Violetta - O Recomeço escrita por Clarinesinha


Capítulo 5
Capítulo 3 - A Visita Inesperada


Notas iniciais do capítulo

As coisas estão a correr bem na vida de Vilu, Gérmen e Angie...mas chega alguém que vai tirar esta harmonia...quem será? E será que vai conseguir?



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Passam-se alguns meses, Clara tinha já cerca de seis meses, e todos retomaram as suas vidas: Gérmen continua com os seus negócios, com as suas reuniões sempre acompanhado por Ramalho mas também a tratar da parte financeira do Estúdio; Olga continua nas suas lides de casa; Vilu começara a trabalhar no Estúdio junto de Pablo e Angie apenas trabalhava meio tempo para dessa forma poder continuar a tratar de Clara, que crescia tão depressa que Gérmen todos os dias lhe dizia em tom de brincadeira que não tivesse pressa em crescer, que tinha muito tempo.

Angie ria-se destas conversas entre pai e filha, mas no fundo também ela não queria que Clara crescesse, ela adorava tratar dela e sentia-se feliz assim, no entanto, sabia que mais cedo ou mais tarde teria que voltar ao trabalho definitivamente, e embora soubesse que Olga e Angélica iriam tomar conta de Clara tão bem ou até melhor: com mais mimos, com mais condescendência, com menos regras e rotinas que ela achava necessário para o seu crescimento; e aquela saudade própria de quem e mãe já se apoderavam de Angie e sentia uma certa angústia por ter que a deixar, por estar tanto tempo longe da sua Clarita.

Angélica passava muito tempo com Angie falando do passado, do presente mas também do futuro. Adorava olhar para Clara e sentir que iria poder acompanhar o seu crescimento como nunca conseguira  fazer com Violetta, já que quando esta tinha os cinco anos, lhes fora retirado a possibilidade de conviver com ela; assim ela esperava conseguir viver tudo isso com Clarita. Estão as duas na sala, numa manhã como qualquer outra a conversar, nesse dia Angie não tinha aulas, e de repente ouvem  Vilu a descer as escadas bastante apressada.

— Bom Dia Angie, Bom Dia Avó…e até logo.

— Vilu, mas nem tomaste o pequeno-almoço…Vilu! – Mas já tinha saído porta fora. – Já viste, todos os dias é a mesma coisa…

— Deixa-a, ela está feliz. Não é que todos queríamos?

— Sim mamã tens razão. Mas, não posso evitar em cuidar dela.

— Já fizeste a tua parte, fizeste-a seguir os seus sonhos agora tens que a deixar voar…é difícil eu sei mas é o que nós mães temos que fazer: deixar-vos voar.

— Mas eu não sou mãe dela...nunca o vou ser, nem quero…

— Angie por muito que não o querias ser, para Vilu serás o mais próximo de uma mãe que ela algum dia teve ou irá ter.

— Eu nunca quis, nem quero substituir Maria…eu só quero que ela sinta que estou aqui para o que ela precise.

— Eu sei, Vilu sabe e a tua irmã esteja onde estiver também sabe disso. Tenho a certeza que ela iria gostar de ver a vossa relação, como é tão bonita.

— Quando olho para Vilu, já quase nem me lembro daquela menina tímida que vi pela primeira vez, que tinha saído de casa sem conhecer nada desta cidade; pensar no que ela lutou, no que ela conquistou durante estes anos.

— E foste tu que a ajudaste Angie. Se não te tivesses aproximado dela…acho que continuaria a ser a menina introvertida que conheceste.

— Eu apenas lhe abri as portas, o resto ela fez sozinha. Maria estaria orgulhosa dela, tenho a certeza.

— A tua irmã estaria orgulhosa das duas, não tenho nenhuma dúvida.

— Não fiz nada que ela não o tivesse feito também se...

— Eu sei...e também sei que ela nunca teria escolhido melhor “mãe” para a substituir.

— Obrigado Mamã. Mas nem sabes a confusão que me faz ela sair sem comer,  e todos os dias a mesma coisa anda sempre atrasada.

— Se bem me lembro havia alguém…- apontando para Angie…- que também se levantava atrasada…ou será que já te esqueceste?

— Mas eu ainda estudava, e a culpa era de Maria!

— A culpa era da Maria?

— Era mamã…ela punha-se a cantar durante a noite toda e quem é que conseguia dormir com ela a cantar?

