Floresta Negra escrita por Luh Costa


Capítulo 11
11. Milles - Lu




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— Eu ainda não acredito que ela acordou a gente de madrugada só pra nos expulsar do nosso quarto... - Eu não sabia se eu estava revoltada ou chateada por ela ter feito aquilo, poxa, não tinha como eu saber, ela nunca disse nada!

— Bom dia pra você também. - Rebateu, mas eu ignorei.

— Ela não devia ter feito aquilo.

— Mas até que ela tem razão, Milles. - Murmurou ao meu lado.

— Eu sei, Nam. Mas ela podia ter pelo menos esperado começar a escurecer. Sei lá! Estou muito brava por ela ter feito isso com a gente.

— Olha, eu sei que ontem... hoje... sei lá quando foi! Só sei que pelo o que eu meio que ouvi o que ela estava dizendo eu meio que concordo, sabe? Sono é uma coisa traiçoeira. Ela escolheu dormir, ou pelo menos o corpo dela ainda pede isso, então é normal ela estar tão arisca como estava ontem.

— Você tá do lado de quem nessa história, Namjoon?

— Do de ninguém. - Respondeu dando de ombros. - Só estou dizendo que entendo ela.

— Ótimo! - Respondi irritada.

— Você não está pensando mesmo em brigar comigo à toa, né amor? - Golpe baixo! Eu ainda não me acostumei com ele me chamando por nomes carinhosos assim. É sempre um tiro toda vez que ouço.

— Não. - Suspirei. - Desculpe o mal humor. Eu dormi com fome ontem e acabo ficando de mal humor quando isso acontece porque a fome vem em dobro pela manhã.

— Então vamos logo pro refeitório!

— Estou ruim mesmo, hein? - Brinquei.

— Está. - Tentou me beijar, mas eu virei o rosto. - Estou brincando, Milles! - Começou a se desesperar achando que fiquei brava de verdade.

— Nem vem! Não vou beijar você agora que acabou de acordar! Vai escovar esses dentes!

— Não seja por isso. - Pulou da cama e correu pro banheiro pra escovar os dentes, eu tive que me segurar pra não rir. Eu não ligo pra isso, falei isso mais pra deixar ele irritado mesmo.

Minutos depois ele voltou e veio calmamente até mim.

— E que tal agora? - O hálito de menta me atingiu cheio, talvez eu deva adotar isso de agora em diante.

— Agora sim. - Sorri pronta pra beijá-lo, de início ele veio, mas então parou o rosto a meros centímetros do meu e disse:

— Quer saber? Acho que você devia ir dar a escovada nesses dentes antes da gente se beijar.

— Filho da mãe!

— Parece que o jogo virou, não é mesmo? - Sorriu travesso pra mim. Como resposta eu o empurrei pra longe de mim.

— Não vale!

— É claro que vale! - Disse enquanto ria. - Direitos iguais!

— Mas eu nem tenho como escovar os dentes! Está tudo no meu quarto!

— Então eu acho melhor você aproveitar que o pessoal ainda não está andando pelos corredores e ir lá pegar as suas coisas.

— Aff, viu!

Fui até meu, agora, ex quarto e bati na porta repetidas vezes e nada da Luh me responder, quando estava começando a ficar preocupada eu a ouvi me responder abafadamente. Parecia até que o quarto era aprova de som.

— O que é, caramba? - Finalmente abriu a bendita porta.

— Preciso escovar os dentes e me vestir... Luma?

— Hum? - Deu um longo bocejo.

— Quando foi que ficou tão brava comigo?

— Do que você está falando?

— Nem falando comigo direto você está, só me dá patada.

— Desculpe, você sabe que odeio quando me acordam e normalmente é você quem faz isso, peguei costume de responder mal.

— Sei... - A analisei.

— Ué, não vai entrar?

— Ah, é. - Respondi vagamente.

— Você tá bem, Milles? - Me perguntou enquanto fechava a porta e eu ia para o banheiro.

— Estou.

— Então porque está desse jeito? É sério, eu não estou brava com você nem nada do tipo.

— É que você está diferente. Bem diferente. - Me virei direção a ela da porta.

— Isso é coisa da sua cabeça, eu estou como sempre.

— Não. Não está. - Continuei olhando-a. - Rolou mais alguma coisa depois daquele beijo, Luh?

A Luma ficou bem estranha por vários dias, de duas formas diferentes. A minha amiga parecia estar de volta, mas tinha algo mais... Por isso resolvi prensá-lá alguns dias depois e assim ela acabou me contando sobre o sonho e no beijo que eles deram enquanto o V estava tendo uma crise de sonambulismo. Ela ainda fica bem estranha quando está perto dele e ainda por cima pegou um tique de morder o lábio quando o via, ou seja, ela fazia praticamente o tempo inteiro já que eles não se desgrudam, felizmente que agora ela até que está conseguindo controlar, mas ainda o faz quando está distraída.

— Não.

— Mesmo?

— Mesmo.

— Então o que está acontecendo? Ainda se sente culpada por aquilo?

— Talvez... - Admitiu desviando o olhar. - Mas isso é passado.

— Passado? - Desdenhei. - Engraçado que ontem mesmo eu vi uma garota mordendo os lábios quando o viu. Se não era você ela parecia muito. - Revirou os olhos.

— Não é nesse sentido que estou dizendo. Não consigo controlar o tique. É um tique, porra! - Ergui as sobrancelhas. - E eu nem penso nisso mais.

— Ahn-han... Sei.

— Penso de vez em quando, ok? Mas o que eu quero dizer é que eu não fico me torturando pensando nisso enquanto que ele nem sabe que aconteceu. Eu só ignorou.

— Você devia é fazer que nem eu e ser feliz. Vai atrás dele, caramba!

— Ele nem gosta de mim!

— Como é que você pode saber disso?!

— Ele já gosta de alguém. - Isso me calou por algum tempo.

— Quem te disse isso?

