Emma estava atrasada para a aula, como não era novidade. Ela saiu de casa correndo, ainda terminando de comer uma torrada com geléia. Por sorte conhecia um atalho atravessando o vão entre dois prédios logo adiante na rua. No entanto, quando se aproximava de lá, parou, vendo dois garotos saírem da passagem. Emma achava que só ela e os gatos de rua passavam por ali.

Um dos garotos era loiro, vestia uma camiseta laranja e jeans surrados enquanto o outro era moreno e estava todo vestido de preto. Era como se tivessem combinado de se vestir ao contrário um do outro.

O garoto moreno estava meio pálido tentava se desvencilhar do outro que o segurava pelo ombro, dizendo:

— Você está fraco. Ainda corre o risco de desmaiar...

— Eu estou bem, Solace. Esses seus horríveis chicletes medicinais ao menos servem para alguma coisa.

Mas o garoto loiro não o soltou. Ele levantou os olhos e avistou Emma parada com a boca meio aberta.

— Ah, olá, você pode nos dizer onde estamos?

— Ehh... Esta é a Sapphire Street...

O garoto loiro olhou em volta com a testa franzida em desconhecimento.

— Londres? Inglaterra? Planeta Terra? - Emma falou brincando, mas os dois garotos trocaram um olhar espantado.

— Como isso é possível? – perguntou o loiro.

O moreno pálido o acusou:

— Você me distraiu na hora em que estávamos partindo!

O loiro suspirou e agradeceu a Emma antes que os dois começassem a se afastar com passos lentos.

Emma continuou parada, observando-os. Queria ouvir explicações, mas não conseguiu articular nenhuma pergunta. Tudo que conseguiu ouvir só a deixou mais confusa e curiosa.

— Talvez eu consiga... – o moreno começou a falar, mas foi cortado.

— De jeito nenhum. Você não vai nem pensar nisso por umas boas horas. Vamos só... procurar outro lugar para nosso piquenique.

— Tudo começou a dar errado no momento em que você quis sair do acampamento para comer coisas contrabandeadas pelos garotos de Hermes quando poderíamos muito bem fazer isso no meu chalé.

— Shh. Não é tão ruim. Ora, estamos aqui na terra de Harry Potter, Sherlock Holmes...

— É, você deve mesmo ficar feliz por não termos ido parar na China, ou pior, na Albânia.

Emma achou que não podia ter ouvido direito essa última parte. No momento seguinte, eles tinham se afastado demais para ela conseguir ouvir mais qualquer coisa e, logo depois, sumiram de vista na esquina.

Alguém deu um encontrão no seu braço mandando a sutil mensagem de que ela estava atrapalhando a passagem dos outros parada ali no meio da calçada. Isso a trouxe de volta para sua realidade. O pedaço de torrada que ainda segurava, o relógio de pulso que lhe dizia que levaria mais uma advertência por atraso.

— Ai, minha nossa! - exclamou voltando a correr, adentrando seu atalho pelo caminho escuro.