Ariel no Mundo dos Avessos escrita por flowerblue


Capítulo 2
Coral's?


Notas iniciais do capítulo

Hello, my sunshines and moonlights.
Espero que gostem desse novo capítulo. Ele me deixou bem mais empolgada, pois, na minha opinião, ficou melhor que o primeiro.
Enfim, boa leitura. ♥



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"Quando ela era apenas uma garota

Ela tinha expectativas com o mundo

Mas isso voou além de seu alcance

Então ela fugiu em seu sono"
(Paradise-Coldplay)


  Arielle se levantou sentindo uma pontada de dor, porém nada se lembrava da noite anterior.
  Enquanto escovava os cabelos e colocava sua roupa, ouviu a porta se abrindo e direcionou o olhar até ela.
— Coral’s? — ela perguntou surpresa.
— Olá, senhorita Schlüter. — responderam as gêmeas em uníssono.
  A pequena Ariel correu até elas, envolvendo-as em um abraço apertado ao qual cada uma se envolvia com apenas um braço. O trio estava de volta, finalmente.
— Achou que iríamos perder o primeiro dia de aula? — perguntou Coralina, enquanto Coraline se distraía com uma unha quebrada, tentando consertá-la com o poder da mente.
— Achei que não iriam comigo... — Ariel respondeu, relembrando-se das lembranças que a perturbavam.
  Tudo se tornou silêncio enquanto as irmãs balançavam  a cabeça ouvindo o som medíocre do relógio. Nenhuma delas queria conversar sobre aquela época.
  Cada uma das gêmeas era caracterizada de uma forma, apesar de serem completamente iguais corporalmente. Coralina era como o Sol, assim como Arielle. Ela amava usar vestidos coloridos e ser doce com todos, completamente sentimental. Seus cabelos eram ruivos, fazendo suas sardinhas dançarem em suas bochechas rosadas enquanto sorria, ou seja, a todo momento. Tudo fazia uma combinação perfeita com seus olhos castanhos. Era fabulosa.
  Já Coraline era perturbada, quieta, distraída. Seus cabelos tingidos de preto eram harmônicos e desciam até as pernas, era muito bonito. Seus olhos, também castanhos, pareciam envolver e detalhar tudo, apenas observando, nunca relevando o que viam. Resumidamente, era como a Lua, sorrateira.
— Vamos? — elas perguntaram em uníssono, como se em todo o momento soubessem o que dizer.
  Arielle logo assumiu seu lugar no trio, entrando no meio das duas e as separando, segurando a mão direita quente de Coralina e a mão esquerda fria e escorregadia de Coraline.

