Sistermatics escrita por SweetAmmy


Capítulo 2
A nova Hollywood




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O ônibus deixou Twinbrook por volta das 16h. Annika usava um vestido branco com rendas e seus cabelos castanhos estavam soltos. Ela ouvia músicas em seu iPod enquanto imaginava como seria a vida de Helia e Britney. Sendo Helia uma empresária (por mais difícil que fosse de acreditar, ela havia abandonado os palcos e agora era editora-chefe da revista Monopoly), era muito provável de que era rica. Provavelmente ela e Britney viveriam uma vida glamorosa em um luxuoso apartamento bem no centro da cidade, fariam compras todos os dias, tinham 10 empregados diferentes que faziam tudo por elas, e ir à festas e bailes de gala era algo comum em suas vidas. "Uma garota do subúrbio vivendo como socialite...", pensava Annika, "Será que é fácil me acostumar?". Mas ela não estava preocupada com sua vida em relação ao luxo, e sim em relação á sua família. Ela queria abraçar Helia, pedir desculpas por ter tido rancor dela todo aquele tempo e dizer como havia sentido falta das brincadeiras com Britney. Apesar de que as duas já estavam bem mais velhas, obviamente trocariam as brincadeiras por outro tipo de diversão entre irmãs.

Algumas horas depois, ela avistou uma cidade iluminada, que parecia ser habitada apenas por celebridades de alto nível. Em um morro vizinho, uma grande placa fosforescente no estilo Hollywood fazia a atenção voltar-se toda para ela. "Starlight Shores", estava escrito. Os outros passageiros do ônibus olhavam para fora das janelas e faziam comentários sobre como a cidade era bonita. Minutos depois, o ônibus parou na rodoviária e todos desceram. Annika arrastou sua enorme mala até um táxi e disse:

— Por favor, poderia me levar até o prédio da revista Monopoly?

O taxista olhou-a de cima a baixo. Definitivamente, aquele não era o perfil de garota que normalmente iria procurar o prédio de uma revista de tal porte.

— Entrevista de emprego? — Ele perguntou com um olhar que dizia "Você não teria a menor chance de conseguir uma vaga lá".

Annika franziu o cenho. Tinha apenas 16 anos e ainda estava no ensino médio. Ela aparentava ser tão mais velha a ponto de um homem achar que estaria procurando emprego?

— Na verdade procuro uma pessoa. Ela trabalha lá. — A garota respondeu. Não achava necessário frisar que era filha de Helia Hanover e que procurava a mãe. 

O taxista deu uma risada grossa, porém sutil.

— São 9 da noite, o prédio da Monopoly já fechou há muito tempo.

— Então... Poderia me dizer onde posso encontrar Helia Hanover? — Annika tentou. 

O taxista olhou-a novamente de cima a baixo e ergueu a sobrancelha direita, lançando um olhar irônico. Annika não ousou discordar, ou revidar o olhar. Ela provavelmente também não era o tipo de garota que costumava procurar por Helia.

— Ela provavelmente deve estar em casa... Não, espere! — Ele parou, pensando um pouco. — Helia está fazendo uma reportagem sobre a vida das modelos e dos sócios da Boulevard Fashion Agency. Talvez queira ir até a sede da agência.

— Seria ótimo. — Annika agradeceu enquanto o taxista abria a porta para ela. Ela pegou sua mala e a colocou no banco de trás, depois sentou-se ao lado dela. Então algo lhe veio à cabeça: Como um taxista que ficava na rodoviária saberia exatamente onde uma empresária como Helia estaria? Bom, Starlight Shores, apesar de luxuosa, não era muito grande se comparada a outras cidades próximas. Talvez as notícias corressem rápido.

O táxi percorreu alguns quarteirões até chegar a Boulevard, uma enorme construção que mais parecia uma mansão do que uma agência de moda. 

— Aqui estamos. — O motorista disse ao estacionar. Annika abriu a porta e fez um pequeno esforço para tirar sua mala de lá.

— Muito obrigada. — Ela agradeceu, se abaixando na janela da frente para poder ver o motorista. — Quanto eu lhe devo?

— 23 dólares.

Annika arregalou os olhos e engoliu em seco. 

— 23 dólares? Mas você só percorreu 4 quarteirões!

— Aqui é Starlight Shores, minha filha. — Ele revirou os olhos, como se fosse óbvio demais. — Não é para qualquer um.

