Violetta - O Recomeço escrita por Clarinesinha


Capítulo 4
Capítulo 2 - O Recomeço (Continuação)


Notas iniciais do capítulo

Continuação do episódio anterior...



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Angie percebia bem o que Violetta sentia, ela nunca tivera a mãe para a proteger dos desmandos de pai, nunca tivera irmãos para desabafar ou mesmo amigos; a única família que estava perto dela era o Avô José, Gérmen e por vezes a sua Avó Rosário mas que viajava com muita frequência.

Quanto à família do lado da mãe ela não sabia da sua existência, nunca soubera que tinha uma tia e uma avó, uma vez que o pai sempre ocultara tudo o que se referia a Maria: a família, a música, as fotos, as recordações da carreira de Maria; pois fazia-o sofrer pensar no que perdera.

Mas, apesar de tudo ela conseguira ser feliz, e Angie sabia que Clara iria beneficiar indiretamente de tudo o que esta conquistara, e no que ela precisasse teria sempre em Violetta alguém com quem contar.

Esta por sua vez percebeu o que Angie quis dizer com "viver o que tinha a viver", neste momento ela tinha que se preocupar com ela, com a sua vida, com os seus projetos e talvez o mais importante com o seu namoro com Leon; Vilu sabia que Angie tinha razão o pai refilava, gritava, barafustava, mas ele amava-a e aos poucos iria perceber que ela crescera, Clara era ainda tão pequena tinha muitos anos pela frente quando chegasse a altura desta ela teria Angie e tê-la-ia a ela, não estaria sozinha como ela estivera.

— Mas estávamos a falar de Leon, não discutiram de certeza...porque estavas a falar dele tão apaixonada... – e eis que entra Olga com Clarita ao colo.

— Mas ninguém ouve a minha chiquitinha, estava a chorar, e a chorar, e a chorar… - ela apenas choramingava, mas para Olga era como se estivesse a gritar em plenos pulmões.

— Oh, minha pequenita. Obrigada Olga, ela estava a dormir quando subi, não a quis acordá-la. Mas e Gérmen, ele devia estar a tratar dela?

— O senhor Gérmen...esta ao telefone há mais de uma hora. Parece que não o conhece: quando aqueles dois se metem no escritório, a casa ate pode cair que eles nem dão por isso.

— Obrigada Olguita, que faria eu sem ti...

— Você...que faria a minha chiquitinha...

— Olga, mas a tua chiquitinha não era eu…- diz Vilu tentando meter-se com Olga...– deixei de ser?

— Oh…não minha chiquitinha. São as duas, mas Clara é… - Olga começou a olhar para Clara e para Vilu já sem saber a quem chamar "chiquitinha"; ela criara Violetta depois de Maria ter morrido e começara a chamá-la de "chiquitinha" desde dessa altura, mas agora com Clara, aquela bebé linda que já sentia também como sua menina... ela já nem sabia a quem chamar o quê, aflita e algo nevosa entrega Clara a Angie e sai muito triste e confusa.

— Olga…Olga...– chama Vilu, mas Olga já saiu do quarto, fixa então o seu olhar em Clara que entretanto Angie deitara em cima da cama.

— Acho que depois tens que ir falar com ela…Vilu, estás cá?

— Desculpa Angie, é que às vezes ainda me custa acreditar que tenho uma irmã...sempre pensei em como seria ter uma, mas…

— Então e Ludmila?

— Ludmila! O que tem Ludmila?

— Ela foi e é uma irmã para ti não?

— Bem apesar do seu “feitio especial” tivemos e temos uma relação parecida á que as irmãs têm, não?

— Eu nunca pensei dizer isto, mas vocês conseguiram ser mais que irmãs: são amigas, companheiras, cúmplices…nunca pensei assistir a esse dia, depois do se que passou entre vocês: as discussões...

— Leon, a pouco disse-me o mesmo...

— Vês, todos nós achamos que fizeste um milagre com Ludmila.

— Ela também não era assim tão má, era apenas…infeliz. Vivia com Priscila que a via como um "objeto", e separada do pai que a amava. No fundo ela era alguém que não conhecia o amor.

— Sim é verdade, ainda hoje não percebo como é que Priscila conseguia fazer tanto mal á própria filha sem nunca se dar conta. Felizmente ela encontrou bons amigos e hoje está muito diferente do que era.

