The Wicked escrita por Jules


Capítulo 5
Capítulo V


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, leitores!

Aqui vai mais um capítulo, espero que gostem.
Vou tentar postar semanalmente e fico feliz que vocês estejam comentando sobre a história porque é uma boa maneira de saber que vocês estão aí.
Enfim, curtam esse romance enquanto ele dura, ok? Não prometo que as coisas vão ficar boas por muito tempo.

Boa leitura.



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V

Beijar um defunto. Sem dúvida alguma.

— Bem, Cherry. Isso é nojento.

O sorriso era claro no rosto do garoto conforme ele se divertia com minhas opções, uma pior do que a outra. Tate se balançava vagarosamente na pequena poltrona no quintal da casa, seus olhos negros iluminados pela luz que vinha da piscina ao nosso lado. Era engraçado como aquele ângulo de iluminação tinha um efeito mórbido na sua aparência fantasmagórica, como se alguém segurasse uma lanterna debaixo do seu queixo, acentuando todos os seus traços naturalmente bem delineados.

E nem preciso falar do balanço lento na cadeira.

— Você perguntou, então arque com sua imaginação gráfica. Eu escolheria milhões de vezes beijar um defunto a ter que ir à um encontro com Johnny.

— Vocês fariam um casal legal.

Ele retrucou em tom completamente debochado. Usei minha melhor expressão de nojo para explicitar meu descontentamento com aquela questão.

— Você é lunático. E é a minha vez.

Sorri em tom maquiavélico conforme tentava pensar em quais duas opções eu daria à Tate naquela noite. Nós havíamos nos cansado da festa e da multidão de pessoas que vagavam pela minha casa, então decidimos que seria uma boa ideia ficar conversando na beira da piscina onde haveria menos barulho e menos pessoas circulando.

Os garçons passavam de tempos em tempos oferecendo canapés e novas taças de suco de uva, mas fora isso apenas um ou dois convidados passavam por ali. E enquanto Tate havia sugerido passarmos o tempo com um jogo de “would you rather”, decidi me sentar sobre uma das espreguiçadeiras e observar as estrelas no belíssimo céu que nos cobria.

— Vamos lá, essa vai ser difícil para você: você preferiria matar alguém ou ser morto?

Eu imaginei que minha pergunta fosse surpreender Tate, mas esperava que ele fizesse mais do que erguer uma sobrancelha. O garoto continuou com seu movimento lento sobre a cadeira, me observando em tom entretido e levemente divertido.

— Uau, ela até está fazendo perguntas mórbidas.

— Certo? Me surpreendi por você não ter feito uma ainda.

— Você não gosta quando eu faço.

Ele deu de ombros, como se aquela justificativa fosse óbvia. Senti meu coração bater um pouco mais forte com aquela fala. Ele estava evitando aquele tipo de tópico para me fazer feliz? Eu não sei qual era o meu problema mental, mas tive que resistir ao impulso de soltar um “awn”.

— Eu gosto de você. — Respondi em tom confiante, ganhando a atenção dos olhos negros. — Então eu suporto se você quiser vir com seus papos melancólicos para cima de mim.

— É mesmo?

Ele ergueu uma sobrancelha novamente, eu apenas assenti. Tate concordou com a cabeça, interrompendo seu balanço para inclinar o corpo para frente e apoiar os cotovelos sobre os joelhos.

— Você tem razão, é muito difícil responder. Deixa eu fazer uma pergunta então.

— Isso é contra as regras.

— Você vai sobreviver. — Ele deu de ombros, tirando uma risada gostosa de mim. Balancei a cabeça em negação. — Você preferiria pular nessa piscina na frente de todos os convidados pomposos dos seus pais ou me dar um beijo?

Eu tive que me conter muito para não tossir ao engasgar em surpresa. Encarei os olhos negros sérios e me perguntei se aquele seria algum tipo de piada, mesmo que eu desejasse com todas as minhas forças que não fosse. Quando Tate não se manifestou, comecei a gritar como uma criança internamente, fazendo o possível e o impossível para não transparecer a ansiedade que aquelas simples palavras geraram.