Annika suspirou e abriu o bolso da frente de sua mala para pegar o dinheiro. Para sua decepção, haviam apenas 14 dólares e alguns centavos. Mas como ela poderia saber que uma corrida de táxi era tão cara naquela cidade?

— E-Eu não tenho dinheiro suficiente... — Disse, um pouco envergonhada. — Eu não sabia que o táxi era tão caro por aqui!

— Bom, se não puder me pagar com dinheiro, então... Terá que ser de outra forma. — O taxista abaixou o olhar até a barra do vestido de Annika e depois voltou o olhar para ela com um sorriso malicioso. — Se é que me entende.

Annika levou alguns segundos para raciocinar. O que ele queria dizer com... Oh!

— Oh não! Isso nunca, você é louco? — Disse, em um tom ofensivo. Ele estava insinuando o que ela achava que ele estava insinuando?

— Você terá que me pagar de alguma forma, ou então chamarei a polícia. — O taxista ameaçou.

Annika não sabia o que fazer. Ela não conhecia nada sobre Starlight Shores, não sabia se seria detida por recusar-se a pagar um táxi.

— Por favor, deixe-me entrar e falar com minha mãe. Ela irá lhe pagar depois disso!

— Você é... Filha de Helia Hanover? — O taxista deduziu, se lembrando da mulher que Annika estava procurando e deu uma gargalhada maldosa. — Por favor, não espera que eu acredite nisso, não é?

Ela não tinha mais opções para tentar convencer o taxista. Em um momento de súbito, ela pegou sua mala e saiu correndo em direção á sede da Boulevard.

— Ei! Volte aqui! — O taxista gritou, enquanto saía do táxi e corria perseguindo-a.

"Droga", Annika pensou. Ela correu mais rápido, se atrapalhando um pouco por estar carregando a mala. Todos que estavam no hall de entrada olhavam para ela com cara de "De onde essa garota veio?", até que uma mulher chamou os seguranças. Agora eram 3 seguranças a perseguindo pelo prédio, além do taxista. Ela deixou a mala de lado enquanto tentava despistá-los, ainda precisava encontrar Helia antes que os seguranças a jogassem para fora. Annika conseguiu por algum tempo, até que trombou em um homem alto, que possuía cabelos negros e cacheados, e uma barba por fazer. Ele usava um terno preto com risca de giz e estava falando ao telefone com alguma pessoa, mas se virou para ela na mesma hora. Ele lançou um olhar surpreso, como se tivesse visto um fantasma, mas depois abriu um largo sorriso que Annika não conseguiu decifrar.

— Robert, falo com você depois. — Disse o homem, e então desligou o telefone, estendendo a mão para Annika se levantar. — Você está bem?

Annika segurou a mão do homem e se levantou.

— Estou. — Respondeu ela.

Nesse momento, os três seguranças chegaram e o taxista também.

— Está tudo bem por aí, Sr. McKinley? — Um dos seguranças perguntou. — Conhece esta garota?

— Está sim, eu a conheço. É filha de uma amiga minha. — O tal homem, Sr. McKinley, respondeu. Era impressionante como ele conseguia mentir rapidamente e sem gaguejar. Annika demorava alguns segundos para pensar em alguma coisa que não fosse tão absurda. — Podem ir embora.

— Mas, e eu? — O taxista se manifestou enquanto os seguranças se viraram para irem embora. — Essa menina entrou no meu táxi e agora não quer pagar a corrida!

— É mesmo? — McKinley se virou para Annika com um ar reprovador. Ela desviou o olhar, um pouco envergonhada. Se voltando para o taxista, continuou: — Quanto ela lhe deve?

— 23 dólares. — Respondeu o taxista.

O sr. McKinley tirou um bolo de notas de dentro do bolso da calça e puxou uma nota de 50 dólares.

— Fique com o troco. — Ele disse, entregando a nota para o taxista.

— Obrigado. Tenha uma boa noite, Sr. McKinley! — O taxista agradeceu, pegando logo a nota e indo embora dali.

Annika se virou para o Sr. McKinley, estranhando o bom comportamento de um estranho diante dela. Em Twinbrook, ela não recebia boas ações desse tipo nem de conhecidos, quanto mais de estranhos!

— Obrigada, Sr. McKinley.

— Por favor, me chame de Ivan. — Ele disse, guardando o bolo de notas novamente no bolso. — Qual o seu nome?