— Mas ao contrário de ti a tua irmã parecia que tinha um relógio dentro dela, era sempre a primeira a acordar, já tu…

— Sim porque Maria não me deixava dormir...sempre a cantar…

— Sempre as DUAS a cantar…eu tinha que ir ao vosso quarto uma meia dúzia de vezes para que acabassem com as cantorias.

— Mas era Maria que começava, dizia que tinha que ensaiar eu ia atrás...

— Era Maria ou eras tu que lhe pedias para cantar?

— Mamã…está bem eu confesso às vezes pedia-lhe, mas eu era a mais nova ela devia dizer que não.

— E quando é que a tua irmã te dizia que não? Mesmo que tentasse não conseguiria; aliás ninguém conseguia, tu colocavas aquela cara de anjinho e pronto derretias qualquer um. Só mesmo o teu pai conseguia a maioria das vezes resistir-te.

— O papá...ele…- e Angie tentou esconder o que realmente sentia…

— Era o único que te colocava na ordem, bastava um olhar. - Angie sabia bem que não era bem assim, ela sabia a verdadeira razão pela qual o pai a olhava de forma diferente e não era para impôr qualquer tipo de respeito...mas nunca o contaria a mãe.

— Alguém tinha que resistir aos meus "encantos" acho eu...- Angie tentou disfarçar o mais que pôde as lembranças desses olhares frios...

— Sim, penso que sim; mas tu eras tão preguiçosa para te levantares, nunca tomavas o pequeno-almoço...

— Às vezes não tomava, não me atrasava todos os dias...

— Pois não...havia um dia ou outro que até te levantavas a horas. Nos outros respondias-me sempre o mesmo: “Não te preocupes mamã eu depois como qualquer coisa no Estúdio”.

— Lembro-me bem tu não gostavas nada que o fizesse...afinal Violetta tem a quem sair...comigo.

—  E agora és tu que estás no meu papel, preocupada porque Vilu saiu sem comer.

— Sim tens razão eu era igual. Mas Maria ela acordava sempre cedo nunca chegava atrasada a nada, nem a uma ida ao parque comigo.

— Vocês eram tão diferentes: Maria era calma, organizada, responsável; já tu eras tão reguila, irrequieta, desorganizada...

— Mamã…não repitas isso ao pé do Gérmen…ele ainda pensa que eu era uma peste.

— E eras…linda mas uma peste. Uma vez o teu pai apanhou-te vestida com o vestido que Maria ia vestir no espetáculo em Madrid...

— Um azul, com umas contas…o papá ficou furioso, tu não sabias se te rias ou se ralhavas comigo...mas Maria...

— Maria estava sempre pronta para te salvar…

— Sim, a Maria era mestre em me salvar. Tratou logo de inventar algo para que ninguém se zangasse comigo: encenou um grande espectáculo...

— Começou a apresentar-te como a grande cantora Angeles Saramego, e tu começaste a cantar, e de repente estavam as duas a cantar…

— Não, Maria começou a cantar eu apenas a acompanhava ao piano e cantava os coros com ela. Nós adorávamos cantar juntas…tenho tantas saudades…

— Eu adorava ouvir-vos cantar…e o vosso pai quando vos ouviu a fúria dele passou, adorava ouvir-te cantar...eras o seu “pardalito”.

— Não, o papá só não me ralhou porque Maria me salvou. Era de Maria que ele se ocupava, da sua carreira. – Angie sabia que talvez tivesse tido o que não devia, mas…

— Angie não digas isso, o teu amava-vos ás duas da mesma maneira. Sim ele tratava da carreira de Maria, mas amava-vos ás duas.

— Não, mamã ele nunca me viu a mim, como via a Maria, ele gostava que eu a acompanhasse ao piano nada mais…

— Angeles…- quando Angélica a chamava pelo nome e não pelo diminutivo, ela soube que tinha ido longe demais…- Estás enganada, o teu pai quis que seguisses as pegadas da tua irmã, e até que fosses para o estrangeiro estudar, mas Maria proibiu-o.

— Não sabia disso…desculpa mamã…desculpa.- Mas pensando bem, fazia todo o sentido para Angie que o pai quisesse que ela fosse estudar para fora do país, pelo menos para ela, mas não podia dizer nada a Angélica.

— Ela não queria que tu deixasses de ser o que eras, que tivesses que abdicar dos teus estudos, dos teus amigos; enfim de seres feliz e teres uma vida “normal” como todos os teu amigos.

