Muito Além de Mim escrita por Mi Freire


Capítulo 28
Momentos íntimos.




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Assistimos um filme mexicano chamado Nove Meses de Ressaca. Confesso eu não esperava muito, mas acabei dando várias risadas e me divertindo muito. Além de ter me encantado pelo Sapo que é um jovem solteirão inocente que me fez chorar bastante.

— A gente poderia sair para comer. – Sugeri, logo após o término do filme. — Sabe, eu não conheço muito a cidade ainda, apesar de já ter dado várias e várias voltar por aí.

— Não tem muito o que se conhecer por aqui.

— Mas o pouco para mim já e o bastante.

Max sorriu.

— Se você insiste...

Subi para tomar um banho rápido, trocar de roupa e domar a juba.

— Você que está mais familiarizado, o que sugere? – Perguntei, enquanto caminhávamos pelas ruas vazias da cidade.

Mesmo num sábado a noite não havia muita movimentação, apenas um grupo de jovens dando uma festinha na praça central.

— Que tal uma pizza? – Perguntou.

— Eu gosto de pizza.

— Então, vamos lá.

A pizzaria era bem pequena e até que bem decorada em tons marrons e detalhes vermelhos, tinha apenas umas seis mesinhas de madeira e um hall de espera para os clientes que optavam por levar a pizza para comer em casa. O que não era o nosso caso. Nós íamos ficar e comer ali mesmo. Passávamos muito tempo em casa.

Max me entregou um cardápio.

— Minha preferida é frango com catupiry. – Disse eu.

— A minha é de queijo. – Rebate ele.

— Bom, então vamos pedir metade de cada.

— E a bebida?

— Uma soda com gelo.

— Eu, uma cerveja.

— Fechou, então.

Chamamos a garçonete e ela anotou nossos pedidos.

— Se importam em esperar uns trinta minutinhos? – Perguntou ela. — Pode não aparecer, mas o movimento está pesado hoje. Muitos pedidos por telefone e muita espera.

— Ah, tudo bem. Nós não nos importamos. – Sorri para ela.

— Eu volto já. – Ela sorriu de volta e então ela se foi.

Volto-me para Max, ele está evidentemente impaciente.

— Relaxe. Nós mal chegamos.

— Odeio essa espera toda.

— Você será recompensado.

Tentei brincar, mas pelo visto ele não estava muito animado não e o tempo de espera era algo que realmente o incomodava.

— Você já pensou em fazer meditação?

— Para quê?

— Você é um pouco esquentadinho demais, não acha?

— E isso é um problema para você?

— Talvez um pouco.

— Bom, não é um problema para mim. É o meu jeito.

— Eu sei, é só que...

Não, não vou começar com todo esse papo de que as pessoas precisam mudar e evoluir, porque acho que não vai rolar com ele.

— Tudo bem. Esquece. – Tentei sorrir.

Ele suspirou.

— Tentarei não ser tão esquentadinho perto de você.

— Porque?

— Parece que te incomoda.

— Mas não é da minha conta, certo? É o seu jeito.

Ele me olha torto.

— Você já pensou em não implicar tanto com as pessoas? Principalmente comigo? Nossa, sabe, isso seria ótimo.

Eu ri. Ele também.

— Eu gosto de pegar no seu pé.

— Posso saber porquê?

— Eu não sei. Isso me dá uma certa satisfação.

Ele sorri de lado.

— É bom saber...

A garçonete chega com nossas bebidas.

— Obrigada.

Ela pisca e se retira.

Max e eu continuamos nos provocando um pouco até que finalmente, quando a gente menos espera, a nossa pizza é colocada no meio da nossa mesa, bem diante dos nossos olhos.

— Nossa, nem vi o tempo passar. – Comenta ele, verificando as horas no relógio preto em seu pulso.

— Está vendo? Você tem que relaxar.

A pizza estava ótima, com a massa fininha, bastante recheio e uma borda recheada com bastante crocância.

Antes de voltarmos para casa, ficamos andando um pouco pela cidade. As lojas já estavam fechadas.

Apenas os bares estavam abertos e repletos de pessoas.

— Max?

 Viramos juntos quando ouvimos alguém chamar.

A alguns passos de distância de nós estava uma mulher alta, magra com seios fartos e cabelos curtos vermelhos com o fogo.

Rosana. Me lembro dela pela voz.

— Parece que a fila já andou, não é mesmo, Max?

Ela debochou, dando a sugerir que achava que nós éramos um casal de verdade e que eu tinha roubado ele dela na cara dura.

— Rosana, não é isso que você está...

— Você é tão cretino! – Ela se virou e foi embora, parecendo bem brava, mas ao mesmo tempo muito sexy com seu rebolado. 

Agora sei porque eles passavam tanto tempo juntos fazendo coisas.

Ela é um arraso!

Depois disso, o clima pareceu ter ficado bem estranho entre nós. Fomos até o carro, onde eu entrei e ele ficou do lado de fora, fumando um cigarro de costas para mim.

