Wild Child escrita por Alex Baggins


Capítulo 2
Meet Sasha




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Lily depositou suas malas no chão úmido sem muito cuidado, fazendo lama se espalhar em volta dela e acertar a barra da calça cinza de seu pai. Ela sorriu de leve como se pedisse desculpas, mas seus olhos não mostravam arrependimento.

—Lils... – ele começou a falar, mas foi interrompido.

—Sabe, isso nem é um apelido de verdade. – ela disse enquanto avaliava a escola, que mais se parecia um castelo com todas suas torres de tijolos e aparência medieval – Eu não conseguia pronunciar meu nome quando era mais nova, então eu me apresentava como Lils. O nome pegou. – Charles Harrington sorriu para a filha, parecendo achar a memória divertida – Mas você não estava lá. – o sorriso dele desapareceu – Então não pode me chamar assim.

Ela saiu na andando na frente, arrastando a mala pelo chão sem se importar em sujá-la. O jardim principal da escola era enorme, cheio de árvores de troncos grossos e grama alta. Ali pareciam se encontrar todos os alunos da escola – o que, se ela pensasse bem, não eram tantos assim – cumprimentando uns aos outros, despedindo-se dos pais ou simplesmente encarando Lily.

 Talvez fossem suas roupas ou o fato de que ela era a única aluna nova do sétimo ano, mas todos pareciam estar olhando para Lily. Não que ela se preocupava com isso, essa era exatamente a intenção dela quando se vestira naquela manhã. Com seu short de couro negro, jaqueta carmesim e óculos que cobriam metade do seu rosto, Lily não estava surpresa com os olhares.

—Lily. – chamou Charles novamente, apressando o passo para acompanhar a filha que se dirigia para as portas colossais da entrada do castelo – Você sabe que eu estou tentando, não sabe?

Lily o ignorou, aumentando o volume da música que tocava pelo fone de ouvido que havia escondido de baixo de seu cabelo ruivo. Ela ainda conseguia ouvir pequenas partes do velho discurso de “desculpa por ter te abandonado quando você nasceu, posso voltar pra sua vida como se nada houvesse acontecido?“, mas no último verão ela havia ficado imune às palavras de seu pai.

A parte interior da escola seguia o mesmo estilo clássico que beirava antiquado do lado de fora, com paredes feitas do mesmo tijolo e quadros de pintura desgastada. Os alunos, todos vestidos com roupas caras de tons pastéis, se amontoavam na frente da escadaria onde os dormitórios estavam sendo divididos e as malas sendo entregues aos zeladores. Lily, com todo o seu mau humor e jetlag, não estava ainda a fim de se misturar com os outros alunos, muito menos ter que continuar ouvindo seu pai. Ela depositou suas malas no chão mais uma vez e se virou para Charles, levantando os óculos escuros para que eles se encaixassem no topo da sua cabeça.

—Eu vou ao banheiro. Que tal você ir despachando minhas coisas e ir checando o número do meu quarto? – ela sugeriu com um sorriso amarelo.

Charles apenas acenou e pegou as duas malas, dirigindo-se para as escadarias sem olhar para trás, talvez ansioso para poder escapar do desconforto de ter que ser ignorado pela filha. Lily esperou que ele estivesse longe o suficiente antes de se virar e seguir na direção contrária do banheiro. Não importava muito onde ela estava indo, importava apenas que ela fosse longe o bastante para ter que evitar um segundo a mais que seja de interação forçada com ele.

Charles Harrington não era um homem mau. Ele era legal com ela quando a encontrava e nunca deixou de enviar certa quantidade de dinheiro todo o mês para ajudar nas despesas da casa. Ele só era idiota e covarde, covarde por nunca ter realmente assumido a filha para imprensa, idiota por achar que dezessete anos depois do nascimento da filha ele ainda podia ter fazer parte da vida dela.

Lily não ligava para os motivos que ele apresentava: que era perigoso para ela ser reconhecida como filha de um membro do Congresso, que ela nunca teria uma vida normal, que uma filha bastarda teria destruído sua carreira ou qualquer outra desculpa que ele inventava. Ela não queria que ele a assumisse, ela queria que ele sumisse mesmo, como tinha feito todos esses anos, e voltasse para o buraco político de onde havia saído.

O corredor pelo qual ela caminhava, já em uma parte mais interna do castelo, parecia conter o primeiro nível dos dormitórios femininos, por onde uma quantidade absurda de garotas passava arrastando seus pertences e conversando com suas colegas de quarto. Todas elas pareceram congelar ao ver Lily se aproximar e se afastaram para abrir espaço no corredor como se a garota tivesse alguma doença, deixando-a caminhar em silêncio até que alguém disse:

—Batom legal, bruxa.