— Ela sempre me protegeu, estava sempre lá quando eu precisava. Era minha irmã, minha amiga, minha conselheira...sinto tanto a falta dela.

— Tu e Maria, a vossa relação era...era mágica, linda; e nada nem ninguém a conseguia abalar.

— Eramos inseparáveis, o que eu adorava quando ela me levava aos espetáculos: deixava-me sempre subir ao palco antes, e eu cantava fingindo que estavam milhares de pessoas á minha frente; se bem que só lá estava ela...mas batia palmas como se só ela fosse uma multidão.

— Ela adorava ter-te nos espectáculos dizia que eras o seu amuleto da sorte, que se estivesses lá tudo lhe corria melhor.

— Lembro-me, como se fosse hoje, de uma frase que ela me disse no último concerto a que fui, ela disse-me: “Se sentes que este é o teu lugar luta por ele, apesar do que te possam dizer os que estão à tua volta. Luta pelo que queres. Seja cantar, tocar ou compor.”

— Ela disse-te isso… mas porquê, não percebo...porque e que ela te disse isso...não percebo, nunca ninguém te proibiu de nada.

— Não sei, talvez quisesse apenas que eu não desistisse dos meus sonhos e que lutasse por eles...na altura foi o que eu pensei. Sabes como era Maria comigo…sempre a defender-me, a fazer o que fosse para me ver feliz.

— Confesso que sempre tive alguns ciúmes dessa vossa relação tão cúmplice. Às vezes parecia que estava a mais no meio de vocês as duas.

— Mamã nunca estavas a mais, porque e que nunca disseste nada, eu amo-te e Maria também te amava muito. Sabes disso não sabes?

— Sei querida, claro que sei. São coisas que se sentem, e que nem sempre percebemos porque e que sentimos; vocês eram e serão sempre as minhas meninas.

— Perdoa-me mamã…-e abraça-se a Angélica, como se aquele abraço fosse de algumas forma um pedido de desculpa…

— Angie…Angie, não tens que pedir desculpa…

— Nunca pensei que sofresses com esta nossa relação tao próxima...-e separa-se dando espaço entre elas…- devias ter tido alguma coisa.

— Meu anjo, não tens que pedir desculpa eu adorava ver-vos assim tão unidas: ouvir as vossas conversas, ver as vossas palhaçadas…

— Mas se nós soubéssemos...talvez tivéssemos feito algo de diferente, mas a verdade e que era tudo tao natural a nossa cumplicidade...

— Meu amor… nem tu nem a tua irmã fizeram nada de mal. Vocês eram amigas, companheiras…que mais uma mãe pode querer?

— Sabes, acho que vou perceber o que sentias daqui a uns anos...porque ou eu muito me engano ou Clara e Vilu vão ser como eu e Maria, inseparáveis.

— É muito possível...mas eu no fundo sentia-me feliz por vos ver tão amigas e sabia que se eu um dia vos faltasse, vocês se teriam uma á outra...

— Mas o destino trocou-nos as voltas e deixou-nos às duas...

— Para nos apoiarmos uma a outra...sempre. - Abraçam-se, e neste estava bem visível todo o amor que sentiam uma pela outra. - E tenho a certeza que Vilu vai ser uma ótima irmã assim como Maria foi para ti, não te preocupes.

— Eu não tenho dúvidas mamã...vão ser tão unidas como eu e Maria o fomos, ou ainda mais se isso for possível.

De repente tocam á porta, Angie e Angélica continuam a conversar; continuam a tocar, e Olga aparece no cimo das escadas e pede para que uma delas vá abrir, pois ela está a arrumar os quartos. Angie levanta-se, mas antes de se dirigir para a porta pede a Olga que espreite Clara que estava a dormir no quarto. Quando abre a porta, vê um homem muito parecido com Gérmen, se bem que mais velho. Ela não se lembrava do pai de Gérmen, uma vez que quando ele e Maria começaram a namorar os pais dele já estavam divorciados e ele vivia com a mãe, Rosário. Mas olhando para aquele «Homem» á sua frente pensou que poderia ser perfeitamente seu “sogro”. Este entra sem sequer dar a oportunidade de Angie dizer alguma coisa, ela fica a olhar para ele sem saber bem o que fazer, apenas lhe sai um “Bom Dia” algo forçado. Olhando para trás, não por educação mas por mera curiosidade ele quer saber e ver quem lhe deu os bons dias, examina Angie dos pés à cabeça fazendo-a sentir algo incomodada com aquele "olhar" tão rude e frio. Fá-la de certa maneira lembrar do pai e da forma como por vezes ele a olhava...e sente um arrepio, como que se o corpo lhe tivesse a dar...alguma espécie de sinal.

