As Vantagens de Ser Um Garoto escrita por Gynger


Capítulo 3
Quem


Notas iniciais do capítulo

....



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/698897/chapter/3

— Foi Rowley. – murmurei. – Rowley estuprou ela.

O policial Evans nem piscou quando o barulho do metal da cadeira de Rowley batendo ao chão ecoou por toda a sala. O acusado contornou Matt e veio para cima de mim.

Eu permaneci imóvel, como se nem fosse comigo. O mesmo valeu para o policial Evans, que continuava me encarando.

Já Matt agiu de forma distinta, impediu que o monstro chegasse até mim.

— EU VOU MATAR ESSA VAGABUNDA! – berrava Rowley em fúria. – ME SOLTA, O’LAKES, ME SOLTA!

Pelo canto do olho, assisti Matt jogá-lo no chão em uma tentativa fracassada de imobilização. Rowley girou e imobilizou o próprio Matt embaixo de seu joelho, fazendo meu amigo gritar de dor.

No entanto, o incrível mesmo era o rosto impassível do investigador, e seus olhos azuis que não se desviavam dos meus. Me surpreendendo levemente, ele cruzou os braços e recostou na cadeira. Ainda me encarando com se analisasse cada detalhe da minha alma.

— Como o senhor sabe que foi o sr. Rowley, sr. Crayon? – indagou o policial Evans, seu tom de voz baixo, mas claro e sério o suficiente para fazer Matt e Rowley ficarem quietos de imediato.

— Ele estava sobre o corpo, com o zíper aberto e momentos antes houve uma briga entre os dois. – respondi de modo vazio.

Afinal, o que estava acontecendo? Eu estava assustada. Uma garota foi estuprada, eu a conheci cerca de meia hora antes do ato mas ainda assim...

Houve silêncio por um momento e então um baque sutil.

— Me solta, filha-da-puta. – era a voz de Matt enquanto este se levantava.

O policial moveu o maxilar, assimilando o que eu havia dito.

Matt sacudiu a poeira da roupa e sentou-se ao meu lado, limpando o sangue nos lábios com o torso da mão.

Rowley fez o mesmo, sentando-se ao lado de Matt.

— Foi horrível. – continuei, alterando-me. – Ele parecia um monstro e a expressão dele...

— Larry, pelo amor de Deus. Isso daqui não é o psicólogo, é a delegacia ainda. – interrompeu-me Matt, claramente irritado. – Guarde o trauma pro psicólogo.

O policial juntou as sobrancelhas e me encarou, completamente em silencio.

— O que eu tô querendo... – aumentei um pouco a voz.

— Qual foi, ninguém dá a mínima pro que você quer! – quem me interrompeu dessa vez foi Rowley. – Você só está repetindo de modo teatral o que eu e O’Lakes dissemos!

— Ninguém te perguntou nada! – retruquei subitamente zangada. – Seu estuprador nojento!

— Caralho... – reclamou Matt assim que Rowley levantou-se em fúria novamente.

— Se vocês três não pararem agora, vou coloca-los para se resolverem em uma cela.

— Então manda essa vadia parar de falar besteira. – Rowley apontou para mim, ainda em pé mas sem avançar.

— Eu não mando em nada. – retrucou o policial.

— Atah, – no entanto eu não podia deixar aquilo passar, a frustração aumentava em mim a cada segundo. – Você está dizendo que simplesmente foi “tirar uma água do joelho” e acabou encontrando a garota inconsciente? A gente viu vocês brigando!

— Está certo isso? – perguntou o policial olhando para Rowley, este que por sua vez ficou em silencio. – Responda o que estou perguntando, senhor Rowley. – o policial Evans apoiou os cotovelos na mesa e encarou Rowley. – O senhor brigou com a vítima horas antes do crime acontecer?

— Sim, mas...

— E vocês dois, senhores Crayon e O’Lakes testemunharam essa briga? – o policial o interrompeu. Alternando o olhar entre mim e Matt.

— Sim, senhor. – respondemos os dois juntos.

— O senhor nega o testemunho deles, senhor Rowley?

— Não, senhor.

O policial analisou Rowley atentamente, depois passou os olhos rapidamente por Matt, que estava no meio, e os parou em mim.

— É verdade que o senhor, senhor Crayon, estava conversando com a vítima horas antes?

— Sim, senhor. – respondi prontamente. – Ela pediu uma garrafa de vodca e depois saiu.

