No dia seguinte a briga todos os amigos de Mano já haviam perdoado totalmente Gloria, até viraram amigos da cantora com o passar do tempo, eles entendiam os motivos de Mano e se orgulhavam das decisões que Gloria havia tomado depois de ter se arrependido da “trágica noite”. Diferente do que os latinos pensaram Mano não voltou a sua fase depressiva – ao menos não totalmente. O albino focou seus dias em voltar ao ritmo das danças e bolar um plano para tentar não humilhar os pais na competição que seria em pouco tempo e ele conseguiu, bem ao menos em relação à dança Mano voltou com tudo surpreendendo não só aos outros como também a si mesmo, nesse meio tempo o albino observava Gloria de longe, notando que as pessoas haviam voltado a tratá-la tão bem quanto tratavam antes, Seymour até veio lhe agradecer por se afastar certa vez. Em contra mão as pessoas continuavam lhe apontando o dedo e rindo, muitos falavam estar ansiosos para a competição e cada vez Mano sentia-se desesperado até que finalmente o ultimo dia de aula chegou e com ele o terror de seus pesadelos.

 - Eu vou ser apedrejado e no fim serei expulso de casa por ter mentido para os meus pais – Mano comentou para os amigos, faltavam algumas horas para o “espetáculo” e as pessoas não paravam de importuná-lo.

— Não se preocupe tanto, Ramon já disse que tem um plano, confie nele – Nestor tranqüilizou enquanto acertava os óculos no rosto, a armação ainda grande mesmo depois de ter trocado as lentes.

— Por falar nele onde está? – Raul desceu um pouco os óculos escuros, procurando pelo amigo mais baixo no meio da multidão.

Como festa de fim de ano letivo, o diretor Amoroso montou dois palcos para apresentações e liberou o teatro para a turma dos cursos de artes, qualquer um de fora poderia visitar a faculdade para assistir as apresentações (que serviam de provas finais para todos os alunos) e se divertirem, os cursos de gastronomia vendiam no refeitório e em algumas barracas espalhadas pela faculdade alimentos com intuito de arrecadarem dinheiro para a formatura. As apresentações haviam começado antes das dez da manhã e Mano já havia feito sua dança no teatro pouco antes da turma de artes cênicas.

Muitas famílias e amigos se encontravam rondando todo o campus, nos palcos turmas de músicas clássicas apresentavam-se tendo um pouco de atenção do público, logo mais a turma de Gloria subiria para cantar e depois seria Mano com a competição que o prefeito Noé exigirá que fosse em local aberto para qualquer um assistir seu filho ganhando.

Os amigos encontravam-se próximos ao primeiro palco, todos bem arrumados já haviam almoçado e agora estavam a tentar acalmar Mano que por incrível que pareça havia começado o dia bem tranqüilo, porém depois que à hora foi se aproximando agitou-se.

— Vejam é o Rinaldo! – Sorriu Lombardo apontando para o amigo que havia sido expulso.

— Amigos! – Rinaldo abraçou Lombardo que estava mais próximo depois deu um high five em Nestor, um soquinho de mãos em Raul e apertou a mão de Mano.

Os amigos se animaram com a visita de Rinaldo esquecendo-se momentaneamente de Ramon que havia saído para por seu plano de ajudar Mano em prática. Não tardou para Mano voltar a ficar nervoso, pois avistou ao longe seus pais dando autógrafos para um grupo de pessoas, o albino sentiu suas mãos gelarem ao ponto de nem conseguir sentir os dedos.

— Mano! – Memphis acenou tentando chamar atenção do filho que fingia não ter os visto, com educação o casal saiu de perto dos estudantes e rumaram ansiosos em direção do filho – Pronto para hoje? Ouvimos enquanto andávamos para cá os alunos comentando estarem ansiosos para ouvi-lo cantar, tenho certeza que derrotará Noé.

— É o filho do Noé, amor – Corrigiu Norma Jean tomando a frente do marido – Como está Maninho? Parece tão magrinho meu garotinho – Abraçou o filho e apertou-lhe as bochechas os amigos de Mano tentaram segurar as risadas ao ver a cara de desconforto do dançarino.

— Estou bem mamãe – Mano afastou-se com dificuldade Norma Jean ainda lhe segurando – Esses são meus amigos.

— Prazer em conhecê-los senhor e senhora Happy Feet – Rinaldo tomou a frente dos amigos estendendo a mão para Memphis que aceitou contente, ao lado Nestor beijava a palma da mão de Norma Jean curvando-se levemente com extrema educação, Raul e Lombardo se encararam achando graça do amigo – Me chamo Rinaldo, esses são Lombardo, Raul e Nestor.

