Singularidade escrita por SayakaHarume


Capítulo 9
III. Singularidade




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Era fácil esquecer que o tempo estava passando quando Aklen e Vikram estavam juntos. Podia ser apenas sentados no cais, ou com Aklen supervisionando a construção do armazém, com Vikram o observando de longe. Eles nunca estavam separados. Se isso tinha levantado qualquer rumor na ilha, nenhum dos dois sabia ou se importava. Aklen tinha a leve impressão que seu pai iria querer matá-lo se soubesse o que ele andava fazendo em seus passeios particulares com Vikram na floresta, mas Derin, covarde que era, parecia ter ficado com uma impressão bem forte da espada que estivera em seu pescoço meses atrás.

A cada dia que passava, Aklen tinha mais certeza de que nunca quereria ficar longe de Vikram. Seus sentimentos por ele eram como a nascente de um rio. A primeira vista, poderiam parecer pequenos e frágeis, mas ao se olhar mais cuidadosamente, por tempo o suficiente, se via que ali surgia um rio calmo, estável e imutável.

Não havia como voltar atrás e ele soubera disso no momento que havia beijado Vikram pela primeira vez.

Vikram, por sua vez, era vendaval. Seu amor por Aklen havia soprado tudo no caminho, derrubando tudo e abrindo caminho para que aquele garoto quebrado tomasse todo o espaço. Pouca coisa ainda havia ficado de pé. Entre seu carinho por seu irmão e sua paixão por desbravar novas terras, Aklen reinava.

Por isso, ele temia cada dia mais o fim próximo das obras na ilha. Eles nunca tinham falado concretamente o que fariam depois.

A conversa aconteceu em um dia de chuva, quando os dois estavam na casa de Vikram, aproveitando que Aklen estava em seu dia de folga e Sumer havia o expulsado de casa para ela ter um tempo de qualidade com os gêmeos.

A chuva caía lá fora, mas nenhum dos dois dava atenção a isso. Eles eram uma confusão de braços e pernas sobre a cama, e era inconclusivo onde um terminava e o outro começava enquanto trocavam beijos quentes e frenéticos.

Vikram jogou a cabeça para trás, nunca tentativa de recuperar o fôlego, e Aklen aproveitou para descer suas carícias ao pescoço exposto. Seus dentes arranharam a pele e Vikram liberou um gemido que, em condições normais, teria feito Aklen corar. Mas agora Aklen estava puxando a camisa de Vikram para fora do caminho e Vikram se arrepiou ao sentir as mãos de Aklen percorrerem seu tórax. Ele não entendia porque Aklen se sentia tão constrangido pelas próprias mãos. Aquelas mãos com certeza estavam entre suas três coisas favoritas sobre Aklen, logo depois da mente brilhantemente criativa e aqueles lábios que pareciam saber exatamente os lugares onde provocar.

― Onde você conseguiu essa cicatriz? ― Aklen perguntou, acariciando a linha logo abaixo das costelas de Vikram, do lado direito.

― Oh. ― Vikram se forçou a focar na conversa, o que era complicado com Aklen tão perto e com as suas mãos nele. ― Esfaqueado em uma briga de bar dois anos atrás. Eu ficaria encantado se você nunca mencionasse isso a Ravi.

Aklen sorriu, perversamente divertido.

― Oh, tenho certeza que você pode me convencer a guardar seu segredo.

― Com certeza podemos negociar de alguma maneira. ― Vikram riu e puxou Aklen, deixando sentado em seu colo, uma perna em cada lado de sua cintura.

A camisa de Aklen foi parar no chão, e Vikram não desperdiçou um segundo para espalhar marcas por toda a pele visível. Seus dedos encontraram algumas marcas de queimaduras, de anos atrás, mas seus olhos procuraram os de Aklen assim mesmo, em uma pergunta muda.

― Eu me queimei na infância, acendendo o fogão ― sussurrou para não alterar o clima do quarto. ― Eu cresci muito, parece pior do que realmente foi.

