Violetta - O Recomeço escrita por Clarinesinha


Capítulo 38
Capítulo 19 - O Plano começa a Ruir (Continuação 1)




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/700241/chapter/38

Sei que não posso exigir de Gérmen que deixe Sevilha neste momento. Sim, claro que o queria comigo, claro que tenho medo que José o apanhe...mas Rosário pode nem sair do coma. Soube pelo Tio Roberto que o caso é grave, e que não sabem se ela irá sobreviver. Nunca tive muito contacto com Rosário na infância, sim passámos alguns Natais juntas em família em casa de Gérmen e de Maria.

Hoje percebo porque ela estava sempre tão distante de mim, faltava alguém ali naquelas festas, faltava Luzia. Faltava um pouco dela e do meu pai. Talvez se ela tivesse assumido a filha, talvez se os meus pais não me tivessem tido, tudo seria diferente. Talvez se eu não tivesse nascido, o meu pais ainda estivesse vivo, sendo um pai e avô para as filhas e os netos.

— Angie? Não consegues dormir? Queres que vá pedir alguma coisa à enfermeira?

— Não. Obrigada Lu...

— Ele não vem, pois não? Ele vai ficar?

— Sim.- Lu olha para o lado e sei que está a chorar. Gérmen tem sido o pai que ela nunca teve, e de certa forma eu considero-a como parte da família...- Lu, anda...deita-te aqui...

— Não, eu posso magoar-te, ou...

— Vem, deita-te aqui...não podes negar-me nada...lembras-te...

— Isso não vale, é chantagem emocional...- ela caminha na minha direção e deita-se junto de mim...

— Eu sei que estás com medo, mas Lu é a mãe dele. Nós não podemos negar-lhe isso...tu ouviste o Tio Roberto, a situação é grave...

— Eu sei, mas e se aquele homem...

— Lu, o Gérmen prometeu-me que não iria ao hospital. Temos que acreditar que ele...

— Angie, não querendo aqui ser a pessimista, mas achas mesmo que ele vai conseguir não ir ver a Rosário ao hospital?

— Eu preciso, eu tenho que confiar nele. Mas a Vilu e a Clara vêm para cá assim como o Fede e o Leon.

— Finalmente, eu estou cheia de saudades dele...e da clara também.- olho para Lu...e sorrio...- Ok, da Vilu e do Leon também...ela faz-me falta, eu admito.

Damos uma gargalhada as duas, e decidimos fechar a luz para tentar dormir mais um pouco. Espero que a Martina me dê alta logo, não gosto de hospitais, nunca gostei...e posso muito bem ir para casa. Quando olho para o lado, percebo que alguém já está a dormir. Porém, eu não consigo pregar olho, fico a pensar em Gérmen e em Rosário. Até que sem nem dar conta os olhos se fecham.

Na manhã seguinte, não sinto Ludmila ao meu lado. Abro os olhos e vejo a Tia Cristina, e alguém que pensei nunca mais ver: Marisol. Nós éramos mais ou menos da mesma idade e mesmo não nos vendo muitas vezes tínhamos uma relação muito próxima. Era com ela que eu desabafa as minhas ansiedades, frustrações, medos e mágoas. Era com ela que eu chorava sempre que o meu pai me ignorava, ou simplesmente me afastava.

— Sol...eu...eu...

— Lua...eu nem acreditei quando a minha mãe me contou. Aliás eu só acredito porque estou a ver-te e tocar-te. Tantos anos, tanta coisa que temos que conversar.

— Vamos ter tempo, muito tempo. Eu nao vou sair de Rosário tão cedo...- lembro-me da minha conversa com Gérmen...- Tia, onde está o Tio? Eu preciso de o avisar de algo...

— Passou-se alguma coisa? Sentes alguma coisa? Os bebés, eu vou chamar a Martina...

—Não, eu estou bem. Aliás também quero falar com a Martina, para saber quando vou sair daqui.

— Assim que a tua médica o permitir...nem vale a pena falares com a tua prima...

— Tia, a minha prima é a minha médica...

— É isso aí! Sou as duas coisas, mas vamos tentar separar as coisas, certo?- diz Martina entrando com Ludmila.

