Por que ele era incapaz de compreender sentimentos tão abundantes em seu coração? Até pouco tempo, ser frio e afastar Sakura com todas as formas cabíveis era algo fácil para Sasuke. Talvez se arrependesse disso. Parecia que suas tentativas de evitá-la e sua ausência finalmente a retiraram de seu caminho, empurrando-a para outro. Talvez se arrependesse de ter voltado. Se continuasse sozinho e a deixasse livre, pararia de pensar nela como estava pensando; entretanto, ele sabia que esses sentimentos começaram a transbordar devido a sua evolução de um garoto vingativo e frio, para um homem solitário cuja fome por amor só poderia ser saciada por aquela que lhe entregou seu coração.

 Sasuke sentia raiva de si mesmo por estar se sentindo tão fraco e incapaz devido ao sentimento que desenvolveu — e estava alimentando, por Sakura.

À noite, quando retornou para a casa de Naruto, passeou pela sala decorada com vasos de plantas em quase todo canto, reparou na parede e em suas tonalidades verdes bem claras vagamente iluminadas pelo branco dos postes da rua mesclando-se à escuridão. A casa estava em silêncio. Com certeza o casal já estava adormecido... Ou quase.

No momento em que se sentou no sofá, ouviu Naruto se aproximar.

— Espero que o motivo da sua demora para voltar tenha sido a Sakura-chan. — Falou o Uzumaki. Sasuke permaneceu em silêncio olhando para o amigo com um rosto fechado.

— Eu vou partir amanha cedo. — Sasuke enunciou, surpreendendo o companheiro.

— Ah, fala sério, Sasuke — Naruto coçou a cabeça, nervoso — Na hora de tentar me matar você tem uma determinação do caramba, mas na hora de tentar conquistar a Sakura-chan, você amarela?

— O que você quer que eu faça? — O Uchiha estava quase no limite — Sakura parece feliz com aquele novo amigo dela. Eu não faço diferença nenhuma aqui.

— Hein? O Hyouko? — Naruto ficou surpreso e logo em seguida caiu na risada. Sasuke ergueu a única sobrancelha visível em seu rosto. Achou a reação do amigo curiosa diante a situação.

— Você está com ciúmes do Hyouko?! — O loiro concluiu — Ah Sasuke, cai na real! Sakura não dá a mínima para ele. — Naruto sentou-se ao lado do moreno e apoiou a mão direita nas costas dele

— Eu não estou com ciúmes. — o moreno tentou livrar-se das mãos do amigo.

— Ah, acredite, é ciúmes sim. — O Uzumaki assegurou — Eu tive que passar muito por isso pra estar aqui te dizendo isso.

Sasuke fingiu ignorar a constatação do ex companheiro de time.

— Faz o seguinte: Em alguns dias, terá um festival aqui na vila, eu tenho quase certeza que esse bastardo branquelo já convidou a Sakura-chan. Confie em mim, fique aqui até o festival chegar e depois surpreenda a Sakura-chan durante o evento, se você for gentil, ela vai deixar aquele branquelo na hora, tenho certeza.

— Então, eu vou simplesmente chegar até eles e pedir pra ela deixá-lo sozinho e vir comigo? Isso é realmente o tipo de idiotice que só você faria.

— E você pretende fazer o que? — O loiro questionou — Deixar Sakura-chan ficar com outro? Antes de namorar a Hinata, um maluco seqüestrou a irmã dela e forçou ela a se casar com ele, eu desisti do mesmo modo que você está desistindo agora, então Sakura-chan abriu meus olhos e me fez ir buscá-la, NO MEIO DA DROGA DO CASAMENTO.

Sasuke fitou brevemente os olhos do amigo e observou a determinação que jamais teria para algo tão puro como o amor.

— Você acha que estou fazendo isso por você? — Naruto ressaltou — Estou fazendo pela Sakura-chan. Ela sempre lutou por você. Vai ser uma injustiça se você desistir na primeira vez que quebra a cara.

 O moreno não botava fé nas palavras do amigo, mas a imagem de Sakura veio a sua cabeça, poderia dar certo, Sasuke não tinha mais nada a perder.