— Ah…já não se usam fardas. Muito Bem…

— Posso ajudar? – Pergunta Angie já algo aborrecida com toda aquela atitude, mas José ignora-a completamente.

— Onde está Gérmen? E Violetta está em casa, certo? Por favor pode chamá-la. Vá depressa, não fique para aí especada…

Quando Angelica ouve aquela voz, estremece e nem precisa de se virar para saber que era a voz de José, o pai de Gérmen, e que iria haver problemas. Este e Miguel, seu marido, tinham crescido juntos; os pais destes tinham sido criados numa pequena vila do interior e tinham sido vizinhos, tinham crescido como irmãos, assim seria obvio e natural que os seus filhos (os três de um lado e os três do outro) anos mais tarde fossem também eles amigos, os melhores amigos. Mas infelizmente quando adolescentes José e Miguel enamoraram-se pela mesma rapariga: Angélica. Apesar de não querer magoar nenhum dos dois, ela sempre fora apaixonada por Miguel, e José nunca perdoou o amigo, por este supostamente ter roubado o amor da sua vida e nunca mais foi o mesmo; quebrou todo e qualquer vínculo com Miguel e jurou a si mesmo odiá-lo para sempre.

Quando anos mais tarde, Maria e Gérmen se conheceram e José se apercebeu de quem esta era filha, fez tudo para acabar com essa relação e sempre dissera ao filho que ela o iria magoar e fazê-lo uma pessoa muito infeliz, porém Gérmen nunca lhe fez caso. No dia em que soube que o filho iria casar com Maria, tentou demovê-lo ameaçando-o inclusive que o deserdaria se ele continuasse com a ideia do casamento mas Gérmen nunca o levou a sério, para além do mais o seu amor por Maria era puro e sincero, ele sabia, ele tinha mesmo a certeza que ela nunca o iria magoar; mas José nunca aceitou aquela união e negou-se mesmo a ir ao enlace do filho. No dia em que Maria morreu no acidente, em choque e numa grande amargura, Gérmen culpou Miguel, António e a música; e foi nessa altura que decidiu afastar Violetta de todos os que o magoaram a ele: a família de Maria e a música. Decidiu então ir viver para Espanha onde estava o seu pai.

Assim finalmente José tinha conseguido o que sempre quisera: o afastamento de Vilu da família de Maria, de Miguel; era a vingança perfeita.

Quando José se apercebe da presença de alguém na sala, primeiro fica com a sensação que só pode estar a sonhar, mas quando Angélica se vira…fica surpreso, assustado e confuso.

— José como estás, faz muito tempo que não nos vemos, uns 20 anos?

— Angélica que estás a fazer aqui? Sabes que Gérmen não te quer perto de Violetta. – E virando-se para Angie que para ele era apenas uma empregada. – Violetta não está certo? Esta senhora não podia ter entrado nesta casa...

Angie fica completamente estupefacta…como é que aquele “Homem” tinha a audácia de falar daquela forma, ele estava em casa dela, nem sequer se apresentou…e agora esta a mandar Angelica embora.

— Em primeiro lugar não sei quem é o senhor, mas não pode falar desta forma, ninguém lhe faltou ao respeito aqui e eu...

— Deixe-se de ser insolente e responda-me ao que lhe perguntei. Onde estão Gérmen e Violetta?

Angie nem podia acreditar no que ouvia. Para além de ele pensar que ela era uma empregada, ou talvez a perceptora, falava com Angélica como se a conhecesse, mas seria possível? Nesse caso poderia mesmo ser o pai de Gérmen. Mas se fosse como é que Angélica estava tão calma? Fosse ou não o pai de Gérmen, Angie não gostava dos seus modos, e quando está prestes a perguntar quem ele era e como se atrevia a falar daquela forma em sua casa…ele ignora-a completamente e continua a falar com Angélica; era como se Angie não existisse, como se não estivesse ali mesmo ao seu lado.