— Bom Dia Lu...- ela caminha até mim e abraça-me...eu olho para Martina...- E neste momento quem está aqui?

— Bom...primeiro a médica: Se tudo correr bem dou-te alta amanhã...

— Amanhã! Mas eu estou bem, sério...eu só quero a minha casa, a minha cama...

— Não. Angie, quero ter a certeza que a tua pressão continua estável, por isso amanhã. E agora vai sair a médica e entrar a prima...- ela dá uma volta sobre si...- Como tua prima mais velha, espero que obedeças à tua médica.

— Que remédio, mas por falar em primos, Tia preciso que vá dizer ao Tio que o Gérmen não vem. Ele vai mandar só as meninas e os rapazes.

— Como assim? Mas ele ontem...

— Ele ligou-me...

— De madrugada! Ele não sabe que pessoas no hospital têm que descansar? E mais que não se consegue dormir, há sempre um pib, um barulho de alguém a gemer, o barulho dos médicos e enfermeiros...

— Lu!- e apesar do tentar colocar um ar de "zangada" não o consigo fazer por muito tempo, e começamos todas a rir...- Ele não consegue deixar a mãe, e eu não consigo ficar chateada. Eu percebo-o, está com medo que a Rosário...que aconteça alguma coisa e ele não esteja perto.

— Mas ele não vai aparecer no hospital? O José já deve ter aquilo cheio de polícias...-diz Cristina

— Ele prometeu-me...

— E ela acreditou...- diz Ludmila revirando os olhos...

— Eu desta vez acho que a Ludmila tem razão Angie...- diz Martina...- O Gérmen não vai aguentar ficar sem ir ver a Tia Rosário.

— Ele prometeu-me, e eu  vou acreditar nele. Eu preciso de acreditar...

E assim aquela conversa acabou. Dizem que a confiança é a base de tudo, e de todo o relacionamento. Tem que ser recíproca e que sem ela não existe a possibilidade de uma relação. Ter confiança em alguém é como saber que se está segura com esse alguém.

A confiança é um dos sentimentos mais nobres que um ser humano pode colher e cultivar dentro de si. Confiança é a base das grandes amizades, dos amores verdadeiros e das relações que não se baseiam na mentira. Confiança é a raiz do entendimento, até mesmo entre seres opostos. É o elo mais forte dessa corrente que une pessoas que se completam de alguma forma. Confiar é entregar ao outro, sem medo, tudo que há de mais valioso dentro do nosso coração.

A confiança, é muitas vezes ser escravos dos nossos próprios sentimentos, de algo tão maravilhoso e necessário chamado: AMOR. O amor e a confiança podem intensificar-se com o tempo, com o dia a dia, mas também com o tempo de espera. O tempo vivido sem dedicação e empenho, estraga e pode acabar mesmo com tudo. Não se engane o Amor, não trai a confiança, porque os dois andam juntos, e uma vez que a confiança é quebrada, é uma ida quase que sem volta, pois um não sobrevive sem o outro, o sentimento nunca mais terá a mesma plenitude, a mesma importância.

No entanto: Confie Sempre. Não percas a fé entre as sombras do mundo. Crê e esforça-te no bem e espera com paciência. Tudo passa e tudo se pode se renovar. Hoje, é possível que a tempestade, te amarfanhe, te atormente o coração. Porém, não te esqueças, de que amanhã será outro dia.

Quando depositamos confiança nas pessoas, o risco da decepção é grande, pois elas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, bem como não estamos aqui para satisfazer as dela.  As pessoas não precisam umas das outras, mas elas se completam. Não por serem metades, mas por serem pessoas inteiras, dispostas a dividir objectivos comuns, alegrias e objectivos de vida.

Com o tempo, percebemos que para sermos felizes com outra pessoa, precisamos primeiramente não precisar dela. Temos que aprender a gostar e cuidar de nós mesmos e, principalmente, a gostar de quem gosta de nós. Um autor bem conhecido , Mário Quintana, dizia "O segredo é não correr atrás das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até nós.". Pois no final das contas, vamos achar não quem estávamos procurando, mais quem estava procurando por nós.