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Duas semanas mais tarde, Konoha estava preparada para um típico festival de inverno. A neve continuava caindo delicadamente sem cessar sobre as barraquinhas nas ruas com diversas atrações diferentes que iluminavam a cidade com pequenas lamparinas e lanternas de papel.

Em todas as esquinas, era possível ver um pequeno cartaz informando a queima de fogos de artifício que haveria naquela noite e mais atrações.

Sakura estava bastante animada. Achou melhor ter ido com vestes mais casuais do que com um yukata, estava frio demais e ela preferia ficar aquecida. Hyouko a perseguia pelas ruas apenas fazendo suas vontades, sentia-se bem estando ao lado da colega e por mais que ela dispensasse todas as cortesias, o rapaz insistia em fazê-las.

Só na ultima hora, Sakura havia provado dez doces diferentes e apreciado todos eles, divertindo o médico.

Quando cansaram, sentaram-se em um banco de madeira rústica posicionado em frente uma cerejeira (ou o tronco de uma) ao lado de um parque completamente decorado para a ocasião. Enquanto conversavam, sentiram um doce cheiro de chocolate, caramelo e maçã vindo de uma barraquinha ao lado. Sakura ficou em transe. Percebendo os olhos da amiga para os doces da barraca, Hyouko levantou-se e seguiu até lá a deixando só.

Normalmente, Sakura o impediria de fazer isso, mas estava tão hipnotizada com as guloseimas que não lembrou nem sequer de evitar a situação.

Enquanto viajava pelo mundo dos doces, ouviu alguém pronunciar seu nome bem na sua frente, retirando-a de seu mundinho açucarado.

— Sakura. — a voz falou.

— S-Sasuke-kun?! — a ninja enunciou — O que faz aqui?

— Vamos ver os fogos. — o moreno falou sério e glacial, arrepiando-a com seu olhar inexpressivo.

— Mas eu estou acom...  — enquanto falava, a ninja teve o braço puxado por Sasuke que a arrastou até um beco que interligava o acesso à praça até a ponte sobre o rio onde queimariam os fogos — O que está acontecendo?

— Eu estava entediado, aquele bastardo me forçou a vir e agora desapareceu. — o Uchiha explicou.

— Eh... Sim, mas... Por que me trouxe aqui? — a rosada interpelou.

Pensei que você estava com ele foi a única resposta que o ninja conseguiu formular naquele momento. O plano era se aproximar calmamente e perguntar se ela gostaria de assistir aos fogos com ele, mas tudo foi por água a baixo depois da atitude completamente ridícula de arrastá-la para a ponte sem lhe dar uma única satisfação.

— Oh, não. Eu estou com um colega de trabalho. — A médica sorriu gentilmente e fez um pequeno gesto com as mãos enquanto dava passos para traz — Ele deve estar me procurando agora também...

— Apenas um colega?

Sakura parou e o encarou desentendida.

— Por que a pergunta? — respondeu.

— Ele parecia um pouco mais a vontade com você no seu apartamento.

A ninja o observou um pouco mais séria e curiosa.

Como ele sabia que Hyouko esteve em seu apartamento? Ele estava observando-a?

— Eu estive lá. — O moreno andou até a grade de madeira que cercava a ponte e recostou-se sobre a mesma — Ele não lhe contou?

Rapidamente a lembrança da visita estranha em sua casa veio a mente de Sakura, enchendo-a de curiosidades.

Por que Hyouko não me disse que Sasuke foi me ver? O que diabos Sasuke foi fazer lá em casa?

— Ne... — A médica murmurou — O que foi fazer lá?

Sasuke gelou novamente, estava tão nervoso que não contava com a pergunta.

— Eu... Fui entregar uma mensagem de Naruto. — o moreno desviou o olhar com medo de que ela reconhecesse a mentira.

— Uma mensagem? — a rosada colocou a mão sob o queixo tentando se lembrar de algo que Naruto tenha dito, porém se virou ao ouvir alguém chamar pelo seu nome.