— Aí o senhor ficou? – ele balançou a cabeça como se aquilo fosse a coisa menos óbvia a se fazer no mundo. – Não foi atrás dela?

— Não, senhor. – também balancei a cabeça como se aquilo fosse a coisa mais óbvia a se fazer no mundo.

O policial Evans semicerrou levemente os olhos para mim. – Algo mais a declarar?

— Rowley. – murmurei. – Foi Rowley.

— Duvido! – protestou. – Aposto que foi você! Você que estuprou a minha namorada! Eu te vi dando em cima dela!

— Vocês não tinham terminado? Você até levou um tapa, pelo que eu bem me lembro! – retruquei revoltada. – Seu cretino nojento! – a voz de Rowley, que antes me causava pânico, agora me causava ódio e repúdio. Levantei-me furiosa e bati os punhos algemados na mesa. – Por que você não estupra a sua mãe, seu filho da...

— Senhor Crayon, o senhor está muito alterado. – o policial aumentou a voz, interrompendo-me. – Devo pedir que volte ao seu lugar. E se houve estupro ou não, ainda não foi confirmado.

— Mas é claro que houve estupro, a roupa dela estava toda rasgada! – retrucou Rowley assim que me sentei. – E aquela quantidade de sangue?

— É, e aquela quantidade de sangue? – inclinei-me para visualizar Rowley melhor. – O que você fez com ela? Esfaqueou?

Rowley levantou-se em fúria.

— Eu vou quebrar você, sua bicha...

— Acalmem-se! – gritou o policial levantando-se também e empurrando Rowley de volta à cadeira. – Desse jeito não dá! Nem crianças vocês são! Eu apenas concordei em refazer o interrogatório com os três juntos porque estavam acusando um ao outro. Se continuarem assim vou assumir os três culpados! Entenderam?

Ficamos em silencio enquanto o Evans voltava à sua cadeira.

— Então senhor, O’Lakes. – sua voz saiu ríspida. – Aonde o senhor estava no momento do crime?

— Eu estava com Evergreen e Black-Doyle. – Matt respondeu como se estivesse lendo um relatório sobre computação em voz alta, completamente inflexível. – Não vi de fato o Larry conversar com a Celina. Mas vi o Rowley brigar com ela e depois... no lixo...

— E por que está tão calmo, senhor O’Lakes? – perguntou o policial olhando-o com curiosidade.

 – Eu assisti... parte da briga. – Matt ergueu as mãos como se fosse “só isso”. – E vi o Rowley em pé perto do... corpo. O mesmo que Crayon.

— E o que te faz tão frio? O senhor não conhecia a vítima, Celina Justice? – o policial fez uma ponte com os dedos.

— Sim, de vista. – Matt deu de ombros. – Talvez tenhamos trocado uma ou duas palavras... Quero dizer, ela está viva, não está? Logo vocês vão encontrar o culpado e isso aqui não vai ter o menor sentido...

— Eu aposto que foi essa vadia que estuprou a minha namorada. Não foi você? – Rowley virou-se furioso para mim. – E agora está tentando me acusar!

— Nós sabemos o que vimos, seu monstro! – retruquei pronta para voar em cima dele. – Você estava com a porra da calça desabotoada! – gritei.

— Eu tinha ido mijar! Quantas vezes tenho que dizer? A porra do banheiro estava cheio! Quando tinha acabado de desabotoar eu vi o corpo da Celina! – agora nós dois estávamos gritando.

— Ah é, aí você “assustado” foi verificar se ela estava viva e virou ela de barriga pra cima, por isso está todo sujo de sangue. Vai contar história na cadeia, Rowley!

Rowley levantou-se e avançou em cima de mim. Matt se pôs entre nós dois e o afastou, não sem antes levar um soco no rosto.

O policial imobilizou Rowley rapidamente e mais dois entraram.

— Leve os meninos para a cela. – disse Evans.

— Olha só a porra que você fez! – gritou Rowley enquanto éramos arrastados pelos policiais.

— Eu fiz? Se você não tivesse estuprado a garota, não estaríamos nem aqui! – retruquei furiosa.

— Ela era minha namorada, seu retardado, eu podia foder ela a hora que eu quisesse!

— Então você fez isso porque ela te recusou! Ela realmente não merecia um traste como você.

