Violetta - O Recomeço escrita por Clarinesinha


Capítulo 36
Capítulo 18 - Entre a Espada e a Parede (Continuação 1)




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Martina olha para os pais e assente, abraça a mãe e Roberto decide então fazer a chamada que todos esperam que possa ser bem sucedida. Pega no telefone e disca o numero de Frederico, colocando em alta voz. Pede que todos se mantenham em silêncio pois se estiver muita gente a falar ninguém se vai entender. Caso tenham algo a dizer apenas lhe acenem. Diz ainda a Ludmila que ela poderá falar sempre que quiser...o bip bip ouve-se várias vezes até que...

"- Ludmila...- ouve-se a voz de Fred..."

"- Oi Fred...estou aqui..."

"- Olá Frederico, o meu sobrinho está aí?"

"- Sim. Estamos todos aqui, bem menos a Vilu, o Leon e a Clara."

"- Vou-te pedir para colocar em alta-voz..."

"- Ok, já está. Gérmen..."

"- Tio!? A Angie? Como está a Angie?"

"- Olá Gérmen. Calma a Angie está bem, dentro do possível. Mas já te deixo falar com a Martina que é quem está a segui-la."

"- A Martina!? Ela está aí?"

"- Sim primo, estou aqui...e a minha mãe também...tu tinas que te apaixonar pelas minha duas primas..."

"- Martina...- diz Cristina...- Não ligues à tua prima Gérmen. Ela nunca teve muito juízo mesmo..."

"- Tia Cristina...está a família toda aí? A Tia..."

"- Não, a "minha querida" cunhada não está cá, nem vai estar. Quero-a longe da Angie...bem longe."

"- Sempre a defender as suas meninas...- diz Gérmen...- Tio, já sabes de tudo, certo? O que o meu...aquele monstro fez?"

"- Sim. A Ludmila já me contou tudo...- Roberto olha para Lu que é abraçada por Cristina...- e podes ficar descansado que a tua tia já a adoptou..."

"- Lu...estás bem?"

"- Estou Gérmen, só preocupada...por favor não faças nada de cabeça quente...nós precisamos de ti..."

"- Gérmen, eu já soube também da tua mãe. Bem e vou directo ao assunto, qual a hipótese de a trazer para a Argentina?"

"- Eu...não sei Tio. Luzia? Tio, eu não sei se já sabe mas tem mais uma sobrinha."

"- Já me contaram sim..."

"- Bom Dia, o meu nome é Luzia Diaz Carrara."

"-Espero poder conhecer-te um dia.- diz Roberto."

"- Confesso que é meio estranho. Eu só tinha a Tia Mercedes e a minha mãe. Sabia dos meus irmãos, mas só os conhecia por fotografias. E agora..."

"- Agora tens uma família enorme, que embora não te conheça, já te ama."

"- Obrigado. Por tudo...por não me rejeitarem...por..."

"- Querida...- diz Cristina emocionada...- Porque te iríamos rejeitar? Sim o meu irmão errou, e a Rosário também, mas tu nunca pediste para nascer. E és do meu sangue, és minha sobrinha."

"- E como está a Mercedes?- pergunta Roberto..."

"- Tendo em conta tudo o que se está a passar, está bem."

"- Mas vamos passar ao que interessa...depois teremos tempo de perceber esta história. Luzia, eu queria saber como está a Rosário? Ela poderá viajar? Como está o estado dela?"

"- Eu não sei, a verdade é que ontem acabámos por ir para casa. Ela estava na UTI ainda, mas o estado é grave. Hoje ainda não falei com o Professor, eu vim contar ao Gérmen primeiro."

"- Professor!?"

"- Sim o Professor Bernardo Castro. É ele que está a seguir a minha...a nossa mãe."

"- Bernardo Castro, ainda está vivo? Há anos que não sei nada dele..."

"- O tio conhece-o?"

"- Sim. Fui colega dele durante um ano aí em Espanha..."

"- O pior ano da minha vida...- diz Cristina enquanto o Roberto sorri..."

"- A tua tia não gostou muito, desse afastamento. Bom, então o meu plano é o seguinte: tenho um jacto preparado no aeroporto de Sevilha. Existe alguma forma de vos ir buscar de Helicóptero?"