— Afinal Angélica…o que fazes aqui? Como é que descobriste que eles tinham voltado para Buenos Aires? Tu não estavas em Madrid?

— Eu, o que faço aqui? Acho que é claro José. E tu o que fazes aqui? Eu pensei que tu estivesses em Espanha?

— Tu não devias estar aqui, Gérmen sabe que ca estás? Sabes o que ele pensa sobre veres Violetta...

— José deixas-me falar, por favor…já fizeste mil e uma perguntas e ainda não consegui responder-te nem a metade...

— Não, por favor vai-te embora, não podes ver Violetta, sabes que Gérmen não quer...ele não quer que ela tenha contacto convosco.

— José, deixas-me falar por favor...eu estou-te a tentar dizer que…

E de repente, para que tudo fique ainda mais confuso aparece Olga com Clarita ao colo a chorar. Angie olha para Angélica como que a pedir ajuda, pois naquele momento ela estava completamente perdida, sem saber o que fazer. Por um lado tinha aquele «Homem» que estava para ali a dizer o que queria e o que lhe apetecia, por outro tinha Olga a descer as escadas com Clara…

— A chiquitinha acabou de acordar, estava no berço a choramingar a esticar as mãozinhas a espera que alguém a tirasse de lá, e mesmo um anjinho... - e naquele momento, quando finalmente se apercebe que está mais alguém na sala, naquela fracção de segundo e como se o seu coração tivesse parado...por um segundo...apenas por um segundo...mas fora com toda a certeza o maior da sua vida.

— Mas o que é isto? Olga, quem é esta criança, alguém me pode explicar o que se passa nesta casa?

Olga está como que hipnotizada, adormecida, petrificada, paralisada, completamente sem reação…ela nem sabe o que pensar ou dizer; na sua mente só lhe ocorrem desgraças e adversidades que poderão acontecer naquele momento com a presença de José. Ela sabia que ele jamais gostou de Maria, por esta ser filha de quem era; sabia também o que se passara com aquele trio: José, Miguel e Angelica...mas acima sabe que a presença dele só poderia trazer problemas.

— Meu Deus! - É a única frase que ela consegue dizer, continuando com Clarita ao colo a chorar, ela sabia bem quem era aquele «Homem» e o que significa a sua presença para toda a família: problemas dos grandes, tudo o que eles não mereciam.

Clara continua a chorar, Olga continua sem se mover e José continua a olhar para as três com uma cara de quem não está a perceber nada do que se passa, mas ao mesmo tempo a querer que tudo aquilo acabe de vez e que Angélica se vá embora.

Angie, que estava ainda á porta incrédula com toda aquela cena, passando por todos pega em Clara, que até àquele momento continuava ao colo de uma Olga completamente em choque; ela tentou acalmá-la mas parecia que nada resultava Clara parecia pressentir o que se passava ao seu redor; virando-se para José completamente: confusa, furiosa, nervosa, mas ao mesmo tempo tentando não mostrar nada do que sentia, respirou fundo para recuperar alguma calma de que precisava para conseguir dizer alguma coisa que fosse persuasivo, mas não ofensivo.

— Eu não sei quem é o “Senhor”, mas respondendo a todas as suas questões: Gérmen e Vilu não estão, e se há alguém que vai sair é o senhor…por favor.

Clara nem por nada se acalmava parecia que adivinhava que José apenas traria problemas, e Angie fica cada vez mais ansiosa com toda a tensão que se instalou desde a chegada daquele «Homem».

Angélica começa a perceber que Angie está a ficar cada vez mais nervosa com toda aquela situação o que por sua vez não está a fazer Clara acalmar, pelo contrário, uma vez que ela sente toda a tensão de Angie. Assim decide levar José dali, ela falará com ele, explicará tudo o que ele quiser mas fora dali. Angie precisa de calma assim como Clara.

— Angie por favor a Clarita precisa de ti calma. Eu falo com José…

— Mas ele está a mandar-te embora, e queres que fique calma. - José começa a ficar confuso e furioso e interrompe Angie.

— Angélica, podes-me explicar por favor e de uma vez por todas o que se passa aqui…

— Angie, por favor faz o que te peço. – E virando-se para José - Eu explico-te tudo mas não aqui, vens comigo por favor. - dá um beijo a Angie, tentando explicar-lhe sem palavras que tudo iria ficar bem, e sai com José.