                                              ❦ ☙

 Ariel andava de um modo inseguro, porém as duas gêmeas mantinham postura ereta e Coraline lançava o tempo todo olhares desafiadores e medonhos para as pessoas ao redor. Os passos das duas eram completamente calculados e iguais, enquanto Arielle errava algumas vezes, sempre olhando para o chão e tentando acompanha-las. Mal percebeu quando um grupo de garotas se aproximou.
— Com licença. — ela ouviu uma voz impaciente e levantou o olhar.
Era a imagem mais patética que já vira em todos os seus doze anos.  Quatro garotas estavam paradas a sua frente, vestidas completamente iguais.
— Vocês não ouviram? Com l-i-c-e-n-ç-a.
  Arielle se arrepiou ao perceber o olhar estranho da garota, com certeza era familiar. Um de seus olhos aproximava-se do tom amarelado, enquanto o outro era caramelizado, a diferença era extrema e presente em todas as garotas. Só então percebeu que Coraline apertava muito sua mão, encravando profundamente as unhas.
— Mude de caminho você, princesa. — respondeu Coraline, fervendo de raiva.
  Nenhuma delas demonstrou se sentir ameaçada.
— Você não deveria falar assim comigo. — respondeu, o que apresentava ser a líder.
 Soou como uma ameaça e o trio simplesmente trocou olhares nervosos. Coralina não repreendeu a irmã dessa vez, já cansada de repetir a mesma coisa.
 As quatro garotas mudaram de caminho, fazendo questão de esbarrar nas gêmeas e lançar um  olhar sinistro para Ariel. Aquilo a fez sentir dor, deduzindo que aquele grupo representava perigo, muito perigo.
 Elas seguiram em silêncio por cinco minutos, andando pelo longo corredor da escola e se dirigindo à sala de aula. Como sempre, Coralina resolveu espantar o silêncio.
— Ok, ok, eu não aguento mais. Nós deveríamos fazer amizade, e não continuarmos afastando as pessoas. — ela disse diretamente para Coraline, ignorando totalmente Arielle.
 Todas sabiam quem era a líder, e a líder estava totalmente cansada de tentar, repreendendo a irmã com o olhar.
— Você sabe o que aconteceu da última vez, Sunshine. — soltou Ariel, tampando a boca rapidamente.
 Era proibido expor tal apelido, porque ela simplesmente revelou-o?    Elas ignoraram, assustadas, e seguiram até seus lugares na sala.
 As gêmeas, como sempre, ficaram juntas, uma do lado da outra ignorando a dor e esticando os braços o máximo possível,  ficando de mãos dadas. Era como um eclipse e Arielle com certeza era a Terra.
 Ariel olhou ao seu redor, procurando uma cadeira disponível.
— Olá — um garoto completamente estranho apareceu à frente de Ariel.
 Ela deu um pulo para trás, sentindo seu coração bater forte por causa do susto.
— O-olá.
 Os cabelos pretos do menino destacavam seu rosto angelical, sua boca rosada e os olhos intensos pretos. Ele tinha uma expressão engraçada e parecia estar rindo interiormente. Arielle sentiu-se tonta, completamente desnorteada quando ele também lhe pareceu familiar.
— Você poderia dar licença? Esse é o meu lugar. — disse fazendo-a sair da sua distração, percebendo só então que estava ao lado de sua cadeira.
— Me desculpe.
— Não precisa se desculpar, talvez esse não seja o meu lugar. — ele sorriu, se divertindo com a situação.
 O menino passou ao seu lado e sentou-se, porém ela só o via pelo canto dos olhos, evitando contato visual completo.
— A cadeira ao lado está vazia há muito tempo. — ele sussurrou.
— O que disse? — ela perguntou, jogando os cabelos louros no rosto e virando-se para olhar a cadeira.
  O garoto riu graciosamente.
— Ela não morde, e nem eu. — ele respondeu, piscando o olho. — Ou talvez, quem sabe...
  Arielle soltou uma risada profunda, quase tão alta quanto o barulho do sinal soando, fazendo todos olharem curiosamente para ela. A dor no coração invadiu-a novamente.
— Qual o seu nome? — o garoto perguntou após alguns minutos, quando todos pararam de olhar e comentar sobre ela.
  Ela hesitou em responder, observando as irmãs e suas mãos. Elas nunca viravam a cabeça para conversar, era como se tivessem uma ligação mental.
— Arielle. Arielle Schlüter. E o seu?
 O garoto tamborilou os dedos na mesa, e com a outra mão, afrouxou a jaqueta preta enquanto olhava diretamente para os cabelos de Sunshine, fazendo-a o olhar. Ela percebeu, por uma fração de segundos, que o olhar não trazia apenas estranheza, mas também carinho e curiosidade.
— Mond. Pode me chamar de Mond.
  A menina pensou consigo mesma o quanto aquele nome soava estranho, voltando o olhar para as irmãs.
  Na nuca de Caroline, agora em parte descoberta, ainda haviam as cicatrizes profundas.
  A professora chegou e a sala toda se calou, fazendo Arielle perceber que  também deveria permanecer em silêncio absoluto.
  A mulher era alta, magra, totalmente branca e possuía lábios muito vermelhos. Os olhares percorriam todos da sala, sem exceções, até parar em Ariel, que ficou paralisada por ela ter permanecido ali por tanto tempo, bem mais que nos outros.
  Ela sorriu de lado e começou a sua sombria aula de literatura, ao qual Sunshine percebera ser voltada para o mundo da fantasia e terror.

                                            ❦ ☙

 Já na hora de ir embora, Arielle saiu da escola e seguiu até o gramado, sentando e esperando suas fiéis amigas. Logo sentiu uma presença ao seu lado, olhando discretamente para o alguém.
— Mond? O que está fazendo aqui? — ela se arrependeu, pois fora um tanto mal educada.
 Ele sorriu de lado e parecia deliciar cada palavra que ela disse, deixando-a espantada.
— Bom, pensei que quisesse uma companhia para ir embora. —respondeu, beijando delicadamente a mão de Sunshine. — Porém, se não quiser, também é uma opção. — ele respondeu olhando para o céu, e logo voltando a falar. — Já podemos ir?
 Ela procurou suas amigas e chegou ao ponto de rezar para que estivessem ali, mas o uníssono não queria dar as caras.
— Elas já foram, não se preocupe. — ele disse se levantando e limpando a terra da calça. — Venha.
 Ariel se levantou e limpou o quanto pôde, olhando sempre para baixo.
— Não, elas não podem ter ido. Porque elas iriam sem mim?
 O garoto deu de ombros e apontou para o carro da Senhora Ang Magagandang Lady –assim os outros alunos a chamavam– , a professora de literatura. As garotas estavam dentro do carro.
— Acho que a professora tem interesse nelas. — respondeu.
 Enquanto andavam, Arielle cantarolava sussurrando e pensando no quão estranho seria “ter interesse nelas”. Interesse escolar? Interesse em fazer amizade?
— Os tesouros do mar...
 Ela resolveu parar, afinal aquela era uma cantiga para se cantar sozinha. Era a única lembrança feliz que tinha dela e de sua mãe. Na verdade, era a sua única lembrança.
— Deverá procurar. — ele completou.
 Sunshine direcionou um olhar surpreso, fazendo o menino sorrir de lado novamente. Um dos seus maiores charmes.
— Como você conhece essa música?
 Eles continuaram em silêncio enquanto o menino assoviava com as mãos no bolso.
 Arielle resolveu ignorar, é claro que outras pessoas conheceriam essa música. Não era dela, certo?
 Chegando em casa, Ariel não sabia como se despedir. Talvez um aperto de mão? Não foi preciso pensar tanto, pois logo o garoto se aproximou e a envolveu em um abraço. Ariel não retribuiu, pois sentiu um choque ao toque dele, um choque extremamente forte. Parte de sua mente tentava lhe alertar, fique longe dele. Mas seu coração dizia o quanto queria conhecer mais aquele menino. Era um choque de indecisão.
  Ele se afastou e encontrou os olhos da menina sereia, que sorriu ao perceber aquele olhar intenso.
— Seu sorriso é como uma luz. — ele sussurrou, virando-se e indo embora. — Espero que nos tornemos amigos. — gritou, já virando a esquina e acenando.
  Ela queria entender o que acontecera ali, queria muito.