— Ele. - Falou encarando o chão como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

— E ele falou qu- - Fui cortada por alguém batendo na porta. Ela foi abrir a porta como se nós nem estivéssemos conversando.

— Oie! Conseguiu dormir aqui hoje pelo visto. - Falando no garoto...

— Pois é.

— É, ela me expulsou. - Digo fazendo careta.

— Ah... Até que enfim! - Disse enquanto ria.

— Cala a boca porque não foi você quem foi expulso, V!

— Calma! - Levantou as mãos em tom de rendição, mas continuou rindo.

— Porque que você veio, Tae? - Luma mudou de assunto.

— Estava te procurando. Você não estava no telhado e nem pelos lugares que você costuma ficar, achei que alguma coisa pudesse ter acontecido. Nem a Candy veio pro meu quarto hoje.

— Pois é, coincidentemente ela apareceu aqui assim que a Milles e o Namjoon saíram.

— Já que você já tem com quem conversar, eu vou pegar as minhas coisas. - Voltei minha atenção pro que eu ia fazer antes. Enquanto eles ainda conversavam eu peguei a maioria das minhas coisas que eu sabia que ia ter que usar com mais urgência.

...

Noite passada eu e o Nam praticamente invadidos o auditório só pra ver um filme já que só lá que tinha uma Tv disponível que os alunos podem usar. Nós tínhamos que pedir a chave ao meu irmão ou ao pessoal mais velho - um grupo com o nome de Got7 -, que são praticamente como o Fael no quesito de autoridade. Só que nós não pedimos autorização, só invadidos mesmo.

O filme era realmente muito bom, nós dois estávamos tão animados que mal desgrudávamos os olhos da tela, mas de alguma forma inexplicável eu peguei num sono pesado.

 

Tudo ao meu redor está descontorcido, não sei quem sou... Ou melhor, sei.

Sou Melina, e estou prisional a esta vida de faz de contas a pelo menos 5 anos.

Quero sair daqui, rever meus verdadeiros pais e viver alegremente na minha rua.

Algo está errado, muito errado.

Viro-me de costas e dou de cara com uma enorme parede, agora todo o caminho que trilho não tem mais volta. De repente estou em uma floresta que parte de mim parece reconhecer, mas isso é impossível! Nunca estive aqui antes! Ou será que estive?

— Que lugar é esse? - Porque estou falando? Ninguém irá me responder, nunca respondem.

— Está na Floresta. - Viro-me assustada na direção em que acho que a voz veio e me deparou com nada, apenas árvores.

— Quem está aí? - Estou olhando ao meu redor, mas nada de novo me aparece.

— Sou eu, Emilly.

— Eu quem? - Sou eu novamente e não a garota com em uma vida sofrida que foi tirada de seu lar há muitos anos atrás.

Então as folhas das árvores se movem e vejo uma sombra, dessa sombra sai uma garota que demoro segundos pra reconhecer.

— Bruna? - Arrisco seu nome, nós não tivemos muito contato na Primeira Escola.

— Eu mesma.

— Que lugar é esse?

— A Floresta, já lhe disse.

— A Floresta? Que Floresta?

— Você sabe, Emilly. É claro que sabe. - Estou me sentido mais perdida do que o normal. Tenho a sensação mesmo de que conheço mas também não sei de onde. - Saia daqui. Você não deve vir aqui assim.

— O quê?

— Pra sua segurança, por favor, vá.

— Por quê? Pra onde?

— Acorde, Emilly! Vamos! Acorde!

— Mas... o quê? Eu estou dormin...

 

Então estou de volta, aqui, acordada. Já está claro, quase escurecendo, Namjoon está dormindo ao meu lado e eu estou completamente perdida.

Tenho a estranha sensação de que foi mais do que um simples sonho, não sei explicar.

— Boa noite! - Nam acorda logo se espreguiçando.

— Boa noite. Dormiu bem?

— Não mais do que você, você apagou na metade do filme.

— Foi mal. Eu realmente achei o filme legal, mas acho que estava cansada demais. - Se virou bruscamente na minha direção todo preocupado.

— Você está se sentindo mal?

— Não, Nam. Eu estou ótima. Deve ser só a preocupação com as provas chegando.

— Ah, relaxa! Qualquer coisa é só falar com os meninos, todo mundo é bom em alguma matéria. A gente te ajuda, é só falar.

— Obrigada, Nam. - Dei um beijo em sua bochecha em forma de agradecimento.

— Na bochecha? Sério isso?

— Eu daria na boca, mas você ainda não escovou os dentes... - Brinquei lembrando da nossa conversa de outro dia.

— Há! Há! Há! Engraçada. - Ironizou.

— Não sou? - Continuei zoando com a cara dele.

— Não. - Me surpreendeu ao pegar meu rosto antes que eu percebesse e me beijou.

— Não! - Tentei fugir, mas como estava rindo o máximo que consegui foi afastá-lo alguns milímetros, até que desisti e eu mesma o agarrei e o beijei.

...

Eu estava procurando meu celular pelo quarto fazia meia hora e nada! Ok que eu não tenho mexido muito nele ultimamente por causa do Namjoon, mas também não estou entendendo como pude perdê-lo dessa forma.

Eu estava justamente pensando em pedir ao Nam pra ligar pro meu celular quando ele entrou apressado no quarto.

— Amor, será que você poderia ligar pro meu celular pra mim?

— Agora não dá.

— Aconteceu alguma coisa? - Comecei a ficar apreensiva.

— Não. Não se preocupe. - Parou de repente o que estava fazendo e veio até mim. - Milles, você confia em mim?

— Claro! Mas porque pergunta? - Ele me segurou firme pelos ombros e me olhou fundo nós olhos.

— Você está cansada?

— Não muito, por quê?

— Dormiria?

— Talvez, mas...

— Não tenho tempo pra te explicar nada agora. Eu não sei se vai funcionar, mas preciso que você dura agora.

— O quê? Como assim?

— Por favor, Milles!

— Tá, mas eu-

— Pela Luma!