― E aqui? ― Vikram tocou uma cicatriz na clavícula de Aklen.

― Oh, você realmente não quer falar sobre essa. ― Aklen riu, desconcertado e envergonhado, seus olhos em qualquer lugar menos em Vikram.

O significado da frase não passou em branco.

― Ele nunca mais vai tocar em você. ― Sua voz era tranquila, a frase dita apenas um fato tão imutável quanto o sol surgindo no céu toda manhã. ― Logo a construção vai terminar e vamos embora daqui.

O fogo na lareira estalou e Aklen afundou seus dedos no cabelo de Vikram, seus polegares afagando a face preocupada.

― Nós vamos, não vamos? ― A voz tão baixa que Vikram quase não ouviu. ― E eu nunca mais vou ter que ver meu pai outra vez.

― Nunca mais ― Vikram prometeu, suas mãos sentindo as batidas do coração de Aklen ecoarem na caixa torácica sob seus dedos.

― Nós poderíamos viajar o mundo... ― Aklen não ergueu a voz e um sorriso sonhador se espalhou por suas feições. ― Você poderia me mostrar o rio Akleanos.

― Será nossa primeira parada. ― Vikram beijou o pescoço de Aklen e sorriu.

― E depois?

― E depois teremos o mundo inteiro.

Aklen sorriu, e naquele momento Vikram estava tão apaixonado por ele que sentia como se fosse explodir.

― Todo esse tempo, eu estava me agarrando a essa ilha, com medo do que me esperava no futuro. ― Aklen beijou Vikram suavemente antes de continuar. ― Eu finalmente estou pronto para sair desse lugar, Vikram.

― Então vamos embora, Aklen.

—x-

Não havia muito o que levar, uma vez que a família de Aklen não tinha muito para começo de história. Sumer parecia à beira das lágrimas a cada passo que dava para longe da casa que um dia havia sido sua, mas continuou agarrada ao braço de Aklen até o momento do embarque.

Vikram cedeu sua cabine para a pequena família, e iria ficar com o resto da tripulação naquela viagem, apesar dos protestos de Aklen.

― Aklen, não faz sentido colocar três crianças com o resto da tripulação. ― Vikram revirou os olhos, encostando-se ao mastro com os braços cruzados. ― São poucos dias de viagem, se isso te preocupa tanto. Eu já passei meses com esse pessoal. Alguns já estão na tripulação a anos. Não é grande coisa.

Aklen lutou contra a vontade de afastar aquela mecha de cabelo que caía sobre os olhos azuis de Vikram.

― Teimoso ― disse, por fim, antes de se virar para a ilha. Após dar poucos passos, se aproximando e apoiando as mãos na borda. ― Eu nunca sai do arquipélago antes.

Vikram veio se postar do lado dele, casualmente colocando sua mão próxima a de Aklen, os dedos se roçando.

― Você vai adorar ― prometeu.

Aklen sorriu discretamente, os dois próximos, mas não tão próximos quando gostariam de estar.

― Desde que estejamos juntos.

—x-

Aklen quase tropeçou diversas vezes quando desembarcou, na sua pressa de chegar até Ruya. Ela gritou animada quando o viu e correu até se jogar em seus braços, e ficaram assim, abraçados, até que Demir, Isin e Demet os alcançassem. E então Sumer, Kaner, Seven e Nimet desembarcaram e tudo se tornou uma bagunça naquele reencontro.

Ruya afagava o cabelo de Kaner quando Vikram passou e a cumprimentou. Ela o abraçou brevemente, para a surpresa do mesmo, mas ele a retribuiu antes de deixar a família prosseguir sua reunião, mas a longa troca de olhares entre ele e Aklen não lhe passou despercebida.

― Então... ― Ela se aproximou de Aklen, que tinha acabado de se libertar do abraço de Isin. ― Eu tinha uma ideia que você e Vikram se davam bem, mas eu não imaginava que iam realmente se tornar amigos, já que você sempre foi tão fechado. Quero dizer ― ela franziu o cenho, olhando de Aklen para Vikram ―, vocês são amigos, não são?