— Sakura-san! — Hyouko falou, não muito perto, com duas maçãs caramelizadas, uma em cada mão — O que está fazendo com ele? Achei que tinha fugido de mim.

— Oh, Hyouko. — a garota murmurou — Ele só veio me dar uma mensagem, ne, Sasuke-kun?

Sasuke olhou para ele. O médico fingia um sentimento de desentendido. Parecia ser a primeira vez que o via pessoalmente. Aquilo fez Sasuke querer quebrar seus dentes.

— Não era nada importante. — o Uchiha relatou — Nós já resolvemos.

Assim que terminou de falar, o Uchiha deu as costas para os médicos e seguiu andando.

— E - Espere Sasuke-kun! — Sakura gritou — Você não quer ver os fogos conosco?

Sasuke sequer virou o rosto, apenas levantou um braço enquanto ainda caminhava e acenou.

Não consigo olhar no rosto desse desgraçado nem por mais um minuto.

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Ainda na ponte, Sakura começou a pensar na noite que passou com Sasuke (que sequer lembrava) e pensou que a visita poderia se tratar disso. Acabou ficando furiosa com a atitude do amigo e aproveitou a oportunidade e resolveu perguntar ao colega sobre.

— Ne... Hyouko... Por que não me contou que Sasuke esteve lá em casa?

— Eh? — O rapaz murmurou, fingindo não entender a pergunta.

— Quer que eu refresque sua memória? — a ninja questionou nervosa com o ocorrido.

Hyouko a olhou nos olhos, ela parecia estar falando sério dessa vez, o que o assustou. Ele era um ótimo ninja, mas jamais poderia enfrentar a fúria de Sakura. Resolveu ser sincero.

— Eu não queria que você o visse. — respondeu — Eu não gosto dele. Tenho a sensação de que vai machucá-la a qualquer momento.

— Você não deveria ter feito isso. — A médica enunciou — Ele é meu ex-companheiro de time e está mudado. Nunca me faria mal.

— Não estou falando desse tipo de mal, Sakura-san. — explicou o médico — Estou falando dos seus sentimentos por ele. Depois de tudo o que houve você ainda acha que ele vai vir pra você com o coração aberto?

Sakura ficou surpresa com as palavras do companheiro. Hyouko nunca se pronunciou muito sobre isso. Ela sabia que ele não ia com a cara de Sasuke, mas não imaginava que ele o detestasse tanto assim.

— Dá pra ver que você ainda o ama e isso me parte o coração. — ele declarou.

— O que quer dizer? — Sakura deu um passo para traz, imaginando o fim da história.

— Eu estou apaixonado por você, Sakura. Não é brincadeira dessa vez. Desde a academia, eu venho observando você.

— O que...? — a ninja estava sem ações.

O que faria agora? Ele não era como Naruto. Não saberia ao menos conversar com Hyouko depois de ouvir tal coisa.

— Éramos de classes diferentes, mas eu sempre te observava. Desde quando as crianças a afastavam por causa de sua aparência até hoje em dia. Eu não esperava te dizer isso dessa forma tão grosseira, mas... Com a volta do Uchiha, eu senti que não tinha escolha.

Sakura o fitou com um olhar triste e eles permaneceram em silencio por alguns instantes antes que ela dissesse algo.

— Ne, Hyouko... Eu sinto muito, mas eu já amo o...

Sakura foi novamente interrompida, dessa vez por uma bofetada no rosto.

Surpresa, ela levou a mão até a bochecha e sentiu a leve ardência que deixava seu rosto vermelho.

— Você por acaso é algum tipo de idiota? — Hyouko a agarrou bruscamente pelos ombros e a olhou nos olhos — Está doente? Obcecada por ele? Um homem que te desprezou e já tentou te matar diversas vezes. É alguma louca?

— Hyouko... — Sakura, assustada, o olhou. Ele estava completamente fora de si e ainda sim, não deixava de ter razão.

— Desculpe. Eu... Não queria fazer isso. — O rapaz a soltou.

Ele cerrou os punhos e começou a andar, deixando a ninja sozinha, porém, parou um pouco a frente.

Não voltaremos a nos ver.