A cabine de Daenerys estava cheia, haviam dez pessoas ali dentro, todos se organizando para o confronto, recapitulando o plano feito por eles caso se deparassem com uma situação como aquela.

—E os dothraki?-perguntou Nestor Poppy enquanto eles escolhiam os navios

—Estão muito fracos, as crianças estão em melhores condições de batalha que eles.Duvido que consigam permanecer de pé por muito tempo-disse Verme Cinzento

—Acho que não seria prudente usar seus navios-disse Tyrion

     A maioria dos navios Tyrell eram usados para transportar os cavalos e dothrakis, e os de Daenerys tinha a maior parte dos suprimentos para viagem.Decidiram por usarem os navios dorneses que eram mais resistentes e estavam ocupados em sua maioria por Imaculados e alguns soldados de Dorne e não tinham muitos mantimentos.Yara disse para pegarem também navios de sua frota, mas Dany achou melhor não, temia confundir os navios de Yara com os do tio quando estivesse atacando-os com os dragões.

—Você vai ir com os dragões?-perguntou a mulher de ferro espantada

—Sim, será melhor assim, talvez não seja nem preciso batalhar

     Tyrion coçou a garganta atraindo a atenção de Daenerys para ele, ela suspirou, ele já a havia dito para não ir em batalha sozinha, seria perigoso demais, seriam centenas contra apenas ela, ela seria o único alvo com quem eles teriam que se preocupar, e embora voasse e cuspisse fogo, dragões não eram indestrutíveis, e nem sabiam o que Euron guardava na manga.

—Vamos logo, eles não vão ficar nos esperando-disse Allaw Sand

     Todos começaram a sair da cabine, Dany ia também, mas Yara segurou sua mão, todos saíram, e por último estava Varys que olhou para trás com uma expressão enigmática antes de fechar a porta.

     Não disseram nada, apenas sentiram o toque uma da outra, ficaram assim por algum tempo, ate que o som da movimentação do lado de fora obrigou Dany a dizer algo.Mas assim que abriu a boca para falar Yara a puxou para um beijo, foi longo e forte.

—Para dar sorte-disse a morena sorrindo

     Os navios dorneses lideravam a tropa de batalha, dês de que haviam sido avistados os navios de Euron não haviam saído do lugar, impedindo a passagem deles, como se quisessem brigar.Daenerys esperou que a frota tomasse a dianteira antes de montar em Drogon e voar ate eles, Viserion e Rhaegal foram atrás dela.Por cima, a metros de distancia da água, ela mantinha os olhos em um navio especifico, onde Yara estava junto a um exercito de Imaculados e Homens de Ferro.Parte dos navios de Euron começaram a navegar, agora em direção a eles, todos aumentaram a velocidade, ate o ponto em que Daenerys achou que se chocariam, e foi o que aconteceu, aríetes se chocaram contra os cascos e logo eles eram um emaranhado de madeira, de modo que os tripulantes de um pulavam para o outro.

     Ficou durante um tempo tentando encontrar Yara no meio daquela batalha tão sangrenta que o piso de madeira dos navios logo ficaram vermelhos de sangue.Estava tão distraída quem nem percebeu que estava em perigo, como um alvo fácil que era ali no alto parada ela quase caiu quando Drogon fez um movimento brusco, então Daenerys viu que ele havia desviado de uma lança.Então percebeu que muitos dos navios que haviam ido para a frente tinham lançadores e catapultas.Uma bola de fogo também foi lançada, mas ela conseguiu desviar.

—Dracarys!-gritou

     Drogon e Viserion obedeceram ao seu comando, incendiando os navios a sua frente, logo eles eram piras flutuantes.Ela voltou a voar por cima do emaranhado de navios, e então a sua frente, em meio a um navio Greyjoy, Dany enxergou Yara decepando um braço com seu machado.

     Eram em momentos como aquele que ela odiava ser mulher, embora sempre tivesse tido orgulho disso, mas era uma realidade, as mulheres são mais sensíveis, e mesmo ali em meio a uma batalha contra homens que preferiam morrer ao verem uma mulher governar, não poderia deixar de pensar em suas esposas, seus filhos.Ela os conhecia, havia acabado de decepar o braço do homem que já havia ido a vários jantares em Pyke, haviam se sentado na mesma mesa e partilhado da mesma garrafa de vinho.

