Loki ficara chocado com o retorno rápido de Thor. Esperara que o idiota ficasse um bom tempo com sua humana, naquele planetinha.

Mas quando ele começara a falar...

Ao contrário do brutamontes do seu irmão, Loki prestava atenção nas histórias que não eram de batalhas e glórias. Sua preferida, quando mais novo, tinha sido sobre Nárnia.

Odin e Frigga tinham visitado o lugar uma única vez, quando a rainha estava grávida de Thor. Sua mãe contava sobre a viagem, os olhos brilhando pelo desejo de voltar. O Grande Leão nunca os convidou de volta.

Quando o casal esteve em Nárnia , a Era Dourada dos quatro reis já havia terminado e o rei era um homem chamado Caspian. Ele disse algo sobre os quatro serem de um outro mundo, mas Odin achara a ideia estúpida e não prestara atenção na história.

Se o que Thor lhe dizia agora fosse verdade...

Ele precisava ver essa garota com os próprios olhos.

Esperou o irm... O idiota ir embora, então usou uma das passagens alternativas de Asgard para ir até a Terra.

Usou todas as informações que conseguira tirar de Thor para encontra-la. Ela estava nesse quarto miniscúlo, deitada numa cama pequena, indigna da grande rainha que repousava nela.

A mortal irritante que era amiga da mortal de Thor estava dormindo numa outra cama. Loki lançou um feitiço nela para que não acordasse e outro feitiço para que ninguem ouvisse nada de dentro do quarto.

Ele podia ouvir as vozes dos demais Vingadores la fora. Ah, a vontade de acabar com todos... Mas tinha prioridades.

—Majestade. –chamou baixo.

E a Rainha Gentil abriu os olhos imediatamente.

Ela sentou-se assustada, seus olhos checando Darcy rapidamente, então indo parar nele mais uma vez, de forma desconfiada.

—Quem é você, e como você ousa entrar no meu quarto? –ela perguntou, queixo empinado.

Havia algo extremamente atraente nela, nos olhos azuis, na boca vermelha, na pureza misturada com realeza. Loki adoraria corromper tanta beleza.

—Eu sou Loki. –ele falou com uma curvatura –Seu humilde servo.

—Loki, até onde eu me lembro, é o deus da mentira e da trapaça. –ela retrucou –E você está longe de parecer ser o “humilde servo” de qualquer pessoa.

Ele abriu um sorriso predatório.

—Alguém com a sua beleza... –ele falou –Eu serviria com prazer.

Ela pareceu analisa-lo, então olhou de novo para Darcy.

—O que você fez com Darcy? –ela exigiu.

—Nada demais. –ele assegurou –Ela só está dormindo. Eu queria conversar com você sem interrupções.

—Eu imagino que, seu eu gritar, ninguém vai ouvir la fora. –ela falou.

—Gritar está tão abaixo de alguém como você, Majestade. –ele retrucou.

—O que você quer? –ela perguntou por fim.

—Saber se é verdade. –ele falou –Se você realmente vem de Nárnia, se você é quem Thor diz.

—Thor te falou sobre mim? –ela exigiu.

—De certa forma. –ele deu de ombros de forma elegante –Em defesa do idiota, ele não sabia que estava falando comigo.

—Como assim? –ela pressionou.

Loki bufou.

—Bom, alguns diriam que nós somos irmãos. –ele cedeu –Mas eu não considero aquele demente como alguém da minha família.

Susan pareceu pensar em perguntar mais, mas então mudou de ideia.

—Sim, eu sou Rainha Susan, a Gentil.

—As lendas muito falaram de sua beleza. –ele falou de forma macia –Nenhuma delas te faz justiça, Majestade.

Ela revirou os belos olhos. Loki lembrava-se de ter lido poesias sobre eles.

—Acho que, além de mentiroso e trapaceiro, você também pode ser chamado de bajulador. –ela comentou ácida.

—O que minha rainha preferir. –ele respondeu com facilidade.