— O Fred foi a melhor coisa que lhe aconteceu. Mas quando olho para Clara...é diferente não sei como te explicar o que sinto...

— Não se explica Vilu, eu acho que se sente…

— Angie, como era a mamã como irmã?  Como é que se davam?

— A tua mãe era…era maravilhosa. Maria era mais que uma irmã: era uma amiga, uma companheira, cúmplice às vezes, confidente…

— Conta-me tudo eu quero saber tudo. Se discutiam, se ficavam de castigo, se faziam partidas uma á outra…

— Eu acho que eramos como todas as irmãs às vezes cúmplices outras vezes não nos podíamos ver a frente. Por vezes ela era mais minha mãe que a tua avó, mas por outras era mais criança que eu.

— E avó não se chateava, da mamã ser assim tao chegada a ti?

— Não sei, nunca comentou nada connosco por isso acho que não.

— Angie, achas que Clara me vai ver assim como tu vias a mamã?

— Tenho a certeza, ter uma irmã seja ela mais velha ou mais nova é muito especial. Quando olho para ti lembro-me tanto da tua mãe, e sinto tantas saudades dela.

— Eu gostava de me lembrar mais da mamã, mas lembro-me tão pouco.

— Mas sabes que nos podes perguntar o que quiseres sobre a tua mãe?

— Eu sei mas às vezes já não sei o que são recordações minhas; se as vivi mesmo com ela ou se são apenas imagens que me vêm com o que me vão contando, se são apenas imaginação.

— E que diferença faz, mesmo as que tu não te lembras e que são apenas recordações minhas, do teu pai, da tua avó... todas aconteceram,  todas foram vividas, ou não?

— Sim e não. Gostava de me lembrar de mais coisas, tu e o papá contam-me muitas coisas, a avó também e tenho o Diário, as fotografias, as roupas e tudo o que está guardado no sótão mas às vezes, sinto que vocês a tiveram...

— Sentes que foi pouco…que  a tiveste por pouco tempo. Oh Vilu! Eu sei que não foi justo, que a tiveste por tão pouco tempo...mas...

— Eu não quero que penses que estou a lamentar- me, mas sinto falta do que não tive: das conversas, dos segredos partilhados; eu sei que acaba por ser estranho.

— Não, acho que é normal, mas sabes que nos tens a nós. Sei que não sou a tua mãe…mas sabes que podes sempre contar comigo, sempre.

— Eu sei, eu adoro-te. – E abraçam-se como quem se ama de verdade, como uma mãe e uma filha, que no fundo é como se sentem.

— Sabes às vezes quando olho para Clara e penso em tudo o que nos aconteceu neste tempo que passou: encontrar-te, conviver contigo, salvar-te sempre que precisavas, ver-te seguir os teus sonhos e encontrares o teu caminho…

— Apaixonares-te pelo papá?

— Apaixonar-me pelo teu pai! O que passamos, o que sofremos por negar o que sentíamos, o que sofremos ao  tentar esconder o que sentíamos um pelo outro...

— Eu nunca percebi porque é que negavam algo que todos nós víamos…era tão óbvio.

— Porque acho que nós, os adultos, dificultamos sempre tudo principalmente no que toca ao amor.

— Dificultar? Voces complicaram o que era simples; Angie! Vocês gostavam um do outro, todos conseguiam ver menos tu e o papá.

— Era assim tão visível, sempre tentei disfarçar...

— Estava escrito nos vossos olhos, nos gestos...acho que até vi escrito na vossa testa. - e ri-se.

— Engraçada...não era assim tão fácil, pelo menos para nós.

— Como não: ele amava-te, tu amava-lo; não era assim tão complicado.

— Para mim, para o teu pai e até mesmo para a tua avó era complicado. Eu era irmã da tua mãe, a cunhada do teu pai; e depois havia o facto de o teu pai nos ter separado de ti, levando-te para longe de nós.

— Angie, nunca devemos contrariar os desmandos do coração…

— Uau, mas que inteligente e romântica está a minha sobrinha...- e tenta-lhe fazer cócegas, mas Vilu consegue escapar...- Felizmente…nós não escolhemos por quem nos apaixonamos. E eu perdi-me de amores pelo teu pai, apesar de tudo aquilo que supostamente nos afastava, apesar de a cabeça me mandar afastar. – e emociona-se, caindo-lhe uma ou outra lágrima que não consegue evitar.