     Outro era tão novo quanto ela, ela se lembrava dele porque havia se casado pouco antes dela ir embora das Ilhas de Ferro, sua esposa deveria estar gravida ou já ter tido um filho dele, mas a criança não conheceria o pai, Yara o havia matado também cortando sua barriga e expondo suas tripas.

     Aquele com quem lutava agora era conhecido como Symond, o Gigante, ele tinha mais de dois metros de altura e braços do tamanho de trocos, era forte como um touro e conhecido por não gostar de usar armadura, mas deveria ter usado.Ele era tão grande quanto era lento, e quando ele cambaleou apos ela ter acertado seu braço, com um novo golpe com o machado cortou a cabeça dele em duas partes na horizontal, bem no meio da boca, o corpo tinha os dentes inferiores, mas do lábio para cima havia sido jogado longe com o impacto.Ao cair ele fez um estrondo, que foi sentido mesmo com toda aquela correria e sanguinolência.

     Sentiu uma rajada de vento, sabia ser Dany em seu dragão, queria olhar para ela, ver seu rosto e nele conseguir forças, mas não poderia desviar o olhar do que acontecia a sua volta.Todos aqueles homens de ferro pareciam querer ataca-la, talvez seu tio estivesse oferecendo alguma recompensa por ela, ou só quisessem acabar com ela por sua teimosia em querer governa-los.

     Mesmo com três dragões, aquilo era mais difícil do que achou, queimou alguns navios que estava ali parados, sem seguir viagem e sem entrar na batalha, pareciam estar ali justamente para isso.Mas o que lhe deixava mais alerta era as lanças, viu quando uma delas atingiu o rabo de Viserion, mas o dragão pareceu ter sentido apenas um arranhão.

—Dracarys!

     Ordenou que Drogon queimasse o navio a sua frente, queria seguir ate o maior navio de todos, provavelmente o navio onde Euron estava, mas ele estava longe e uma sequencia de lanças eram jogadas em sua direção.Então o som de agonia de um dos dragões lhe chamou a atenção, fazendo Dany congelar.

     Navios atacavam Rhaegal, mas o dragão nada parecia sofrer, ate que um arpão lhe atingiu e ele guinchou, Dany sentiu sua fúria, ele era o mais instável dos três, e Rhaegal sempre a surpreendia com seu temperamento.Irado com o ataque, ele, tão rápido que ela nem teve tempo de guiar Drogon para onde o irmão estava, uma bola de fogo iluminou tanto quanto o sol que havia acabado de nascer, chamas tão fortes quanto mil lareiras saíram de sua boca e focinho, Rhaegal soltavam labaredas em alguns navios da frota de ferro, incluindo o navio em que Yara estava.

—Rhaegal!-Dany gritou em plenos pulmões

     O dragão verde não parecia ter ouvido, mas parou de incendiar o navio mesmo assim, porem o estrago já estava feito, o fogo consumiu rapidamente a embarcação, Dany viu homens em chamas se jogando do navio, e ela temeu o pior.

     Guiou Drogon para onde o navio estava às chamas estavam altas e tão quentes que a água abaixo do navio fervia.

     Por pouco não foi atingida pelo fogo do dragão, estava correndo para o outro lado do navio quando o vapor quente lhe jogou para trás, viu a sua frente pessoas pegando fogo.Foi a imagem mais aterrorizante que já havia visto, armaduras derretiam com homens dentro delas, a sua frente, um deles correu e caiu em chamas ao seu lado, sua pele borbulhava, e grandes bolhas explodiam revelando sua carne e depois seus ossos, os olhos dele murcharam e seu crânio ficou exposto, logo ele não me mexia mais, era só um pedaço de carne queimada.

     Desesperados alguns subiam no mastro fugindo do fogo, outros pulavam do navio, Yara foi ate a borda para fazer isso, mas a água estava esbranquiçada e borbulhando, os que haviam se jogado agora gritavam de dor pela água quente.Tentou achar um caminho pelas chamas, mas o fogo de dragão não parecia diminuir, e sim só aumentar, entre os gritos de desespero e o trepidar do fogo, haviam estalos de madeira quebrando, viu lentamente o mastro do navio ir caindo, haviam seis pessoas nele pelo menos, e primeiro devagar e depois tão rápido que ela não conseguiu ver, o mastro caiu em direção a frente do navio, indo direto para onde o fogo era maior e nada mais estava vivo depois do último grito de um deles.