Confiança não se compra, não se vende e não se finge. Confiança é a força que nos move na direcção de quem a gente mais ama. E, por mais que sejamos imperfeitos, confiar e ser confiável é muito mais do que um simples tratado social, é uma questão de carácter e de respeito ao próximo.

Confiar é a arte de poder amar sem medo, dormir tranquilo e sentir o doce perfume da paz em cada movimento da nossa respiração. Confiar dispensa meios-termos: ou é para sempre, ou é para nunca mais.

Por isso, perante tudo isto, eu preciso de confiar que Gérmen vai cumprir o que me prometeu...

Violetta acorda com o som de uma choro bem escandaloso. Levanta-se rapidamente e correr até ao quarto de Gérmen, onde Clara chora. Bate à porta, mas não ouve nada, para além do choro da irmã. Resolve então abrir a porta e entrar. Olha e não vê o pai em lugar nenhum...apenas Clara que chora desoladamente no berço.

— Ei! Calma princesa, a mana está aqui...está tudo bem...- aos poucos Vilu consegue acalmar Clara...- Que tal irmos à procura do papá...

— Mamã...mamã...- diz a pequena criando um pequeno bico, que Violetta sabe que logo vai virar de novo em choro.

— A Vilu também está com saudades...- Clara olha para a mais velha, e dá um carinho na bochecha de Vilu...- Mas, ainda vamos estar todos juntos de novo: o Papá, a Mamã, a Clara, a Vilu e os bebés que vêm aí...

Bebe!?

— Sim bebé...a Clara vai ter dois manos...

!?

— Eles ainda estão na barriga da mamã, eles têm que ficar fortes. a mamã está a tratar deles, sim?

Naum, Mamã...mia...- e faz um bico de quem não gostou muito da ideia...

— Ok, princesa, a mamã é da Clara. - dando muitos beijinhos à irmã, sai do quarto para ir procurar o pai. E fica a pensar que vai ser difícil para Clara a vinda dos gémeos.

A verdade é que Clara iria fazer um ano daqui a uns meses e já andava nesta roda viva. Durante estes meses que tiveram em Sevilha foi mais o tempo que esteve longe de Angie e de Gérmen do que o tempo que esteve com eles. E agora com a vinda dos bebés, que vão precisar muito de Angie, vai ser difícil para Clara. Quando chega à sala vê Gérmen sentado no sofá, dormindo...

Papá...óó...- diz Clara apontando para o pai.

— Vamos acordar o pai com beijinhos?- pergunta Vilu para Clara que logo começa a bater palmas. Aproximam-se do pai, e calmamente senta a pequena junto do pai. Logo estão as duas a tentar acordar Gérmen.

Papá...papá...- e do nada em vez de beijos, clara resolve puxar o cabelo do pai...

— Clara, não...só beijinhos...- diz Vilu, mas a pequena continua. E aos pouco um Gérmen ensonado e chateado abre os olhos...

— Bom dia Pai...desculpa, mas acho que a Clara ficou impaciente por não acordares...

— Bom dia Vilu. Ei, palhacita, vem cá...que horas são?

— São 08h00, dormiste aqui?

— Estive a falar com a Angie, acho que acabei por adormecer aqui mesmo. Ela acordou-te?

— Sim estava a chorar pela Angie. Sempre vamos hoje?

— Vilu, sobre isso, eu preciso de falar contigo...

— Tu não vens, não é? Pai, o avô ainda está em Sevilha, tu não vais poder ir ver a avó...

— Eu sei, mas aqui pelo menos estou perto...Vilu por favor eu não vou conseguir deixá-la...

— E a Angie? E nós? - diz apontando para ela e Clara...- E os bebés? Nós também precisamos de ti.

— Vilu, eu já tomei a minha decisão, já falei com a Angie...

— TU DECIDES SEMPRE TUDO SOZINHO. SÓ PENSAS EM TI...NUNCA PENSAS EM NÓS...- Clara que estava ao colo de Gérmen, ao ouvir Vilu gritar, começa a chorar...assustada.

