A Fera escrita por Ciin Smoak


Capítulo 7
Você é mais do que um rosto


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi gente.Então aí está o tão esperado encontro que vocês queriam ver...



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Oliver

Hoje completava uma semana desde aquela primeira vez em que fui ver Felicity, agora eu a visitava todos os dias e ficava naquele mesmo beco observando-a, ela era linda, como eu não tinha olhado pra ela antes? As vezes ela olhava pela janela em minha direção e era como se ainda sentisse que eu estava lá.

Eu havia acabado de chegar e estava vendo-a ver alguma coisa no seu notebook quando de repente vi um cara de aproximar da casa, logo vi que era o pai dela, tinha visto uma foto dele em sua rede social, ele estava prestes a entrar em casa quando dois caras enormes se aproximaram dele e o puxaram, ele gritou e quando eu olhei pra janela Felicity não estava mais lá, ela já estava saindo pela porta e gritando pra que deixassem o pai dela em paz, ele já tinha levado uma bela surra e eu estava paralisado, mas fui despertado do meu torpor quando vi um dos brutamontes jogar Felicity contra a parede e ela cair desmaiada.

Saí correndo do meu esconderijo e fui pra cima dele, depois de nocauteá-lo fui pra cima do outro e dei um jeito nele também, mas não o deixei desmaiado, assim ele fugiu arrastando o parceiro junto, o pai dela estava machucado, então eu a peguei no colo e a levei pra dentro, coloquei ela deitada em sua cama e desci pra ajudar o pai dela a entrar, assim que ele se sentou e recuperou o folego, olhou pra mim e disse com certa cara de nojo:

—Quem é você?

Nesse momento, eu estava me lembrando do que um dos caras tinha falado pra ele.

“Pague o que deve velhote, seu viciado de merda.”

Ele era um viciado então? Bom, pela aparência dele eu julgava que sim e parecia que estava endividado, ou seja, aqueles caras voltariam, ainda mais depois da surra que eu dei neles, uma ideia surgiu na minha cabeça, eu sei que era insana e totalmente sem nexo, mas talvez fosse a chance que eu precisava.

—Eu? Eu sou seu novo melhor amigo.

Ele me olhou estranho, e eu me pus a contar o meu plano pra ele, é logico que ele recusou na hora e me chamou de louco, mas eu conseguia ser muito persuasivo quando eu queria, então depois de muito dialogo (e ameaças sobre chamar a polícia e contar o que eu tinha visto ali), consegui convence-lo a aceitar a minha ideia. Dei o meu endereço pra ele e fui embora com a promessa de que voltaria a sua casa, caso ele não cumprisse com o combinado.

Cheguei em casa praticamente pulando de alegria e dei de cara com John e Nyssa, eles me olharam de uma maneira estranha, mas eu nem liguei e fui logo falando.

—Nyssa, prepare aquele ultimo quarto da escadaria, aquele que tem o teto de vidro, receberemos visitas.

—Quem é Oliver?

—A minha salvação.

Ela sorriu e mesmo sem saber da historia toda com a Sara, pareceu ter entendido o que eu tinha dito, ela saiu pra poder fazer o que eu pedi e me deixou sozinho com John, eu me sentei ao seu lado, meio desconcertado, afinal, nessa uma semana eu não tinha falado com ele direito ainda.

—Então, sua salvação está chegando, teremos por aqui então uma luz no fim do túnel, não que eu possa ver claro.

Dito isso ele sorriu e eu sorri também, John era um cara legal.

—Como você consegue?

—O que?

—Fazer piada da sua deficiência, eu queria conseguir fazer piada da minha cara feia.

—Oliver, quando eu fiquei cego perdi o chão, eu fiquei revoltado e não queria mais viver, isso foi há 18 anos atrás, eu tinha 15 anos na época, minha mãe ficou tão preocupada que achou melhor me levar pra um centro de apoio psicológico pra pessoas deficientes, eu odiei a ideia é claro, mas ela me obrigou a ir, chegando lá eu me deparei com varias outras pessoas cegas, ficávamos em uma sala e conversávamos, eu até comecei a gostar de lá, e em um dia quase ninguém apareceu no centro, na sala só estávamos eu e outro garoto, eu senti ele se aproximando e se sentando ao meu lado e de repente ele me disse que eu tinha sorte, eu não entendi, achei que era algum tipo de piada, que tipo de sorte um cara cego podia ter? Eu perguntei pra ele o que ele queria dizer com aquilo e ele disse que eu tinha sorte porque eu perdi a minha visão, mas eu já tinha enxergado um dia, eu sabia como o mundo era, eu poderia me lembrar pra sempre das cores e ele não, ele nasceu cego, ele nunca saberia como era a luz do Sol.

—Naquele dia, eu percebi o que ele queria dizer, eu podia continuar reclamando do meu estado ou eu podia fazer algo pra melhorar aquilo, então eu decidi que faria algo por mim mesmo, fui pra uma escola de braile, terminei os meus estudos e fiz faculdade de historia, contrariando todas as expectativas eu consegui e hoje aqui estamos nós e você acha que eu não percebo como você parece querer desistir de tudo só por causa da sua aparência? Eu não consigo ver, mas não acredito que seja tão ruim assim.