     Segurou firme seu machado em frente ao corpo com as duas mãos no cabo, começou a pensar qual seria menos doloroso, ser pega pelas chamas e sentir todo o ferro de sua armadura derreter em seu corpo ou pular para as águas borbulhantes e ferventes para morrer como um animal na panela.O navio começou a afundar, a frente dele foi se inclinando lentamente e conforme ia afundando, o fogo do navio aquecia ainda mais a água.Se segurou na madeira da borda traseira do navio, ele ia descendo cada vez mais, logo a metade já havia afundado, com a inclinação estava difícil não escorregar para o misto de chamas e água borbulhante, suas botas escorregavam tudo o que poderia fazer era esperar.

     Uma rajada de vento balançou o fogo e as águas, Yara olhou para cima e o dragão negro voava na sua cabeça, Dany estava nele tentando se aproximar de onde ela estava.

     A todo custo guiava Drogon com toda a destreza possível, ele não tinha onde pousar e precisava ficar firme a poucos metros da água.Na primeira tentativa Dany esticou a mão direita, mas ela passou a metros do braço esticado de Yara.Não tinha tempo para pensar, o navio afundava cada vez mais rápido, e agora tão perto que as garras de Drogon submergiam na água fervente, quando seus dedos roçaram nos de Yara, Dany jogou o corpo para o lado e segurou a mão dela.Dany não era forte, nunca fez trabalho braçal nem carregou peso, ela não tinha forças para erguer Yara que era mais alta que ela e estava com o peso extra da armadura e do machado, mas quando sentiu a mão dela escorregando soltou Drogon e correndo o risco de cair também segurou o braço de Yara com as duas mãos.

     Quando sentiu a madeira do navio sumir de debaixo dos pés, Yara começou a chutar o ar em busca de apoio, fincou as botas nas escamas avermelhadas do dragão e tentou se equilibrar quando o animal começou a voar para longe de onde o navio havia naufragado, nem ela nem Daenerys tinha firmeza em cima do animal, era segurada pela mão direita enquanto a esquerda segurava o machado.Olhou bem nos olhos de Dany, desciam lágrimas daqueles belos olhos azuis enquanto ela usava todas as forças para não deixar Yara cair, talvez se o dragão estivesse mais baixo poderia cair agora na água fresca, mas ele levantou voo e estava a voando acima dos navios e pular dali seria como se jogar de uma torre.

     Tomou impulso e conseguiu jogar uma perna pelo pescoço do dragão, Dany a ajudou a subir e quando já a sentia segura atrás de si voltou a guiar Drogon pelas escamas do pescoço.

     Yara a abraçou, foi um abraço agradecido e assustado.Continuaram voando por cima dos navios, ambas escondendo as lágrimas de medo que mesmo agora continuavam caindo.

     De cima podia ver o Silêncio, navio de seu tio Euron indo para Oeste, com ele os navios que não estavam em guerra o seguiram, poucos continuaram ali lutando.Sentia seu rosto queimar, água havia respingado em seu pescoço, e mesmo com o vento frio do céu da manhã ela sentia seu rosto queimar como se tivesse mergulhado em uma banheira de água quente.

     Olhou para baixo, para sua surpresa os homens de seu tio haviam sido aniquilados pelos seus e os Imaculados, então apertou os olhos, nenhum daqueles que estavam ali eram guerreiros de verdade, era em sua maioria jovens que mal sabiam vestir uma armadura ou velhos que achavam estar acima da morte.Não haviam guerreiros de verdade ali, apenas homens usados para cansa-los e verem o que Daenerys tinha.

     Quanto tudo já havia acabado, e os navios finalmente seguiram viagem, todos se reuniram novamente na cabine de Daenerys.Porem dentre todos ali, somente ela e Verme Cinzento pareciam ter acabado de passar por um combate, Daenerys so tinha o cabelo um pouco bagunçado pelo vento, o que fez Yara sorrir, ela era linda.

—Perdemos 2 navios, mas tomamos 6, então estamos no lucro-disse o anão

     Yara estava olhando para o nada, um ponto sem foco em meio a mesa com o mapa de Westeros, apenas pensando no que havia acabado de acontecer.

—O que pretende fazer com os navios?-Tyrion perguntou

     Olhou para o anão espantada, ainda usava a armadura que estava mais quente que o normal e parecia ferver mesmo depois de já estar longe do incêndio provocado pelo dragão, seu rosto queimava onde a água fervente havia respingado.Tudo o que queria era tira-la e tomar um banho gelado.