Ainda assim, acho que ele notou. Seus olhos negros me engoliram completamente pela maneira com que ele me observava. Seus lábios estavam tortos em um sorriso, passando uma mensagem completamente dissonante ao brilho que eu via no seu semblante. Tentei pensar nas melhores formas para responder àquela pergunta, mas as palavras me fugiam.

E, enquanto isso, eu me controlava para não morrer.

— Pensei que o intuito desse jogo fosse dar duas opções ruins.

Consegui finalmente pronunciar, tirando forças e confiança de locais que eu nem sabia que existiam. Por dentro eu era uma garota gritando ridiculamente, enquanto por fora consegui manter minha pose de quem não estava impressionada com aquela pergunta jogada propositalmente para me chocar.

Por que Tate gostava tanto de chocar?

— E não são?

Ele retrucou. Um sorriso de canto se formou em meu rosto e senti meu coração reclamando dentro do meu peito. Eu poderia ter até ter culpado o álcool, mas nós não bebemos nenhum. Me coloquei de pé e me aproximei da cadeira do rapaz, apoiando minhas mãos sobre os braços da mobília e aproximando o meu rosto do dele. Tão perto que consegui distinguir a discreta linha que separava suas írises de suas pupilas.

— Você tem razão, são. — Assenti, ganhando ainda mais a atenção do rapaz. — Só um beijo? Seria uma opção terrível. Vou ter que escolher pular na piscina. Sem roupas.

Tate deu risada, mas isso não serviu como impedimento algum. Nossos rostos se aproximaram até que eu pudesse sentir os seus lábios contra os meus, fazendo o meu coração pular dentro do peito, tão forte que fiquei com medo de ele ouvir. Não sei dizer ao certo quem beijou quem primeiro, mas isso pouco importava. O único fato relevante naquele momento era o sabor dos lábios de Tate, o delicioso silêncio e a brisa suave que acariciava os nossos corpos.

E, Deus! Que opção ruim seria beija-lo apenas uma vez! Me vi completamente em transe pela sensação de frio na barriga, coração acelerado e corpo arrepiado conforme eu matava uma vontade maluca que só havia percebido que existia agora. E talvez aquele desejo sempre estivesse comigo mesmo, desde a primeira vez em que me deparei com os olhos negros ou troquei palavras sarcásticas.

Tate tinha algo muito atrativo e isso foi óbvio desde o princípio.

Eu só não sabia que a força que nos puxava, que nos atraía daquela mineira, era a gravidade em torno de um buraco negro.

[...]

Eu sei que é idiota, mas não tive coragem de contar às minhas amigas o que havia acontecido na festa dos meus pais.

Duas semanas se passaram na medida em que comecei a viver minha vida dupla, conciliando os momentos em que eu passava com as garotas ou com Tate. E, Deus! Era cansativo. Eu queria poder dizer a elas tudo o que aconteceu, que talvez Tate e eu fôssemos mais do que amigos, mas não achei que seria necessário causar esse tipo de estresse no grupo, principalmente porque eu e o garoto não éramos “oficial” ou algo do tipo.

E, bem, por mais que eu quisesse muito, preferia esperar até que eu chegasse com notícias concretas.

O lado bom era que sempre que eu dizia à Tate que não poderia estudar naquela tarde porque sairia com minhas amigas, ele não demonstrava interesse em nos acompanhar. Aparentemente, o esforço do garoto para manter contatos sociais era direcionado unicamente a mim, e eu estava ok com isso. Pelo menos eu sentia que havia conseguido quebrar a barreira que Tate criava entre si e as outras pessoas, o que já significava um grande avanço.

Eu percebi que talvez as coisas estivessem ficando sérias quando começamos a nos ver aos finais de semana. Eu adorava passar o tempo com ele, principalmente porque os estudos haviam ficado muito mais interessantes agora que envolviam alguns beijos no processo. E o que eu não faria por aqueles beijos?