— Annika. — Ela respondeu.

— Bem, Annika... — Ivan começou, olhando Annika de cima a baixo. "Será que é um costume do povo daqui ficar olhando as pessoas desse jeito?", pensou a garota. — O que faz aqui, na sede da Boulevard?

— Eu estava procurando uma pessoa. Helia Hanover, o senhor a conhece? — Annika perguntou.

— Sim, conheço. Você é filha dela, eu suponho. — Ivan disse tranquilamente.

Annika arregalou os olhos. Aquele homem era vidente?

— Por que diz isso? — Perguntou depois de alguns segundos de silêncio. Talvez ele a tenha visto falar com o taxista que não acreditou nela, e agora estava testando-a de alguma forma.

— Você e a filha dela, Britney, são exatamente iguais. — Ivan respondeu. — No momento, Helia não está. Ela passou aqui um pouco mais cedo, deixou alguns papéis e foi embora porque tinha um jantar importante.

Annika soltou uma exclamação abafada. Helia não estava lá e nem estava em casa. Agora, só poderia encontrá-la no trabalho no dia seguinte.

— Onde fica o prédio da Monopoly Magazine? — Annika perguntou.

— A apenas dois quarteirões daqui. — Ivan respondeu. — Diga-me, Annika, você acabou de chegar aqui em Starlight Shores, não é? Se é filha de Helia e eu nunca te vi com ela, então eu suponho que este seja seu primeiro dia na cidade.

— Sim. — Respondeu ela.

— Onde pretende passar a noite?

Annika não havia pensado nisso. Ela pretendia encontrar Helia ainda naquele dia, e já ir para a casa dela. "Onde eu pretendo passar a noite? É, vou ter que me virar", pensou.

— Eu... Eu dou um jeito.

— Você não tinha dinheiro para o táxi, vai ter dinheiro para alugar um quarto em um hotel? Os preços são absurdos, só há hotéis 4 ou 5 estrelas em Starlight Shores. — Ivan disse, como se estivesse sugerindo algo.

"É, eu imaginei isso", pensou Annika.

— Se quiser, pode passar a noite no meu apartamento. — Ivan disse. É, ele estava mesmo sugerindo algo. — Lá tem quartos de hóspede. Meu sobrinho, Stephan, também mora lá.

Annika pensou um pouco. Passar a noite em um apartamento de dois homens sendo a única garota na casa? Não era sua ideia de noite ideal. Ela sempre fora muito desconfiada das coisas, e não era um estranho piedoso que iria mudar aquilo. Talvez ele só estivesse querendo ajudá-la porque conhecia sua mãe, Helia. Mas talvez não...

— Obrigada. Você já fez muito por mim. — Annika respondeu.

— Você não tem um lugar para ficar. Será apenas por uma noite e então amanhã eu te levo até o prédio da Monopoly Magazine. — Insistiu Ivan. — Sua mãe e eu somos grandes amigos, jamais faria algo com a filha dela, se é disso que está com medo.

— Não é... — Mentiu. — Eu sei me virar. De qualquer forma, obrigada!

Ivan respeitou-a e não insistiu. Apenas sorriu, admirando sua independência.

— Como queira. — Ele disse. — Vejo você depois.

— Até mais! E obrigada mais uma vez. — Annika acenou se despedindo enquanto percorria os corredores, tentando encontrar sua mala para sair dali.

A jovem arrastava sua mala enquanto andava pelas ruas de Starlight Shores, tentando procurar um lugar onde pudesse ficar para passar a noite. Ivan McKinley estava certo, aparentemente não havia nenhum albergue ou hotel simples por perto, o que a fez se desesperar um pouco. Ela não conseguiria ficar acordada até de manhã e a ideia de dormir na rua lhe dava arrepios. Em Twinbrook existiam muitos bandidos, traficantes, estupradores escondidos por aí, e em Starlight Shores não devia ser diferente. Será que ela deveria voltar e pedir para passar a noite no apartamento de Ivan? Pelo menos estaria em um lugar seguro...

"Melhor não", pensou. O fato de um estranho ser tão piedoso gera desconfiança. E desconfiança era algo que Annika tinha de sobra.

Haviam muitas pessoas nas ruas, provavelmente ainda nem eram 22h. Andar por aí por mais algum tempo até que pensasse em que lugar iria passar a noite não lhe parecia muito difícil. A única coisa que lhe incomodava era a fome. Ela não havia comido desde que saiu de casa, pouco antes das 16h e agora sua barriga roncava.

