O anfiteatro estava lotado. Nico mantinha o olhar parado diante deles enquanto Quíron fazia seu pronunciamento. Apenas algumas frases soltas, como “melhor curandeiro que conheci em alguns séculos” e “muito jovem” chegavam aos seus ouvidos.

O momento se repetia em sua cabeça sem parar. Aquele em que encontrara Will caído com o horrível ferimento da espada que o atravessara pelas costas. Contra todo seu conhecimento sobre morte, Nico implorara que Will lhe dissesse o que devia fazer, como poderia ajudá-lo. Will não conseguia falar, mas seus olhos lhe diziam que sentia muito. Parecera mais preocupado com o desespero de Nico do que com o fato de que estava morrendo.

Nico segurou a mão que ele tentou erguer até seu rosto e agarrou-se a ela enquanto sentia a vida deixar o corpo de Will apesar de suas súplicas a todos os deuses de que conseguiu lembrar.  Não sabia como não morreu tirando-o dali em meio à batalha que ainda seguia. Gostaria de ter morrido. Tinha certeza que morrer doeria menos do que o que estava sentindo.

O silêncio o fez perceber que o discurso de Quíron acabara e que agora ele devia dizer algo. Will merecia um adeus digno. Era esse o pensamento que estava mantendo Nico de pé.

— Will Solace era a prova de que uma pessoa de coragem não precisa ser um guerreiro no campo de batalha. – Sua voz soou estranha aos seus próprios ouvidos, rouca e sem emoção. – Enquanto matávamos inimigos, ele arriscava sua vida para nos salvar. Todos os dias ele se dedicava por nossas vidas... Will não foi menos herói do que todos que morreram em combate. Will... – Nesse momento ele baixou os olhos para o corpo envolto na mortalha clara com sóis dourados bordados e suas pernas enfraqueceram. Ele percebeu alguns se preparando para aproximarem-se e ajudá-lo. Precisava terminar logo com aquilo antes que desabasse.

Com as duas mãos, para disfarçar o tremor, ele iluminou uma tocha no fogo e levou ao corpo. Sua voz estava ainda mais estranha quando anunciou:

— Em honra de sua morte heroica, ofereço-lhe agora as chamas do fogo sagrado de Héstia...

Suas mãos hesitaram. Ele sentiu alguém tocar-lhe o ombro. Era Hazel, que ele nem sabia quando tinha chegado ao acampamento.

— Nico, você não precisa...

Antes que ela pudesse convencer Nico a ceder seu lugar, as chamas passaram a consumir a mortalha e um cheiro cítrico subiu junto com a fumaça. Hazel continuou a seu lado enquanto Nico cantava um hino a Hades assistindo as chamas ganharem altura e tomarem Will.

Quando parou, o vazio em seu peito tinha se tornado de fato insuportável. Will se fora... Nada mais fazia sentido... Depois de um último olhar para as chamas, ele se afastou, abrindo caminho entre as pessoas e ignorando as que chamavam seu nome.

Nico correu na direção da floresta. Lágrimas escorriam de seus olhos e um grito machucava sua garganta enquanto ele corria de encontro às sombras.