— Eu aposto que ela te recusou no bar e você fez isso. – Rowley abaixou o tom para um rosnado. – Ela riu da sua carinha e da sua voz de piranha, assim você resolveu acabar com ela, não foi isso?

— Será que dá pra vocês dois pararem de se referir a ela no pretérito, a porra da garota ainda ta viva, caralho! – gritou Matthew.

O policial que me escoltava abriu uma das duas celas no salão, retirou minhas algemas e me enfiou lá dentro. Os outros dois policiais fizeram o mesmo com Matt e Rowley.

— Sério? – Matthew ergueu as mãos para os policiais. – Eles dois vão se matar aqui dentro. E o que realmente me preocupa é que vai acabar sobrando pra mim!

— Ah, é. Belo amigo você! – reclamei.

— Cala a boca, Larry! – rugiu Matt.

— Vocês três que se resolvam. – o policial Evans cruzou os braços. – Que o verdadeiro culpado sobreviva para confessar. – e assim ele saiu, desaparecendo dentro de uma das salas.

Os policiais que trabalhavam ali e transitavam nos olharam curiosos, mas logo perderam o interesse.

Havia apenas uma cama na cela e, tirando a gente, mais quatro caras. Dois negros altos, um com barba espessa com cara de homicida e outro com touca e cara de traficante. O china estava em um canto e no canto oposto um branquelo com roupas e cara de mendigos. O negro com cara de homicida que estava deitado na cama.

— Sejam bem vindos. – disse o branquelo. – Meu nome é Comrade. Qual o nome de vocês?

Rowley riu com escárnio. – Tá de brincadeira... – e chutou as grades da cela, gritando. – Eu vou processar vocês! Isso não vai ficar assim! Esperem só até meu pai...

— Cala essa porra dessa boca, Rowley! – gritou Matt empurrando o moreno para longe das grades.

Eu olhei assustada de um para o outro. Matthew nunca foi de se impor a nada, e ninguém nunca foi de se impor a Rowley.

— Eu acho que a gente ta um pouco... alterado. – falei quase me metendo entre os dois. Eu brigando com Rowley significava que eu poderia dar-lhe alguns murros e ele me dar uma coça, mas seria apenas isso. Matthew brigando com Rowley de verdade, ia dar merda. – Vamos nos acalmar, tá? É como o Matt disse, a garota tá viva. E nós não vimos o Rowley lá cometer o ato então não dá pra...

— Mas que porra é essa, primeiro você me acusa agora diz que não tem certeza? – Rowley virou-se para mim.

Cerrei a mandíbula e encarei ele.

— Eu tenho a mais absoluta certeza que foi você...

— Ei! – o negão homicida sentou-se na cama. – É por isso que relacionamento a três não da certo. Vão resolver esse casinho de vocês lá fora, eu estou tentando dormir aqui, porra.

 Como fiquei amedrontada, calei a boca. Os outros dois fizeram o mesmo. Já se foi por medo, eu não sei.

Frustrada, sentei-me com as pernas cruzadas em lótus de frente para as grades.

Rowley continuou no mesmo lugar, observando os policiais que iam e vinham. Em um surto repentino de fúria, ele esmurrou a grade.

— Meu pai vai me foder. – resmungou.

— Pensasse nisso antes de estuprar a garota. – retruquei no mesmo tom.

— O quê? – o negão levantou-se da cama. – Quem estuprou quem?

— Puta-que-pariu! – reclamou Matt me fulminando com os olhos. Dei de ombros levemente e movi silenciosamente os lábios em um inocente “o quê?”.

— Eu tenho quatro irmãs. – o negão veio para cima de Rowley.

— Gente, acalme-se. – levantei-me, nervosa. – Tá tudo bem, ninguém aqui estuprou ninguém.

— Fica quieta, mocinha. – o traficante aproximou-se de mim.

— Eu não sou...

— Esse cheiro refrescante de remédio cicatrizante e chá de hortelã. – o traficante me pressionou contra as grades. – Rostinho lindo...

— Ei... – Matt tentou afastar o cara de mim.

— Tira a mão de mim, ô branquelo! Ou vai rodar você e a sua mina.

— Ele parece sim uma garota, mas não é. – Rowley preferiu se meter com o traficante do que com o homicida. –  Peraí, gente...

Baguncei meus cachos e forcei a voz.

— Ele está certo. – só percebi o quão estúpido e inútil foi aquilo depois que as palavras saíram da minha boca.