— Ramon é um grande fã seu senhora Happy Feet – Nestor procurou algo no bolso da calça tirando de lá um pedaço de papel e uma caneta – Eu também sou grande fã na verdade – Ficou envergonhado ao estender os itens a ela – Será que poderia... Poderia me dar um autógrafo?

— Oh certo! – Norma Jean soltou o filho para poder assinar – Qual de vocês é o Ramon?

— Oh! Ramon não está aqui no momento – Raul voltou a olhar em volta, procurando o amigo com os olhos – Teve que resolver uns assuntos.

O casal ficou conversando com o filho e seus amigos até o momento em que Noé passou ao lado de Bryan os dois olhando debochadamente para a família, no palco diretor Amoroso anunciava que dariam inicio a ultima apresentação do dia; A competição entre Mano e Bryan, o albino sentiu que desmaiaria, enquanto todos iam para a platéia assistir Mano viu Ramon lhe dando sinal atrás do palco, ele parecia bem contente.

— E então? – Mano claramente estava preocupado.

— Confía en mi, haz exactamente lo que digo.

[...]

Gloria andara extremamente triste ultimamente, sua briga e termino com Mano fora alegria para muita gente, porém não a ela. A cantora havia passado os primeiros três dias após a separação com raiva de Mano e sua infantilidade, os amigos dele vieram conversar com ela explicando os motivos do rapaz e ela entendeu, mas não achava que separar-se dele fosse uma boa idéia, Mano era um imbecil. Enquanto os dias se passavam Gloria focava-se na sua apresentação passando horas e mais horas treinando, dois dias antes da apresentação ela havia parado na enfermaria por apresentar dores de garganta pelo excesso de treino e fora obrigada há passar os dias sem falar nada o que deixou os colegas preocupados, sem Gloria eles talvez não passassem no exame final. Gloria sempre estava rodeada de pessoas todas tentando ser amigas dela para poderem serem populares, Gloria ignorava, mas não saia de perto. Muitas vezes se pegava procurando Mano pelos corredores e quando o encontrava analisava seu estado, preocupada de que ele voltasse a aquela fase tenebrosa, soube por um colega que Mano fora visto em uma clinica de psicologia o que lhe deixou mais calma por saber que ele estava se tratando com um profissional.

Gloria sentia falta dele, ela o amava.

— Vamos ficar para ver o show – Carmen anunciou chamando a atenção de Gloria – A faculdade já está toda aqui vejam.

E realmente estava, não só os alunos como os visitantes estavam todos apertados, a banda fanfarra da faculdade junto com todas as turmas de música estavam na frente da platéia segurando seus instrumentos, muito provavelmente preferiram não irem guardar nada para não perderem a competição. Mais atrás dos músicos estavam toda a faculdade apertando-se com os visitantes, o local estava tão cheio que não havia mais espaço. Gloria preocupou-se com Mano, ele pagaria o maior mico na frente de quase toda cidade Imperador. Assim que Bryan começou a cantar ela avistou Mano no palco todo apavorado encarando aquele mar de pessoas, Gloria cogitou a idéia de ir atrás dele para fazê-lo desistir, porém foi impedida por sua mãe que havia vindo assistir apresentação dela.

— Pensei que fosse me encontrar – Nicole segurou as mãos da filha – Você foi maravilhosa meu amor!

— Obrigada mãe – Gloria sorriu com carinho para a mulher.

— Seu pai estaria tão orgulhoso... – Tanto os olhares de Nicole quanto de Gloria encheram de lágrimas, Maurice sempre se orgulhou da filha e apoio no seu sonho. Vendo que elas estavam ficando tristes, Nicole mudou de assunto – Então, aquele é o filho do Noé?

Gloria voltou sua atenção para o palco onde Bryan já estava chegando ao fim da música. Gloria acenou que sim com a cabeça.

— É uma batalha de música? Quem é aquele moço bonito? – Apontou para Mano que nervoso derrubara o microfone que fora recebido por Bryan.

Antes mesmo que Gloria respondesse um som de violão fora ouvido por todo ambiente, todos apontavam as câmeras do celular em direção de Mano que havia tomado a frente do palco e surpreendendo todos, ele cantou com uma incrível voz, rouca e forte.

No no-no, no no no-no, no-no no

Yo sé, se terminó
Nuestro amor
Divino

Gloria arregalou os olhos, sua boca escancarada assim como a de todos que haviam visto Mano em seu vídeo que vitalizou.

Mis amigos, les declaré
Les diré
Que estoy seguro

Es un hombre
Sin nada más
Si no un señor
Con lágrimas

Memphis e Norma Jean sorriram orgulhosos como nunca, Noé fez cara de espanto e Bryan ficou pasmo, porém notou que algo estava errado quando viu os latinos comemorando atrás do palco, enquanto toda platéia processava a informação de que MANO estava CANTANDO e ainda por cima BEM, Gloria notou a movimentação de Bryan para perto de Mano e se apressou em ir ao palco ignorando a mãe que lhe chamava curiosa.

