A garota do clube escrita por Miss Lamarr


Capítulo 4
Annabeth


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Annabeth estava apoiada na escrivaninha de madeira velha e empoeirada, segurava um retrato com uma bela moldura em uma de suas mãos enquanto fazia força para não chorar.

O cômodo em que estava pertencia ao clube, mas ela sabia que era mais dela do que de qualquer outra pessoa. Era uma espécie de escritório e o lugar mais escuro do Buffalo Club, quase nunca batia sol lá, talvez um pouco se você tivesse a boa vontade de abrir as persianas da única janela ao meio-dia no verão. Havia boatos de que estava assombrado, entretanto a vida de Annabeth já era um grande filme de terror, não havia mal algum em em ir nesse cômodo quando quisesse se desligar do mundo em torno dela, afinal era um dos poucos lugares silenciosos do clube, tão silencioso que a moça conseguia ouvir seus próprios pensamentos como se eles estivessem sendo gritados por alguém.

O retrato era dela mesma, com seus seis ou sete anos e era perturbador demais olhá-lo fixamente por muito tempo, ela desconfiava que poderia ficar louca se o fizesse. Era como olhar para um espelho. Não um espelho que refletia sua maquiagem, seus olhos grandes, suas sobrancelhas, definitivamente nada em relação com aparência. Era um espelho que a refletia para si mesma, a Annabeth que estava lá dentro da sua carne, presa e agachada com medo do mundo, a Annabeth que ficava escondida para ela não desistir. A foto fazia ela lembrar-se de sua infância, de sua família de nascimento, de seus antigos conceitos e das coisas que se agruparam para fazer a nova Annabeth.

— Cantar em um clube? — Sua mãe dizia ao telefone. — Você está ficando fora do seu juízo.

— Eu não estou te pedindo permissão, mamãe. — Ela falou, com a voz firme. — Só estou te noticiando.

— Você sumiu de casa faz três anos e essa é só a segunda vez me liga. As duas vezes com notícias ruins. — Ralhou a mulher. — Você não vai tomar rumo nessa vida nunca, não é mesmo, Annabeth Chase?

— Eu fiquei um ano sendo garçonete daqui e agora, que fui promovida, você fala como se eu estivesse fazendo algo de errado.

— E está! Está. — Ela gritava, descontroladamente. — Quando se é uma criança brincar de ser artista é uma gracinha, mas você é uma mulher! Ouviu? Mulher!

— Sendo uma mulher já posso escolher o que bem fazer, não preciso me consultar com a senhora.

— Um clube com um monte de homens bêbados e mulheres quase nuas, é isso que você quer para sua vida?

— O que eu queria você e papai não deixaram. — Resmungou Annabeth. — Eu não vou ser a boneca de vocês para sempre. Eu tenho minha própria vida.

— Mas existem regras da sociedade para serem cumpridas. Vai querer que os outros espalhem coisas ruins sobre você?

— Se eu quero? — Annabeth riu, fracamente. — Você e papai já fazem isso todo o tempo.

— É para o seu bem, nós amamos você e não queremos ficar sabendo dessas coisas sobre você, queremos saber coisas boas.

— Pode deixar que eu não ligo mais, mãe. — Ela brandiu, sem paciência. — Ah, e pode engolir esse seu protocolo social.

Annabeth encaixou o telefone no gancho e desabou no chão, chorando.

A jovem piscou os olhos com força, deixando uma lágrima correr pela sua bochecha. Depois de três anos, lá estava ela, no mesmo lugar, pensando em como tudo poderia ser diferente.

Ela chamava-se mentalmente de reclamona. Pessoas doentes, pessoas famintas, pessoas sem teto e ela reclamando da vida. Porém nada podia fazer, não tinha como mentir para ela própria por muito tempo, não tinha como negar que a garoa dentro dela se transformava em uma tempestade de vez em quando.

Ela viu a dobradiça da porta grunhir, mostrando que alguém havia entrado. Annabeth deixou a fotografia de volta na escrivaninha e limpou o rosto frenética e rapidamente. Se virou para a porta e viu Thalia, segurando um vasilhame com frutas na mão.

— Estava chorando? — Perguntou.

— O quê? — Annabeth deu um sorriso amarelo. — Claro que não.

— Você entrou em pânico quando eu abri a porta. — Thalia retrucou. — E seus olhos estão vermelhos.

— Ah, não é nada, deve ser alergia.