— Se você é homem então eu sou um gorila, garota. – o traficante empurrou Rowley e Matt de uma vez, voltando a me pressionar bruscamente contra as grades. – Que tal tirarmos essa sua bermuda, independente do que você seja o resultado será o mesmo.

— O quê, você vai me estuprar com tanto policial em volta? – indaguei, irritada. – Legal, agora estou numa cela com um bando de estupradores!

— Ninguém estuprou ninguém! – gritou Matt, revoltado.

— Ah, é? E onde você estava quando a Cel saiu de perto do Crayon? – gritou Rowley esquecendo-se de sua própria encrenca e contornando o homicida, que insistia em cerca-lo, para peitar Matt. – Eu achei essa sua historinha muito mal contada!

O traficante pegou em meu queixo repentinamente. Levei um susto tão grande que gritei e dei-lhe um chute entre as pernas. O homem uivou e caiu de joelhos no chão, exatamente como Rowley duas horas atrás.

E, exatamente como duas horas atrás, contornei o homem no chão e me escondi atrás de Matt.

— Sua vadia! – gritou o traficante.

— Que tal vocês três descobrirem como é ser estuprada? – perguntou o homicida puxando Rowley pelo colarinho.

Os três começaram a falar ao mesmo tempo e o traficante a gritar, me xingando. Logo ele se levantou e veio até mim, agarrando minha camisa tentando arrancá-la de meu corpo.

Gritei, e ao tentar livrar-me de seu toque fui de encontro a Rowley, que me segurou para não acabar caindo também.

Eu tinha noção do quão maior que eu Rowley era, mas o fato de minha testa não passar de seu peito me assustou um pouco.

Entretanto a surpresa não durou muito pois ele me empurrou quase que com um soco no ombro.

O negão homicida foi direto pegando Rowley novamente pelo colarinho.

— Não se sabe se foi um de nós aqui que estuprou a garota. Ou se eu sou uma garota. – olhei de soslaio para Rowley ao dizer isso. – Mas é fato que nós três temos dezesseis anos.

Ao ouvir nossa idade o homicida soltou Rowley imediatamente.

— Eu tenho dezessete, sua vadia. – resmungou o moreno, vindo para perto de mim.

— Grande coisa. – retruquei.

Ele me olhou curiosamente de cima a baixo.

— Matthew O’Lakes, – a voz de um dos policiais surgiu atrás de nós. – Larry Crayon e Nathaniel Rowley. Vocês estão liberados.

Meu tio veio falar comigo pessoalmente enquanto os outros dois conversavam com seus respectivos advogados.

Contei tudo o que eu sabia ao meu tio e à advogada enquanto estávamos a caminho do colégio.

— E os outros meninos? – indaguei. – O que vai acontecer com eles?

— Ainda não foi decidido. – respondeu meu tio. – Por enquanto vocês estão apenas sendo acusados de estupro. Até as investigações serem concluídas isso terá que ficar sob sigilo.

Fiquei em silêncio até chegarmos à escola. “Apenas”? Aquilo só podia ser brincadeira.

Já era quase cinco horas da manhã e estava tudo cinzento. A minha sensação era de que Celina realmente houvesse morrido.

— Tio... – comecei. – Na cela, aconteceu algo... quero dizer, acho que Rowley...

— Venha, sai. – ordenou meu tio sem me dar a menor atenção. – Vá para o seu quarto e espere até solicitarmos sua presença.

Frustrada, obedeci. Tomei meu banho, vesti meus pijamas e reapliquei pomada em todas as feridas. Deixei a janela aberta ao ir deitar-me. Não queria ficar no escuro, lembrava-me Celina e aquela cela e o quão perto estive de... de quê?

Estremeci ao pensar no que poderia ter acontecido comigo naquele lugar. E só agora eu percebia a gravidade da situação.

Não sei quando dormi. Mas sei que quando acordei com batidas um tanto violentas na porta, eu estava morta de cansaço.

— Mas que drog... – parei de falar assim que dei de cara com meu tio.

— Vista-se. – disse ele entrando no meu quarto.

Catei meu uniforme e me enfiei no banheiro para coloca-lo. Assim que chegamos na diretoria, levei um leve susto ao encontrar o diretor, o policial Evans, Rowley e seu pai.

Estavam todos sentados e o que mais parecia relaxado era o policial.