Lily parou no meio do corredor. Ela sabia que cedo ou tarde isso iria acontecer, que  a tentativa de bullying contra a garota nova ia chegar eventualmente. Mas ela nunca havia sido o tipo de menina que se escondia, comendo seu almoço em silêncio em uma das cabines do banheiro. Por isso ela se virou, a boca pintada de preto se abrindo em um sorriso amplo e debochado, os olhos faiscando ao pousarem na dona da voz.

A garota não era exatamente o que Lily esperava. Com cabelos escuros e olhos cor de mel, a menina deveria ter no mínimo vinte centímetros a menos que a ruiva e mantinha o queixo tão alto que parecia machucar seu pescoço magro.

—Unhas legais, Sasha Gray. – replicou Lily apontando para as mãos da menina, adornadas com enormes unhas postiças – Você paga a mensalidade de Hogwarts com os seus ganhos da indústria pornô?

Sasha Gray, como Lily havia decidido que seria o nome da garota dali em diante, pareceu engasgar com o próprio ar enquanto uma rodada de risinhos baixos ecoava pelo corredor.

—Quem é você, aberração? – perguntou Sasha, tentando disfarçar todo o seu embaraço com seu fraco comentário.

—Lily Evans, grande fã do seu trabalho. – respondeu a outra estendendo uma mão.

Sasha não aceitou o comprimento, limitando-se a olhar Lily de cima a baixo com uma expressão de profundo desgosto.

—Você vai aprender, Lily Evans... – ela começou a falar com um tom ameaçador, mas Lily levantou uma mão e interrompeu.

—Eu vou te parar por aqui, porque você está me entediando. – falou Lily enquanto analisava suas próprias unhas com interesse – Mas deixa eu te avisar uma coisa: você pode guardar seus discursos e ameaças de adolescente frustrada com a própria vida, porque isso não funciona comigo. Então você pode me poupar de ouvir o seu monólogo de Meninas Malvadas e simplesmente ignorar minha existência pelas próximas semanas, porque você pode ter certeza que eu vou ignorar a sua e a próxima vez que eu vou olhar na sua direção vai ser para ter certeza que eu não vou pisar em você enquanto ando.

O silêncio do corredor era tenso, nenhuma garota se atrevendo a abrir a boca para ir a defesa de uma das duas.

—Era só isso que você queria? Ótimo. – e com um último sorriso amarelo, a ruiva se virou e continuou em seu caminho.

XxX

Lily estava perdida. Talvez fosse o fato de que todos os caminhos pareciam iguais ou talvez fosse sua falta de atenção, mas ela não tinha ideia alguma de onde estava. Tão focada que estava em amaldiçoar essa escola até os próximos dois séculos, ela acabou se esquecendo de olhar por onde ia.

O corredor em que andava era gelado, sem quadros ou qualquer tipo de placa de direção. Ela até conseguia ouvir o barulho de vozes vindo de algum lugar, mas por mais que andasse não conseguia encontrar uma única pessoa se quer. Frustrada, ela soltou um suspiro cansado e se resignou a continuar andando, tentando ao máximo seguir o som das vozes.

Lily estava tendo mais um de seus devaneios, batendo os dedos contra a coxa em um ritmo rápido, quando percebeu que as vozes estavam gradativamente ficando mais altas. Feliz por finalmente parecer estar chegando e algum lugar, ela apressou os seus passos até estar quase correndo. As vozes foram ficando mais altas, até que ela dobrou uma esquina e as vozes pararam de vez.

Ela encarou os garotos do corredor, um por um. Haviam muitos, apoiados nos batentes das portas ou simplesmente parados no meio do caminho. A maioria deles eram muito novos, mas havia um mais próximo dela que aparentava ter mais ou menos sua idade, baixinho e com a aparência assustada de um rato, que a olhava com uma mistura de medo e admiração.

—Olá. – ela disse com a voz mais dócil que conseguia.

O garoto não respondeu, parecendo ainda assustado demais para falar.

—Eu estou levemente perdida. – Lily continuou, sem se importar com o desconforto do outro – Você pode me ajudar?

Ele abriu a boca como se fosse dizer algo, os dedos se contorcendo nas mãos trêmulas.

—Rabicho! – gritou uma voz que vinha de trás dos dois – Por que a demor... Ah, olá.

Lily se virou, dando de cara com outro menino, esse muito mais alto e infinitamente mais bonito que o primeiro. Ele tinha cabelos negros que iam até o ombro, olhos de um tom fascinante de cinza e um sorriso que prometia problemas.

E problemas era exatamente o que Lily procurava, e por isso ela sorriu como um gato prestes a pular em sua presa.


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Notas finais do capítulo

Enjoy ♥