Olga continua de boca aberta sem reação, e de repente começa a espingardear uma serie de frases como: “Vai ser bonito”, “Agora vem tudo abaixo”, “Vamos esconder-nos a casa vem abaixo”. Angie não sabe bem o que fazer, Clara continua a chorar e Olga continua no seu delírio, e ela não consegue acalmar nenhuma das duas.

De súbito chega Ramalho, e Angie sente-se um pouco menos sozinha no meio daquele caos; pelo menos alguém poderá tentar acalmar Olga. Ao ver toda aquela confusão Ramalho tenta perceber o que se passa, olha ora para Angie ora para Olga sem saber bem a quem socorrer primeiro.

Resolve ir ao encontro de Olga tentando acalmá-la; esta continua a dizer frases soltas e sem sentido “Ele chegou, Ramalho”, “Vamos embora, é melhor escondermo-nos”, “Não, vamos viajar. Sim, sim é isso.”, “Anda vamos fazer as malas, tenho que fazer a de todos”, “Vai correr tudo mal, não vai? Vai sim”, “Ele chegou, Ele chegou…”…Ramalho tenta sem mitos resultados trazer Olga á realidade.

Angie continua a tentar acalmar Clarita, que continua a chorar, como que a pressentir tudo o que Olga dizia. Gérmen entra naquele momento, e sente-se tão perdido como Ramalho no meio daquela confusão, não percebendo bem o que se passou, porém, percebendo que este estava a tentar acalmar Olga e que com algum esforço a tinha convencido a ir para a cozinha beber um chá, vai ter com Angie que está com uma cara completamente de desespero.

— Angie que se passa? O que aconteceu com Olga? E a Clara…o que é que tens minha pequenita? - Gérmen sente então Angie a soltar toda aquela tensão que estava acumulada...

— Gérmen! Eu não sei...não sei…veio aí um «Homem»...queria falar contigo...depois viu a minha mãe...quis expulsá-la cá de casa…e...

Angie estava tão nervosa que disse tudo tão depressa e com uma voz tão tremida que pouco ou quase nada se tinha percebido, no entanto, Gérmen deixou-a acalmar-se um pouco antes de voltar a insistir.

— Angie, por favor acalma-te...eu não consegui perceber nada.

— Ele tentou expulsar a minha mãe! Depois percebi que mamã o conhecia e saíram os dois, Olga petrificou quando o viu e depois pôs-se aos gritos. E não consigo que Clarita se acalme e pare de chorar.

— Angie aclama-te um pouco…respira fundo e tenta acalmar-te. - E ao dizer-lhe isso tenta que ela se sente um pouco e encaminha-a para o sofá, beijando-lhe a testa e a cara, tentando fazê-la acalmar.

— Acalmar-me Gérmen? A minha mãe saiu daqui com um «Homem» que não sei quem é, não consigo que Clara pare de chorar e Olga não para de dizer aquelas coisas. E tu queres que eu me acalme?

Assim que acabou de falar despegou num choro mais de nervoso que de outra coisa abraçando-se a Gérmen, que entretanto já tinha pegado em Clara que assim que se viu nos braços do pai se acalmou de imediato, como que ao se sentir ao colo de alguém mais sereno, mais seguro também ela se sentisse segura, que nada lhe iria acontecer.

— Angie tem calma, por favor tenta ter calma por Clara; porque não te vais deitar um pouco, tentar…descansar…Clara precisa de ti tranquila.

— Como é que me posso acalmar, não sei para onde foi a minha mãe com aquele “Homem” que no tempo que aqui esteve só nos ofendeu.

— Angie, por favor, eu preciso de ir perceber o que se passou, mas antes preciso que te acalmes.

— Eu estou calma... - mas Angie tremia e as lágrimas corriam-lhe pela cara.- Eu estou calma…

— Anda, eu levo-te até ao quarto deitas-te um pouco, sim…por favor.

— Gérmen, eu preciso de perceber tudo isto…

— Eu prometo-te que vou descobrir tudo, mas primeiro preciso que te acalmes…Clara está a sentir tudo o que se passa ao seu redor, e tu estás muito nervosa…ela está a sentir, por isso preciso que te acalmes por ela…- e assim consegue finalmente convencê-la a ir para o quarto, e sobem os dois, assim que ela se deite e se tranquiliza um pouco, ele diz-lhe que vai descer para perceber o que tinha acontecido, Angie pede-lhe apenas que não se demorasse, ela estava preocupada com a mãe, nervosa por toda aquela situação e furiosa pela atitude daquele «Homem» e sentia que apenas Gérmen a podia acalmar.