—São navios da frota de ferro, imagino que como futura rainha irá quere-los para si

—Claro-se virou para Allaw Sand-Por favor, escolha três navios de sua preferência.Dois para compensar os que perdeu e um como agradecimento

     O dornes agradeceu, e disse que mandou um corvo para Lançasolar relatando o ocorrido, não estavam longe, deveriam chegar a seu destino no dia seguinte no final da tarde ou na madrugada do dia depois daquele.

—Você está bem?-cochichou seu irmão ao seu lado

     Theon não havia ido, ele era um arqueiro, não sabia usar uma espada, seria perigoso, por isso ficou esperando no navio, o que Yara não sabia e que havia sido agonizante não ter ido com ela, e ficar ao longe apenas olhando.Ele estava sozinho no navio, apenas com subalternos, ficou o tempo todo na vigia para ver tudo melhor e ter sossego, sem ninguém lhe olhando torto por estar ali parado.

—Estou apenas cansada, fui pega desprevenida

     Discretamente olhou para a cama de Dany, estavam dormindo tão bem ali antes de tudo aquilo acontecer, queria expulsar a todos e ficarem so as duas ali na cama como estavam naquela manhã.

     Mas todos ainda estavam muito agitados, havia sido algo inesperado, a maioria estava dormindo e o susto ao acordarem o havia aumentado a energia.A própria Yara ainda temia que Euron voltasse, se e que em algum momento realmente esteve ali, ele parecia mais um expectador admirando uma briga.

—Acho melhor voltarmos para nossos aposentos-disse Dany, notando o desejo de Yara-Precisamos descansar e nos recuperar.Agradeço a todos pela dedicação nesse dia que ainda nem começou

     Quando a sala já estava vazia, com somente com elas duas, Dany chamou duas criadas e pediu por água quente para a banheira, mas Yara a interrompeu.

—Hoje não, quero água gelada

     A loira a olhou sem entender, mas concordou.

—Água gelada para o banho-disse as criadas

     Dany ficou quieta depois que a porta se fechou, ficou observando sua amante tirar a armadura e depois a roupa que usava por baixo.Ficaram em silêncio durante todo o momento, e Dany só falou quando as aias voltaram com a água gelada.

     Assim que elas saíram, Yara tirou a última peça de roupa e entrou na banheira, sentindo conforto na água gelada que normalmente lhe seria insuportável.Também ficou nua e entrou na banheira também, e diferente de Yara, Dany estava odiando a água gelada, ela gostava de água fervendo, mas ela sabia porque a outra desejava o frio.

—Sinto muito pelo o que aconteceu-disse enquanto se acomodava, abraçando a morena por trás-Pensei que conseguiria controla-los sozinha, mas pelo visto não consigo

—Não foi sua culpa

—Foi sim-aumentou a voz-Eu fui confiante demais, fiquei ali em cima achando que iria acabar com todos os navios em minutos, mas eu não imaginei que eles me atacariam.Ninguém nunca o fez quando eu estava montada em Drogo.Mas atacaram, e Rhaegal se defendeu, e você quase morreu por isso

—Mas você me salvou

—Mas haviam Imaculados e Homens de Ferro que lhe apoiam ali, eu não os salvei.Não era para eles morrerem, mas minha fidúcia me deixou descrente para os perigos e consequências

     Estava massageando os ombros tensos de Yara na banheira, então teve uma lembrança, ela fazia aquilo com Drogo depois de uma batalha, então se sentiu estranhamente infiel, mesmo sendo viuva e Yara não ter sido a primeira pessoa com que se relacionava dês de então, mas aquilo era algo que ela só fazia com Drogo.

—Dany...          

—Tyrion me avisou, ele e minha Mão, eu deveria ouvir seus conselhos, mas não o fiz.Você também disse que eu não deveria ir-parou a massagem

—Mas foi porque uma batalha não e lugar para alguém como você, eu temia pela sua segurança

—E eu deveria ter temido pela segurança daqueles que lutam por mim

     Yara se virou, ficando frente a frente uma da outra, sorrindo, ela lhe deu um beijo.

