Estio_[DEGUSTAÇÃO] escrita por Senhorita VI
Notas iniciais do capítulo
Ótima leitura para vocês!rsrsrs
CAPÍTULO VI
O jovem franziu a testa e suspirou profundamente irritado. Não lhe interessava o que Otelo e sua coquete andavam aprontando. Queria saber o que havia acontecido com sua irmã.
— Não fuja do assunto Triana. O que houve para ter se atrasado para o jantar? Ficamos todos preocupados e mamãe rezava sem parar! Sabe bem os perigos desta estrada ao anoitecer. O que tem na cabeça?
A vergonha voltou a formigar em sua face e ela, por fim, desistiu de comer e de mentir.
— Está bem Breno. Irei contar TODA a verdade, mas tudo começa com as armações de Otelo.
— Diga de uma vez o que tem Otelo e Domitila, então.
Porque o coque havia desmanchado, ela enrolou o espesso cabelo na mão e atiro-o para trás. Pegou a bandeja e a descartou, desistindo de vez do pernil e das verduras. Parecia completamente refeita da febre.
— Otelo me pediu para ir à casa de Domitila levar-lhe um recado. Pediu-me para avisá-la que o cerco estava se fechando e que ela alertasse o Sr. Pavanello. Que eles precisavam encontrar uma solução!
— O cerco? Que cerco?! – Breno franziu ainda mais a testa sem entender sobre o que Triana falava.
— É justamente disso que estou falando! – ela saltou da cama como uma gata – Eles estão aprontando alguma, estão perto de serem descobertos e têm o Sr. Pavanello como cúmplice.
Breno suspirou e sentiu que estava sendo ridiculamente enganado, novamente.
— Por Deus Triana! Acha mesmo que Damião Pavanello se meteria em alguma confusão com Otelo? O que vejo aqui é uma mocinha querendo fugir do assunto.
Inconscientemente era exatamente isto que ela queria.
— Tudo bem Breno... – e suspirou, vencida. - Mas não vou admitir que me recrimine, certo? Sou responsável e sei muito bem cuidar de mim. – aquele assunto estava deixando-o cada vez mais preocupado. – Eu estava na companhia do Sr. Renato Restelli. Estávamos conversando.
— Restelli?! – E como se estivesse sentado em uma mola, saltou da cama. – Quem é este sujeito?
— Justamente sobrinho do Sr. Pavanello. Estava na festa da colheita, na casa de seu tio. Não lembra?
— Lembro-me muito bem. – Triana via a sua frente não mais o seu irmão gêmeo, mas um homem feito, de mãos enfiadas nos bolsos, olhar sisudo e que passaria tranquilamente por um pai bravo. – O que quero saber é... Onde e por que estava na companhia deste senhor?
Ela não sentiu vontade de rir, apesar da postura e cobranças de Breno serem motivos de graça para qualquer irmã. Contudo, ergueu o rosto e o encarou com a devida compostura e cheia de dignidade.
- Ele me pediu um pouco de sua atenção, então sentamos à beira do bosque e conversamos amenidades por cerca de uma hora. Ele foi muito respeitoso e gentil.
Como estava mais preocupado em demonstrar sua autoridade e conseguir o respeito da irmã, Breno nem mesmo percebeu a respiração curta e o tremor nas pálpebras de Triana, sintomas de insegurança quanto ao que falava.
— Uma hora?! À beira do bosque?! Onde está seu juízo, Triana?!
Imediatamente, ruiu toda a sua postura de senhora e a dignidade deu lugar ao medo de que Jesus, ou outro alguém, os escutasse.
— Fale baixo, Breno! Quem está sem juízo agora é você! – aproximou-se dele e segurou-o pelos ombros, encarando-o e levando-o para perto da janela. – Sei que fui... Tudo bem, fui irresponsável. Mas não sou louca! Se me dei ao desfrute de acompanhar este senhor e sentar-me com ele por uma hora à beira do bosque, é porque senti que posso confiar nele.
O que via nos olhos verdes de Triana era sinceridade, mas a sua aflição não diminuiu por conta disso. Também era consciente de que um sobrinho do Sr. Pavanello jamais seria louco o suficiente para fazer mal a qualquer garota da cidade, pois certamente seria caçado e morto antes mesmo que piscasse os olhos. O que o afligia era a língua do povo, mais venenosa que cem cascavéis. Temia que a verdade chegasse aos ouvidos de seu pai.
— Triana, por mais que este senhor seja gentio, mesmo que não tenha intenção, ele pode acabar comentando com alguém sobre este encontro e se...
— Ssssss..... De jeito nenhum! – ela sibilou assustada. Ele sabe que não pode comentar este tipo de coisa com ninguém. Ele não é um moleque, Breno. Já é um homem feito, é um importante e respeitável comerciante de Curitiba. Está aqui à negócios e se mostrou muito, mas muito educado e distinto.