"- Sim. A casa onde eles estão tem um Heliporto."- diz Luzia.

"- Óptimo. Então, vou tratar de contactar o meu contacto."

"- Tio. Eu não vou sair daqui sem a minha mãe...eu não a posso deixar."

"- Gérmen, tu tens que pensar na Angie. Ela precisa de ti, ela está grávida...tens a Violetta, a Clara. Não podes arriscar...- diz Cristina."

"- A tua tia tem razão, sei que é complicado, que estás entre a espada e a parede..."

"- Esperem A Angie está grávida?- pergunta Luzia"

"- Sim. Nós íamos contar ontem quando chegássemos a casa , mas depois..."

"- Gérmen, tens uma decisão difícil de tomar, mas pensa comigo: tu não queres sair daí, queres ver a tua mãe, o que é perfeitamente compreensível. Contudo, se fores preso como o teu pai quer, não vais estar nem com a tua mãe, nem com a Angie e as tuas filhas."

"- Gérmen, é a Martina. A Angie entrou no hospital com uma alteração muito grande na pressão. Ela quase perdeu os bebés."

"- O quê? Mas vocês disseram que ela estava bem?"

"- Agora está, mas ela não pode sofrer emoções fortes. Podia alterar de novo a pressão...e tu seres preso, não é algo que possa acontecer."

"- Mas e a minha mãe? Eu não posso simplesmente deixá-la...não posso, não consigo."

"- Gérmen.- Luzia caminha até o irmão...- Tu conheces a mãe tão bem como eu, tu sabes que ela iria perceber se a deixasses. Aliás eu acho que ela te torcia o pescoço se não fosses para perto da Angie."

"- A tua irmã tem razão Gérmen. Eu conheço a Rosário, e sei que ela iria dar-te na cabeça por não estares com a tua esposa."

"- Tudo bem, mas vamos tentar levar a nossa mãe para a Argentina...tu podes vir também Luzia..."

"- Eu não posso. Temos os miúdos, a Tia Mercedes...e o bebé...não posso viajar agora. E depois nem sabemos como está a situação da mãe, não sabemos se ela poderá fazer essa viagem. E eu também não quero ficar sem a mãe comigo...desculpa Gérmen, mas..."

"- Ok, já percebi que isto vai ser mais complicado do que eu pensei.- diz Roberto."

"- Não. Eu vou...- olha para Luzia...- Eu sei que tu vais estar sempre com ela, e que se acontecer alguma coisa..."

"- Eu prometo-te que irei cuidar dela.-diz Luzia com lágrimas nos olhos.- Obrigado."- e abraçam-se como dois irmãos que se amam, que nunca viveram separados. Porque amor é algo singular, algo sublime...

"- Tio. Quando é que podemos ir?"

"- Vou preparar tudo, amanhã ligo-te a esta hora. Tudo bem?"

"- Sim. Lu, cuida da Angie por mim..."

"- Eu cuido...eu prometo..."

A assim depois de tudo combinado desligam a chamada. Milagros, Sebastian, Paula e Henrique levantam-se. Despedem-se e vão buscar Nico ao quarto de Angie. Martina, sai do consultório do pai e depois de passar os pacientes para o médico que fará o turno vai para casa. Ludmila, depois de se despedir de todos, segue para o quarto de Angie.

— Roberto?- Cristina olha para o marido, que está à janela, apenas a olhar para a rua. Ela aproxima-se e abraça-o.

— Está na hora de termos a conversa com eles. Chega de segredos, os nossos filhos são maiores e vacinados, têm as suas famílias. E têm o direito de saber...

— Mas nós prometemos, nós jurámos ao teu pai...e ao meu pai...

— Eu sei. Eles vão ter que nos perdoar, mas não vou permitir que o meu irmão faça o que bem entende, sem nunca sofrer as consequências. Chega Tina...só nós sabemos o que sofremos. Eu não vou permitir que os nossos sobrinhos sofram o mesmo.

— Não podes contar aos nossos filhos, não podes. Roberto...por favor...

— Tina se eu for lutar contra o José, para de alguma forma ajudar o Gérmen e a Angie, muita coisa vai ser revelada. Não posso fazer isto sem expor o que se passou...