—Você e a pessoa mais maravilhosa que eu ja conheci, você já salvou milhares de pessoas e nunca fez menos que o impossível

     Havia tempo que não via um sol brilhante como o daquela manhã, ele quase lhe dava a impressão que seria um dia feliz, mas Jaime sabia que não seria.Naquele dia faria um ano dês de que Cersei havia se tornado rainha, um ano dês de que Tommen havia morrido, um ano dês da explosão do Septo de Baelor e em consequência a morte de centenas.Naquela manhã Jaime ficou um tempo na cama, olhando para o braço sem mão e lembrando de como anos antes ele participava de torneios e sempre ganhava nas justas, agora ele era apenas um aleijado que ficava sentado bebendo.

     Jaime havia feito questão de continuar com nos aposentos do Senhor Comandando na Torre da Espada Branca, onde residiam os membros da guarda real, ao invés de ir com ela para a quarto do rei na Fortaleza de Maegor.O quarto de Jaime ficava no último andar e já havia sido ocupado por quase todos os Comandantes da Guarda Real.

     Quando o criado abriu a porta para acorda-lo, Jaime já estava de pé, olhando pela janela para a Baia de Água Negra.Ele se deixou ser vestido, colocando uma armadura Lannister, deixando a armadura dourada da Guarda Real de lado, ele não se sentia digno de usa-la, embora agora a Guarda Real não tivesse mais dignidade.Mas o que mais o incomodava era a nova mudança feita por Cersei nas armaduras da Guarda-Real, a dele estava no canto do quarto, escondido debaixo de um tecido pardo e ficaria ali para sempre.

     Desceu ate o primeiro andar, passou pela Sala Redonda, toda branca e coberta de tapeçarias, mesa onde as reuniões da guarda são feitas agora era somente enfeite, diferente de quando ele era jovem e Sor Barristan fazia reuniões semanais, Jaime deveria estar fazendo o mesmo, mas quando olhava para seus irmãos de capa sentia por ele tamanho desprezo que as vezes pensava em abandonar o cargo.Mas o que ele seria além de Comandante?Irmão/amante de rainha?O Regicida?Pelo menos ali ele se sentia no mínimo digno de alguma coisa.

     Montou em seu cavalo pardo castrado e atravessou a cidade em direção ao Portão do Rei.O último torneio havia sido feito para o Dia do Nome de Joffrey, mas nada havia como negar que o Tornei da Mão em homenagem a Eddard Stark havia sido um evento para ser lembrado por anos.O torneio do casamento de Joffrey havia sido cancelado por conta de sua morte, e não havia tido torneio no de Tommen por luto ao irmão; isso fez Jaime pensar que o torneio seria muito esperado, cheio de cidadãos indo assistir, mas todos pareciam ter medo de sair de casa.Chegou ao local do torneio e viu o que restava da nobreza de Porto Real ali, se a plebe da cidade tinha medo de sair de casa, aqueles tinham medo de permanecer nela, e alguns pareciam seguir Cersei por todos os lados, sabendo que ela não iria explodir um local onde estivesse.

     Cersei ainda não havia chegado, e a maioria das pessoas estava dispersa pelo entorno, haviam nobres de Porto Real, mas estes eram poucos, a maioria havia morrido na explosão do Septo, agora quem realmente ocupava Porto Real eram nobres das Terras Ocidentais, local de nascimento dos Lannisters, e por isso se achavam melhores e mais bem protegidos que o resto.Havia tambem poucos nobres das Terras Fluviais, a maioria havia vindo com Jaime apos sua visita a Walder Frey, que os boatos diziam ter sido morto pelo fantasma de Robb Stark querendo vingança.

—Eu digo, meu irmão disse ter visto naquele dia em que o velho Walder Frey morreu um homem com cabeça de lobo vagando pelas Gêmeas-disse um homem com um grosso bigode loiro

—Mas as pessoas teriam visto um homem com cabeça de lobo por mais discreto que ele fosse-retrucou o outro que o ouvia

     E haviam também dois ou três representantes de famílias das Terras da Tempestade, local que recentemente Cersei havia decidido invadir depois que alguns nobres haviam se recusado em ir para Porto Real se ajoelhar para ela.

     Ouviu o som de metal sendo afiado, jovens meninos que ainda nem tinha bigode afiavam suas espadas, animados demais com seu primeiro torneio para perceber todo o caos que havia envolta.

     Jaime se acomodou no camarote da rainha, Qyburn já estava ali na cadeira da Mão, Jaime pensou que seria bom se ele mesmo fosse a Mão, mas não ansiava títulos ou poder, e sim estar mais perto dos ouvidos de Cersei e lhe dar bons conselhos, diferente daquele doente que parecia se divertir com as loucuras da rainha.