— Você e seu péssimo hábito. – Comentei assim que ele entrou fedendo a tabaco.

— Eu estou tentando parar, eu garanto. Mas quando eu fico nervoso isso se torna quase impossível.

— Você nervoso por causa da sua namoradinha?

— Ela não é minha namoradinha. E sim, é um pouco por causa dela também.

— Bom, eu sugiro que se você quer mesmo parar de fumar, deixe de andar com os cigarros para cima e para baixo dentro do bolso.

— É, pode ser uma boa ideia.

Ele dirigiu até em casa.

Mandei uma mensagem para a Catarina perguntando se estava tudo bem, mas ela não me respondeu de imediato.

Eu estava pronta para dormir, mas Max queria porque queria que eu lesse pelo menos mais um capítulo para ele da história.

Nós já estávamos na metade da história agora.

**

No domingo de manhã, logo após o café da manhã decidi que iria me arriscar um pouco. Entrei na mata e tentei encontrar o lago sozinha. Eu precisava desse tempo com a água. Precisava me reconectar com o Andrew através de algo que ele amava muito.

Eu andava muito confusa ultimamente, com o coração muito apertado e dividindo, só não sabia exatamente o porquê. E tinha medo de entender, de buscar respostas. Eu só queria me acalmar um pouco, esvaziar a cabeça e relaxar um pouco o corpo.

Demorou, mas acabei encontrando o que tanto queria.

Lá estava ele, calmo e sozinho.

Tirei a blusinha e entrei com meu shortinho de malha.

Me deixei levar, nadei um pouco e boiei tranquila, de olhos fechados.

Por sorte, o sol não estava tão forte.

Quando abri os olhos decidida a dar uma pausa e voltar para terra firme, eu o vi lá parado, sentado, esperando por mim.

Andrew?

Ele estava sorrindo e acenando na minha direção, parecendo muito contente por me encontrar aqui. Tão bonito quanto sempre foi, com sua pele bronzeada e seus cabelos castanho mais claros por conta do sol.

Mas espera aí... isso não pode ser mesmo possível, pode? Eu estou tendo um tipo de alucinação. Só pode ser. Fechei os olhos de novo e balancei a cabeça de um lado para o outro. Não estava pronta para voltar para a realidade, mas era necessário. Eu sabia que sim.

Eu estava certa: não era de verdade. Não era o Andrew que estava ali sentando me olhando. Era o Max. Mas como...?

— Te achei.

— Você estava me procurando?

— Sim! Eu fiquei bem preocupado, pois você não me avisou que viria para cá dar um mergulho.

— Desculpe, não achei que fosse necessário. – Sorri sem jeito. — Mas como você adivinhou que eu estava justamente aqui?

— Eu te procurei por toda parte. E o carro estava lá fora no mesmo lugar, você não o pegou para ir a cidade. Então, eu deduzi que...

— Você foi esperto.

Ele sorriu, satisfeito.

— Você decorou o caminho até aqui. – Observou ele, enquanto tirava a própria camiseta preta com o nome de uma banda antiga e totalmente desconhecida para mim.

— Na verdade, não. Eu me perdi um pouco, mas acabei me encontrando. Até que não é difícil.

Ele entrou na água também.

— Agora você pode vir aqui sozinha sempre que quiser, mas não acho que seja muito aconselhável.

— Por causa do bebê? Ele não me torna incapaz!

— Eu sei! Mas pode haver complicações.

— Eu posso gritar.

— E as pessoas podem não te ouvir.

Sinceramente, eu não estava no clima de discutir isso com ele. Principalmente agora, que eu estava bastante decepcionada com o fato de realmente não ter visto o Andrew sentado ali na pedra.

Tudo isso é tão frustrante!

— Você sabe boiar?

— Claro que sei! Seu irmão me ensinou tudo!

Ele sorriu, brincalhão.

— Nossa, desculpe...

Pelo visto ele estava de bom humor hoje.

Boiei só para ele poder ver.

— Agora feche os olhos. – Pede ele.

— Porque?

— Só confia em mim.

Confiar? Não sei se já estamos nesse nível de amizade...

Fechei mesmo assim.

Senti um certo choque quando ele pôs as duas mãos enormes em baixo de mim, dentro da água, apoiadas em minhas costas.

Ele me movimentou lentamente.

Foi esquisito no começo, mas depois que eu peguei o jeito até consegui relaxar e me permitir ser guiada por ele e por seus sutis movimentos.

Essa era a tranquilidade que eu estava precisando.

— Isso foi bom. Obrigada. – Disse eu, já saindo da água e tirando o excesso de água dos meus cachos rebeldes.

— Eu vi na internet que seria bom.

— Você anda pesquisando esse tipo de coisas na internet? Por minha causa? – Eu estava chocada demais para acreditar.

— É, eu quero estar preparado para quando a minha sobrinha nascer.

Eu ri.

— E se for um sobrinho?

— Vou amá-lo de qualquer jeito. Independentemente do sexo, eles sentirão orgulho do quanto de coisas que eu aprendi sobre bebês em tão pouco tempo.

