Natasha insistiu que não havia tempo para longas despedidas, que ela e Susan tinham que partir.

Para ser bem sincera, Susan não queria longas despedidas. Mal conhecia essas pessoas. Apreciava a generosidade de todos eles, mas temia que nunca mais fosse vê-los e sabia que havia grandes chances de isso acontecer.

Estava cansada de perder pessoas, amigos, entes queridos. Não queria mais aproximar-se de ninguem.

Infelizmente Steve Rogers e aquele sorriso dele estavam dificultando a vida dela.

Susan achava que ja tinha passado da fase de menina tonta que se derretia por qualquer sorriso. Aparentemente Steve estava numa categoria acima. Nunca tinha visto uma homem como ele, em Nárnia ou na Inglaterra. Não conseguia imaginar como tanta perfeição cabia num ser humano só. Ele tinha que ter algum defeito.

Susan ficaria imensamente mais aliviada se ele tivesse.

Felizmente não teria como descobrir, porque ia partir.

Despediu-se de todos, foi abraçada de forma apertada por Jane e Darcy preparou algo para ela comer se a viagem fosse longa. Steve corou ao apertar sua mão, mas o presente mais interessante veio, mais uma vez, de Tony Stark.

—Bom te ver, Merida, obrigado por detonar apenas algums milhares dos meus bilhões... –ele falou alto para todos ouvirem, então colocou algo na mão dela e a abraçou-a –Se parecer que Romanoff está te levando para algum lugar perigoso, tipo uma cela, você aperta isso. Nós vamos te buscar.

Susan ficou tão surpresa pelo gesto que nem pôde responder.

—Você não achou que nós íamos deixa-la sem socorro né? –o bilionário deu uma piscadela para ela e afastou-se.

Era hora de ir.

XxX

Natasha observou Susan em silêncio durante todo o vôo até a Grécia. A garota não abriu a boca, apenas ficou mexendo nervosamente no cordão que tinha em volta do pescoço.

Talvez a russa estivesse sendo injusta e um pouco cruel, talvez devesse dizer a Susan onde estavam indo e com quem ia deixa-la. Porém, o que a princesa precisava saber era que a vida não era fácil ou justa. Se ela queria durar no mundo de agora ia ter que endurecer.

Natasha só estava começando as aulas cedo.

Clint, que estava pilotando o quinjet, também estava quieto. Dissera mais cedo a parceira que lavava as mãos da coisa toda, mas queria deixar registrado que não era a favor.

Natasha registrou e ignorou.

Não estava sendo totalmente cruel com Susan. Tinha escolhido uma pessoa que confiava, que iria treinar a menina e tomar conta dela. Eventualmente tinha planos de vir busca-la.

Um dia, quem sabe.

O quinjet pousou e Natasha desceu com Susan, enquanto Clint permanecia onde estava. Mal pôs o pé no gramado, ja deu de cara com seu contato.

—Pontual como sempre, Viúva Negra. –a mulher comentou.

—Elektra. –Natasha acenou de leve.

Pelo menos Elektra estava vestida como uma pessoa normal: jeans, camiseta vermelha e jaqueta de couro. Não tinha porque começar assustando Susan.

—Essa é a sua princesinha? –Elektra perguntou, indicando Susan com a cabeça.

—A própria. Susan, essa é Elektra. Elektra, Susan. –Natasha apresentou com simplicidade –Você pode treina-la como achar melhor. Ela tem boa pontaria e maneja o arco.

Elektra arqueou a sobrancelha, curiosa.

—Soa interessante. –ela falou por fim –Eu cuido dela.

—Adeus, Susan. –Natasha falou, ja preparando-se para ir embora.

—Obrigada, senhorita Romanoff. –Susan murmurou.

—Pelo que? –a russa quis saber.

—Não ter me jogado numa cela. –ela admitiu.

Natasha não disse nada, porque não havia o que dizer.

Voltaria um dia para busca-la. Era uma promessa. Seriam só um ou dois anos.

Só que daí... A HYDRA apareceu.

XxX

Na noite anterior Susan tinha visto pela tv o helicarrier da SHIELD caindo sobre Washignton DC. Fazia pouco mais de cinco meses que Natasha a deixara com Elektra e, como prometido, a mulher a estava treinando sem dó nem piedade.

Susan não estava reclamando. Entendia o valor da lição que estava tendo.

Porém, assim que viu a notícia do helicarrier soube que tudo estava para mudar.

Dito e feito.

—Ela não pode mais ficar comigo, Natasha. –Elektra estava falando no seu comunicador –Agora que a SHIELD explodiu eu tenho que sumir. Eu vou com a cara dessa menina, mas eu não vou leva-la. Você tem que vir busca-la.