— Eu pensei...- Cristina começa a chorar abraçada a Roberto...- Eu pensei que já tinha conseguido curar a ferida, que já estava cicatrizada....mas dói. Dói tanto ainda...

E deixaram-se ficar abraçados, só eles sabiam a dor que sentiam. Só eles sabiam o que sofreram. José sempre foi o menino de ouro da família, mimado demais pela mãe e pela irmã. Roberto foi o bebé surpresa, veio quando os pais pensavam que ficariam apenas pelo casal. A irmã, a menina do papá não gostou de ter que repartir a atenção e José também não. Os pais, estavam numa altura da vida que se dedicavam quase exclusivamente ao trabalho: ele médico, ela professora universitária.

Roberto acabou por ser criado pela babá. Os irmão com uma diferença ainda grande dele, tinham a sua rotina da escola, e apenas estavam em casa depois das 17h00, e nem um nem outro brincava com ele. E assim cresceu, afastado dos pais e dos irmãos. Aos poucos, foi-se habituando...habituar a algo que para ele se tornou normal...ou pelo menos ele achava que era.

Apenas quando conheceu Cristina, na escola, percebeu que talvez não fosse assim tão normal. Ele e Cristina tornaram-se desde o primeiro dia que se viram na escola os melhores amigos. Foi algo natural, e mágico; e durou anos até que se aperceberam que o que sentiam era algo mais que amizade. Porém nessa altura Miguel, o irmão de Cristina, e o seu próprio irmão, José, tornaram-se os piores inimigos. Tudo por causa de Angélica Carrara, namorada de Miguel e que José também amava.

E foi nessa altura que o inferno na vida de Roberto e Cristina começou. Chegou ao ponto do próprio pai o mandar para Espanha, para o separar de Cristina, tudo arquitectado pelos irmãos. Porém o amor dos dois foi muito mais forte...e venceu essa batalha. Mas a guerra ainda estava a começar, e o que se passou depois disso...foi pior muito pior que apenas uma viagem para um outro continente. Foi algo que Roberto nunca irá perdoar...na altura o pai e o sogro pediram para não fazerem nada, e jurarem nunca fazer nada, porém agora ele não podia...não podia mais pactuar com todas as barbaridades do irmão.

Em Sevilha, Luzia olha para Gérmen. A oferta de levar Rosário para a Argentina, era o ideal para Gérmen, porém, como ficaria ela. Naquele momento Luzia sabia que seria arriscado uma viagem. Por isso sabia o sacrifício que o irmão estava a fazer por ela.

Por tantos anos ela quis conhecer os dois irmãos. Sempre pensou que Gérmen fosse mais fácil de conhecer, já que a mãe lhe prometera que um dia o traria até Sevilha. E quando Violeta veio para fazer um concerto com os amigos e colegas...não só viu Gérmen, como Angie. Ele presenciou um dos momentos mais marcante para uma mulher: o pedido de casamento.

Ali, no final de um concerto maravilhoso, os seus irmãos estavam a comprometer-se para a vida inteira. Era estranho, e se a história fosse de outra pessoa, se ela estivesse de fora, talvez achasse até imoral. Mas eles eram seus irmãos, apenas dela. Entre Angie e Gérmen não existia elo nenhum que os impedisse de se amar.

Bem havia, o facto de Gérmen ter sido casado com a sua outra irmã, que era irmã de Angie, ou seja, Angie seria ex-cunhada de Gérmen. Sim, muito confuso. No entanto, o amor pode ser confuso. E ali, naquele dia, ela viu um sentimento nobre, intenso e verdadeiro. Capaz de se abstrair dos milhares de pessoas a assistir, das câmaras, de tudo. Ali naquele palco existiam apenas os dois: Angie e Gérmen.

E hoje, ali naquela sala ela viu outro tipo de amor, um amor fraternal. Aquele que por tanto ela ansiou. Um amor capaz de desistir de estar junto de quem lhe deu a vida, um amor por uma irmã que conheceu há tão pouco tempo.