— PODES BAIXAR O TOM.- grita Gérmen também, tentando de seguida acalmar Clara, antes de se virar para Violetta.- Violetta, eu sei do perigo que corro ao ficar, mas, vai ser por pouco tempo. O Tio Roberto está a tentar reverter toda esta história. Eu confio nele Vilu. Se alguém pode fazer alguma coisa é ele.

— Mas eu não te quero deixar aqui papá...por favor vem connosco...por favor...

— Vilu, eu não consigo deixar a tua avó assim. Ela é minha mãe e se acontecer alguma coisa, eu nunca me vou perdoar por estar longe. E vocês as duas estando com o Tio Roberto vão estar seguras.

— NÃO...eu não te vou apoiar nisto pai. Não vou...- levanta-se e quando vai a sair dá de cara com Leon e Pilar, que vinham a descer as escadas.

— Vilu?...- Mas ela não para...simplesmente sobe sem nem responder...- VILU...o que será que aconteceu?

— É melhor ires lá ver dela, eu vou ter com o Gérmen...vai, não lhe perguntes nada, simplesmente mostra-lhe que estás ao lado dela...

— Obrigado Pilar, ela não pode ficar nervosa...vou tentar acalma-la.- E assim Leon sobe, enquanto Pilar segue para a sala onde Gérmen está com Clara.

— O que é que eu faço Clara? Porque é que a tua irmã tinha que ser tão igual à tua mãe. Nem filha dela é, mas não podia ser tão igual...- Clara olhava para o pai...- Espero que tu saias à tua Tia Maria princesa, eu não vou aguentar...

— Ei! - Pilar interrompeu aquela conversa entre pai e filha...- Sabes eu invejo essa relação que tens com as meninas. Nunca tive isso com a Bia...

— A Bia ainda é pequena, ainda vais ter muitos momentos com ela. Só te adianto que quanto mais velhas, mais problemas...gostava de as manter sempre assim: pequenas, dependentes de nós para tudo.

— Eu perdi muitos anos da Bia, mas sabes apesar de tudo eu não queria que o tempo parasse. Gérmen faz parte da vida os nossos filhos crescerem, e darem muito trabalho. Deus, eu dei muito trabalho ao meu pai na adolescencia...não me lembro ainda bem do que me aconteceu, mas sei que a fase do meu namoro com o pai da Bia não foi um mar de rosas...

— Lembraste-te?

— Sim, de alguma coisas. Tenho tido alguns "sonhos", não sei bem o que é real ou não. Mas tenho falado com a Dália, e fizemos um acordo: sempre que eu tenha dúvidas sobre o que foi ou não real eu pergunto-lhe e ela diz-me se foi ou não.

— Parece-me um bom plano...Viste para onde foi a Vilu?

— Ela subiu...- Gérmen ia levantar-se mas Pilar impede-o...- o Leon está com ela, não te preocupes. Afinal o que é que aconteceu? Quer dizer se quiseres dizer, eu não...

— Tudo bem, eu tomei uma decisão e a Violetta não gostou...- Pilar desta vez ficou à espera que ele continuasse.- Eu não vou para a Argentina. Eu não consigo deixar a minha mãe assim...se acontecer alguma coisa e eu não estou aqui, nunca mais me vou perdoar.

—Gérmen, eu até percebo. Mas, tu sabes que não podes ir ao hospital, o teu pai já deve ter colocado a polícia toda de Espanha de vigia...

— Eu sei. Eu só vou se acontecer alguma coisa...se...mas pelo menos estou aqui. Eu estive a falar com a Angie, claro que ficou triste, contudo ela percebeu...

— Gérmen, eu até consigo entender esse teu medo. Porém tu tens uma esposa grávida de gémeos que está no hospital em risco de perder os bebés, ela precisa de ti. E tens duas filhas, Vilu é adulta, mas a Clara vai precisar de ti...

— Eu sei...PORRA EU SEI...- Clara que já dormia ao colo de Gérmen acorda assustada...- Desculpa, princesa...- Gérmen levanta-se para acalmar Clara, o que consegue em alguns segundos.- Eu estou entre a espada e a  cintura...