— Tá bom! Tá bom! - Fui pra cama e me deitei.

— Espero que dê certo.

— Vai dar. - Ele sorriu pra mim e me deu um rápido beijo nós lábios antes de sair correndo.

Eu não sei como eu consegui dormir com toda aquela agitação, mas assim que fechei os olhos eu adormeci e em pouco tempo eu estava na Floresta Negra com o Woozi ao meu lado.

— O quê está acontecendo? - Perguntei, mas minha boca não se abriu e nem minha voz saiu para que Woozi pudesse me ouvir. Parecia até que eu estava na cabeça de alguém.

"E está."

"Namjoon?!"

"Sim?"

"O que caralhos está acontecendo?"

"Em uma noite dessas enquanto você dormia eu consegui entrar nós seus sonhos, tentei uma segunda vez e consegui, então pensei que você poderia fazer o mesmo apesar deu não estar dormindo."

"Mas como?"

"Isso é coisa de Par, Milles. Quando encontramos nossos parceiros reais nós acabamos tendo uma ligação que nos permite fazer algumas coisa fora do comum. Vai de casal pra casal e pode aparecer de diferentes formas."

"Ok, entendi. Mas... Por que me mandou fazer isso logo agora?"

"Já te falei, é pela Luma."

"Isso não me adiantou de nada, Nam! Não me enrola e fala logo o que está acontecendo.  O que você está fazendo com o Woozi?"

"Você já vai entender o que está acontecendo, Milles. Nós chegamos."

"Aonde?"

Foi então que eu parei pra olhar e vi que estávamos nos portões da Primeira Escola pelo qual viemos pra cá.

"O que está acontecendo?"

— Você não precisava ter vindo. Já sabe o que eu estou fazendo por aqui. - Woozi parecia emburrado por ter o Nam em sua cola, aquilo só aumentou a minha curiosidade.

— Já te expliquei que você está sob minha responsabilidade. Eu tenho o dever de cuidar de vocês já que estão na minha classe, se a Carla te pega por aqui você vai ter sérios problemas, e eu também. - Woozi bufou ao ouvir a resposta do Namjoon.

— Você não pode contar isso pra ninguém. Você me prometeu!

— E eu não vou.

"Não vai ser preciso." Ele disse pra mim.

"Por isso que não me conta?"

"Eu costumo cumprir as minhas promessas. Ele disse pra mim não dizer nada a ninguém, não falou nada sobre mostrar." Rio pra mim mesma descrente. "Da próxima vez que eu for pedir algo pra você vou pensar muito bem no que dizer."

"Não precisa." Senti-o sorrindo.

— Vai ficar aqui o tempo inteiro de novo ou vai me deixar em paz?

— Se eu fosse você eu não abusaria da minha boa vontade, Woozi. - Nunca tinha o visto daquela forma, ele sempre me pareceu ser mais legal do que o Jeonghan apesar de também ter forçado a Luh de certa forma a entrar nessa vida. Pelo menos o Jeonghan fez tudo na minha frente.

Eles mal ultrapassaram o portão e vi uma garota de cabelos vermelhos vindo correndo na nossa direção, ela pulou em cima do Woozi como uma criança e em seguida o beijou. Eu juro que se pudesse eu ficaria boquiaberta. O pior foi que, apesar de estar escuro e as luzes estarem longe para se ver direito eu reconheci aquela garota.

"Luíza?!" Falei espantada.

"Você a conhece?" Falou surpreso, confirmando a minha suspeita.

"É lógico que conheço! Ela era uma amiga nossa da nossa antiga escola, ela era super grudada em mim e na Luh, até que a Luh mudou de escola por ter se formado e ficamos nós duas. Tínhamos outras amigas em comum também, mas a nossa amizade era meio ioiô, ia e vinha com muita facilidade."

"Entendi..."

— Tava com saudades suas! Você devia ter vindo antes, sabia? Essa história de vir só na quinta-feira não é legal! - Hiperativa como sempre... - Ei! Você de novo!

— É, ele resolveu me acompanhar por causa da mãe da Carla.

— Saquei. Vem, vamos entrar. Tá um pouco frio aqui fora.

— Podem ir. Lembrei que tenho algumas coisas pra fazer lá na escola. - Nam os dispensou. Woozi o olhou meio desconfiado, mas Nam só deu de ombros e pegou o caminho de volta.

Me levantei assim que ouvi  a porta do quarto se abrindo.

— Há quanto tempo isso vem acontecendo?

— Não sei, provavelmente há alguma semanas. Eu o peguei semana retrasada e na passada, por isso pensei que ele fizesse isso às quintas.

— Que cretino! - Soquei a cama de pura raiva.

— Calma, Milles! Pelo menos eles não estão namorando. 

— Ele e a Luíza?

— Também. - Concordou pesaroso.

— Que merda... - Ele veio até mim e tentou me confortar me abraçando.

— Pode parecer estranho, mas fico feliz por você estar assim.

— Hum?

— Quer dizer que você realmente se preocupa com a sua amiga. Fico feliz pela minha parceira ser uma pessoa como você.

— Ownt... - Dei um beijo nele e suspirei.

— E eu fico feliz por você pensar assim. Se não eu te largava agora mesmo.

— Tá falando sério?

— Não. Mas eu ia tentar. - De qualquer forma, se fosse mesmo o caso, eu nem ia gostar dele. - Bem, acho que tenho algo a fazer. - Me levantei da cama e fui em direção à porta.

— Onde vai? - Se levantou também e veio atrás de mim.

— Ao meu antigo quarto. Não posso deixar as coisas assim.

— Se fizer isso o Woozi vai acabar ligando os pontos e vai saber que eu te contei.

— Mas você não me contou nada. - Dei um sorriso cúmplice pra ele. - Fica tranquilo. - Dei um beijo em sua bochecha antes de ir e acabei esbarrando em alguém enquanto ia.

— Opa!... 