Porque ser irmão é isso, é olhar para o outro e sentir o que o outro está a sentir, é conhecer o som da sua gargalhada, é saber que o falamos é verdadeiro, é perceber apenas pelo olhar o que o outro sente ou quer falar. É apenas por uma expressão saber o que o outro quer, e tentar realizá-lo, é trabalhar em conjunto para um mesmo fim. É ter um amigo para vida inteira, porém esse laço de amizade que nos une é muito mais profundo, e tão poderoso como o amor.

— Obrigado...- e apenas me deixo abraçar pelo meu irmão. Aquele que aprendi a amar por fotografias.

— Eu sei que tomarás conta da mãe.- Gérmen beija a minha testa...- Eu vou para onde devo estar, tu tens razão. Se a mãe estivesse aqui...

— Batia nessa tua cabeça teimosa...- e sorrio com ele...- A Angie precisa de ti, o teu filho também...

— Filhos.- fico a olhar para Gérmen, como assim filhos!?- Angie está à espera de gémeos...

— Meu Deus...mais uma razão para estares com ela. Se a Dra. Martina...

— Martina. Afinal ela é tua prima...

— Para quem nunca teve uma família, de repente é muito confuso ter tios, primos...- confesso...- Sempre fui eu, a tia Mercedes e a Mãe. Depois encontrei o Luís e a Tati...tive os meus filhos. E confesso que estava feliz assim.

— E agora dás-te conta que tens muito mais que só isso...

— É irreal...dá até algum medo...

— Menina, já temos o almoço pronto, ficam para almoçar?

— Sim.- diz Luís...- Depois vamos ao hospital, a consulta está marcada para as 14h00 e depois vamos falar com o Professor e saber da tua mãe.

— Ok. Gérmen, antes de ir para casa venho cá despedir-me. Quem sabe quando a mãe melhorar não vamos todos ter contigo.

— Depois do nosso bebé nascer, podemos pensar nisso. Antes disso...repouso.

— Acho que vais ter um marido muito controlador durante os próximos 8 meses...

— Podes ter a certeza...não quero passar pelo que passei com a gravidez do Tomás. Desta vez ela vai cumprir tudo o que a médica lhe disser.

Todos sorriem, e seguem para a sala de jantar. Violetta entretanto já acordara, e fica a saber de tudo o que aconteceu. Quando descobre sobre os tios-avós, os primos, que nem sabia que existia tem a mesma reacção que Luzia...confusão, medo...

Depois do almoço, Luzia e Luís despedem-se e seguem para o hospital. O caminho é feito em silêncio: Luís a pensar na gravidez da esposa e no que passou na ultima, e Luzia pensa na mãe. Luzia sabe que a situação dela é grave. Assim que chegaram, caminharam para o consultório de Alice. Dra. Alice Fernandez, colega de profissão de Luzia, e sua antiga professora da universidade. Nos seus 60 anos, era das que dizia que só deixaria de exercer no dia em que já não pudesse levantar-se da cama.

— Bom Dia. Já soube da tua mãe? Como é que ela está?

— Bom Dia Alice, na verdade não sei ainda não falei com o Professor.- diz Luzia.

— E o que vos trás ao meu consultório? Luzia...tu não...

—Sim. E antes que comeces com o sermão...eu não sei como aconteceu...quer dizer eu sei como, mas...eu tomei a injecção, tu sabes que sim. E eu sei que não podia, mas aconteceu...e...

— Calma. Tu tens a certeza que estás grávida? Afinal um teste de farmácia pode dar um falso positivo.

— O pior é que esta sua paciente fez um exame de sangue, sem o conhecimento da sua médica.

— Tu fizeste o quê? Luzia!? Tu sabes que...

— Eu sei, eu passei por cima de todas as normas, regras, da porra da ética...eu sei disso tudo. Mas eu tinha que saber, eu não aguentava mais...desculpa...

— Bem agora já não há nada a fazer, trouxeste o resultado?- Luzia estende o exame, para a médica que o examina...- Bom, o que poderemos fazer agora é uma ecografia e ver como está esse bebé. Vamos?

— Sim.- Luzia levanta-se e caminha para a sala do lado, onde tem a maca e o aparelho de ecografia. Ela como médica da mesma especialidade, já conhece bem todos os procedimentos.