Aklen olhou sua irmã nos olhos e Ruya quase deixou o queixo cair com tamanha euforia no sorriso dele.

― Ele é meu, sim. ­― Foi a única resposta que ele deu, e Ruya não demorou a perceber que era a única que ela precisava.

E quando eles se abraçaram de novo, não se soltaram por longos minutos.

Não tirando seus olhos de Aklen, Vikram se aproximou de Ravi, que sorria diante da cena.

― Então ― Ravi começou, cruzando os braços e sorrindo brincalhão para seu irmão mais novo ―, vou dar um chute e dizer que o jovem ali é aquele sobre o qual você tanto falou.

― É, esse é o Aklen. ― Vikram sorriu sem um pingo de vergonha, orgulho em cada palavra que saia de sua boca. ― Ele é ótimo. Aliás, a casa que Ruya mora é muito pequena pra toda a família, então ele e as crianças mais novas vão ficar conosco até que eles se organizem. Não vai ser por muito tempo. Aklen é a pessoa mais proativa que eu conheço e olha que eu cresci com você. ― Estalou a língua. ― Eu ainda não contei esses arranjos pra ele, ele vai ficar todo ‘oh, não quero incomodar’, mas eu me viro.

― Eles serão muito bem-vindos. ― Ravi riu e abraçou o irmão mais novo. ― Eu senti sua falta ― sussurrou.

― E eu senti a sua. ― Vikram apertou o abraço por um instante antes de se afastar. ― Eu não perderia seu casamento.

― Ótimo, já que seria difícil me casar sem meu padrinho.

A essa altura Aklen se aproximava, e Ravi não hesitou antes de estender a mão em um cumprimento amigável.

― Muito obrigado por ter mantido um olho no meu irmão ― Ravi disse depois das apresentações e cumprimentos iniciais de praxe. ― Eu sei bem que é uma tarefa e tanto.

― Ele levou um tempo para se convencer que não conseguia andar pelas trilhas sem se perder ― Aklen brincou, sorrindo diante da expressão ultrajada de Vikram ―, mas depois disso tudo correu bem.

Depois de outras amenidades, Ravi se afastou para falar com o capitão e Vikram aproveitou para apertar os dedos de Aklen rapidamente entre os seus. Eles se entreolharam por um momento, milhares de promessas sendo ditas naquele silêncio.

― Eu amo você ― Aklen sussurrou, e Vikram podia jurar que todo o resto do mundo tinha parado de existir e tudo que ele escutava era a voz de Aklen e as batidas do próprio coração. ― Eu sabia disso a muito tempo, mas eu queria ser alguém que merecesse dizer essas palavras pra você. Eu sinto que eu sou essa pessoa, agora.

― Você sempre foi. ― Vikram não escondeu a emoção na voz. Sua língua passou pelo lábio inferior antes de mordê-lo, tentando se conter. ― Eu sempre amei você. Mesmo antes de te conhecer, eu passei a vida sentindo sua falta.

― Você não tem mais que sentir minha falta. ― Aklen soava como uma promessa e Vikram queria mais do que tudo beijá-lo naquele momento.

Ao invés, disfarçadamente eles entrelaçaram seus dedos, um mundo de possibilidades a frente deles.


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Notas finais do capítulo

E aqui, chegando ao final dessa história que eu amei escrever :D
Sério, várias vezes pensei em transformar essa história em algo de 20 e tantos capítulos, desenvolver histórias para todos os irmãos do Aklen, falar mais sobre Ravi e Maya (que é lindo, gente, fiquei na vontade). Quem sabe no futuro ♥

Mas agora quero falar sobre a Bunny, minha amiga secreta, senpai favorita, pessoa que se brigar comigo eu choro. Não sei mais não te ter na minha vida. Sinceramente, você é uma das pessoas mais gentis que já conheci. Espero que tenha gostado do presente ♥

E pro resto da galera: deixa review ai, a tia gosta



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