— Foi mal. - Digo pensando depois  na coincidência de esbarrar justamente no V, o que podia até ser um bom sinal de que a Luh não estava com ele no telhado.

— Entra! - Ela gritou pra mim de dentro do quarto.

— Milles? - Pareceu surpresa com a minha aparição.

— Oie!

— O que tá fazendo aqui?

— O quê? Não posso mais vir ver a minha amiga?

— Claro que pode! - Me abraçou longamente.

— Tá carente, hein? - Brinquei.

— Ei, quem veio no meu quarto foi você e não o contrário. - Rebateu sorrindo enquanto se afastava. Revirei os olhos em resposta e fui até a cama pegar a Candy no colo. - Ela sentiu sua falta. Pra caramba.

— Eu também senti. - Fiz carinho em sua cabeça até que ela começou a ronronar. - O que fez com o beliche? - Agora só havia uma enorme cama no quarto igual à cama do Namjoon.

— Tirei, ué? Não vou dividir meu quarto com mais nenhuma garota que não seja você. Ou a Gorda.

— Ownt!!! Vem cá! - Ela deitou a cabeça no meu colocou a Candy um pouco mais pra frente de seu rosto pra mim ainda por der alcançar a Candy e a ela ao mesmo tempo. - Parece que as pessoas tiraram o resto da noite pra me dizer coisas fofas hoje.

— Ah, é? O que o Namjoon te disse?

— Como sabe que foi ele?

— Quem mais seria? - Disse rindo.

— Disse nada demais. Por que tá chamando tanto ela de Gorda? Ela não está tão grande assim.

— Eu sei, mas saca só. - Ela virou cuidadosamente a Candy de lado que já estava quase dormindo e ficou cutucando a barriga dela. - Toca a banha dela. - Rio também quando toco, a barriga dela estava meio estufadinha e a sensação de tocar era muito boa, era quase como tocar um balão cheio de água, só que quente. Ainda bem que a Candy estava dopada, se não coitada da gente.

— Ela acabou de comer?

— Não mesmo! Se não estaria maior. - Rimos. Aliás, fazia um tempo que eu não a via rir tão facilmente, mas vamos nos concentrar porque temos que dar um jeito de contar tudo pra ela.

— E então? Já superou aquela história com o V?

— Já. Nós já falamos sobre isso, não falamos?

— Falamos? - Me fiz de boba enquanto brincava com os cachos dela.

— Sim. Eu até já te disse que já dei meu jeito.

— Ah, é!... E... Você já parou de se sentir culpada? - Ela ficou calada por alguns segundos. Pensei que iria me dizer que ainda se sentia muito culpada, mas me surpreendeu ao virar a conversa pra mim.

— Milles, você está bem?

— Eu? Claro!

— Aconteceu alguma coisa entre você e o Namjoon? Por isso você está vindo com esse papinho de relacionamento? - Ela até se levantou do meu colo pra me olhar nos olhos.

— O quê? Não! Estamos ótimos.

— Então o que está acontecendo? - Suspirei.

— Ok, vou te contar. Mas antes me faça uma promessa.

— Milles... Você sabe que não gosto disso. Não sou de fazer promessas sem saber se posso cumprir. Você sabe que levo isso a sério.

— Igual ao Namjoon. - Balbucio.

— Hum?

— Mas isso você vai ter que me prometer. Mesmo sem saber o que é.

— Ok, tudo bem. Eu prometo... Prometo o quê?

— Que não vai ir tirar satisfações com o Woozi assim que ouvir o que eu tenho pra te contar.

— Eu prometo... - Me olhou com um misto de confusão e preocupação.

— Você sabia que o Nam é o meu parceiro, né? 

— Sim, eu sei que vocês são Par. Mas o que isso tem a ver? - Ela falou com uma certeza que me espantou. - O Tae me conta muitas coisas no telhado, a gente não fica só trocando música.

— Ah...

— Vai. Continua.

— Como a gente é Par a gente tem umas... habilidades.

— Eu sei disso também, se ir logo ao assunto eu agradeço.

— Certo. - Resolvi contar tudo de uma só vez. - O Nam me mandou dormir porque nós temos uma coisa que permite ver e ouvir tudo o que está acontecendo com o outro enquanto um dos dois está dormindo, podemos até conversar. - Luma assentiu como se tivesse entendendo, então continuei. - Enquanto eu dormia eu não sei como, mas eu consegui fazer isso, e quando eu pude ver ele estava com o Woozi na Floresta.

— O Woozi?

— Eles estavam indo pra Primeira Escola. - A expressão de confusão dela só aumentou. - O Namjoon prometeu ao Woozi que não contaria nada, então ele me mostrou...

— Mostrou o quê?

— Enquanto você está se sentindo culpada por ter beijado sem querer o V, ele está literalmente pegando uma outra garota na Primeira Escola e está pouco se lixando pra você. - Ela ficou muda encarando a parede por um longo tempo, tão longo que fiquei preocupada  e arrependida pela forma que contei. - Luma?

— Filho da puta!... - Começou finalmente a reagir. - Que... Filho da puta!... Porra!...

— Eu sinto muito.

— Não sinta. Não mesmo!

— O que você vai fazer? - Questionei apreensiva.

— Não sei. Pra falar a verdade eu nem sei o que eu estou sentindo. - Abracei-a da melhor forma que pude com a Candy no meu colo, mas mesmo assim ela acordou e olhou confusa pra nós duas depois que despertou pra valer. - Não é nada, Candy. Volta a dormir. - Ela continuou olhando pra Luma e parecia na dúvida, até que resolveu vir nela também e ficou rondado ela enquanto passava a cabeça nela. Luma sorriu e passou a fazer carinho nela ainda me abraçando.

— E você sabe quem é a garota? - Eu estava torcendo pra ela não fazer essa pergunta.

— Sei. É uma novata, deve ter entrado na escola enquanto estamos por aqui.

— Ah, então eu não conheço... Fico feliz de pelo menos não ser a Emanuelye.