— Angie não chores, por favor, senão eu também me ponho a chorar.

— Não estou a chorar…- e recompondo-se... - mas estávamos a falar de ti e de Leon, o que se passou?

— Nada Angie, não se passou nada de especial. - Esta olhou para Vilu com um olhar tao decidido, que era impossível não lhe dizer nada. - É que, bem nós estamos mais unidos que nunca. Foi mágico todo este tempo, já nem precisamos de dizer nada um ao outro.

— Como assim? – Pergunta Angie

— Sabes basta um olhar, um gesto e percebemos logo o que o outro quer.

— Que bom Vilu, vocês estavam a precisar disso para deixarem de se magoar um ao outro: conhecerem-se melhor, perceberem o que deixa o outro feliz ou triste.

— Foi isso que aconteceu contigo e com o Papá?

— Sim, acho que podes dizer que sim, se bem que nós demoramos tanto tempo a assumir o que sentíamos…

— Não...que ideia...demoraram uns bons anos. – e coloca um riso daqueles bem gozões.

— Vilu! Tu estás com muita graça, não estás...

— Desculpa mas não consigo evitar...desculpa...

— Acho que no nosso caso, nos fomos conhecendo primeiro, antes de assumirmos o que sentíamos. E graças a ti, a Leon e ao que fizeram…finalmente conseguimos assumir o que sentíamos e a partir daí tudo se tornou mais fácil.

— Porque vocês tornaram complicado o que na verdade era tão simples.

— Talvez...mas como é que defines o simples e o complicado? Cada um tem a sua definição não é?

— Sim tens razão, nem tudo é assim tão fácil ou difícil, depende do que se está a falar...

Violetta começou de novo a pensar se deveria dizer alguma coisa sobre aquela noite com Leon; ela sempre contara tudo a Angie, nunca lhe escondera nenhum segredo e sabia que podia confiar nela; mas aquela NOITE fora algo tão deles, algo que ela partilhara apenas com Leon e só com ele. Era verdade que Andrés, Camila e Francesca tinham ficado a saber, e embora ela não soubesse explicar bem o porquê, sentia que contar à tia seria diferente, e no fundo ela queria que continuasse assim: só entre os dois. Assim tentando disfarçar o que lhe ia na alma, começou a brincar com Clara que a olhava curiosa, de repente ouviram alguém bater á porta, e muito devagar abriram-na era Leon. Vilu não pode deixar de pensar como ele adivinhara que ela estava a pensar nele, era como se ele tivesse percebido que ela o queria: o seu beijo, o seu abraço, o seu amor...

— Leon, entra. Estávamos a falar de ti...- diz-lhe Angie.

— Posso; Olga disse para subir, e para bater devagar...qualquer coisa como "a sua Chiquitinha” estar a dormir?

— E a Clarita que estaria a dormir, vem vê-la não é linda? - e abraça Vilu.

— Sim é linda, parabéns Angie...mas sem querer ofender ninguém...tu és muito mais linda.

— Olá Leon, obrigado e descansa não me ofendi. Deixo-vos sozinhos e aproveito para deitar Clara. - Sabendo como era Gérmen se soubesse que Leon estava com Vilu no quarto... - Juízo, o teu pai está em casa!

— Sim podes ir descansada. – Angie pega em Clara e deixa-os sozinhos - Sabes que já não sei o que fazer quando não estás comigo! Sinto um vazio…não te sei explicar.

— Sabia, porque eu sinto o mesmo. Mas, agora tens uma irmãzinha, estou mesmo a ver vou passar para segundo plano…

— Leon! Estás com ciúmes? Não acredito, estás com ciúmes de Clara.

— Não sei, diz-me tu...devia estar?

— Não, eu amo-te...Clara é minha irmã, mas tu és...tudo para mim.

— Eu estava só a brincar, mas gosto de saber que sou tudo para ti...e eu também te amo.

— Leon...- abraça-o e ao mesmo tempo dá-lhe um leve beijo. - Podes ficar para jantar?

— Talvez, se me pedires com muito jeitinho…

— Porquê? Achas que não pedi?