— Uau. Isso é impressionante! – Coloquei minha blusa. — Bom, vamos voltar? Estou faminta! Hoje o almoço é por minha conta.

Enquanto deixei o assado no forno, subi para tomar um banho quente e colocar uma roupa leve que deixasse minha barriga estufada mais à vontade. Fiz um coque devido ao calor.

— O cheiro está bom. – Comento Max, também de banho recém tomado. Dava para sentir o cheirinho do seu perfume meio amadeirado, era como estar numa floresta mágica.

Esperei mais alguns minutos e servi.

— Eu queria fazer um desenho seu. – Comentou ele quando já estávamos lavando e secando a louça suja do almoço.

— Ah, pode ser...

Eu me sentei no sofá da sala de maneira confortável e ele sentou-se na outra ponta com seu caderninho em mãos.

— Isso pode demorar um pouco. – Ele coçou a cabeça com a ponta do lápis. — Você está bem assim? Não poderá se mexer muito.

— Estou ótima. – Sorri.

Eu estava ansiosa, seria a primeira vez que me desenhariam.

— Eu vou começar, pronta?

— Pronta.

Ele começou me olhando quase sempre com certa intensidade, acho que para analisar melhor os detalhes e depois com precisão ele desenhava. De onde eu estava não conseguia ver nada ainda e eu bem que gostaria de dar uma espiadinha, só que pelo visto eu teria que esperar até estar tudo pronto.

Não me mexi muito, apenas quando necessário e fiquei calada, para não tirar a concentração dele.

Parecia importante.

Lá fora, o céu já estava ganhando suas primeiras estrelas.

— Estou quase lá...

Senti então um cutucão.

— Ai meu Deus!

— O quê? O que foi?

Ele largou o caderninho, preocupado.

— Aconteceu uma coisa. Aqui dentro. – Apontei para minha barriga.

— Será que é grave? Devemos ligar para uma ambulância? Ou talvez ir para o hospital? Eu não li nada relacionado a isso...

— Não... – Eu sorri, adorando a fofura dele. Eram raros esses momentos. — Não precisa se preocupar. O bebê só está...

Peguei a mão dele e coloquei sobre minha barriga.

— Sente? Ele está se mexendo pela primeira vez.

Foi como se eu tivesse colocado ele para segurar uma cobra. Sua expressão era de puro espanto. E aí a cobra se mostrou dócil e inofensiva, foi quando ele começou a sorrir muito.

— Isso é incrível! – Ele se aproximou mais, sem tirar as mãos.

Minha barriga mais parecia uma bola de cristal. 

Eu olhava para ele.

— É tão bom, não é?

Coloquei minha mão sobre a dele.

Ele me olhou e eu continuei olhando para ele, sem desviar o olhar. Ele também nem piscou. E juntos, ao mesmo tempo, fomos de encontro um ao outro e nossos lábios se uniram no meio do caminho.

No exato momento em que abri a minha boca, todas as luzes da casa se apagaram. Faltou energia. Ainda com as bocas coladas, nós sorrimos, achando graça da situação. Mas durou pouco. Senti sua mão no meu pescoço e sua boca preenchendo a minha.

Nós nos beijamos por um tempão.

— Olá! – Ouvimos uma voz e nós nos desgrudamos no mesmo instante, apavorados.

Bom, eu não sei ele. Mas eu estava apavorada agora.

— Porque está tudo tão escuro aqui? – Era Catarina.

Ela ligou a lanterna do celular e apontou para nós, que a essa altura já estávamos bem longe um do outro, tentando disfarçar o quando estávamos em choque com a repentina aparição dela.

— Onde está Isabeli? – Max foi o primeiro a dizer alguma coisa, quebrando a tensão entre nós dois.

— Está lá fora se despedindo do pai. Ele, gentilmente, veio nos deixar em casa.

— E como foi? – Perguntei.

Ela se sentou próxima a mim.

— Foi bem tranquilo. Como já era de se esperar, ela adorou ele e ele, bom, ele adorou poder finalmente conhecer ela.

— Eu vou ver o que aconteceu com a nossa energia. – Max se retirou.

— Não tem nada decidido ainda, mas pelo visto os dois vão querer se ver ainda mais vezes e eu não vou impedir.

— Isso é maravilhoso, Catarina! – Eu a abracei, orgulhosa de certa forma. — Isabeli tem sorte de ter uma mãe como você.

— É, ela tem mesmo. – Ela levantou-se, sorridente. — Estou muito exausta e tenho que acordar cedo amanhã, então...

— Tudo bem. Vá descansar.

Voltei a ficar no escuro, só que dessa vez sozinha.

Se me perguntasse o que foi que acabou de acontecer aqui entre Max e eu poucos minutos antes de Catarina aparecer, eu não saberia responder. Foi instintivo. Foi de repente. Apenas aconteceu. E eu não acho que há uma resposta para isso. Pelo menos não nesse momento.


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Notas finais do capítulo

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