— Senhor Crayon. – ele me cumprimentou.

— Policial Evans. – cumprimentei de volta. – Aonde está Matthew?

— Foi para casa. – respondeu meu tio.

— Sim. – o diretor virou-se para o pai de Rowley. – O senhor ainda pode levar...

— Não! – o senhor Rowley foi bem objetivo. – Não vou chegar com um filho estuprador em casa.

— Eu não estuprei ninguém!

— Cale-se! – disse furioso, o senhor Rowley. Agora eu podia entender de onde meu bully tirava todo seu instinto assassino.

— Como vocês dois não podem ir para casa. – continuou meu tio inflexível. – Vocês dois vão compartilhar o mesmo quarto.

— O quê? – virei-me para ele. – E o garoto novo?

— As únicas vagas livres estavam com vocês dois. – explicou o diretor. – E não podemos colocar o garoto novo com um estuprador, seja um ou outro... também não podemos arriscar nenhum dos outros estudantes.

Sentei-me quieta no sofá ao lado do policial e, pela primeira vez, ousei olhar para Rowley. O moreno mantinha seus próprios olhos baixos.

— Bem, é isso. – meu tio pousou a mão em meu ombro. – Larry, está dispensado. Rowley você pode ir arrumar suas coisas.

Nós dois saímos juntos da sala do diretor. Rowley foi para seu antigo corredor e eu fui para o meu quarto.

Agora eu seria o brinquedinho que dormia na cama acima. Pior, eu tinha certeza que aquele delinquente iria fazer o que quisesse de mim. E se ainda descobrisse, quando descobrisse, que eu era uma garota iria acabar me estuprando como fez com a própria namorada.

No que diabos meu tio estava pensando? Se os outros garotos não podiam ficar em um quarto com um estuprador, eu sendo uma garota podia?

Choraminguei silenciosamente, limpando a parte direita do guarda-roupa.

A porta do meu quarto se abriu e Rowley entrou de mala e cunha.

— Vou ficar com a cama de baixo. – avisou ele.

— Tanto faz. – respondi, desanimada.

— Você pode aproveitar para arrumar minhas roupas no guarda-roupa. – continuou ele já tomando posse de sua cama, espreguiçando-se em todo seu comprimento. – Sei que garotas são boas nisso.

— A gente podia tentar conviver em paz, certo? – indaguei afastando-me do guarda-roupa e pairando ao seu lado, de braços cruzados.

— Do que essa bichona nojenta está falando? – Rowley sentou-se e me encarou.

— Eu não fui o único que quase acabou sendo estuprado naquela cela. – retruquei, firme.

— Novamente com o assunto de estupro. – ele levantou-se furioso. – Essa é a sua palavra favorita, não é? Quantas garotas você estuprou, hein, Crayon? – ele me empurrou violentamente com a palma da mão.

— Eu não estuprei ninguém. E tenho certeza...

— Porra nenhuma, sua vadia! – Rowley cerrou os punhos pronto para me acertar.

Corri assustada para perto do banheiro, mas antes que eu pudesse abrir a porta ele me alcançou e me pressionou contra a madeira fria.

Discretamente coloquei minha mão entre meu peito e o abdômen dele, e fechei os olhos. Alguns segundos se passaram e o golpe não veio. Rowley cheirava àquele perfume francês que o namorado de Claire usava todo domingo. O que ele estava fazendo? Tentando me assustar? Se era isso, já havia conseguido no momento em que meu tio anunciara nosso destino.

Abri corajosamente os olhos e encontrei Rowley me olhando intensamente.

— Te vendo de tão perto... – sussurrou ele, sua mão alcançando meu rosto. O cheiro de seu perfume, somado ao cheiro de menta vindo de seu hálito, me deixaram tonta. De tão perto... e até com aquela gravata frouxa, Nathaniel Rowley não tinha uma aparência tão nojenta...

Agachei-me em um reflexo e fui até o guarda-roupa pegar meu pijama.

— Tivemos uma longa noite. Deveríamos tentar descansar, não acha? – tentei fazer o tom mais casual possível.

Rowley juntou as sobrancelhas mas não replicou. Foi logo para sua cama. Sem mesmo trocar o uniforme ou qualquer coisa do tipo.

Quando saí do banheiro, ele roncava levemente. Tive um pouco de dificuldade para subir na beliche. Mas assim que o fiz, apaguei de imediato.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

.....