— Acho que tens que ser mais convincente que isso…- e como se não se vissem há muito tempo abraçam-se, o seu amor era enorme, já não havia palavras entre eles,  sabiam exatamente o que queriam, como falar sem nada dizer; depressa o abraço e os beijos inocentes transformam-se em algo mais primeiro numa carícia, depois num beijo ardente e de súbito...

— Violetta! – Gérmen entra no quarto.

— Papá…eu…nós…- Vilu estava tão nervosa…que nada lhe saia…

— Que significa isto? Não posso crer…não posso confiar em ti.

— Papá, não bates à porta? - Vilu estava nitidamente ansiosa e nervosa...

— Ainda bem que não bati, que entrei quando entrei. Porque eu nem quero imaginar…

— Porque é que estás a reagir assim? Nós estávamos só...não estávamos a fazer nada...

— Leon… - e indica a Leon a porta...– Por favor sabes por onde se sai...

— Se Leon sai eu também saio papá. Não podes continuar a tratar-me como uma menina, eu cresci; será que nunca te vais dar conta!

— Cresceste? Isto é crescer Vilu? Não, isto é…é…nem consigo dizer- te o que isto é, mas não é crescer. Leon, não me faças dizer três vezes...

— Gérmen desculpe, eu vou porque não quero criar mais problemas...mas não estávamos a fazer nada demais, a sério foi só um beijo...- vendo que Gérmen continuava bem bravo…- um beijo de namorados, nada mais.

— Um beijo de namorados...só um beijo! Por acaso foi só um beijo, porque eu entrei, se eu não tivesse entrado nem quero imaginar...

— Papá! E qual é o mal de um beijo? E mesmo se tivesse acontecido mais qualquer coisa, que não aconteceu, qual seria o problema?

— O problema é precisamente esse,  é que para vocês tudo é permitido, tudo é aceitável mas não é assim. Há regras Violetta e por muito que não gostes tens que as cumprir.

— Estás a dizer o quê exatamente? Que se não cumprir as "tuas regras" me pões de castigo! Eu cresci papá não sou uma menina de cinco anos que quando faz algo de errado tu colocas de castigo. Para além disso tu sabes que eu e Leon somos namorados…

— Não quero ouvir mais nada, confiei em ti e olha o que aconteceu. Acabou-se esta coisa de namorados, ouviste? E estás de castigo sim…

— Não podes proibir-me de ver Leon, papá não podes continuar a reagir assim, não estávamos a fazer nada de mal…

— Com estas atitudes não me deixas outra opção senão pensar que ainda és uma criança. E chega com esta conversa: acabou-se este namoro. Leon por favor. – E indica-lhe de novo a porta…- E tu Violetta nem penses em me desobedecer…

— Não podes estar a falar a sério; papá não me vais afastar de Leon, não vais...eu amo-o e não vais ser tu que me vais proibir de...e não o vais mandar embora porque...

— Porque o quê Violetta? Ainda sou teu pai...e aqui sou eu que mando, entendido? Por isso Leon...- indicando-lhe pela terceira vez a porta do quarto.

— Vilu está tudo bem a sério…- e quando está para sair…

Angie que entretanto já descera e estava na cozinha a conversar com Olga e Ramalho ouve o primeiro grito de Gérmen, sobe até ao quarto de Vilu. Quando lá chega o primeiro impulso foi acabar com aquela discussão, mas decide ficar a assistir já que quer saber até que ponto Vilu e Gérmen conseguem resolver os seus problemas sozinhos. Desta forma vai ouvindo os desmandos de um e de outro, ambos vão respondendo às provocações um do outro, mas parece que nada os acalma nem os faz calar, quando Leon se prepara para sair resolve intervir, já ouvira o suficiente ambos começam a subir o tom de voz e antes que alguém acabe por dizer algo que não deva...

— Gérmen! Vilu! Vocês estão-se a ouvir...

— Foi o papá que começou, ele está a mandar Leon embora...

— Eu! Agora fui eu…tu sabes bem porquê é que eu estou a fazer isto…

— Chega! Mas o que se passou afinal, alguém me pode explicar?

— O que se passa é que o papá continua o mesmo…ele continua a tratar-me como uma menina pequena.

— Vilu. – Diz Leon que apercebendo-se que esta é uma conversa entre os dois...– Nós falamos depois a sério...– e encaminha-se para a porta.

— Obrigado Leon, pelo menos alguém aqui me está a ouvir...