Um breve divertimento perpassou a mente de Breno. Seria impressão sua, ou sua irmã estava levemente encantada com este Sr. Restelli? Será que vira um brilho especial nos olhos de Triana? Com um leve e coquete sorriso nos lábios, Breno a encarou.
— O que é isso? Por que está me olhando assim? – com desconfiança, ela percebeu o ar gozador de seu irmão tomar forma.
— Nana... Você está gostando deste Sr. Restelli?
Ela nem mesmo se deu conta de que seu queixo havia descido, mas ao perceber isto, tratou de erguê-lo imediatamente.
— Está doido?! Eu e Renato? - Mas seu rosto já estava totalmente corado. Era tarde demais para negar. Breno rompeu em gargalhadas, deixando-a furiosa. – Pára já com isto Breno! Ele é um homem muito sério, para ser motivo de suas chacotas.
— E quem disse que estou fazendo chacota com o Sr. Restelli? Estou rindo é de você! Quem diria, hein?
Ele se esquivou para escapar do golpe que ela estava pronta para lhe deferir e saiu correndo pelo quarto. Triana o seguiu, ainda na intenção de puni-lo pela brincadeira, mas a porta se abriu e Isabel os surpreendeu.
— Triana! O que faz de pé?
— Ela já está bem mamãe. – Breno ainda zombava de sua irmã - Não vê como está corada!
A fúria queimava seus olhos de Triana e, com birra, lembrava do quanto seu irmão dizia que ela ficava ainda mais linda quando estava irritada.
— Isto é bom, na verdade, muito bom. – disse Isabel, e abraçou a filha, beijando-lhe a fronte. – Agora vista-se, ajeite os cabelos e lave o rosto. Temos visitas para você.
Como se tivessem ensaiado, os gêmeos viraram as cabeças juntos e disseram uníssonos:
— Visita? Quem é?
— O Sr. Pavanello e seu sobrinho.
Todo o rubor que havia em suas faces escoaram como água e Triana empalideceu. O que ele estaria fazendo ali? Será que, ao contrário do que parecera, ele viera delatá-la? Mas por quê?! Por que faria isso com ela? Ele fora tão gentil... Até disse que a amava! Deus! E o pavor apertou-lhe o pescoço até quase sufocar. E se ele viesse contar sobre os beijos? Sobre como ela fora fácil e tola? Jesus iria matá-la!
— Não mãe!
Breno e Isabel a olharam com espanto.
— O que disse Triana? – Isabel perguntou, fechando a porta atrás de si.
— Mãe... Estou doente, lembra? E se for contagioso?
Breno segurou sua mão e lhe sorriu de forma cúmplice.
— Não se preocupe Triana, você já está bem, e se fosse contagioso, eu também já estaria doente. – abraçou-a e aproveitou para sussurrar-lhe ao ouvido: - Não se preocupe, vou sondar o clima na sala e volto para te avisar, ok?
Mais por conformismo do que por alívio, ela assentiu.
.........
Minutos depois, quando já estava devidamente vestida e com os cabelos em uma trança que lhe descia até a cintura, Triana recebeu Breno em seu quarto, que aproveitou a ausência de Isabel para lhe tranquilizar.
— Hei garota, está tudo bem.
Ela estava de costas, encarando-se no espelho e espremendo as mãos, quase em pânico.
— Como tudo bem? – virou-se para ficar de frente para Breno, que acabara de sentar-se na cama. – Sobre o que estão falando? Papai está zangado? E o Sr. Pavanello, parece envergonhado?
Breno franziu a testa e inclinou a cabeça com estranhamento.
— Por que estaria envergonhado? - Ela simplesmente balançou a cabeça, parecendo tão confusa quanto ele. – Não... Eles estão apenas conversando, e parecem bem felizes.
Triana deixou o ar sair de seus pulmões com certo alívio.
— E o Sr. Restelli? Que lhe parece?
Breno estendeu as pernas e cruzou-as na altura do tornozelo.
— É... Me parece um bom homem. Um pouco mais velho que você, mas isso denota responsabilidade. – Breno fez uma pequena pausa e, como o conhecia muito bem, Triana sabia que aí viria uma bomba. – Diga-me uma coisa Triana, durante a tal conversa que vocês tiveram, este homem tomou alguma liberdade com você?
O ar estagnou em seus pulmões e os olhos da garota se abriram, como se fossem saltar.
— Não! Claro que não! De onde tirou este absurdo?
— De lugar nenhum. Deixe para lá. Vamos descer porque papai já está ficando nervoso - Breno levantou-se e precisou puxá-la pela mão, para que ela se mexesse. Ainda estava atônita e confusa, com a pergunta do irmão. – Ah! E mostre-se um pouquinho abatida. Está me parecendo saudável demais, e papai pode não gostar disso.
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