—Hum, ela está querendo se livrar de você.

Susan revirou os olhos. Loki era sua companhia mais constante, o maldito sempre estava la.

Ela não entendia porque, ja que ele nunca pedia nada. A maior parte do tempo vinha, enchia o saco dela e sumia. Depois de um tempo começou a ensinar alguns truques mágicos para Susan, coisas simples que ele garantia que qualquer criança asgardiana seria capaz de fazer.

Algumas raras vezes (três, mas quem estava contando?) ele se abrira um pouco mais. Contara sobre sua mãe, como roubara o trono de Asgard (embora se recusasse a dizer o que fizera com Odin) e como não era exatamente o que esperara. Negava de todas as formas possíveis estar arrependido, mas era algo nele, algo nos olhos dele, que mostrava a Susan que Loki não estava pronto para ser um rei. Talvez nunca estivesse. Nem todo mundo nascia para reinar.

—E eu imagino que a Agente Romanoff não quer me receber. –Susan falou.

—Não quer mesmo. Eu posso ouvir a conversa. –Loki falou com um sorriso agradável.

Susan revirou os olhos.

—Eu posso te socorrer. –ele falou com simplicidade.

Susan arqueou uma sobrancelha perfeita.

—E você vai querer o que em troca?

—Que você fique me devendo um favor. –Loki falou.

Susan pensou sobre isso. O que ela tinha a ganhar com isso? Mas a verdade era que, nesse ponto de sua vida, ja nem tinha mais o que perder.

A não ser sua honra.

XxX

—Ainda bem que você mudou de ideia. –Elektra falou de forma seca para Natasha.

A ruiva arqueou uma de suas sobrancelhas daquela forma que parecia ser única dela.

—Cade a princesa? –ela quis saber.

—Vem. –Elektra falou andando –Ela não foi tão mal quanto você achava que seria. Ela é fresca demais e tem morais demais para ser uma espiã como você, mas quando reconstruírem a SHIELD vocês podem usa-la em equipes táticas. Dê um ano de experiência no campo para ela e a princesa vai poder ser capitã de sua própria equipe.

Natasha parecia vagamente impressionada.

—Você acha mesmo? –uma leve descrença.

—Eu tenho certeza. –Elektra falou –Ela ainda prefere aquele arco pré histórico dela, mas apredendeu a atirar com rifles muito bem, é boa em estratégias... Um tempo com você será bom para ela.

—Essa é sua desculpa para se livrar dela, Elektra. –Natasha falou seca.

—Eu não vou ficar aqui quando HYDRA está a solta e SHIELD esta praticamente destruída. –Elektra falou sem um pingo de remorso –Eu vou cuidar de mim.

Natasha ignorou-a ao chegar a porta de um quarto. Dentro Susan estava sentada numa cama, com uma mala ao seu lado.

—Vamos, princesa. –Natasha falou.

—Na verdade é “Majestade”. –Susan falou, pegando sua bolsa e levantando –Mas eu perdoo sua ignorância.

Natasha estreitou os olhos e virou-se para Elektra.

—Ah é. –a outra falou como se só agora se lembrasse –Ela ficou bem arisca com o tempo.

—Vamos logo que Clint está nos esperando. –Natasha falou impaciente.

—Adeus, Elektra. –Susan falou de forma breve.

—Adeus, Majestade. –a outra falou irônica –Se cuide. Quem sabe um dia nós nos vemos de novo.

—Eu espero que não. –Susan falou seguindo Natasha para fora.

As duas entraram na SUV preta de vidros negros. Clint estava no banco de motorista e virou-se para Susan na hora.

—Olá, Majestade.

—Viu? –Susan olhou para Natasha –Ele sabe ser educado.

Natasha revirou os olhos.

—Sabe, eu me vejo –relutantemente –gostando dela. –Clint falou com um sorriso divertido.

—Segure a relutância. –Natasha falou por entre os dentes –Eu nem imagino o que vamos fazer com ela.

—Vamos ver o que Vossa Majestade aprendeu. –Clint sugeriu –Eu sei de algumas bases da HYDRA que ainda estão de pé e uns amigos que estão precisando de socorro.

Natasha lançou um olhar incrédulo a Clint.

—Você quer leva-la para onde Coulson está?

—“Ela” está aqui. –Susan lembrou.

Natasha bufou.

—Está bem. –ela falou por fim –Vamos ver se você realmente é tão boa quanto Elektra sugeriu.

—Querida, eu sou melhor.