Debe decir

Debe gritar

Debe sentir

En la verdad

Gloria não chegou a tempo, Mano estava empolgado o suficiente que o plano de Ramon estivesse dando certo que não notou quando Bryan aproximou-se o suficiente para lhe arrancar com tudo o microfone das mãos, todos tornaram a ficar surpresos quando a voz continuou cantando na maior empolgação.

Luché, gané
Sobresali
Lo hice myyy waaaay

Ramon atrás do palco quase perdia o fôlego ao pronunciar my way de forma extremamente exagerada, mesmo notando que tudo havia sido descoberto ele ainda soltou um “uhul!” empolgado. As pessoas na platéia começavam a notar o que havia acontecido e antes que percebesse uma chuva de vaias estava sedo pronunciada.

Bryan riu com empolgação da tentativa falha do dançarino, Noé na platéia olhou convencido para a família rival. Mano viu o olhar dos pais caírem sobre si, horrorizados e extremamente desapontados, Memphis não teve duvidas apenas virou-se furioso pronto para ir embora, Norma Jean preocupada com o filho tentou ficar, mas deixar o marido naquelas condições era perigoso ela deveria acalmá-lo então se foi com ele. Mano viu com pesar os pais irem embora sem nem ao menos olharem para trás, ele conseguiu estragar tudo.

Gloria tomou o palco, todos parando as vaias ao ver a tão conhecida Gloria, Bryan se afastou de Mano ao ver o olhar furioso da cantora para si.

— Mano? – Gloria chamou, ele nem a olhou estava petrificado, de cima do palco tinha acabado de avistar professor Eggbert acompanhado de Madame Astrakhan, ambos olhavam decepcionados – Mano...

— Acabou Gloria – A voz dele saiu no sussurro, mesmo assim conseguiu ouvir pelo silêncio que todos faziam – Eu perdi tudo – Quando ele olhou para Gloria ela entristeceu ao notar seus olhos transbordando lágrimas.

— Não acabou Mano, você é maravilhoso, um excelente sapateador – Tratou logo de dizer Mano não pareceu se animar com isso, uma idéia passou por sua mente – Mano me acompanhe... Daylight deals a bad hand...

Mano ficou relutante quando ela começou a cantar, sabia o que ela queria Gloria não se deu por vencida e voltou a cantar, desta vez usando o microfone que pegou da mão de Bryan – So slowly... – Mano bateu o pé relutante ainda usava o sapato de sapateado e o palco tinha uma ótima estrutura para ouvir o som, Gloria sorriu e continuou – So slowly into hearts of those Who, Need more than they get...

Daylight deals a bad hand
To a penguin that has laid too many bets

The mirror stares you in the face and says
"baby, uh uh it don't work"
You say your prayers though you don't care
You sing and you shake the hurt!

Enquanto Gloria cantava Mano batia os pés com mais vontade e rapidez, um sorriso surgindo em seus lábios aos poucos, o pessoal na platéia olhavam curiosos alguns até mesmo maravilhados com o que Mano fazia.

— Dance... – Gloria parou alguns segundos respirando fundo tão empolgada quanto Mano que lhe encarava com um enorme sorriso, todos da faculdade estavam sentindo a boa energia que vinha do palco, e quando Gloria continuou a música conhecida por todos a banda fanfarra tocou junto e os outros músicos das demais turmas também, alunos de canto entoaram empolgados junto a Gloria, no meio de tudo isso Mano dançava – Boogie Wonderland!

Uh, huh!
Dance, boogie wonderland!

Midnight creeps so slowly into hearts
Of men who need more than they get
Daylight deals a bad hand
To a women who has laid too many bets

Ramon, Lombardo e os outros amigos vinham empolgados para frente do palco dançando e cantando, Mano continuava sua bela performance enquanto irritado Bryan se retirava do palco para ir reclamar junto a Noé com o diretor Amoroso.

The mirror stares you in the face and says
"baby, uh uh it don't work"
You say your prayers though you don't care
You dance and shake the hurt
Dance, "MANO!" boogie wonderland
Dance, dance, dance, "MANO!" boogie wonderland

Check it out!
Check it out!
Check it out!
Check it out!

Mano não podia acreditar, as pessoas cantavam e dançavam empolgadas, todos gritando seu nome reconhecendo o seu talento. Raul pegou o microfone que Ramon usava para cantar mais cedo e foi a frente do palco junto aos amigos, logo soltou sua voz em um reaper.

Yo soy Raul, pingüino mas "cool"
Latino por supuesto 100% español
My brothers ¿Que?
Luego me llama una señorita me enciende como flama
La fiesta, baila baila muchachita, mi corazón tiene dinamita
!Boom¡
!Exacto, dejame ser tu papi pingüino¡
!Booyaka, booyaka¡

MANO!