     Jaime não bebia, nunca gostou de beber, mas naquele dia o vinho fresco na mesa lhe tentou algumas vezes, mas ele não iria beber, queria estar sóbrio para qualquer eventualidade.

     Quando Cersei chegou todos ficaram quietos, e ao mesmo tempo que lhe cumprimentavam tentavam se esconder para que ela não os visse.Ela estava escoltada pelos outros seis membros da Guarda Real, mas todos pareciam inúteis ao lado do Montanha, mas não era isso que Jaime olhava, ele via a nova armadura da Guarda Real que ele havia se recusado a usar.

     Agora a armadura era totalmente negra com detalhes prateados, e no peito havia a imagem da coroa de Cersei.

—Pensei que usaria sua armadura-disse Cersei assim que se acomodou na maior e mais imponente cadeira que ficava na centro exato da longa mesa

—Me sinto mais confortável nessa

—Tem razão-ela disse sorrindo com a taça de vinho na mão-Combina mais com você

     Aquilo parecia mais uma provocação que um elogio, mas ele preferiu ver como elogio.

—Pensei que iria vê-lo em algum evento hoje-ela riu com a boca dentro da taça, tentando disfarçar a risada, mas produzindo um eco que a deixava mais alta

     Jaime sentiu a mão que já não tinha mais coçar, as vezes isso acontecia, Meistre Pycelle chamava aquilo de membro fantasma, as vezes Jaime sentia a mão coçar, ou doer, e pior ainda, sentia a dor de quando ela lhe havia sido arrancada.As vezes ate sentia seus dedos mexerem no seu comando, no começo ele ate tirava a luva de ferro para ter certeza de que não havia uma mão ali dentro, mas não tinha, só tinha um toco de braço, fino e desforme, com as marcas de luva já tatuadas na pele.

     Ao fim da tarde todas as festividades haviam acabado e so restava o final das justas, Montanha obviamente ia ganhar e Jaime não sabia porque alguns homens tolos insistiam em enfrenta-lo, já havia tanto sangue que nem era mais possível disfarçar varrendo areia por cima, Montanha matou o rapaz Frey sob uma gosmenta terra vermelha e fedorenta que começara a atrair moscas como um carniceiro em um dia de sol.

     Mas então Jaime também quis enfrentar Montanha, aquela aberração de Qyburn e bicho de estimação de Cersei.Entendeu aqueles homens tolos, estavam em um estado em que não havia muito pela frente, muitos iriam morrer na guerra que viria e eles realmente preferiam uma morte em um torneio onde seus pais receberiam seu corpo e ele morreria em um golpe único.Em um campo de batalha seus corpos seriam comida para abutres e ficariam ali ate virarem osso e esses ossos serem ruidos.Pelo menos ali lutava pelo ouro, em uma batalha iriam lutar por quem?Cersei?A Rainha Louca?

—O que foi?-ela perguntou

     As vezes Cersei sabia quando ele pensava algo sobre ela, ou quando pensava algo que ela não gostaria, deveria ser algo relacionado aos gêmeos, porque ela imediatamente riu.

—Não está realmente pensando em ir lá não e?Seria triste

—Você que pensa Cersei-disse com o peito estufado-Aprendi com grandes guerreiros como Sor Arthur Dayne, a Espada da Manhã, e Sor Barristan, o Ousado, que conseguiria matar homens como o Montanha com a mão esquerda enquanto mijava com a direita

     O sorriso de Cersei se foi, deixando Jaime feliz, ela voltou a beber, ele não queria contar, mas ela já havia esvaziado duas garrafas, a primeira havia dividido com Qyburn, mas a segunda havia feito sozinha, agora o criado abria a terceira garrafa.

     Já era tarde quando no meio do caminho para Dorne, eles novamente se depararam com uma frota, mas está era menor, com quatro navios e eles pareciam mais amigáveis que os de Euron.Daenerys viu o sol dos Martell esvoaçando no vento, Yara ainda estava com ela, e imediatamente se vestiu com uma das roupas que agora costumavam ficar na cabine de Dany, em uma gaveta na cômoda perto da penteadeira.

     Quando o maior navio estava perto o suficiente, uma tabua foi colocava formando uma ponte entre os dois.Allaw Sand já estava no Dragão Dourado, ele mudou de navio assim que avistou as bandeiras.Vieram do outro navio cinco pessoas, três homens e duas mulheres, mas de imediato Dany e Yara olharam para duas dessas pessoas, um homem e uma mulher.A mulher porque tinha cabelos roxos e o homem porque não era nem um pouco dornês, tinha cabelos loiros e pele pálida.