— Papá! Leon, tu não vais a lado nenhum; e se fores eu vou também…

— Vilu! Basta…o teu pai pode até nem ter razão…mas é teu pai. – Repreende Angie, pois apesar de tudo Gérmen era pai dela, e como tal ela tinha que o respeitar.

— Angie tem razão, não me podes falar assim eu sou teu pai. E depois o que se passa Angie é que não posso confiar na minha filha, eles estavam sozinhos no quarto a…

— A beijar-nos! Podes dizer papá, que mal há nisso Angie? É algo assim tão errado, tão anormal: nós namoramos, beijamo-nos, abraçamo-nos...

— E ainda dizes isso assim, como se fosse banal, como se estivesse correto, fosse tudo tão normal.

— Porque é normal, porque não tem nada de mal; porque é o que os namorados fazem. Ou tu não o fazes com Angie?

— Vilu, não me metas nisto…- diz Angie que é interrompida por Gérmen.

— Eu e Angie somos casados e para além disso somos adultos. Tu, tu...és uma menina.

— Eu já não sou uma criança eu cresci! Mas tu nem te dás conta...

Angie desistira de intervir, cada vez que tentava acalmar um deles, o outro acabava sempre por dizer mais alguma coisa, e lá iniciavam de novo com troca de palavras; parecia que sempre que os tentava tranquilizar fazia pior. Assim acabou por ficar a assistir à discussão, olhando quer para Gérmen quer para Violetta; era como se estivesse a assistir a um jogo de Ténis e a bola fosse “rematada” de um lado para o outro.

Depois olhava para Leon que não sabia bem o que fazer, nem que dizer, olhou de novo para pai e filha a discutirem, a dizerem provavelmente o que queriam e o que não queriam; continuavam com a troca de palavras sem se importarem que ali ao lado deles, naquele quarto, estavam mais duas pessoas completamente alheadas a toda aquela confusão de argumentos sem sentido: enquanto um replicava algo, logo o outro de seguida respondia com algo ainda mais duro. Angie nem sabia se havia de interromper, estava tão perdida como Leon que olhava para Angie como que a pedir-lhe alguma solução.

— Eu dou conta sim, que estás cada vez mais "descontrolada"…

— Papá sabes qual é o problema? Não é tu não saberes que eu cresci, porque tu sabes...o problema é que tu não queres ver que eu cresci.

— Vê-se, achas que ter estas atitudes é ser crescida? Responde-me é assim que se cresce...não, não passas de uma menina mimada e…e…

— E o quê papá? E o quê? Acabei de chegar e já estamos a discutir...por uma coisa que pensei que já tinhas aceite...

— Uma coisa é aceitar que tu cresceste, outra coisa é aceitar isto...e isto eu não aceito, nem tolero.

— O quê? O meu namoro? Eu sabia…eu sabia que tu estavas na mesma…tu nunca vais mudar, nunca.

Finalmente Angie decide interromper, já tinham falado demais. Estava na hora de os parar, antes que algum deles dissesse mais qualquer coisa que não quisesse ou que não devesse. Para além disso aquela discussão não ia dar em nada, ambos eram teimosos e bastante orgulhosos, e cada um iria defender a sua verdade até ao fim.

— Basta. Por favor, ainda vão acordar a Clarita. Vilu, Leon por favor vão ajudar Olga na cozinha, de certeza que ela terá alguma coisa para vocês fazerem...

— Angie...mas...

— Vilu, chega...vai com Leon. E tu Gérmen! Temos que conversar os dois, vamos para o escritório.

Vilu e Leon descem as escadas e encaminham-se para a cozinha onde Olga os olha de cima a baixo á espera que lhe explicassem o que se tinha passado, eles contam-lhe então o que tinha acontecido: como o pai os tinha apanhado a beijar, como ele nunca iria mudar, que nunca iria admitir que ela crescera, que já não era a sua menina, que continuava a querer fechá-la num castelo como uma princesa.

Olga embora percebesse e entendesse tudo o que ela queria dizer sabia bem o que Gérmen estava a sentir; também para ela, Violetta seria sempre a sua menina, a sua "Chiquitinha" e era difícil aceitar que ela crescera, e tentou fazer com que ela percebesse que para os que a amavam era difícil ver e até aceitar que ela crescera, que já não era a menina deles; mas ao mesmo tempo disse-lhe que a percebia e que era uma questão de ter paciência porque para eles era difícil...para Gérmen que era seu pai era muito mais difícil e que ela tinha que o compreender.