Os sons dos tambores da banda fanfarra eram ouvidos junto a palmas e gritos animados de todos que se divertiam, no momento Mano havia se esquecido de tudo, sua briga com Gloria, a decepção no olhar dos pais e até mesmo a recente chuva de vaias, o publico também parecia ter esquecido deste detalhe, pois gritavam seu nome encorajando-o a dançar mais.

All the love in the world can't be gone

MANO!

All the need to be loved can't be wrong

MANO!

All the heartsongs are playing
And my heart keeps saying
"boogie wonderland, wonderland"
Dance, "MANO!" boogie wonderland "MANO!"
Dance, "MANO!" boogie wonderland "MANO!"

Mais a frente um pouco distante do palco, Norma Jean e Memphis caminhavam de volta para o carro, à mulher tentava convencer o marido a voltar e conversar com o filho, mas ele não parecia disposto a tal coisa.  Foi quando ouviram um adolescente chamar os amigos que estavam conversando ali perto para assistirem Mano se apresentando, pois segundo ele o albino estava arrasando na dança. Só então o casal notou que uma multidão cantava o nome do filho, eles se entreolharam surpresos, com curiosidade voltaram o mais rápido que puderam para onde Mano estava.

Arriba, arriba, buena, buena
Dance, dance, dance, dance, dance, dance!
Ohhhhhhh, "MANO!"
Dance, oh, dance, oh dance, oh dance!

Mano bateu os pés em um ritmo, todos o imitaram Mano voltou a bater agora em outro ritmo, alguns conseguiram imitar decidiu então aumentar o nível deixando todos surpresos, apenas bateram uma única vez, Mano riu com gosto voltando a dançar despreocupado seu corpo agora colado ao de Gloria os dois sorriam felizes, olhares cheios de paixão. Ao fim de tudo Mano agarrou Gloria lhe dando um casto beijo, todos gritaram comemorando.

[...]

— E o que aconteceu depois disso tio Mano? – Atticus um garotinho fofinho filho de Saymour perguntou curioso.

— Bom, meus pais conversaram comigo arrependidos, Madame Astrakhan me parabenizou e me deu ótimas oportunidades de carreira. Gloria conseguiu o que sempre quis e meus amigos se formaram e casaram logo depois se mudaram para a Espanha.

— Menos o tio Ramon – Riu Boadicea lembrando do pequeno homem que namorava Carmen uma antiga colega de Gloria, ele cuidava das crianças quando os pais estavam ocupados e era extremamente atrapalhado. Bô é uma linda garotinha ela era filha de Viola a antiga professora de Gloria.

— Mas o melhor de tudo é que eu casei com Gloria – As crianças para quem Mano contava a história de seu passado ficaram animadas, Mano viu os olhos de seu filho Erik brilhar de felicidade – E tivemos a melhor coisa do mundo – Aquilo foi pronunciado diretamente ao filho um garotinho pequenino de sete anos que ficou envergonhado, porém extremamente feliz.

— Que final maravilhoso – Suspirou apaixonada Boadicea.

— Concordo com a Bô – Seymour olhou para o filho do dançarino – E você Erik? O que achou?

— Eu... Eu gostei – Erik respondeu meio acanhado, ele não era muito de falar era extremamente tímido.

Erik realmente gostou, a história que seu pai contou no futuro serviria para ele se encontrar como cantor de opera e seguir seus sonhos. As crianças saíram correndo da sala para brincarem no quarto de Erik, no caminho avistaram Gloria encostada no batente da porta da cozinha. Atticus e Bô cumprimentaram a mulher e Erik lhe abraçou com carinho, ele era bastante apegado a mãe, antes de subir ao quarto, Gloria beijou-lhe o topo da cabeça avisando que depois levaria lanche para as crianças.

— Há quanto tempo está ai? – Mano perguntou ao levantar-se do sofá. Agora um pouco mais velho ele havia deixado seus cabelos voltarem as cores normais (preto) e deixando uma curta barba crescer, não usava mais a gravata da sorte, pois dizia que Erik e Gloria eram sua sorte.

— Tempo suficiente – Gloria se aproximou o cabelo bem maior que quando mais jovem o rosto não pareceu mudar muito com o passar dos anos, apenas algumas olheiras de cansaço por ter chegado a poucos dias de mais uma turnê.

— Então ouviu a parte em que eu dizia te amar? – Mano segurou delicadamente a cintura da esposa, trazendo-a para perto de si.

— Não ouvi você mencionar isso – Gloria passou os braços envoltos do pescoço do marido.

— Não? Pois bem, eu te amo te amo muito!

Gloria riu contente antes de responder ao marido que também lhe amava. Os dois então beijaram-se cheios de carinho e amor.

FIM.