— É eu não queria estar no teu lugar. Principalmente quando a Luzia souber o que pretendes fazer.- Pilar sorri...- Prepara-te para a fera...- E sorriem os dois. Ele sabia que teria que enfrentar a fúria da irmã, a birra de Violetta e talvez o arrependimento de ter feito a escolha errada.

Depois de subir sem nem responder a Leon e a Pilar, entra no quarto furiosa, e começa a mandar tudo pelo ar. Ela não percebe a atitude do pai, se ficar o avô pode...

— POR QUÊ, POR QUÊ...

De repente sente alguém a abraçá-la, alguém a prende...ela tenta em vão soltar-se, mas por mais que lute ela não consegue...

— Larga-me...Larga-me...

— Vilu...- mas Violetta continua a debater-se, ela está completamente descontrolada...- VIOLETTA PARA...AGORA.

Vilu para, e Leon vira-a para ele. Assim que olha para o namorado, desaba num choro compulsivo. Leon, pega-lhe ao colo e senta-se na cama, deixando-a chorar. Dizem que chorar é dizer em lágrimas tudo o que o coração por orgulho não é capaz de dizer em palavras.

Ás vezes chorar é bom, colocar para fora toda a Ira. Expelir nas lágrimas as tristezas do coração e da alma. Chorar é bom porque significa que somos humanos, e que temos sentimentos. E se por um motivo ou outro nos deparamos com momentos assim, não significa que somos infelizes o tempo todo, apenas somos e estamos mais sensíveis para encarar as armadilhadas deixadas pelo nosso próprio Destino.

— Ele...ele...vai...ficar Leon. O meu pai...ele...não vai voltar.

— Vilu, temos que perceber é a mãe dele que está em risco de vida...

— E nós Leon. Eu, a Clara, a Angie e os bebés...não somos nada para ele?

— Vilu ele ama-vos...mas é a mãe dele...

— E a Angie é a mulher dele, e corre risco de perder os bebés. Os filhos dele...- Violetta solta-se de Leon e vai até à varanda do quarto, olha para o céu azul...- Eu não o percebo, e não vou aceitar a escolha dele, não consigo.

— Vilu...não quero colocar mais coisas na tua cabeça, mas...- Vilu vira-se e olha para Leon...- Eu vou para Rosário, mas assim que lá chegar eu vou para Buenos Aires.

— Tu vais...vais deixar-me...tu não Leon, por favor eu não vou aguentar isto tudo sozinha, não vou.

— Vilu, eu estou há mais de um mês fora de casa. Os meus pais estão fartos de me mandar mensagens. E tem o Studio Vilu...se nós nos vamos casar, eu preciso de trabalhar, não vou viver às custas do teu pai ou seja de quem for.

— Leon...não por favor, não me deixes também...por favor....

— Eu não posso, Vilu. Eu preciso de trabalhar, preciso de falar com os meus pais...eu não te vou abandonar, não te vou deixar. Mas preciso pensar no nosso futuro.

— Que futuro Leon? Um futuro onde o meu noivo vai estar numa cidade e eu noutra? um futuro onde não nos vamos poder ver até o meu avô deixar de ser esse doido maníaco?

— Vilu...

— Não, se é para ser assim...acabou Leon...acabou tudo...- Leon fica a olhar para a namorada e noiva sem nem saber o que dizer...- SAI...Sai Leon....

— Eu saio Vilu, mas vou fingir que nem ouvi o que acabaste de me dizer.

E assim que Leon saiu, Vilu de novo se deixou cair no chão a chorar...já não bastava ficar sem o pai, agora iria ficar sem Leon...não ela não ia conseguir. Estava cansada, cansada de se esconder, de ter a vida controlada por alguém que não a amava.

— Vilu!? Passo entrar?- pergunta Pilar...mas ela nem responde, já não tem forças...- Vilu, eu ouvi o que disseste ao Leon, tu queres mesmo acabar algo tão bonito como o que vocês têm por um capricho? Por uma birra de menina mimada que eu sei que tu não és...

Ela não podia crer no que Pilar tinha acabado falar: capricho? Menina mimada?

— É isso que achas? Que tudo isto é apenas um capricho meu, um desejo, uma vontade, uma loucura de uma menina mimada?