Angie e Gérmen, que continuava a resmungar, furioso, fecham-se no escritório. Ele senta-se e ela olha para ele, sorrindo, esperando que ele se acalme; ele vai refilando, resmungando por tudo e por nada: pelo beijo, pela atitude de Violetta, pelo que ela lhe disse, pelo que poderia ter acontecido se ele não tivesse entrado, pelo que poderá ter acontecido durante a tournée e ele não sabe, pela atitude de Leon, pela atitude da própria Angie, pelo que podia ter feito e não fez, por ter permitido aquele namoro. Quando por fim o vê menos nervoso e agitado, porque enquanto ele estava daquela forma, não valia a pena dizer nada, e ainda demorou algum tempo; quando ela sente que Gérmen já descarregou toda a sua “raiva” aproxima-se dele e beija-o…um beijo de início breve, lento, quase sem tempo de sentirem os seus lábios tocarem. De repente Angie afasta-se…

 - Gérmen, não podes estar constantemente a bater-te de frente com Violetta; tudo isto apenas por um beijo?

— Apenas...um beijo! Angie…apenas...achas pouco?

— Era um beijo… – e chegando-se mais perto dele dá-lhe um beijo apaixonado. – Como este, podes-me dizer o que há de tão errado?

— Neste beijo nada.  Entre eles um beijo...tudo. Tudo de errado mesmo.

— Gérmen…eles são jovens, estão apaixonados...e foi um beijo, não foi...

— Sabe-se lá o que iriam fazer mais...se eu não tivesse aparecido. Ela ainda é uma menina, eu nunca devia ter permitido este namoro.

— Gérmen, por muito que te custe Vilu cresceu, já não é uma menina; é uma jovem e está apaixonada.

— Ela é a minha menina, e não tem idade para namorar. Não…isto vai acabar, tem que acabar. Vou acabar com isto hoje.

— Gérmen, não estás a fazer sentido...- Gérmen começa a perder a calma.

— Eu não estou a fazer sentido? Não este namoro é que não faz sentido.

— Amor estás a perder a pouca razão que poderias ter há pouco...

— Ah! Então afinal dás-me razão...também achas que esta coisa do namoro, dos beijos...

— Sim e não, não coloques palavras na minha boca. Vilu cresceu e por muito que te custe tens que o aceitar, eles namoram e tens que o aceitar. Agora também concordo que temos que colocar limites…mas não assim.

 - Ela é uma menina e ainda não tem idade para namorar, que tal como limite?

— Amor, ela já não é uma menina e vais ter que aprender a repartir o seu amor com os demais e neste caso com Leon. - E abraça-o.

Gérmen deixa-se abraçar por Angie, que com todo o seu amor o tenta confortar. Apesar de não querer admitir, ele sabe que Angie tem razão: Violetta já não é uma criança, já não é a sua menina. Ela cresceu e ele terá que aceitar que cada vez mais ela irá fazer a sua vida sem o consultar, sem precisar dele. Mas para quem viveu sempre em função da filha era complicado de uma hora para a outra ter que a deixar partir, ter que a ver “voar” sem poder fazer nada para impedir esse "voo".

Angie percebe a sua angústia, pois ela própria já passara por essa sensação no ano anterior, ao perceber que Vilu não precisava mais dela para resolver os seus problemas; mas percebeu, no entanto, que apesar de Violetta não precisar dela todos os dias, sabia que tinha em Angie um porto seguro; e era isso que Gérmen teria que aprender a fazer: tornar-se um porto seguro para a filha, alguém que estaria ali sempre que ela precisasse. Não em alguém que a impedia de viver a sua vida, por muitos erros que ela cometesse, por muitas quedas que ela desse…o que ele tinha que fazer era estar ali: para a amparar nas quedas e abraçá-la nas horas difíceis.

— Eu vou perdê-la não vou? Vou perdê-la para Leon?

— Não, não vais. Ela será sempre tua filha, e irá sempre precisar de ti.

— Não, ela já não precisa de mim…e vou ter que aprender que é mesmo assim, não é? Que a perdi…para o Leon…

— Não sejas melodramático... ela vai precisar sempre de ti... – Angie ri-se ao lembrar que há muitos anos atrás alguém tivera a mesma reação.