— Bem como não sabemos bem de quanto tempo estás vamos fazer uma Transvaginal, então já sabes o que tens que fazer.- e indica-lhe uma salinha onde Luzia troca de roupa colocando uma daquelas camisas de hospital.

Depois de se deitar na maca, Alice começa a preparar o aparelho. Luís está ao lado da esposa, ansioso...mas com um sorriso de orelha a orelha. E Luzia? Ela nem sabe o que sente...porque dizer que está feliz seria pouco. A médica coloca o aparelho em Luzia e inicia o exame.

— Bom...aqui está. Um bebé lindo a crescer dentro da mãe. Ele está perfeitamente saudável...- e de repente ouve-se o som mais esperado por todos os pais: o bater do coração.- Perfeito. Estás com cerca de 7 semanas.- A Dra. Alice observa mais algumas coisas, faz anotações...- Vou-te passar a baixa de gravidez de risco, não te quero ver  neste hospital tão cedo...

— Eu não posso...eu tenho um casal que prometi seguir a gravidez. Eles estão há cinco anos a tentar ter um bebé, e finalmente conseguiram...eu prometi...

— Passas esse caso para mim, eu sigo-os. Os outros serão passados para quem te vier substituir. Quero-te em casa Luzia.

— Mas...

— Luzia. A gravidez do Tomás foi complicada, e tu sabes que por pouco nós não te perdíamos. Eu vi, e sei que tu também viste, que o mioma ainda lá está. Não vou arriscar...

— Alice, ela pode correr o mesmo risco? Se continuar com esta gravidez, ela pode...?

— Eu não vou matar o meu filho Luís, podes tirar essa ideia da cabeça. Se eu tiver que dar a minha vida por ele, eu dou...

— Calma vocês os dois. Luís, o mioma está lá sim. Mas desta vez é diferente, nós sabemos que ele está lá, por isso podemos controlar tudo. Claro que vai ser arriscado, que pode haver riscos quer para a Luzia quer para o bebé. Mas vamos fazer tudo para que ele nasça saudável e que Luzia não corra riscos.

— Eu não consigo ver a minha vida sem ela...não vou conseguir...

— Luís, amor...vai correr tudo bem. Por favor, não me faças decidir entre este bebé e o meu amor por ti. Por favor, não o rejeites...

— Eu não estou...eu não vou...mas eu também não te quero perder Luzia. Eu...

— Ninguém vai perder ninguém...Luzia, podes limpar e vestir-te, depois vais ter connosco.- e assim Luzia segue para o quartinho para se vestir, enquanto a médica e Luís seguem para o consultório.- Luís, eu percebo o teu medo, mas tens que te acalmar. Essa tua ansiedade, esse medo, não é bom para a Luzia.

— Eu sei desculpa, mas eu já perdi...

— Eu sei pelo que já passaste, sei que o que Luzia passou não foi fácil para ti. Mas não podes dizer o que disseste naquela sala. Sei que o aborto numa situação estas é até autorizado, uma vez que coloca a vida da mãe em risco. Mas, tu és médico. Conseguirias mesmo dormir com esse peso na consciência? Achas que a Luzia conseguiria?

— Não. Claro que não. Somos médicos, independentemente da nossa especialidade, temos o dever de salvar vidas e não matar. Eu...só estou confuso, com medo...

— Amor.- Luzia que ouvia a conversa meio escondida, interrompe o marido. Sentando-se no seu colo, abraça-o.- Eu também estou com medo, não te vou mentir...estou apavorada...mas este bebé...- e coloca as suas mãos no seu ventre...- É nosso...é nosso filho.

Depois de todas as recomendações da Dra. Alice, desta ter passado as receitas das vitaminas, do papel da baixa e da próxima consulta marcada para daí a 15 dias, seguiram para ir ver Rosário. Assim que chegaram à UTI, perguntaram à enfermeira responsável como ela tinha passado a noite. A enfermeira respondeu que Rosário lhe tinha alguns sustos, mas que neste momento o estado dela era estável.