Ela entrou em uma lanchonete e perguntou o preço de um pastel assado. Não cometeria o mesmo erro duas vezes de procurar serviços sem saber o preço antes. Aquela era Starlight Shores, e se o táxi era caro, provavelmente as outras coisas também eram.

Para sua surpresa, a moça atendente, cujo crachá estava escrito "Flora Stanley", respondeu:

— 5 dólares.

Não era tão caro quanto ela pensou que seria, e ainda sobrava dinheiro para um suco natural, que Flora alegou ser 3 dólares.

Depois de comer (e pagar, é claro), Annika se dirigiu á porta. Antes, parou e se virou para Flora.

— Com licença, você sabe se há algum albergue por perto?

— Em Starlight Shores? — Flora ergueu as sobrancelhas, como se a pergunta não fosse óbvia demais.

"É claro que não", Annika pensou.

— Desculpe-me. É que acabei de chegar á cidade.

— Tudo bem. — Flora abriu um meio sorriso e depois foi atender outra mesa enquanto Annika saía da lanchonete. De qualquer forma, não lhe sobrara muito dinheiro depois do lanche. Mesmo que encontrasse um albergue, ela não teria dinheiro suficiente para pagá-lo também.

Annika andou mais um pouco, já bocejando de sono até que avistou algo ao longe, do lado oeste. Ela atravessou a rua e chegou a um parque para ver melhor: Ao longe, havia uma praia.

"Perfeito!", pensou ela. Praias eram tranquilas, escuras á noite (já que não havia postes de luz muito próximos) e ela iria acordar com o nascer do sol.

A praia não ficava muito longe do parque, Annika chegou lá andando em apenas meia hora. Não havia mais ninguém (o que era estranho, pois praias também ficavam cheias á noite. Talvez não em Starlight Shores...) e o tempo estava começando a ficar um pouco frio. Ela tirou sua toalha de dentro da mala e estendeu-a na areia, sentando-se em cima dela. Depois pegou um casaco para se esquentar um pouco e prendeu os cabelos em um rabo de cavalo para que a areia não os sujasse. 

Cuidadosamente, deitou-se sobre a toalha e ficou olhando para a lua cheia, ainda pensando em como Helia e Britney seriam e se ainda se lembrariam dela. Annika pensava em como as três seriam felizes reunidas novamente, como uma verdadeira família deve ser. Provavelmente ela iria ter que se acostumar com uma vida cheia de mimos, e torcer para que isso não a transformasse naquelas patricinhas mimadas que sempre foram alvo de sua repulsa. Deixando os pensamentos de lado, fechou os olhos e pegou no sono.

 

 

Como previsto, Annika acordou pouco depois do nascer do sol. Na noite anterior havia começado a chover, e Annika correu para debaixo de uma tenda armada na frente de um quiosque. Ela torcia para acordar cedo o suficiente para o dono do quiosque não chegar e vê-la deitada ali. Felizmente, seus planos deram certo.

Na praia haviam apenas duas garotas, uma loura e outra morena, usando minissaias iguais e biquinis combinando, que olhavam para Annika como se ela fosse uma mendiga. "Típicas patricinhas de Starlight Shores?", pensou ela enquanto se levantava e dobrava a toalha para guardar na mala.

— Belo vestido. Comprou em um brechó? — A morena disse, rindo com desprezo. A loira a acompanhou em uma gargalhada patética.

Annika simplesmente as ignorou. Será que todas as garotas desse lugar seriam esnobes como elas?

Aquele provavelmente seria o horário que os adultos estariam indo para o trabalho e os adolescentes para a escola, então as ruas estariam cheias. Ela não teria desculpas para não pedir informações sobre onde ficava o prédio da Monopoly. Annika olhou em seu celular, eram 6:40. Mesmo que Helia não chegasse tão cedo no trabalho, ela teria tempo suficiente para descobrir onde ficava o prédio de seu trabalho e andar até lá - caso fosse muito longe - antes que chegasse o horário do almoço.

Annika atravessou várias ruas até avistar o parque no centro da cidade. O mesmo em que havia estado ontem quando avistou a praia. De fato, haviam muitas pessoas andando por lá, com ternos e terninhos de trabalho, ou uniformes escolares impecáveis. "Bom... Mesmo que talvez essas pessoas olhem para mim do mesmo jeito que as esnobes da praia, eu preciso saber onde fica o prédio da Monopoly. O único jeito é perguntar!", Annika pensou, respirando fundo para atravessar a rua.