— É o que estás a mostrar Vilu. Mas que sei que nada do que disseste ou fizeste, é o que tu és. Eu sei que tu és muito mais do que mostraste hoje, eu já vi...- Pilar senta-se na cama e chama Vilu, que sem nem perceber o porquê deita-se e coloca a sua cabeça no colo daquela mulher que apenas há uns dias era considerada alguém doente...- Eu já te vi a brinca com a Clara e com a Bia, eu já te vi com o Leon, com o Fred e com o teu pai. Eu sei que tu os amas a todos...amas a Angie como se ela fosse mesmo a tua mãe...

— Eu não aguento mais...eu só quero voltar para casa...- e é nessa altura que ela quebra de novo.

—Eu percebo-te Vilu. Mas se não queres perder quem amas, e estou a falar do Leon, engole esse orgulho, e entende o lado dele. Se vai ser difícil estarem longe um do outro? Com toda a certeza que sim. Mas Vilu, quando existe amor, nada poderá dar errado.

— Eu...eu percebo o Leon, mas eu não quero ficar longe dele, eu me sinto mais forte com ele...

— Sabes, vou-te contar algo que a minha mãe me dizia quando eu era bem pequena: "Quando nós somos crianças, temos medo de fantasmas, de espíritos das pessoas que já morreram. Mas quando crescemos percebemos que os fantasmas são outros. E sabes que fantasmas são esses? São os Fantasmas que morreram dentro de nós, mas que ainda nos visitam. E o que mais nos assusta não é sentirmos a sua presença. O que mais assusta é a ausência que essa presença nos faz..."

— Queres dizer que eu estou com medo de mim?

— Tu estás com medo de confiar em ti própria Vilu. Estás tão habituada a que todos te protejam, que agora que parece que todos te deixaram sozinha, tu estás insegura. Mas sabes de um coisa, tu és mais forte do que tu pensas, e apesar de longe, o teu pai e Leon sempre estarão contigo...

Depois de ouvir o que Pilar falou, Vilu chorou. Chorou porque dói e porque não consegue mais segurar o choro. Chorou por todas as memórias que lhe surgem. Chorou por não conseguir entender a posição do pai. Chorou porque iria ficar longe do seu amor. Ela sentia uma dor que lhe cortava o coração, como se tivesse perdido alguém próximo. Era uma sensação de sufoco, como se todo o ar do seu peito estivesse a ser sugado do seu peito.

A dor de sentir que os vai deixar de ter com ela dói, dói muito. Uma tristeza a invade: alma, corpo e coração estão magoados. Não só por se sentir abandonada por quem a devia amar, mas também por sentir que os magoou de alguma forma.

Violetta está tão envolvida no choro, que nem percebe que Gérmen entra no quarto. Pilar, levanta-se devagar, pega em Clara e sai do quarto deixando assim pai e filha falarem com calma. Porque tudo na vida se resolve com palavras, e aqueles dois precisavam de falar.

— Chora minha princesa, chora...eu sempre vou estar aqui para te segurar...- Vilu levanta a cabeça e olha para o pai, surpresa por nem ter percebido o momento em que Pilar deu lugar ao pai.

— Não, tu não vais estar. Tu vais ficar, vais nos deixar...- e de novo se deixa ir pelo choro, mas desta vez agarra-se ao pai...- Eu amo-te pai...eu não quero ficar longe, não quero.

— Calma Vilu...Chora tudo o que tens a chorar, sabes a tua avó sempre me dizia que chorar alivia e acalma o coração, lava a alma de tristeza e solidão. Mas, também aprendi que ao chorar, que sorrir cura todos os nossos problemas e angústias, e deixa a vida muito mais feliz. Por isso chora...eu vou estar aqui para te enxugar as lágrimas e fazer-te sorrir de novo.

Violetta chorou, chorou tudo o que tinha guardado ao longo destes tempos difíceis. Era como se finalmente tivesse simplesmente aberto uma porta e agora não a conseguisse mais fechar. Gérmen apenas se deixou ficar com a filha nos braços, fazendo-lhe carinhos. Aos poucos percebeu que a mesma se acalmara...Vilu adormecera.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Violetta - O Recomeço" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.