— A Emanuelye não é. Mas você conhece.

— Conheço? Quem é? - Só aumentei a sua curiosidade.

— A Luíza.

— Que Luíza? - Começou a se assustar.

— A Ruivinha. - Ela ficou paralisada e de boca aberta.

— Você está me dizendo que o Woozi está me traindo com a Lu? - Assenti vagarosamente. - Meu Deus! - Ela desatou a rir, o que me deixou completamente confusa.

— Do que está rindo? - Fiquei preocupada dela de repente estar tendo um acesso de loucura por causa da situação.

— Acho que o Woozi tem um sério caso de tara por garotas com o apelido de Lu ou parecido. - Pensando por esse lado é realmente engraçado.

— Então você não está com raiva dela nem nada?

— Por que estaria? Provavelmente ela não sabe nem que nós ainda estamos estudando aqui. Agora, o que me chateia, é saber que o Woozi é como eu pensei. - Então ela também pensou por esse lado...

Ao dizer isso seu semblante ficou novamente triste e ela voltou a ficar pensativa.

— Tudo bem, Luh? - Pergunta estúpida, eu sei. Mas o que posso fazer, é o melhor que veio na minha cabeça.

— Vai ficar. - Pareceu confusa de repente. - Pode ficar tranquila que não vou ir tirar satisfações com ele. Obrigada por me contar.

— Não foi nada. Você faria o mesmo por mim.

— Tem razão. - Concordou assentindo e sua expressão ficou diferente. - Vou sair. - Disse já deixando a Candy na cama e se levantando da cama.

— Aonde vai?

— Vou tomar um ar. Pensar um pouco nisso tudo. - Chegando à porta ela se virou na minha direção e sorriu. - Não precisa se preocupar. - Então saiu.

Na noite seguinte Luma estava tão pra baixo quanto nos primeiros dias de aula, era um contraste absurdo comparado ao dia anterior, até mesmo o S. Coups veio atrás de mim querendo saber o que tinha acontecido com ela e o V também não parecia nada tranquilo.

— Isso não está certo! - Suspirei me sentando na cama enfiando o rosto na mãos.

— O que foi? - Nam deixou de prestar atenção no livro que estava lendo pra aula do dia seguinte pra me dar atenção.

— Isso da Luh ter que ficar agarrada ao Woozi. Não está certo. - Foi a vez dele de soltar um longo suspiro.

— Eu também não acho, mas o que podemos fazer? - Já tinha alguns dias que eu estava pensando em pedir isso ao Nam, provavelmente ele vai dizer que não e eu sei que mesmo que ele aceite pode não dar certo mas... - O que você está pensando?

— Eu... Você podia fazer com ela o mesmo que fez comigo. - Soltei de uma vez.

— Milles... - Disse pesaroso. - Você sabe que não vai dar certo. Precisa de alguém pra isso e eu com certeza não sou a melhor pessoa pra isso. Eu já tenho uma parceira.

— Eu sei! Mas você podia pelo menos tentar!

— Isso não  vai funcionar. Você sabe que precisa de uma pessoa que pelo menos goste dela pra... - Ele parou de repente, me deixando com uma esperança repentina que eu imaginava que logo, logo ele iria matar.

— Nam? - Eu estava só na expectativa, mas toda a possibilidade de ajudar a minha amiga era válida.

— O caso dela é muito pior que o seu. Você só estava sem ser marcada depois que tirei a marca do Jeonghan porque ele era um novato e a marca tinha sido feita a pouco tempo.

— Eu sei disso.

— Você disse que já faz mais de 1 ano, não é?

— Pelo o que ela me disse, sim. - Ele passou a mão pelos cabelos demonstrando a sua frustração, fiquei sem esperanças sem nem que ele precisasse fazê-lo.

— Ok, eu já entendi que-

— Vá dormir. - Me cortou repentinamente.

— Mas...

— Só vá. - Olhou fundo nos meus olhos até que acabei entendendo o que ele queria dizer. Pulei em cima dele e o beijei de tanta empolgação que só parei quando ele me afastou. - Se ficar assim em cima de mim eu não vou poder fazer nada. - Riu me tirando de cima dele e já indo em direção à porta.

— Amor?

— Hum? - Fui correndo até ele e dei-lhe um selinho.

— Boa sorte. - Assentiu e saiu. Me joguei na cama e tentei ficar o mais confortável possível.

Dessa vez foi muito estranho, eu não consegui ver direito as coisas. Nam me disse que era por causa da planta que o vi colhendo na Floresta ao pé de uma árvore enorme que ficava no meio da floresta, parecia até o local onde a Luh nos guiou pra nossa transformação. Me contou que ela é um dos motivos pelo qual desmaiamos, é muito forte para suportarmos, por isso tive que ver tudo apenas pela visão dele.

Vi o processo em cacos de imagens, pareciam até imagens de lembranças antigas que tentamos a todo custo lembrar, mas pouco nos vem à mente.

Vi-o fazendo um corte abaixo da mordida de Woozi. Vi quando ele colocou um pouco daquelas folhas amassadas com água e talvez algo mais que me foi escapado em cima, só de vê-lo colocando já me deu tontura e eu nem estava realmente lá. Foi nisso que a vi começar a se debater com o cenho franzido de dor, ela agarrou forte o braço do Namjoon, pude sentir.

Ele calmamente tirou a mistura de seu pescoço, tinha sangue e alguma outra substância que eu lógico imaginei ser o veneno. Então pensei que tudo estava dando certo, até Nam dizer:

— Droga!

"O que foi?"

— Ela está rejeitando. O veneno não quer sair. - Agora sim ele começou a perder aquela calma.

"Aconteceu alguma coisa?" Fora que ela parece ainda estar em estado de convulsão.

Ele nem me responde, só coloca outra compressa com as folhas e estende o braço que que ela o agarre novamente.

"Eu também fiquei assim?" Pergunto assustada.

"Em parte, sim. Mas com certeza muito menos."