— Eu não demoro, vou só ver se consigo falar com Olga; tentar entender o que se passou já volto…- Gérmen deixa-a deitada, dá-lhe um beijo e segue para a cozinha com Clara ao colo que parara de chorar e estava mesmo quase a adormecer.

Quando chega á cozinha, encontra Vilu e Leon que entretanto tinham chegado para vir buscar umas partituras que estavam com Angie e que precisavam para dar as próximas aulas no Estúdio. Porém, ao chegarem dão de caras com uma Olga completamente em transe, a dizer coisas que ninguém entendia. Aos poucos os três conseguem acalmá-la o suficiente para perceberem o que tinha acontecido.

Assim quando Gérmen entra na cozinha com Clara ao colo, Vilu e Leon já sabiam o que se passara e principalmente quem tinha chegado. Violetta estava com uma cara um pouco preocupada e Gérmen percebeu que fosse quem fosse aquele “Homem” de que Angie falara ele também não iria gostar. Olga tinha ido com Ramalho para o quarto onde continuava agitada e a dizer frases soltas, se bem que neste momento com muito mais sentido tendo em conta quem tinha regressado, pelo menos era o que Vilu pensava.

— Vilu, Leon estão cá? Não sabia que tinham chegado, mas não deviam estar no Estúdio.

— Sim papá chegámos á pouco. Quando vimos Olga, bem podemos dizer desnorteada…

— Sim, eu vim ver se percebia alguma coisa, depois de finalmente ter conseguido acalmar Angie.

— Mas ela está bem papá?

— Sim, está um pouco nervosa e sem perceber nada do que se passou, mas está bem podes ficar descansada.

— Ela está mesmo bem papá? E Clara o que fazes com ela?

— Sim Vilu ela está bem, consegui que ela se deitasse para descansar um pouco. Clara está bem, apenas sentiu toda esta tensão…agora acalmou. E Olga já dize alguma coisa? Sabem afinal o que aconteceu?

— Mas tu ainda não sabes o que se passou?

— Bem para dizer a verdade ainda não percebi muito bem o que se passou, quando cheguei Olga estava…como a viram e Angie estava tão nervosa que nem percebi o que ela dizia.

— Olga ainda está algo “agitada”, mas conseguiu dizer algumas coisas percetíveis…papá tu não vais gostar de saber quem esteve cá.

Ela sabia que Gérmen nem sempre concordava com o Avô, apesar desde ser seu pai. Quando viveram juntos em Madrid, nos primeiros anos eles discutiam constantemente, havia sempre alguma coisa que o Avô não gostava: a forma como ele tratava de Vilu, como falava de Maria com esta, e tantas outras coisas.

Agora, com esta distância e depois de tudo o que soube sobre a sua mãe, sobre a sua família; ela começou a entender melhor a posição do pai, o porquê de não falar da mãe, o porquê de lhe esconder tudo o que se referia a Maria; pois para além da dor que sentia pela sua ausência, pela falta que ela lhe fazia ele tentava evitar falar dela para  não discutir com o avô.

— Vilu, afinal quem é que esteve cá? Com quem é que a tua avó saiu?

— Com o Avô! – E vendo a cara de confusão, mas também de espanto do pai  acrescentou – com o Avô José, foi ele que esteve cá.

— O teu Avô!? O teu Avô José? Ele está cá…mas porque é que ele saiu com a tua avó, eles…

— Papá! - mas Gérmen não ouvia Vilu, ele lembrara-se que pai não sabia de nada: do percurso de Violetta no Estúdio, do seu casamento com Angie, do nascimento de Clara...mas principalmente que Gérmen há muito que Vilu descobrira a existência de Angelica e de Angie.

Vilu sabia que a única coisa que o podia ter feito perdido a cabeça era Angélica e Angie a terem encontrado. Ela lembrava-se bem do que o avô dissera ao pai quando saíram de Madrid “Se te reencontrares com o passado voltas com Violetta para Espanha”, na altura ela não entendera, mas hoje percebia que esse passado que o avô falava era a família que ela nunca soubera que existira, e de certa forma a própria recordação de Maria e da música. E no momento em que o pai ficou incrédulo com a chegada do avô, ela percebeu de imediato que este nunca contara nada do que se passara ao longo dos anos. E olhou o pai com um ar de quem lhe pergunta: "Como e que pudeste esquecer-te?".