 

Luzia conseguiu entrar por cinco minutos e estar com a mãe...era difícil ver Rosário naquela situação. Inerte, cheia de fios...sem qualquer reacção. Mas ela acreditava que Rosário sairia daquele estado, ela tinha que acreditar nisso. No seu tempo de estudante aprendera que os doentes em coma muito provavelmente ouviam o que lhes diziam, então resolveu falar com a mãe.

— Mamã. Eu não sei se o que estudei é verdade e se tu me consegues ouvir. Mas, tenho tentas novidades para te contar. Por favor, acorda. Nós precisamos de ti...eu, o Gérmen, os teus netos. Sabias que vais ter mais três netos...é três de uma vez. Acorda mamã...preciso de ti, preciso dos teus afagos, de ouvir a tua voz a dizer-me que vai correr tudo bem, que...

— Ei! Como estás minha princesa?- o Professor Castro chega e abraça a sua "filha" aquela que a vida lhe deu por acaso...- Quando e que me ias dizer, que eu ia ser avô de novo?

— Já recebeste a baixa?- Ele apenas acena...- Eu ia dizer, mas aconteceu no meio disto tudo...

— E como estás? Com a gravidez? O que é que a Alice te disse?

— O mioma está cá, pelo que consegui ver não aumentou, o que por um lado é positivo. Mas...

— Mas, com a gravidez pode aumentar. Não vamos pensar no que pode dar errado, vamos pensar no que pode dar certo.

— Devias ter essa conversa com o Luís.

— Minha luz, tu sabes o que o Luís sofreu com a morte da mãe da Tati. Sabes, que não foi fácil ele entregar-se. Depois há dois anos atrás viu-se quase a perder-te também...ele está com medo. E eu no lugar dele também teria.

— Eu sei, e eu percebo. Mas é o nosso filho, eu nunca...eu não consigo nem pensar ficar sem ele.

— Eu sei, e ele no funda também sabe. Mas já contaste à tua mãe? Acho que com essa notícia ela logo vai voltar...

— Já. E não vai ser só o meu...- Bernardo Castro olha para Luzia...- Angeles também está à espera de bebé...bem na verdade de dois. Os meus irmãos vão ter gémeos.

— Três netos de uma vez. Bem, acho melhor ela acordar logo, porque vai ter a casa cheia de netos.

— A enfermeira disse que tiveram alguns sustos? O que aconteceu?

— Nada que não estivéssemos à espera. Mas, já se passaram quase 24 horas e se tudo correr bem, o que acho que está a correr...vamos conseguir aos poucos retirá-la desses tubos todos.

— Mas ela vai conseguir respirar sem...

— Eu e o teu cunhado achamos que sim. Fizemos um teste hoje de manhã e correu razoavelmente bem. Vamos fazer mais um daqui a algumas horas, Luzia tudo isto vais ser um jogo de paciência...

— Eu sei. E aquele homem? Ele...

— Ele não apareceu mais. Mas o oficial de justiça veio cá, há polícia nos arredores do hospital. Não acho aconselhável o Gérmen vir ver Rosário.

— Ele não vem. Podes ficar descansado...- Luzia olha para aquele homem que considera como um pai...- Vamos apenas dizer que vai voltar à base.

E assim ficam mais alguns minutos a olhar para Rosário, e a conversar sobre Pilar. Bernardo Castro já estava ciente das melhoras da filha, e ficava agora com medo que com o fim das visitas ela se fosse abaixo. Mas Luzia acreditava que naquele momento Pilar tinha duas razões importantes para não se ir abaixo: Beatriz e Igor.

Um amor cura a dor de outro amor? Talvez. Podemos até encontrar um amor que: não machuca
não maltrata...mas será um novo amor cura?

Muitos são os que dizem que um amor cura outro amor, e estou falando de amor de verdade. Talvez quando se encontra o verdadeiro amor, aquele enviado por Deus, aquele ungido e consagrado. Nesse momento simplesmente entendemos que não é um amor que cura o outro amor, é um amor divino que cura um apego.

Porque na verdade o amor, ou ex-amor, não é uma doença que se possa curar. Não há remédios, ou chás, ou mezinhas caseiras que nos possam curar de um coração partido. Na verdade, um amor que no feriu, que nos machucou é uma lição de vida, com a qual só aprendeu aquele que na hora de acertar seguiu sua razão e não seu coração.

 


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