"Meu Deus!..." Comecei a ficar com um medo real do que estava acontecendo à minha frente. " Nam, para! Tira agora essa coisa dela!"

Assim que tocou em seu pescoço ela começou a murmurar por alguma coisa.

— O quê?

Então V está no quarto ao lado do Namjoon. Nam se assusta tanto quanto eu e a compreensão de que o motivo estranho dele de repente pensar que estava tudo bem e que poderia dar certo o atingiu em cheio. Foi o V.

V o afasta da Luh e ele se agacha ao lado da cama. Ao contrário do toque do Nam, Luh aceita o toque do V finalmente parando de se debater. Ele tira a compressa de folhas de seu pescoço vagarosamente, pega a faça na qual Nam cortou abaixo da marca feita por Woozi e com ela faz um corte no polegar.

Nós dois assistimos estáticos e silenciosos aos seus movimentos e às reações da Luma a eles. V deixa bastante sangue coagular sobre seu dedo e em seguida o passa bem devagar em cima do corte e sobre a mordida. Os dois se desfazem imediatamente como se nunca tivessem sido feitos e então ele vira seu rosto e retira seu cabelo da frente para ter total acesso ao pescoço do lado e o morde a marcando do mesmo lado que o Nam quando o fez na frente do Jeonghan.

Pensei que a Luma fosse acordar pela forma que começou a se mexer, mas seus olhos permaneceram fechados a todo momento. Ele por fim terminou o processo beijando nos lábios longamente e quando se afastou ela finalmente começou a despertar. Olhou em volta do quarto perdida, parecia procurar alguém até que seus olhos se focaram em nós.

— Namjoon? - V simplesmente evaporou no ar deixando que a primeira pessoa que ela visse fosse ele. Não sei o que ele estava pensando, mas pela expressão dela, sei que ela sabe perfeitamente o que acaba de ocorrer, ao contrário de mim que só fiquei sabendo depois que o Nam praticamente esfregou meu pulso na minha cara pra que eu entendesse.

Ele vai até a porta e faz sinal pra que ela saia, ela obedece, então ele a deixa no corredor e vem em direção ao nosso quarto. É aí que resolvo acordar e já o recebo na porta pulando mais uma vez em cima dele e o beijando longamente de felicidade.

— Sabe... Você bem que poderia me receber assim mais vezes. - Bato nele de brincadeira caindo na gargalhada. - Você sabia daquilo?

— Sobre o V e a Luh? Nem imaginava.

— Bem, acho que ela também não porque não perguntou por ele assim que acordou.

— Você acha que ela vai procurar ele pela escola?

— Ela já está.

— E como é que ela vai saber que é ele?

— É só ela seguir a ligação.

— Ahm... - Aquilo me deixou inquieta. -  E se ela acabar em outra pessoa? Ela pode acabar encontrando alguém enquanto procura o rastro e se essa pessoa não for o V, como é que vai ser? Não tenho a menor ideia de como ela vai reagir quando o encontrar de verdade.

— É, tem razão. E que tal se a gente segui-la?

— Hum... Bora!

Seguimos ela pega escola durante longos minutos a uma boa distância atrás de pilares e colunas, vimos o V diversas vezes aqui e ali, às vezes no teto ou em cima de algum lugar, mas ele sabia que estávamos vendo ele todas aquelas vezes, tanto que até sorria de volta pra gente. Ele estava literalmente tirando uma com a cara dela fazendo ela andar pela escola atrás de uma pista que ela sequer podia ver, só sentia. A cada segundo que se passava eu sabia que ela estava cada vez mais e mais cheia daquilo e quase entrando em combustão de tanta raiva e frustração.

Acho que o V consegue se teletransportar porque de repente ele estava ao nosso lado atrás de uma gorda pilastra no jardim perto da Floresta.

— E aí, acham que ela já percebeu? - Sussurrou pra gente.

— Como, se você não fica parado num canto? - Sibilei quase pegando empatia com a Luh e ficando P da vida também, quando na verdade até que eu estava me divertindo.

— Ela me viu.

— Tem certeza? - Nam questiona.

— Bom... Vocês me viram diversas vezes, porque ela não veria?

Paramos todos subitamente. Luma parou poucos metros há frente. Ela estava com os punhos cerrados, percebi que respirava fundo, provavelmente estava até de olhos fechados. Agradeço porque o vento passa a nosso favor jogando nossos cabelos pra trás, dessa forma ela não vai sentir nosso cheiro, mas o vento se fortifica a ponto de termos de cobrir o rosto por causa das folhas vindo na nossa direção. 

Enfim para de ventar, mas ela não está mais lá quando descobrimos o rosto.

— O quê? - É o que digo antes que ela brote diante de nós, é tão repentino que solto até um soluço pelo susto. Ela nos olha e parece mais confusa do que nunca.

— Mas... Você já está com a Milles, você não... - Ela mesma deixa a frase morrer, olho-a assustada pela frase dela pro lado e não o vejo. Onde aquele peste foi? 

— Não mesmo. - Nam confirma.

— Então...? - Nós dois nos afastamos ao mesmo tempo cada um pra um lado, como se soubéssemos que ele estaria ali apesar de não estar segundos antes.

Ela olha reto, em sua direção, mas não parece estar olhando pra ele e sim através dele como se ainda estivesse o procurando, até que seus olhos brilham de entendimento.

— Você. - Soprou a palavra sem nenhum sentimento aparente.

— Oi. - Ele ficou repentinamente preso, parecendo acanhado, até mesmo envergonhado.

— Você. - Agora sua voz pareceu carregada por alguma coisa. Acusação. O pequeno sorriso que ele estava dando até termina de morrer. - Por que você? - Ele baixou os olhos, nem mesmo tentou responder. A tensão foi tanta que meu coração começou a ficar acelerado e minha respiração entrecortada. - Com tantas pessoas no mundo pra fazer isso tinha que ser logo você? Que merda você tem na cabeça pra fazer isso comigo?