Apesar de estar na faixa de pedestres, uma ferrari preta (provavelmente de alguém que estava atrasado para o trabalho) passou a toda velocidade e quase a atropelou. Para não ser atingida, Annika ergueu a mala e correu bem rápido, trombando com um garoto que passava pela rua do parque. Os dois caíram.

— Desculpe! — Annika apressou-se em dizer, se levantando. O garoto tinha cabelos castanho escuros, olhos de um verde azulado e usava um uniforme azul, branco e vermelho. Todos os livros escolares que ele carregava caíram no chão, junto com sua mochila.

— Tudo bem... — O garoto respondeu meio sem jeito, enquanto se levantava e recolhia os livros. Annika o ajudou, notando o único livro que ele carregava e que não tinha o nome de uma matéria escolar na capa.

— Meu Deus! — Annika exclamou ao ver o título do livro. — Harry Potter e o Enigma do Príncipe é meu livro favorito da série!

— Eu também adoro. Estou lendo pela quinta vez! — O garoto disse.

— Eu li quarto. Mais duas e eu quebro o seu recorde! — Annika brincou, fazendo o garoto rir. — Me chamo Annika!

— Bruno Hemsworth. — Ele se apresentou. Annika achou estranho ele dizer nome e sobrenome, as pessoas de Twinbrook sempre se apresentavam apenas com o primeiro nome. Devia ser costume de Starlight Shores. — Prazer.

— O prazer é meu! — Annika sorriu. Era bom fazer amizade com uma pessoa que também gostava de sua série favorita de livros. — Ei! Você poderia me dizer onde fica o prédio da Monopoly Magazine?

Bruno olhou para ela como se a resposta fosse bastante óbvia. Claro! Starlight Shores não era tão grande, os habitantes sabiam onde ficava cada lugar. Mesmo assim, ele respondeu:

— Não é tão longe daqui. — Bruno olhou e apontou o braço na direção norte. — Fica há dois quarteirões, em frente ao salão The Cosmus.

Annika não sabia onde ficava, mas não gostava de ficar enchendo as pessoas com perguntas. Principalmente porque Bruno deveria ir para a escola e chegaria atrasado se ficasse ajudando-a demais.

— Muito obrigada! — Annika levantou a mala que ainda estava caída e seguiu seu caminho. Ele havia apontado na direção norte, então era só seguir até lá e tentar encontrar o salão The Cosmus.

Ela andou, andou mais um pouco, perguntando vez ou outra para alguma pessoa que passava na rua se estava no caminho certo. Em alguns minutos, ela estava de frente para um enorme prédio blindado com um enorme letreiro prateado em frente á porta principal escrito Monopoly Magazine.

No momento em que foi atravessar a rua para entrar no prédio, uma lamborghini passou bem em cima de uma poça de água - deixada pela chuva da noite anterior -, molhando Annika por completo. "Ah, incrível!", ela pensou com ironia. Não tinha um lugar para tomar banho e nem para trocar de roupa - e, é claro, ela não podia fazer isso no meio da rua. Mas não podia desistir agora. Ela não iria passar mais um dia dormindo na rua sem ver sua mãe. 

Ela tirou a jaqueta que colocara na noite anterior e começou a se limpar com ela enquanto atravessava a rua com rapidez, antes que outro carro a molhasse ainda mais. E, então, passou pela porta giratória da entrada e entrou no prédio.

O hall era amplo e lindo, e as pessoas que circulavam por ele também. Mulheres com roupas sérias e ao mesmo tempo modernas, homens usando ternos que pareciam dizer "Me respeitem, eu tenho poder". Perto de tudo aquilo, Annika se sentia um lixo. Mas não era a aparência que garantia a personalidade de uma pessoa, e ela podia demonstrar intelectualidade mesmo usando roupas tão sujas.

Ela pigarreou e foi até o balcão de atendimento, onde um secretário louro e magrelo atendia telefonemas sem parar. Em sua mesa, atrás do balcão, havia uma plaquinha escrito "Norman Frayor".

— Com licença. — Disse, colocando a mala a seu lado e tentando demonstrar a maior seriedade possível. — Helia Hanover se encontra?