—Sua rainha prefere que você saia daqui, então. –ela falou por entre os dentes.

—Seu desejo é uma ordem. –ele fez uma curvatura debochada –Mas antes de eu partir...

Ele se aproximou rapidamente da cama e, antes que Susan conseguisse se mover, tocou um dedo contra a boca dela.

—O que você fez? –a garota exigiu, sentindo os lábios formigarem.

—Só uma garantia de que você não vai contar aos nossos amigos em comum sobre minha visita. –ele falou tranquilamente –Seus lábios vão estar literalmente colados nesse tema.

Susan nem respondeu. Virou-se para pegar o objeto mais próximo (uma escova de cabelo), mas quando arremessou Loki ja tinha sumido.

Darcy levantou-se assustada.

—O que foi? –a garota perguntou confusa, olhando em volta, seus olhos caindo na escova que estava no chão.

—Nada. –Susan falou, olhando fixamente para onde Loki estivera –Eu vi uma aranha.

E ela tinha a impressão que caíra na teia dele. Como planejado.

XxX

—Aparentemente ela está falando a verdade e nada mais que a verdade. –Clint declarou.

Todos tinham voltado de suas respectivas tarefas, menos Tony. O arqueiro tinha sido o último.

—O que você achou? –Natasha quis saber.

—Tudo. Certidões de nascimento, de óbito. –ele informou, jogando papéis na mesa –Notícias sobre o acidente do trem, sobre ela ter sido a única sobrevivente da família, sobre ela ter desaparecido sem deixar rastros poucos meses depois. As fotos não mentem.

Steve pegou uma das cópias de artigo de jornal. Era ela. A foto era perfeita.

—Ela foi considerada a debutante mais bonita do ano, foi morar nos Estados Unidos. –Clint continuou –Tudo confere.

—Meu deus... –Bruce murmurou.

—Eu falei com meu pai. –Thor informou –Ele se lembra da visita que fez a Nárnia, embora isso tenha sido há muito tempo atrás. Naquele tempo outro rei governava, o nome dele era Caspian. Mas ele conheceu os quatro reis e disse que eles eram de outro mundo.

—Bom... –Bruce tirou o óculos e apertou a ponte do nariz –Quando você elimina o impossível, o que sobra, por mais improvável que seja, tem que ser a verdade.

—O que nós vamos fazer com a garota? –Thor quis saber.

—O que Fury disse? –Steve perguntou a Natasha.

—Ele me disse algo que me surpreendeu. –ela falou –Ele me pediu para esconde-la da SHIELD.

—Por que? –Steve quis saber.

—Ele disse que não quer especulações ou que pessoas tentem usa-la, mas eu desconfio que tem algo mais. –ela falou.

—O que nós vamos fazer com ela então? –Clint rebateu –Se ela ficar com a gente, vai ser fácil para eles manterem um certo controle sobre ela.

—Eu sei de alguém. –Natasha falou com cuidado –Uma pessoa que eu posso confiar com isso e não está conectada com a SHIELD. Ela pode tomar conta da garota e ainda treina-la um pouco. Ela vai precisar aprender a se virar.

—Nada errado com isso. –Clint concordou –Ela tem as habilidades, melhor refina-las.

—Quem é essa pessoa, Natasha? –Steve perguntou.

—Eu não posso te falar isso. –ela falou de forma firme –É mais seguro assim. Você vai ter que confiar em mim.

Steve soltou um riso de desprezo.

—Claro. Porque você se mostra tão confiável o tempo todo.

—Opa, desnecessário! –Clint se põe na frente de Steve na hora –Você não sabe de nada, Rogers. Pode parar de apontar dedos.

—Tempo! –Jane gritou entrando entre os dois, mesmo sendo bem menor que eles –Agora não é hora de brigas idiotas! –insistiu –O stress está afetando todos vocês. Houve o ataque, a garota, SHIELD... Vocês precisam comer, descansar e pensar antes de falarem mais alguma coisa que vocês não vão poder des-falar.

Steve deu um passo para trás e respirou fundo.