— Qual o seu problema, Luh? - Não aguentei, eu tive que me entrometer. Não aguentei ela praticamente cuspindo em cima dele enquanto ele não fazia nada, só aceita tudo, inerte.

— Não se meta, Emilly. - Disse sem ao menos me olhar.

— Me meto sim! Você só está livre do Woozi por nossa causa.

— Milles, calma. - Nam se entromete também.

— Quer que eu agradeça por me tirar das mãos de um pra me passar pra outro? Obrigada! Obrigada, Emilly! Obrigada, Namjoon! E obrigada, V! Por me tirar de uma pessoa que me marcou na calada da noite sem nem falar comigo pra fazer o mesmo logo depois de virar meu amigo também. Exatamente como ele fez. - Cospe as palavras e sai pisando duro. Eu ia responder se o Nam não tivesse me parado.

— Vamos embora, Milles. Já fizemos o que tínhamos que fazer.

— Mas... - Ele só olhou pra mim sério e eu deixei. - Eu sinto muito, V. Eu não sei o que deu nela... - Digo antes de ir, mas depois de um tempo a única coisa que ele diz com a voz abafada enquanto olha pra direção onde ela foi é:

— Ela me chamou de V.

Fui o caminho inteiro de volta pro quarto pensando no que aquilo significava e nada me veio em mente como uma resposta descente. Ele ficou muito chateado, eu fiquei com vontade de chorar só de vê-lo daquela forma. Como ela pôde fazer aquilo com ele? A cada vez que penso e repenso nisso só fico com mais raiva.

— Não faça isso. - A voz de Nam chama a minha atenção.

— O quê?

— Isso. - Diz simplesmente, me deixando confusa. Ao chegarmos ao nosso quarto estou com tanta raiva que quando vou fechar a porta a bato com força a ponto de fazer a parede tremer.

— Eu falei pra você não fazer isso.

— Fazer o quê? - Perguntei áspera.

— Ela tem os motivos dela pra estar chateada tanto quanto ele tem pra aceitar tudo calado.

— Não importa quais sejam esses motivos, ela não podia ter feito aquilo. Aquela com certeza não era a minha amiga porque a Luma de verdade nunca faria uma coisa daquelas.

— Certeza? Mesmo que ela estivesse machucada? - Machucada. Essa foi uma boa escolha de palavra, tão boa que quase bobeei.

— Ela nunca foi de extravasar nos outros.

— Eu sei.

— Sabe?

— Agora que ela faz parte do meu grupo, tenho algum acesso a ela. Assim como a todos os outros.

— Que seja. - Respondo mal mesmo. Não tenho nenhum motivo, mas não quero falar que ele tem razão, então escolho sair pra tomar um ar antes que eu acabe descontando nele a minha raiva.

— Você a conhece melhor do que ninguém. Se parar pra pensar vai ver que ela tem razão em muita coisa. - Diz quando estou prestes a abrir a porta, vou sem dar-lhe uma resposta.

Saio da escola e ando pelos arredores, está amanhecendo e o tempo está numa temperatura boa, o que me ajuda a tentar esfriar a cabeça enquanto tento entender o lado dela.

Depois de muito pensar cheguei à conclusão de que ela estava mesmo era o que o Nam disse: Machucada.

Paro numa espécie de campina que nunca tinha visto antes, era quase escondida e parecia estar sendo cuidada por alguém. Me sentei nela apesar de estar meio úmida devido ao orvalho recém caído de madrugada. Fecho os olhos e respiro fundo o ar limpo e adocicado, o cheiro da terra molhada me ajuda a relaxar ainda mais.

Ouço um barulho que me deixa alerta em questão de segundos. Algo se mexe na mata, fico imóvel e respiro lentamente me preparando pro que quer que seja, sinto a adrenalina correr pelas minhas veias quando vejo um felino quase duas vezes maior que um gato surgir me olhando cautelosamente pra mim, vindo em minha direção a passos lentos. 

Prendo totalmente a respiração quando processo que estou diante de um tigre branco não muito grande, nem filhote, nem adulto. Me ocorre a ideia de que ele tenha acabado de cair de algum caminhão de tráfico de animais e de que esteja faminto. Já vi alguns animais grande por aqui, mas não tenho a mínima ideia se ele sabe caçar, e se sabe, se já não encontrou algum por aí pra me deixar de lado.

Ele vem se aproximando ainda mais de mim, estou tão rígida que quem me visse poderia pensar que sou uma estátua, volto a respirar porque não consigo mais prendê-la. Desejo do fundo do meu ser que Luma estivesse aqui, ela lida melhor do que ninguém com gatos. Ok que é um tigre, mas continua sendo um felino.

Estou perdida, ele chegou até mim. Ele me olha desconfiado e então me cheira por tempo o bastante pra imaginar como o Namjoon vai ficar destruído por perder sua namorada pra um animal selvagem, na Luma que mal vai poder curtir seu namoro direito depois que eles se resolverem, nos outros do nosso grupo e do grupo do S. Coups, na minha mãe e no meu irmão...

Engulo em seco quando o sinto subir em cima de mim, ele me olha direto nos olhos, sou capaz de pensar que ele é fofo apesar de que vai me matar nos próximos segundos. Ele abre a boca e... mia.

Acho que enlouqueci de vez.

Ele me olha na expectativa com aqueles olhos cinzentos e parece feliz, solta mais um som que parece um miado um pouco mais potente. Faço o que meu corpo está pedindo e vou contra o que o meu coração e minha noção só agora gritam pra mim loucamente, pra mim sair correndo dali o mais rápido possível porque não sou mais uma reles humana e ele não conseguiria me alcançar, lentamente eu estendo a mão em sua direção e a abaixo até sua cabeça, fico com ela parada até que o tigre começa a se mexer e eu acabo fazendo carinho nele de uma forma ou de outra.

Derreti.

— Gente... O que você está fazendo por aqui? Caiu do caminhão? - Perguntei bobamente.

" Pufh! Como se ele pudesse me responder."