Norman olhou para Annika com arrogância e apontou para o telefone, demonstrando que estava em uma ligação importante. "Desculpe", Annika sussurrou e esperou pacientemente Norman desligar o telefone para ter a conversa.

— Perdoe-me por lhe atrapalhar. — Annika começou novamente. — Helia Hanover se encontra?

— O que você quer? — Norman perguntou rígido, deixando a formalidade de lado. Provavelmente se achava na obrigação de tratar bem apenas os socialites e se perguntava o motivo de uma garota tão... "inapropriada" estar ali.

Mesmo que Norman não a tratasse com educação, Annika não iria descer do salto.

— Preciso falar com ela. — Disse, em um tom suave e amigável. — É um assunto muito importante.

— Desculpe, ela está em uma reunião importante e não pode falar com ninguém agora.

— Então quando poderei falar com ela?

— Numa próxima vida, possivelmente. — Norman a olhou de cima a baixo. Ótimo, já era o terceiro naquela cidade que fazia isso.

— Já sei o que está acontecendo. — Annika tentou levar na esportiva. — Você está me olhando assim porque não estou totalmente limpa.

Norman lançou um olhar de “Isso é mais do que óbvio!”.

— Acredite, eu não queria estar assim também. — Ela continuou. — Um carro espirrou água em mim e eu não tive tempo de passar em algum lugar para trocar de roupa.

— Senhorita, escute uma coisa: — Norman apoiou o braço no balcão para ficar mais próximo de Annika. — Não é da minha conta o que aconteceu com você. Eu apenas sugiro que vá embora. A sra. Hanover tem assuntos importantes para tratar e não pode perder tempo com uma garota qualquer.

— Garota qualquer? — Annika se irritou. Um secretário não deveria tratar todos de forma igual? — Eu sou filha dela e exijo falar com ela agora mesmo!

Norman riu de forma sarcástica.

— Sim, e eu sou filho do presidente!

— Estou falando a verdade! — Annika deu um soco no balcão. — Se não acredita, por que não a chama?

— Escute aqui, minha jovem. — Norman lançou um olhar ameaçador. — Se continuar insistindo e atrapalhando meu trabalho, eu vou ter que chamar os seguranças. Você me entendeu?

Annika recuou, devolvendo um olhar irritado. Ela não podia desistir agora que já estava no mesmo prédio que sua mãe.

— Tudo bem. Eu vou. — Ela disse, agarrando a alça da mala e virando as costas em direção á entrada. Quando já estava quase saindo do prédio, ela olhou por cima do ombro e viu que Norman havia desviado o olhar, atendendo o telefone novamente. Ela deixou a mala no chão e foi calmamente andando para o sentido oposto, fingindo estar fascinada com uma planta que enfeitava o hall. Ao perceber que Norman estava totalmente distraído, rapidamente começou a correr em direção a um elevador. Se Helia era editora-chefe da revista, então provavelmente seu escritório ficaria na cobertura.

— Ei! — Norman gritou, percebendo de súbito o que estava acontecendo. Ele apertou um botão no telefone em cima de sua mesa e disse. — Seguranças, temos problemas. Uma mendiga entrou no prédio.

Já estava virando hábito de Annika fugir de seguranças por entrar em algum lugar sem permissão. Mas agora, ao invés de três, eram cinco! Por sorte, conseguiu entrar no elevador antes deles e apertou o botão que levava á cobertura.

— Pela escada, rápido, rápido! — Annika ouviu uma voz grossa do lado de fora. "Que ótimo!"

Quando o elevador abriu, Annika ouviu os passos na escada ao lado. Eram os seguranças, e Norman estava com eles. Ela precisava correr para chegar á sala de Helia antes que a alcançassem.

Passando por um longo corredor, ela não via nenhuma sala com o nome de Helia na porta. Droga! Havia errado o andar. Mas como recuar, agora que havia uma equipe atrás dela?

— Lá está ela! — Annika ouviu Norman gritar. Todos os seguranças, juntamente a Norman, correram atrás dela. Annika tinha a vantagem de ser mais rápida, mas, com certeza não era mais forte. Se eles a alcançassem, não haveria escapatória.