—Você não faz ideia do quanto, ninguém nunca vai amar um cara como eu.

—Oliver, pra pessoa errada você nunca vai ter valor nenhum, mas pra pessoa certa, você vai ser tudo.

Dizendo isso ele saiu me deixando sozinho com um monte de pensamentos, será mesmo que John estava certo? Alguém poderia me amar? Será que ela conseguiria? Não, provavelmente não, ela era uma criaturinha muito delicada pra amar alguém como eu. De repente o meu plano já não me parecia mais tão inteligente, passei o resto do dia sem fazer nada, jogado no sofá e acabei pegando no sono por lá mesmo, acordei no outro dia com o sol batendo em meu rosto, quando me lembrei do dia de ontem levantei em um pulo e fui correndo ver se o quarto já estava pronto. Passei o resto do dia enchendo a paciência de Nyssa, e ela só dava risadas. Ah, qual é? Eu estava uma pilha de nervos mesmo.

Quando foi anoitecendo, eu já estava suando frio, achei que o pai de Felicity provavelmente não faria o que tínhamos combinado e eu já estava começando a me sentir aliviado por isso quando a campainha tocou.

Felicity

Toquei a campainha e esperei, quando a porta abriu dei de cara com uma mulher muito bonita, ela me olhou e sorriu, parecia o sorriso da minha mãe.

—Olá querida, eu sou Nyssa, seja bem vinda.

—Obrigada, eu acho.

—Sei como tudo isso deve estar sendo pra você, mas tenha fé, as coisas vão melhorar.

Ela me guiou pela casa e eu não vi mais ninguém por lá, quando chegamos em uma escadaria, ela me deixou dizendo que tinha que olhar o assado no forno e que no final das escadas eu encontraria o meu quarto. Eu subi e quando abri a porta, uou, era o quarto dos sonhos, ele possuía um teto de vidro. Parecia aqueles quartos dos filmes que eu via com a minha mãe.

Lembrar da minha mãe me deu um aperto no coração, ela morreu a três anos atrás e desde então tudo desandou, meu pai se viciou e eu passei a ser a responsável da casa e agora aqui estava eu, em uma casa completamente estranha, tentando entender o que levaria uma pessoa a me ajudar como esse cara estava fazendo.

Nem sei quanto tempo eu fiquei lá olhando pro nada, de repente escutei batidas na porta e quando abri era Nyssa falando que o jantar estava pronto, eu desci com ela e quando chegamos a sala de jantar dei de cara com um homem negro, bem alto e que pelos óculos escuros parecia ser cego.

—John, está é a Felicity, nossa hóspede, Felicity esse é o John, professor do seu anfitrião.

—É um prazer senhorita, eu até diria que você está muito bonita, mas eu não consigo ver sabe.

Dito isso, ele riu, é eu já tinha gostado desse cara.

—O prazer é meu senhor John e a propósito, onde está esse tal anfitrião, quer dizer, qual é o nome dele.

—Ah, o nome dele é Ol...

—Na verdade Nyssa, acho melhor nós deixarmos que ele se apresente pra ela não? Vamos jantar antes que esfrie.

—Sim, você está certo John, vamos jantar.

Me sentei com eles e comemos em silencio, depois do jantar Nyssa me mostrou a casa e disse que eu poderia ficar a vontade, fui pro meu novo quarto e decidi que seria uma boa ir pro terraço quando vi que ele possuía uma porta que dava diretamente pra lá.

O ar estava gelado ali e quando olhei pra frente me deparei com um cara de capuz, ele estava de costas pra mim, olhando pra cidade.

—É, boa noite!

Ele pareceu se assustar, mas não se virou pra mim.

—Olá Felicity.

—Como sabe meu nome?

—Eu sou amigo do seu pai esqueceu?

—É claro, amigo do meu pai.

Amigo do meu pai, eu ainda não tinha engolido essa, e por que a voz dele me parecia tão familiar?

—Bom, você sabe meu nome, mas eu não sei o seu.

—Meu nome é Jonas.

—Tá legal e você não vai se virar pra falar comigo Jonas?

—Eu acho melhor você ir dormir Felicity, aposto que o dia foi cansativo pra você.

Eu fui dispensada na cara dura, mas por que ele não queria mostrar o rosto? Comecei a me retirar sem falar nada, achei melhor deixa-lo sozinho.

—Espera!

Eu me virei e ele estava olhando pra mim, ele abaixou o capuz e me olhou envergonhado, nessa hora eu entendi o porquê dele não querer mostrar o rosto, Jonas era careca e tinha um monte de cicatrizes e tatuagens no rosto.

—É horrível não é?

—Eu já vi piores.

Eu sorri pra ele e me virei pra ir pro quarto.

—Felicity, boa noite.

Ele sorria também, eu saí e assim que me deitei, dormi imediatamente, mas acabei sonhando com o estranho que estava me ajudando.

 


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Notas finais do capítulo

Então meninas, o que acharam?
Beijooos...