W's escrita por Luana Almeida


Capítulo 18
Uma visita do Rei do Inferno




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—Half – lembrei que não havia avisado Bobby – Um trabalho, desculpe – meus olhos pesavam.

—Ele me ligou dizendo que havia pegado esse número com uma aluna de medicina.

—Sim, eu fui aluna de medicina por, acho que quinze minutos – minha voz estava baixa e eu torcia para que ele notasse.

—Certo, porque não deu o seu mesmo? - ele perguntou num tom brincalhão.

—Não dou meu número a qualquer pessoa – ri, mas parei quando lembrei que havia dado o dele.

—E deu o meu? - ele não parecia bravo.

—Eu – pensei antes de falar – Bom, eu só sei o seu número de cor e tinha pouco tempo.

—Tudo bem, diga aos meninos que Castiel apareceu aqui.

—Eles foram caçar – respondi – O que Castiel queria?

—Não me disse, mas estava péssimo – havia alguém lá com ele.

—Tem alguém com você – não foi uma pergunta – Uma mulher – ouvia alguém chamá-lo.

—É a TV – sua resposta rápida o denunciou – Ligo para você quando não estiver dormindo – não deu nenhum tchau, somente desligou.

—Rabugento – gemi soltando o celular ali mesmo e pegando no sono.

 

Antes de realmente dormir ouvi a porta do quarto abrir e logo fechar, mas por mais que tivesse tentando, não consegui abrir os olhos nem expressar nada de que sabia que alguém estava ali. Eu sonhei que estava de novo no avião com Dean. Nele nós estávamos caindo e Dean gritava por John e em todas as vezes que eu acorda e voltava a dormir Dean chamava por um nome diferente. Por conta disso acordei pelo menos três vezes na noite, na quarta vez já passava das cinco da manhã, e eu me recusei a dormir de novo porque aquela cena estava me deixando mal.

 

Desci as escadas pensando em um café para me manter acordada pelo menos até os meninos chegarem. O bunker era enorme e era estranho ficar sozinha lá. Era silencioso e para ficar menos sombrio coloquei um vídeo de um programa de culinária para fazer algum barulho enquanto a água fervia.

 

Eu dei uma olhada na cozinha e ela era tão encantadora quanto o resto da casa, aquele tom escuro com aquela luz fraca. Pensei que se fosse uma mulher de letras, se é que isso existia, eu não deixaria tudo daquela cor horrenda.

 

—Olá.

 

Eu não esperava ouvir ninguém, e a voz não era de Sam ou de Dean, soltei o bule com água fervendo por causa do susto, ele bateu na pia virando e abrindo a tampa fazendo com que boa parte da água caísse em minha barriga e também sobre minha perna direita que estava encostada no balcão, antes de fazer um estrondo ao cair no chão. Senti um ardor alucinante que me fez gemer e tontear no mesmo momento. Apoiei as duas mãos na pia levantando rápido o pé mais próximo da água que caíra no chão para que não queimasse, mas o movimento rápido fez com que doesse ainda mais e sem muito reflexo apoiei o pé na água quente fazendo com que ele também queimasse. ‘’Você é um pouco estabanada’’ ouvi Dean dizer na minha mente.

 

—Opa – a voz atrás de mim não era de preocupação.

 

Puxei o chuveirinho da pia e o liguei molhando todas as partes que doíam além do chão para que ele esfriasse. Consegui virar o corpo para quem quer que estivesse ali e dei de cara com um homem de meia idade, baixo que trajava um terno preto.

 

Ele mantinha as mãos no bolso enquanto arqueava uma sobrancelha e olhava minha perna como se estivesse vendo um lance mal dado de um jogador de baseball.

 

—Quem é você? - minha voz saiu entre gemidos.

—Sou Crowley – ele sorriu – Muito prazer.

—Você é maluco – onde a água tocava o alívio era imediato, porém logo voltava a arder e eu não sabia se jogar água ali era realmente o certo a se fazer.

—Não querida – ele me olhou agora nos olhos – Sou o rei do inferno.

—Não sou sua queria – deixei o corpo escorregar e caí sentada no chão ainda puxando o chuveirinho comigo. Faltou eu me impressionar, mas começara a me acostumar com esse tipo de coisa.

—Você é uma profeta não é? - ele caminhou pela cozinha e se sentou em uma cadeira – Já tive interesse em profetas – ele deu de ombros – Hoje não mais, as coisas mudam não é?

 

Não queria olhar minha perna, mas assim que passei os olhos por ela, vi bolhas altas e a pele vermelha estriada por caminhos de sangue na carne viva.