Annika abriu a porta da primeira sala que encontrou pela frente e adentrou, encontrando um escritório arrumado, porém vazio. Logo em seguida, se escondeu atrás de um grande ficheiro e, em menos se um segundo, os seguranças entraram. Ela ficou escondida até que a porta estivesse totalmente livre para que pudesse sair. Quando isso foi possível, saiu correndo novamente em direção á escada para ir descendo os andares até conseguir encontrar Helia.

— HELIA! — Annika gritava, esperando que a mãe pudesse ouvi-la e dar algum sinal de vida. E então, avistou uma grande sala com janelas internas que iam do chão ao teto, permitindo uma visão completa do que estava acontecendo lá dentro. Era uma reunião, pela quantidade de pessoas que estava lá dentro. Annika passou os olhos por todas as pessoas que estavam na sala, até que notou, de costas, uma mulher de cabelos negros que usava um terninho vermelho escuro. Aquele cabelo se parecia muito com o de... Helia! Quando ela virou o rosto, Annika não teve dúvidas: Aquela era mesmo sua mãe.

Annika suspirou emocionada ao vê-la. Seu rosto era igual ao que ela se lembrava, apenas com algumas rugas próximas á região dos olhos. Tantos anos separadas, ela estava com uma saudade enorme!

— Você não vai fugir!

Ela virou o rosto em direção á escada e viu a equipe que a perseguia. Mesmo que fosse errado o que ela iria fazer agora, não iria perder a oportunidade agora que tinha finalmente a possibilidade de ficar frente á frente com sua mãe novamente. Não pensou duas vezes e abriu a porta da sala de reunião, invadindo-a e atraindo a atenção de todos os que estavam presentes.

Ela abriu a boca para falar, mas antes que qualquer som saísse, os seguranças agarraram seus braços, fazendo com que ela ficasse impossibilitada de se mover. Para impedi-la de falar qualquer coisa, um dos seguranças tapou a boca dela. Ela gritava, mas não adiantava nada. Até tentou morder a mão dele, sem sucesso. Que idiota mais persistente!

Norman entrou logo atrás, um pouco envergonhado por interromper a reunião de Helia. Ele lançou um olhar zangado para Annika e depois se voltou para Helia.

— Norman, o que foi dessa vez? Será que não percebe que estou um pouco ocupada? — Helia andou até ele. Sua voz não soava realmente impaciente, e sim um pouco constrangida.

— Mil desculpas, sra. Hanover! — Norman fazia força para não gaguejar. — A culpa é dessa garota, ela é louca! Invadiu o prédio dizendo que é sua filha, já ouviu coisa mais absurda? — Ele deu uma breve risada envergonhada. — Não se preocupe, os seguranças vão cuidar dela. Se quiser, eu posso até chamar a polícia!

Enquanto Norman falava, Helia fitou Annika, e esta olhou para ela. Quando seus olhares se encontraram, Helia soltou uma exclamação abafada.

— Espere um segundo. — Ela disse quando Norman acabou de falar, se aproximando da garota. — ...Annika?!

Mesmo com a mão tapando sua boca, ela conseguiu sorrir, aliviada por a mãe ter se lembrado dela. Por outro lado, Norman estava encabulado.

— V-você a conhece? — Ele perguntou.

— É claro que a conheço, ela é minha filha que mora com meu ex-marido! — Helia disse em um tom mais alto. — Que diabos estão fazendo com ela? Soltem-na agora!

Imediatamente, os seguranças o fizeram. Helia se voltou para Norman.

— Por Deus, Norman! Estou surpresa que não tenha notado a semelhança dela com a Britney!

— Ma-mas... As duas são tão... Diferentes! — Norman gaguejava, sem jeito.

— Blá, blá, blá, tanto faz! — Helia fez sinal para Norman se calar. — Acompanhe-a até meu escritório, lá tem um banheiro com ducha para que Annika possa se lavar. Pegue o meu cartão e compre uma roupa tamanho... 36? Ela não pode vestir roupas sujas assim. Agora, dê-me licença, por favor. Ainda estou em uma reunião.

Norman não disse nada, apenas assentiu e fez o que Helia mandou. Quando Annika acabou o banho, havia um vestido vermelho e uma echarpe com uma estampa colorida em cima da mesa da mãe, além de uma calcinha e um sutiã de renda. Por um momento sentiu-se um pouco constrangida por ter feito Norman comprar aquelas peças íntimas. Então levou a roupa para o banheiro e a vestiu. Esperou no próprio escritório até que fosse o horário do almoço de Helia, quando esta veio buscá-la e levá-la até em casa. No carro, não houve um diálogo muito longo, apenas algumas perguntas sobre o porquê de Annika estar em Starlight Shores e como estava Twinbrook. Ela contou sobre a notícia inesperada da morte de Marlon e que precisava reencontrá-la porque não queria morar com outra pessoa.