— Eu sei, eu sei Vilu fiz asneira...eu sei.

— O Avô não sabia que a Avó e Angie já me tinham encontrado, que eu já  sabia de tudo?  E muito menos do teu casamento com Angie, também não sabia, pois não?

— Não, eu não lhe disse. Sabes como é o teu avô está sempre a viajar. Falei com a tua Avó Rosário...mas o teu avô não consegui falar com ele.

— E o avô sabe que...que eu segui a carreira da mamã?

— Não, nunca lhe contei. Não sei se por medo da reacção dele, ou apenas porque o tempo foi passando e acabei por me esquecer.

— Papá, tentavas de novo; sabes bem como é o avô José em relação a toda esta história da música e...

— Eu tentei Vilu, mas não consegui falar com o teu avô. Depois o tempo foi passando e a verdade é que nunca mais pensei no assunto.

— Papá...- Vilu sabia que o pai não fizera de propósito, a verdade e que nem ela se lembrara do avô depois de toda a sua vida ter mudado, de ter ficado preenchida com a música, os amigos e o amor...muito amor: dos amigos, do pai, de Angie, de Angelica e de Leon.

— Eu sei, eu sei. Devia ter tentado falar com o teu Avô, mas agora não vale a pena pensar no que poderia ou deveria ter feito.

— Pois não, mas deverias tê-lo feito. E agora, o que vais fazer papá?

— Não sei, na verdade é que não sei. Mas como diz a Tia Mercedes “Uma coisa de cada vez, porque tudo de uma vez é desastre na certa.”, primeiro vou deitar Clara e falar com Angie. Depois logo me encarrego do teu avô.

— Papá, só há uma coisa que não percebi; como é que Angie não reconheceu o Avô José?

— Porque quando comecei a namorar com a tua mãe os teus avós já se tinham separado, o teu avô vivia em Madrid, e sendo a tua mãe filha de quem era, ele nem veio ao casamento.

— O Avô José não veio ao teu casamento? Nunca pensei que...bem mas e agora o que vais contar a Angie? Vais contar-lhe tudo, o que o Avô sentia em relação a tudo?

— Sim. Tenho que lhe contar. Não há mais mentiras entre nós lembras-te, vou ter que lhe contar tudo.

— Papá, não achas que…não sei...eu não estou a dizer para mentires, talvez pudesses "omitir" algumas coisas?

— Não Vilu, eu sei que não vai ser fácil de contar e nem sei bem como o vou fazer, mas Angie tem direito o de saber a verdade e principalmente de onde vem todo este ódio do teu Avô. Ela vai saber a verdade sim...eu só não sei como o vou fazer…mas vou-lhe contar tudo.

Vilu sabia que o seu Avô não gostava de falar de nada que fosse relacionado com Maria: da musica, da família, ou mesmo do que ela gostava ou não. Vem lhe de repente á memória, um dia de sol em Madrid, era ela ainda pequena, foram os dois passear: ela e o avô. De repente ela vê ao longe um vendedor de pipocas e maças caramelizadas e logo pede uma ao avô. Na sua ingenuidade de criança, ela lembra-se de perguntar ao avô se a mãe também gostava daquelas maças, este que ate lhe tinha comprado o doce pegou nele e deitou-o fora dizendo, com uma voz rude, que aquilo só lhe fazia mal aos dentes. Ao chegar a casa Vilu encontra e abraça Ramalho a chorar, enquanto o avo continua a ralhar com ela, Ramalho de forma a afasta-la do avô leva Violetta para a cozinha. Assim que se vê sozinho com ela tenta perceber o que se passou, ficando a par de tudo o que acontecera no Parque. Este sem que ninguém se apercebesse foi a rua e comprou outra maçã caramelizada e ofereceu-lha às escondidas, e em surdina respondeu-lhe a pergunta que ela fizera ao avô: "Sim, a tua mãe adorava estas maças". Sempre fora assim quando Vilu tentava perguntar alguma coisa sobre a mãe, José ou falava de outra coisa ou simplesmente dizia mal dela, nunca lhe falou dos avós nem da tia. Gérmen deu-lhe um beijo e deixou-a com Leon na cozinha subindo até ao quarto.


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Notas finais do capítulo

Continua no próximo capitulo...comentem...



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