— Sei. — A mulher torceu a boca, desconfiando. Estendeu o vasilhame para Annabeth. — Trouxe frutas, achei que estivesse com fome.

— Obrigada. — Ela pegou e deu uma colherada gorda. — Você, Thalia, é um anjo.

— Eu sei. — Riu. — Tem um homem lá embaixo querendo falar com você.

— Quem é? — Questionou, de boca cheia.

— Acho que ele se apresentou como senhor Jackson. — Thalia colocou o dedo no queixo, de maneira pensativa. — Ele disse que te conhece.

Annabeth não fazia idéia de quem era, mas balançou a cabeça afirmativamente, agradecendo Thalia.

— Pode ir, eu procuro ele.

— Tudo bem. — Thalia acenou com a mão, saindo. — Coma tudo!

Annabeth terminou rápido de comer, realmente estava com fome, ainda bem que tinha amigas cuidando dela, se não fosse assim ela desmaiaria umas três vezes por semana. Deixou o vasilhame vazio em cima da escrivaninha, junto com a foto. Tentou não encará-la, simplesmente sacudiu as mãos na roupa e saiu.

Desceu as escadas de madeira velha, fazendo um barulho imenso com o salto de seus sapatos. Do fim da escada, tinha a visão de todo o espaço do clube, as mesas, as pessoas, a porta de entrada e saída, o pequeno palco, o bar e a entrada para a cozinha. Começou a mirar em pessoas, para ver se alguém que não conhecesse pudesse ser o senhor Jackson.

— Procurando alguém? — Foi cutucada no ombro.

Annabeth virou o rosto e deu de cara com Percy. Ela riu, em menção a frase que a mesma tinha feito dias antes.

— Senhor Jackson, hein?

— Claro. — Ele riu. — Onde estava que demorou tanto?

— Não demorei tanto. — Respondeu. — Estava só comendo.

— Para mim, foi uma eternidade. — Resmungou ele.

Annabeth foi andando até a mesa mais próxima, com Percy acompanhando-a do seu lado. Eles se sentaram e a moça cruzou as mãos, olhando para ele.

— Você sumiu por uma semana. — Disse, por fim. — O que veio fazer aqui?

— Precisava te contar que fiz aquilo que você me recomendou. — Percy falou.

— Se demitiu do emprego? — Ela arregalou os olhos, sem acreditar no que estava ouvindo.

— Sim, por quê? — Perguntou, se assustando também. — Aquilo foi só uma brincadeira e eu não deveria ter feito aquilo?

— Não, foi sério. — Annabeth gargalhou. — Só fiquei surpresa de você ter acatado.

— Bom, não estava nada feliz, precisava fazer alguma coisa.

— E já arranjou outro emprego?

— Não. — Engoliu seco.

— Ora, que legal. — Ela comentou, sarcástica. — E o seu aluguel atrasado?

— Continua atrasado. — Percy desviou o olhar, desconfortável. — Estou nos meus momentos finais com minha casa, acredito eu. Por isso vim aqui.

— O aniversário de Melvin é daqui a algumas semanas e eu não tenho dinheiro nem para comprar um presente para ele, esqueça, não vou te emprestar dinheiro. — Annabeth negou com a cabeça, se levantando.

— Annabeth, você nem me ouviu falar. — Ele se levantou, postando-se ao lado dela. — Não quero seu dinheiro.

— E o que quer? — Cruzou os braços.

— Um emprego aqui. — Percy falou. — Não tenho muitos amigos e ninguém que vai me ajudar, você é a única pessoa que tem como fazer isso por mim.

— Eu faria isso porque... — Ela fez um gesto para que ele continuasse.

— Porque eu sou demais. — Riu.

— E mentiroso. — Ela riu, deixando-o sem graça. — Eu não cuido dessa parte, ok? O dono está viajando, você pode falar com o sócio, o velhaco nojento que eu te apresentei da última vez, Walter Thompson.

— Eu preciso mesmo fazer isso? — Estava claro na feição do rapaz que ele não queria fazer aquilo.

— Se quiser trabalhar aqui, acredito que sim. — Annabeth respondeu. — Ele está ali. Diga que fui eu que te mandei.

— Sério isso? — Murmurou, seus olhos pareciam cansados e seu tom era de maior insatisfação.

— Sério. — Ela piscou um dos olhos para ele. Virou-se e começou a caminhar até uma de suas amigas, deixando-o sozinho.


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