— Bom, você será bem-vinda. Estou tão feliz que você está comigo novamente! — Helia disse com alegria, poucos minutos antes de estacionar em frente á sua casa. Ao descer do carro, Annika ficou impressionada. Helia e Britney moravam em uma bela mansão, com arquitetura no estilo greco-romano. Se por fora ela era tão bonita, imagina por dentro?

— Britney já deve ter chegado da escola, e Edgar também. — Helia disse enquanto caminhava juntamente á filha em direção á entrada.

— Edgar? — Annika perguntou, curiosa.

— Meu noivo. — Respondeu Helia. — Ficamos noivos no mês passado, ele é um amor de pessoa e Britney o adora! Você e ele vão se dar muito bem!

As duas entraram na grande sala de estar, que mais parecia um cômodo de filme, e foram direto para a sala de jantar, onde o almoço já estava sendo servido. Havia apenas uma pessoa sentada à mesa: Britney.

Apesar de serem gêmeas, Norman estava certo: As duas não poderiam ser facilmente confundidas uma com a outra. O que era estranho, pois, quando pequenas, eram exatamente iguais. Britney usava o uniforme preto e verde de sua escola e seus cabelos aparentavam terem sido tingidos recentemente. Quando criança, Britney tinha o cabelo de um tom mais louro, mas agora ele estava preto e haviam apenas alguns reflexos louros de seu cabelo original. Apesar de diferente, ela estava muito bonita.

— Olá, querida! — Helia deu um beijo no rosto da filha, sentando-se na ponta da mesa de jantar e fazendo sinal para que Annika ocupasse o lugar á frente de Britney. — Lembra-se de sua irmã, Annika?

Annika tentou sorrir timidamente para Britney, mas esta não devolveu o sorriso. Britney a olhava com uma expressão confusa e ao mesmo tempo espantada, como se Annika estivesse usando as mesmas roupas sujas de antes.

— Não... Eu não me lembro. — Britney disse, calmamente.

— Ela vai morar conosco agora pra frente. — Disse Helia enquanto um empregado servia seu almoço. Britney franziu o cenho para Annika, mas não disse nada. Logo em seguida, deu de ombros e começou a comer.

Annika ficara por tanto tempo sem ver as duas, que agora também considerava-as um tipo de estranhas. Britney comia como uma dama e ela se sentia na obrigação de ser essa dama também. Então começou a imitar a irmã. Se Britney dava uma garfada na salada, Annika fazia o mesmo. Se Britney bebia o suco de açaí em sua taça de cristal, Annika também bebia. Tudo o que ela queria era ser aprovada pela irmã. Mas Britney percebeu o que ela estava fazendo.

— Você pode parar de me imitar? — Britney fitou Annika, falando séria. Annika largou o garfo.

— Desculpe. — Disse, encolhendo os ombros e desviando o olhar.

E então, Annika ouviu passos vindos da porta da frente. Os passos foram ficando mais próximos até que o homem que os fazia entrou na sala de jantar.

— Meu Deus, hoje o trânsito está uma loucura! — Ela ouviu-o dizer. Annika conhecia aquela voz, o que era muito estranho.

— Pensei que não viesse mais! — Helia levantou-se e deu um rápido beijo nos lábios do homem. — Annika, este é Edgar, o meu noivo.

Annika virou o olhar até parar em Edgar. Quando o viu, engoliu em seco. Edgar fitava-a com os olhos arregalados, ao mesmo tempo em que tentava não parecer tenso na presença dela.

Annika sabia de onde conhecia a voz daquele homem forte e careca que era noivo de sua mãe, apesar de pensar que não iria vê-lo novamente. Annika estava frente a frente com o primeiro homem que havia visto ao chegar em Starlight Shores.

O noivo de sua mãe era o taxista que havia assediado-a na noite anterior.


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Notas finais do capítulo

TCHAM TCHAM!!! Olha só a mega treta que isso vai dar! Ficaram curiosos para saber o que vai acontecer, sisters? Acompanhem, favoritem e divulguem pros abigos. Beijokinhass e até o próximo capítulo.



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