— Você tá por aqui a muito tempo? Acho que não, né. Você até que parece gordinho. - Continuei fazendo carinho nele, que ficou todo feliz. - Vou ali no meu quarto achar meu celular pra chamar alguém pra cuidar de você, já voltou. - Ele nem me deixou levantar, ficou desesperado.

— Nha-ão!

— Não? Mas você precisa de alguém pra cuidar de você.

Mas eu já tenho. - Arregalei os olhos de susto. Meu cérebro dele estar botando peças em mim. Chacoalhei a cabeça tentando clarear meus pensamentos.

— Acho que estou ficando louca. - Ri desacreditando.

Por quê?— Tombou a cabeça pro lado. Quase dei um salto.

— Vo-você está falando comigo?

Estou? Você me entende? -  Assenti. - Sério mesmo, Milles?

 Como sabe meu nome?!

Namjoon.

 Eu estou delirando.

Não. - Entrei em estado de pane momentâneo. - Olá? - Subiu ainda mais em cima de mim.

— Ok. Não estou louca, pirando, delirando nem nada. - Respirei fundo. - Certo. Isso... Quer dizer que tenho afinidade com tigres, eu acho. Não preciso enlouquecer só por isso.

Exato. - Respirei fundo por mais algumas vezes, a cada vez que o fazia me acalmava mais e me empolgava pela minha descoberta. Daí comecei a puxar papo com ele e a ideia foi ficando cada vez normal. 

Ele me contou que Nam o encontrou ainda filhote vagando por ali, ele não se lembra de nada antes dele e nem faz questão, mas se não fosse por Nam, ele teria morrido de fome. Prometi a ele segredo porque era isso o que ele era, um segredo, ninguém poderia saber se não teria a mesma reação que tive de ligar pra polícia e o levarem daqui pra sabe se lá onde e se eu comentasse com o Namjoon ele saberia que ele se mostrou a mim.

— Certo. Então estamos combinados. - Ouve-se o som do sinal indicando que está na hora do café. Pensando nisso me faz pensar que Nam deve estar preocupado, sumi pelo resto da manhã e a tarde inteira. - Eu vou mas volto pra te visitar de vez em quando. - Ele fez um grunhido de concordância. - Ei, ainda não me contou seu nome.

Eu não tenho. -  Levei um pequeno susto.

— Tudo bem então. Na próxima vez que eu vier vou te nomear. - Ele pareceu animado com a ideia. Fiz meus últimos carinhos nele e fui pra escola com muito custo. Mal cheguei à escola já me veio um nome. - Tyler... Taí, gostei.

— Emilly, onde você estava? Fiquei preocupado, você sumiu! - Vem até mim assim que me vê.

— Desculpa, eu me distraí.

— Onde você estava? - Droga, sou péssima pra mentir ou inventar coisas desculpas de última hora.

— ...Por aí. - Tive sorte por ele não insistir.

— E aí, conseguiu ver o lado dela. - Assinto. Depois disso ele me leva pro refeitório. Nem ela e nem o V são vistos o resto do dia. Fiquei com os pensamentos ocupados o dia inteiro entre o Tyler e eles.

Consegui uma brecha pra ver o Tyler e lhe contar seu novo nome naquela madrugada mesmo, ele ficou super feliz com o nome, gostou tanto quanto eu. Infelizmente não pude ficar muito com ele, os mutirões de estudo iam começar em alguns minutos já que as provas estavam por perto e eles já foram me dizendo que as provas não eram nada leves, afinal a escola era a melhor do estado - quase do país - e não era um título à toa.

Os dias se passaram e meu esquema com o Tyler continuou, quase fomos pegos por três vezes pelo Nam, foi a maior adrenalina sair de lá antes que ele me visse.

— Onde você está me levando?

— Já disse que é uma surpresa. - Agora há pouco ele simplesmente me pegou no colo e me mandou fechar os olhos e eu obedeci apesar da curiosidade. - Ainda não abra os olhos. - Disse ele quando me pôs no chão. - Não se assuste, ok?

— Falar é fácil, não sei sobre o que você está falando! - Retruquei.

— Pelo menos tente.

— Tudo bem. - Ele assobiou longamente duas notas, ouvi um barulho de algo se movendo, o barulho me era bem familiar pra falar a verdade.

— Pode abrir. - Sussurrou no meu ouvido e me segurou de lado, abri os olhos lentamente na mesma velocidade em que ele foi surgindo. Escapou antes que eu pudesse controlar, de tão surpresa.

— Tyler?! - Ele também teve o impulso de vir na minha direção, até que se lembrou no que pareceu a mesma hora que eu de que não era pra ser daquele jeito. Namjoon estava ali. - Digo... Olha! Um tigre! - Já era.

— Tyler? Como assim Tyler?

— Quem disse Tyler? Eu disse tigre. - Tentei soar convincente, mas pelo olhar que o Tyler me lançou era claro que estávamos perdidos.

— Você deu um nome pra ele. Então eu estava certo... Bem que você parecia animada demais nos últimos dias. - Desisti.

— Eu o encontrei aquele dia em que briguei com a Luh.

— Imaginei.

— Pelo visto dei bandeira. Foi mal, Tyler.

— Não se preocupe, você não foi a única. - Lá se vai a expressão de inocência do Tyler também. - Quando ele me via às vezes parecia decepcionado, como se esperasse outra pessoa.

Então estamos quites.

— Sim estamos.

— O que foi isso? - Nam me pergunta agora parecendo verdadeiramente confuso.

— Tenho afinidade com ele. - Algo em sua expressão pareceu clarear, como se estivesse  pensando que algo fazia sentido. A minha sorte foi que o sinal tocou, eu estava até comemorando, mas depois parei pra pensar se eu não iria era me ferrar, afinal ia ter que explicar tudo sozinha. De qualquer forma iria, ele não consegue entender o Tyler, mas ele antes pelo menos ia estar ao meu lado.

Eu só me meto em fria!


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