                                             ❦ ☙ 

  Já na hora do jantar, Arielle permaneceu perturbada, nem se preocupando no quanto sentia fome. O dia todo ela esteve assim, sem notícia das gêmeas e pensando em Mond.
— Como foi a escola hoje, querida? — sua mãe perguntou, já que seu pai permanecia com o olhar perdido no relógio.
— Legal? — ela respondeu em um tom desanimado.
  De repente, seu pai se levantou e seguiu até as escadas. Seus passos eram silenciosos, talvez descrevendo o quanto ele se sentia cansado por trabalhar tanto.
  Após alguns minutos, Ariel repetiu o processo de dividir grande parte da comida com Júpiter e seguiu para o andar de cima, onde seu pai estava novamente perdido no trabalho. Ela adentrou no escritório com seu peixinho de pelúcia e colou seu olhar ao pai, que permanecia sentado e digitando rapidamente e fortemente nas teclas.
  “O que você quer, Ari?” Nem isso a menina não ouvia mais.
  Resolveu sair dali e dormir, amanhã talvez o dia seria menos estranho.

                                               ❦ ☙ 

    Arielle abriu os olhos e se sentiu zonza, respirando com dificuldade. Seus olhos demoraram a se acostumar com a neblina e a claridade.
  Após um bom tempo, Sunshine arregalou os olhos ao perceber que não era uma neblina, mas sim água, ela estava dentro do mar e agora via com facilidade os peixes e algas que ali se encontravam.         Logo percebeu que estava dentro de uma cela, agitando-se para frente para conseguir sair dali. Quando tentou dar um passo, abafou um grito ao olhar para as suas pernas, ou melhor dizendo, uma cauda verde como sua fantasia, mas com certeza não era uma roupa, era completamente real. Agora, respirando com facilidade, percebeu que não deveria conseguir respirar ali. E muito menos ter uma cauda.
  A garota começou a chorar desesperadamente, afinal nunca passara por isso antes. Ouviu um barulho segundos depois atrás de uma enorme alga que se encontrava do lado esquerdo de sua prisão, ao qual ela rezou para não ser o pior.
   Um menino com uma cauda azul escura e os olhos azulados seguiu até ela. Ela não sabia ao certo determinar como era seu rosto ou qual a cor de seu cabelo, mas ele queria ajudá-la, com certeza. Ou não.
   Ele riu loucamente ao perceber a inocência no olhar de Ariel.
— Logo, logo você estará aqui verdadeiramente, minha pequena Sunshine.
  Seus olhos, antes calmos como a maré, assumiram ar de uma grande tsunami.
  Arielle não sabia ao certo se sentia medo ou felicidade. Aquele lugar parecia ser maravilhoso, além de seu sonho ser conhecer o mar, porém aquilo parecia ser algo bem mais sério e grande.
— Sim, minha pequena Sunshine. Algo extremamente grande. — o garoto respondeu como se pudesse ler seus pensamentos.
  A garota se encolheu o quanto pôde com a cauda, o que foi bem difícil.
— Agora não, meu pequeno Moonlight. Deixe-a aproveitar a paz enquanto esta ainda lhe resta. — uma voz afeminada ocupou o lugar. Era uma voz forte e manipuladora.


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Notas finais do capítulo

Bom, se acostumem com a estranheza do Mond. É um personagem que quero investir muito, muito mesmo nele.
Enfim, espero que tenham gostado.
Kisses, my moonlights and sunshines.♥
(Qualquer comentário construtivo é bem-vindo. Favoritar e acompanhar também não são más ideias).



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