completamente tranquila, segurando um gato cinza pela nuca enquanto o bichano se debatia e tentava arranhá-lo e mordê-lo.
Contudo, não estava surpresa pelo gato, e sim por aquela beldade de homem: Ele estava com a gravata torta, a camisa mal passada e o cabelo bagunçado, e ainda assim ele possuía um aspecto altivo, talvez fosse seu jeito de olhar para as coisas com certa superioridade. Ela poderia achar isso irritante em alguma outra pessoa, mas naquele momento estava atraída pelo cliente.

"Em que posso ajudá-lo?" Ela se debruçou sobre o balcão, com um sorriso.

 

Seu irmão revirou os olhos do outro lado do recinto, apenas observando enquanto o outro tomou a fala:

"Essa... coisa invadiu minha casa. Dizem que ao segurar esses verminhos assim eles se aquietam, mas não funcio..." No meio da fala, o gato enfim conseguiu dar a mordida de sua liberdade daquele sujeito indelicado, que o soltou com um protesto. O felino caiu de pé como de costume e correu o mais rápido que pôde para o primeiro lugar que avistou.


Luana se surpreendeu e estava pronta para correr atrás do animal, porém o cliente já fazia as honras. Ele entrou na sala cuja porta estava aberta e viu aquela criatura se esconder entre as pernas de alguém.

Dênis não estava mais sentado na cadeira, e sim no chão ao extremo canto do recinto, entre o armário e a parede. Os joelhos estavam dobrados e encostados no peito, os braços cruzados sobre as pernas e a cabeça baixa, escondendo o choro e deixando à mostra apenas os cabelos loiros. Ao ouvir o barulho e perceber que o pequeno animal se escondeu atrás de seus All Star surrados e com cadarço desamarrado, ele levantou o rosto, limpando o nariz com a manga da blusa. Para sua surpresa, deu de cara com olhos verdes atrás das armações de um óculos.

"Muito perto" ele murmurou com a voz fraca e empurrou o rosto do homem, com a outra mão já segurava o gato pela nuca, e o bichano estava completamente imóvel, com a cara esticada em uma careta que mais parecia um alienígena. Talvez o fosse.

Por sua vez, o homem se afastou um pouco, ficando agachado de frente para o garoto, observando-o com curiosidade.

 

"O que houve, está de castigo aí?" Ousou dar um meio sorriso, mas Dênis não correspondeu.

O menino apenas desdobrou as pernas um pouco para colocar o gato no colo - já que a pessoa não havia pego quando Dênis o entregou. Ficou olhando para a bolinha de pelos e afagou-lhe o queixo. Imediatamente o animal se deitou ali e começou a ronronar, o que arrancou um sorrisinho do seu benfeitor.

O homem bufou, sentindo-se ignorado. Levantou e girou nos calcanhares, afinal, seu problema - o gato - parecia ter sido resolvido. Logo surgiu algo bem maior à sua frente que ele só percebeu olhando para a porta: um grandalhão de braços cruzados e a balconista atrás dele, observando, preocupada.

"Vamos lá, deixe o garoto em paz" Fred disse, parecendo nada amigável ao fazer um gesto com a cabeça indicando porta afora.

O outro não precisou ouvir duas vezes para sair rapidinho daquela sala. Fred esbarrou nele e Luana saiu da frente.

"Bom, ahn, e o que o senhor deseja?"

Dessa vez, ele foi direto ao ponto:

 

"Posso deixar o gato aqui?"

Luana apertou os lábios e fez uma negativa.

 

"Desculpe, a ONG está lotada. Já o pet shop tem a parte do hotelzinho, mas tem um custo e o senhor deve buscar depois." Ela olhou estranho para ele, já percebendo que o intuito era largar o bicho ali para sempre.

O cara suspirou, olhando o relógio.

 

"Isso deve sair uma nota... Não tem outro jeito? Eu até decido sobre ele depois, mas agora preciso me arrumar pro trabalho!"

Só perceberam a presença de Dênis quando este tomou a palavra.

 

"Ele pode ficar comigo por enquanto. Você vai voltar, não vai?" Lançou um olhar inquisidor para o moço.

 

Ele pareceu aliviado e passou a mão nos cabelos com um suspiro, assentindo. Pegou um cartão de visitas no bolso e entregou para Dênis.

"Dou minha palavra" Fez uma menção de agradecimento e saiu da loja com pressa.

"Será que a palavra de um desconhecido vale alguma merda?" perguntou Dênis, olhando para Luana e acariciando o gato que dormia em seu colo. Já estava com um sorriso no rosto, dessa vez acompanhado de uma tez maldosa.

"Eu espero que ele volte mesmo" ela suspirou, apoiando o queixo com as mãos em concha e os cotovelos no balcão.

"Espero que ele nunca mais pise aqui" Fred disse, bufando. "Sujeitinho folgado"

Dênis gargalhou, girando o cartão entre os dedos.

"Miguel Sierpe, Editora Filadélfia" Dênis ergueu as sobrancelhas, jogou o cartão pelas costas. "Legal"

"VOCÊ VAI PEGAR E JOGAR NO LIXO!" Luana apontou de forma ameaçadora para o cartão no chão.

 

O garoto deu um sorriso amarelo e chutou o papel para debaixo de uma estante.


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Notas finais do capítulo

Oi! Obrigada por ter lido, espero que tenha gostado. Que tal deixar um comentário? Isso me motiva demais a escrever.

Kisses é até o próximo~



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