— Porque é que te estás a rir, estou a ser assim tão "patético"?

— Não meu amor… - e ri-se de novo com todo aquele melodrama…- É que acabei de me lembrar do meu pai a ter a mesma reação que tu.

— A sério? Não sabia, a Maria nunca comentou nada comigo...

— Porque a Maria nunca assistiu a nenhuma destas conversas. A mamã ficava sempre a falar com o meu pai depois de ela sair.

— Mas Maria era mais velha quando começou a namorar comigo.

— Não, não era nada. Tinha a mesma idade de Vilu; ou até mais nova.

— Não...tenho a certeza que Maria era mais velha.

— Gérmen!

— Bem talvez…talvez um pouco mais nova...mas um pouco...

— Gérmen. Lembro-me como se fosse hoje: o papá obrigava-me a ficar contigo e com Maria porque não queria que ficassem os dois sozinhos.

— Maria ficava furiosa com o teu pai; mas acabava sempre por conseguir que nos deixasses sozinhos...

— Não era preciso muito para me convencer: uma ida ao cinema, uma ida ao parque...eu não era muito exigente naquela altura.

— Lembro-me que ela prometia-te sempre um doce…

— Uma maça caramelizada…nós sempre as adoramos.

— As famosas maçãs caramelizadas…deve ser de família Vilu adora-as.

— Eu até achava alguma graça; e confesso que por vezes aproveitava e fazia "chantagem"…

— Tu…fazias chatagem…com Maria?

— Si, admito…eu obrigava-a a dar-me mais qualquer coisa, eu tinha que ficar a ganhar.

— Eu não a quero perder. – diz de repente Gérmen...– Não quero que ela cresça, porque é que não pode ficar para sempre a minha pequenita…

— Tens que a deixar crescer, por muito que nos custe aos dois.

— Mesmo que isso signifique não concordar com o que ela escolha?

— Principalmente quando significa que tens que aceitar que ela namore com Leon, aceitar as suas decisões mesmo que sejam erradas, e a única coisa que podes, e deves, fazer é estar aqui para o que ela precisar.

— Sim, tens razão...vai-me custar mas tens razão. Amo-te sabias?

— Não, hoje ainda não me tinhas tido...- aproximou-se mais dele e beijou-o com toda a paixão que sentia por ele.

— Amo-te...por tudo o que és, mas principalmente pelo que tu fazes de mim quando eu estou ao teu lado.

— Também te amo…- e beija-o de novo, depois com ar de gozo, olha para ele...- e ia-me esquecendo, Clara vai crescer também...mas ainda tens uns anos até ela chegar a esta fase...

— Nem me lembres…não sei se consigo passar por isto tudo outra vez.

— Vais conseguir, sim. E depois eu estou cá, e por sorte Clara tem algo que Vilu não teve: uma irmã que a vai ajudar.

— Sim que me vai colocar em sentido…e vamos ter ainda mais discussões…e…não sei se estou preparado para isso.

— Bem então tenho uma boa notícia para ti. É que tu também vais ter alguém ao teu lado para te ajudar…- e começa a aproximar-se dele até chegar bem perto…- Eu…- e beija-o como se não houvesse mais nada naquele lugar…e ao fim de um tempo afastaram-se…- E agora por favor vai-lhe pedir perdão. E sê simpático com Leon.

— Tenho mesmo que ser simpático…

— Gérmen! Se não a queres perder de vez…ela tem que perceber que tu erras mas sabes reconhecer que o fazes.

— O que e que eu faria sem ti…- e levantando-se agarra-a pela cintura...

— Nada…- abraçaram-se com todo o amor que tinham mas também gratidão por serem quem eram e de certa forma serem o equilíbrio um do outro por se complementarem tão bem.

Saíram ambos do escritório e após pedir desculpa a Vilu e também a Leon, Gérmen convidou-o para ficar e jantar com eles em família, ao que Leon aceitou percebendo que este estava verdadeiramente arrependido. Violetta, embora ainda muito chateada acabou por perdoá-lo, pois apesar de achar que o pai tinha reagido mal, ela amava-o acima de todas as zangas que pudessem ter, e sabia que se ele fazia o que fazia era por a amar, de uma forma algo possessiva mas amava-a e isso era o mais importante.