 

—Você tem um sangue ótimo pelo jeito – ele também olhava minha perna – Minha intenção não era assustá-la.

—Jura? - meu corpo tremia com a dor e eu implorava para mim mesma que os meninos voltassem – O que quer comigo?

—Tenho cinco pactos selados – ele mordeu uma lateral do lábio inferior – Todos querem você, conhece – ele me olhou – Gilliard.

—Queria poder dizer não – respondi encostando a cabeça no balcão.

—Então, ele deve gostar mesmo de você – Crowley estava me deixando impaciente – Ele selou um pacto com um dos meus empregos, além de mais quatro onde ele barganhou outras coisas, muito bom de negociação o tal Gilliard – ele parecia lembrar de algo, seus olhos estavam focados no chão – Mas conhecendo você agora, acho que nada vale a pena – ele sorriu como se fosse tirar uma foto forçada – Não vale a pena entregar a última profeta para um sádico.

—Quer agradecimentos? - ouvir o nome de Gilliard me tirava do sério. Ainda mais saber ao ponto que ele chegara para me ter em casa de volta.

—É uma pena que aqueles dois não estejam aqui – ele cruzou as pernas – Ficariam chateados comigo – ele falou mais alguma coisa que não pude entender – Inclusive o Alce – ele riu – Nunca me perdoaria.

 

Eu não fazia ideia do que ele falava, nem de quem era Alce. Me perguntei do porque não ter uma arma, que fosse eficiente é claro, para atirar naquele desgraçado.

 

—Como entrou aqui? - perguntei lembrando que aquele era um lugar cheio de sigilos.

—Ás vezes a minha querida mãe serve para alguma coisa – ele sorria, mas o tom irônico estava mais que presente – Ela conseguiu bloquear os sigilos – ele olhou em um relógio de pulso – Tenho mais dois minutos.

 

A frase de Dean ‘’Era só o que me faltava’’ ecoou em minha mente.

 

—Estou com uns problemas sabe? - cada palavra que ele dizia pareciam levar minutos para serem pronunciadas – Mas aquele anjinho filho da mãe não quis me ajudar, disse que resolve sozinho.

—Eu não faço ideia do que está falando – as palavras saíram entre dentes – Você pode por favor – um tom de súplica assumiu a frase – Me ajudar?

—Ah – ele riu e me olhou – Até tinha me esquecido disso.

 

Ele levantou e caminhou até onde eu estava e se abaixou em minha frente.

 

—Diga a aqueles dois idiotas – ele pegou o chuveirinho da minha mão e por um tempo manteve regando minha perna – Que da próxima vez que eu ligar e não atenderem, farei muito pior com a protegida deles – ele sorriu levantando e levando consigo a água que aliviava a minha dor.

 

Crowley jogou a mangueira dentro da pia e se abaixou mais uma vez. Ele afundou o dedo indicador no meio de minha coxa me fazendo gritar de dor.

 

—É ótimo – ele disse assim que lambeu o dedo lambuzado de sangue. Mais uma vez levantou e caminhou em direção a porta da cozinha – Só mais uma coisa – ele sorria quando se virou para mim – Eu não ajudo ninguém, sabe, não é do meu feitio.

—Mas quis a ajuda de Castiel – via o sangue escorrer – Não é injusto?.

—É – ele levantou os ombros.

—Ia ficar devendo uma a ele.

—Quando se trata de alguns acordos – ele sorriu – Sou o cara mais prestativo que conhece – ele olhou mais uma vez o relógio e desapareceu.

 

Bobby havia dito que Castiel não estava bem, e me perguntei se ele aparecia no bunker també, o que seria ótimo naquele exato momento.

 

Olhei minha situação e percebi que a camiseta que vestia estava grudada na pele, decidi que era melhor tirá-la dali antes que ela secasse. Respirei fundo tomando coragem e com uma mão a puxei de uma vez. A dor me fez gritar e o sangue começou a escorrer pela pele mais que viva que estava ali. Com as duas mãos fiz uma espécie de copinho para juntar a água que estava no chão e jogar sobre o ferimento. Pensei duas vezes antes de levantar, mas não tinha escolha. Segurei com a mão esquerda a parte de cima da pia e me alcei para ficar de pé. Em meio a pulinhos com o pé bom e o apoio do calcanhar do pé queimado eu consegui chegar até a mesa com tampo de mapa. Mas foi só até lá que cheguei.

 

Antes de tudo rodar e eu cair, levantei a cabeça para cima e gemi.

 

—É isso que faz com sua escolhida?

 

E minha última visão foi Castiel entrando pela porta da garagem.


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