—Thor, você vai ficar aqui? –ele perguntou.

—Sim, eu vou. –o gigante loiro falou -Eu cuidarei de tudo aqui.

—Eu vou voltar para o hotel então. –Steve declarou –Essa conversa não está terminada. Amanhã discutiremos sobre isso.

—No meio tempo... –os olhos de Natasha foram para em Thor –Não deixe essa menina bater aqueles cílios dela para você e te distrair. Ela pode ser nova, mas sabe quanto bonita é. Nós não podemos confiar nela.

XxX

Aquele maldito realmente tinha lançado algum tipo de feitiço nela.

Susan tentou falar o nome dele para Darcy sem sucesso, embora quando estava sozinha conseguisse falar sem problemas. Variações também não funcionavam: se ela tentasse falar “deus da mentira” sua língua parecia se enrolar, escrever também era impossível.

Estava ficando bem irritada, mas precisava ficar calma e dar um jeito de descobrir o máximo possível sobre ele. Pelo que entendera da conversa, ele e Thor eram irmãos ou algo do tipo.

Thor parecia ser um bom homem, então ia começar com ele.

Quando finalmente saiu do quarto Jane e Darcy estavam debatendo na cozinha sobre o que pedir para o jantar, doutor Selvig estava sentado a mesa escrevendo furiosamente em um papel. Thor estava sentado na frente da televisão, analisando cuidadosamente uma partida de futebol.

—Majestade! –ele falou ao ve-la e levantou-se –Como você está? –curvou-se de forma respeitosa.

—Eu estou bem. –ela sorriu –E por favor, Thor, me chame de Susan. Aqui somos todos iguais.

Ele sorriu para ele.

—Susan! –Darcy gritou para a outra garota -Você gosta de comida chinesa?

—Eu não acho que já comi comida chinesa... –Susan falou com cuidado.

—Comida tailandesa será então. –Darcy falou como se isso resolvesse a coisa toda.

Susan também nunca comera comida tailandesa, mas não era relevante. Sentou-se no sofá e fez um gesto para que Thor fizesse o mesmo.

—Como você está, Susan? –ele perguntou preocupado.

—Confusa, assustada... –ela falou sincera –Eu não sei o que pensar ou o que fazer daqui para frente.

—Nós vamos te ajudar. –ele garantiu –Faremos o possível para que você esteja segura.

—Muito obrigada, Thor. –ela sorriu para ele –Mas eu... Realmente sinto falta da minha família.

O homem pôs a mão no ombro dela.

—Eu sei exatamente como você se sente. –ele assegurou.

E ele mordeu a isca.

—Você tem família em Asgard? –ela perguntou.

—Meu pai está lá. –ele falou –Porém eu acabo de perder minha mãe e meu irmão. –ele explicou brevemente os eventos recentes em Asgard e Londres.

—Eu sinto muito pela sua perda, Thor. –ela falou e isso também era sincero –Eu sei como é. Você e seu irmão eram próximos?

—Nós costumávamos ser. –ele falou com pesar –Então Loki descobriu que era adotado e que ouvira mentiras sua vida toda.

Mais uma vez ele explicara brevemente os eventos que o trouxeram a Terra pela primeira vez e o que acontecera com Loki e em Nova York.

Susan escutara a tudo, refletindo. O tal Loki já desviara da morte uma vez e podia muito bem estar enganando o irmão de novo.

Entendia que ele devia estar confuso e irritado, mas era mais do que óbvio que Thor ligava para o irmão e ter brigado com ele o deixava muito triste. Loki estava agindo como uma criança mimada a essa altura do campeonato.

Susan também não entendia exatamente o que o deus queria com ela ou o que esperava alcançar com esse jogo. Precisava ficar atenta e descobrir um jeito de contornar esse feitiço e falar da presença dele. Ele era perigoso e podia estar planejando seu próximo golpe.

Susan teria que ficar de olhos abertos. Aparentemente o mundo de hoje tinha muito mais perigos do que Nárnia...