Jantaram num ambiente familiar e tranquilo, até que Clara deu o "ar de sua graça" e Angie teve que lhe ir dar de comer; Gérmen aproveitou também para ir tratar de algumas coisas no escritório, mas antes pediu educadamente e docemente a Vilu que a visita de Leon não demorasse muito.

Eles concordaram ambos que não iria demorar muito mais e que ficariam na sala, para que não houvesse mais nenhuma discussão trocarão apenas uns olhares, e de vez em quando uma ou outra carícia. Quer ele, quer ela sabiam que tinham que ter mais cuidado, pelo menos lá em casa, mas era tão difícil quando se amavam tanto como eles se amavam; por isso resolveram ir tocar um pouco de piano e cantar, seria seguro pois enquanto o faziam estavam ocupados e não caiam em tentações. Começaram a cantar a primeira música que cantaram juntos: "Podemos". 

“No soy ave para volar,

Y en un cuadro no se pintar

No soy poeta escultor.

Tan solo soy lo que soy.

Las estrellas no se leer,

Y la luna no bajare.

No soy el cielo, ni el sol...

Tan solo soy.”

Assim que acabou de dar de comer a Clara e a adormeceu, Angie desceu; ao vê-los a cantar não pôde deixar de pensar que os dois faziam um par maravilhoso: as suas vozes, a cumplicidade entre eles, tudo combinava na perfeição, era simplesmente mágico ouvi-los; ninguém podia pôr em causa: eles estavam destinados a ficar juntos na música e na vida. Quando chegou mais perto deles e começaram e cantar a três vozes:

“Pero hay cosas que si sé,

Ven aquí y te mostraré.

En tu ojos puedo ver....

Lo puedes lograr, prueba imaginar.

Podemos pintar, colores al alma,

Podemos gritar iee eê

Podemos volar, sin tener alas...

Ser la letra en mi canción,

Y tallarme en tu voz.”

Naquele momento Angie sentiu-se realmente feliz, como talvez nunca se tenha sentido na sua vida. Ela sempre cantara com Maria em dueto, mas nunca se sentira preenchida...ou realizada, como se sentia agora ao cantar com Violetta e com Leon; e a razão para isso era óbvia para Angie: o pai.

No final daquela canção esta deu a entender, sem dizer uma única palavra, que estaria na hora de Leon se ir embora. Enquanto Violetta o leva á porta onde se despede com um beijo de fugida, como aqueles que se dão quando se é criança, Angie senta-se à espera.

Vilu fecha a porta, olha para Angie e corre até ela; abraça-a, como se abraça uma mãe que nos defende de tudo e de todos, e neste abraço havia um obrigado pelo apoio, pelo carinho, pelo amor, mas principalmente por fazer o pai aos poucos perceber que ela crescera e que já não era a sua menina. E assim ficam aninhadas, conversando sobre a discussão que teve com o pai, sobre a sua relação com Leon, sobre Clara; e no meio de toda esta conversa havia risos, reprimendas, desculpas, abraços; tudo o que uma mãe e uma filha fazem.

Quando Gérmen aparece, Vilu levanta-se e pede-lhe desculpa pelo seu comportamento e promete que vai tentar ter mais calma; Gérmen abraça-a com todo o amor que lhe tem e pede de novo perdão, dizendo que para ele é difícil aceitar que a sua menina cresceu mas que irá tentar vê-la como uma jovem adulta...Vilu abraça-se de novo ao pai e naquele gesto ela tenta transmitir a certeza que apesar de todos os erros que este possa cometer ela sabe que ele a ama de verdade; por fim depois de toda aquela troca de desculpas, mas principalmente de afetos Vilu resolve "fingir" que está com sono, dá as boas noites aos dois e sobe para o quarto, deixando Gérmen e Angie sozinhos.

Qualquer um deles percebe que ela não está com o mínimo de sono, que apenas os quer deixar sozinhos; contudo não lhe dizem nada até porque no fundo lhe agradecem aquela fuga tão perspicaz. Finalmente sós, também eles namoram um pouco, por fim têm a família toda junta e são felizes os quatro: Gérmen, Angie, Violetta e Clara. Os dois imaginam a mesma  "sinfonia", a mais bela de todas, que paira no ar e que vai tocando harmoniosamente, enquanto eles se deixam envolver por ela...assim é a família que construíram juntos.


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