     Todos se curvaram quando Daenerys se aproximou deles, Yara permaneceu onde estava, mas ouvindo tudo muito bem.

—Vossa Graça-começou Allaw-Deixe-me apresentar minha filha, Meriah Westerling-ele indicou a menina de cabelos roxos

     Daenerys foi apresentada a todos, os quatros homens eram Daemon Sand, Arthur Westerling e Rog, apenas Rog.Mas foi a outra mulher que mais tinha importancia.

—Está e Obara Sand, filha do Principe Oberyn-disse Allaw pomposo-De certa forma vocês são primas

     Obara usava uma roupa de couro e segurava uma lança mais alta que a maioria das pessoas.

—Quando recebemos o corvo partimos imediatamente-ela explicou-Achamos mais prudente vir verificar se estava tudo bem, a carta foi bem breve quanto a detalhes-ela olhou para Allaw, mas ele sorriu, fazendo Obara sorrir também

     Os três conversaram por um tempo enquanto todos os outros estavam ali em pé parados, quando Tyrion Lannister apareceu então sim Yara soube que seria uma conversa longa.

     Pensou em voltar para a cabine quando um olhar lhe chamou a atenção, a mulher de cabelos roxos, a filha de Allaw Sand a estava encarando um um sorriso sugestivo que a deixou corada.

     A filha de Allaw Sand tinha a pele caramelada dos dorneses, mas seus cabelos eram roxos como os tyroshis.Era alta com pernas longas, tinha um nariz pequeno e uma boca larga, seus olhos eram amendoados e grandes, tinha passos felinos e carregava na cintura uma arma exótica, um par de sais afiados forjados de aço comum com o cabo de cobre, já havia visto desenhos dessa arma parecida com um tridente, ela era comum em locais como Asshai e Yi Ti, mas nunca em Westeros, isso e ela pintar os cabelos de roxo como uma tyroshi mostrava o quanto ela era uma mulher viajada e conhecedora do mundo, isso fez Yara sentir um imediato afeto por ela.

     Meriah se aproximou sorrateiramente como um gato, e parou ao lado de Yara que estava encostada na parede do lado de fora da cabine.A dornesa ficou ali sem dizer nada, e logo o homem loiro foi atrás dele, ele não era muito alto, mas era bem bonito.

—Você deve ser a garota Greyjoy-ela disse

—Não existe mais nenhuma mulher Greyjoy viva, então devo ser sim

—Sou Meriah Westerling, e este e meu marido, Arthur

—Imaginei que fosse, e pelo seu sobrenome também imagino quem seja

—Sou apenas o quinto filho de um ramo afastado dos Westerling-colocou a mão no peito com modéstia, mas Yara viu brilhar como perolas as seis ostras do brasão que havia em seu peito

     O marido de Meriah era ninguém menos que Arthur Westerling, membro da Casa Westerling do Despenhadeiro, uma casa nobre das Terras Ocidentais, vassalo dos Lannisters, mas ele parecia tudo o que um vassalo dos Lannisters era, não sabia dizer o que, mas era completamente diferente, embora soubesse que não se deve confiar em aparências.

     Arthur era charmoso, tinha os ombros caídos e cabelos loiros, seus olhos eram cinzas como aço e usava uma armadura verde esmaltada, tinha uma espada longa e fina, com uma leve curvatura e ponta semi-curva.Ele trocou olhares com a esposa e depois olharam para ela de um modo que deixou Yara excitada.

     Um alto assobio foi ouvido, Obara os chamava para voltarem ao navio, iriam escoltar Daenerys ate a costa de Dorne.

—Esperamos vê-la mais vezes-Arthur segurou sua mão e lhe deu um beijo

     Meriah já estava mais a frente e graciosamente trocou de navio, seu marido foi logo atrás.

—Vou fingir que não vi isso-falou Daenerys enquanto passava por Yara para entrar na cabine

—Não sei porque está assim-foi atrás dela-Você sabe do que eu gosto -deu uma mordida no ombro nu de Daenerys

—Mas você já me disse que as vezes se deita com homens tambem

     Respondeu com um sorriso, Dany ficava tão linda com ciúmes que Yara fechou a porta e a jogou na cama.