Meus almoços ainda eram das meninas e algumas tardes também — já que elas descobriram que tinham o poder de alegar que eu estudava demais e que precisava sair para me descontrair. Eu nunca escondi nada delas em relação à Tate e eu, mas elas também nunca perguntaram e deixei por isso mesmo. É claro que agora era bem mais difícil escuta-las xingando o garoto sem sentir vontade de gritar, mas eu me controlava.

Pelo menos assim eu conseguia evitar uma terceira guerra mundial.

Eu estava focada no meu texto de história antiga porque não tinha conseguido estudar e estava com medo de não ir bem no teste. Minhas notas estavam todas com o belíssimo “A+”, mas era difícil mantê-las em estado perfeito quando eu tinha tantas distrações me puxando dos estudos o tempo todo.

Por sorte Tate não fazia aquela aula comigo, porque história já era desinteressante por si só. Com ele do meu lado, eu estaria fadada a levar um grande e belo F.

Meu nariz estava tão enfiado no livro que sequer percebi quando Georgia se aproximou, cantarolando uma música que eu conhecia muito, muito bem.

Hello daddy, hello mom! I’m your ch-ch-ch-ch Cherry Bomb!

— Muito obrigada, Geo. Não é como se eu não tivesse vivido a minha vida inteira escutando essa música como um trocadilho ruim ao meu nome.

— Eu sinceramente achei que seus ouvidos estavam tampados pelas capas do livro. Está querendo dar uns beijos na imagem de Mao Tsé-Tung? Porque você está quase lá.

— Eu te odeio.

— Bom dia para você também, princesa.

Soltei uma risadinha gostosa com o breve diálogo — agora costumeiro — matinal com uma das minhas melhores amigas. Georgia pegou a cadeira atrás de mim como de costume. Provavelmente ela tentaria colar e se ferraria porque ela não estava me deixando estudar para a maldita prova!

Larguei o livro quando parei para observar um panfleto que ela escorregou, lentamente, pela minha mesa. Revirei os olhos, pegando o papel e analisando-o impacientemente.

— O que é isso?

— Isso, minha querida amiga, é o meu feriado preferido no mundo: halloween!

— Faz sentido. É o dia das bruxas.

Abri um sorriso de canto com meu próprio trocadilho, recebendo uma risada sem humor da loira. Georgia se inclinou na minha direção para que pudesse apontar para o texto que eu não havia tido paciência para ler. Ergui uma sobrancelha.

— E sabe o que mais acontece no dia das bruxas? Show de talentos.

— Hm... O que vamos cantar? Spooky Spooky?

Georgia revirou os olhos com minha pergunta irônica.

— Bem, como eu sou uma ótima amiga e sei que minha ótima amiga canta muito bem, eu nos inscrevi.

— Espere, o que?

— Se você segurasse suas piadinhas para realmente me escutar, você iria se empolgar. Então, basicamente esse é um show que a escola organiza para as pessoas poderem fazer... Bem, o que eles quiserem. Tem de tudo: danças, piadas, etc. A visibilidade é ótima e o evento é aberto para o público. Ou seja...

— Existe a chance de alguém importante me descobrir. — Arregalei os olhos na medida em que aquela proposta ia fazendo sentido. Abri um sorriso largo, um tanto empolgada com a possibilidade. — Quando vai ser?

— No Halloween em seis semanas. Duh. E a melhor parte: temos uma senhora de uma festa na casa da Lela depois do festival. O que me diz?

— O que tem pra dizer?! — Soltei uma risada animada, meus olhos brilhando conforme minha imaginação me carregava para todos os tipos de músicas que poderíamos apresentar. — Eu estou muito dentro!

— Perfeito. — Georgia sorriu, satisfeita com a minha animação. — E, por mais que você tenha me contado quão talentosa você é, eu não vou só acreditar na sua palavra bonita, ok? Não existe a simples possibilidade de eu passar vergonha na frente de toda a escola, então nós vamos ensaiar. E muito.

Tive que segurar a risada, sequer me sentindo ofendida pela loira duvidar de mim. De fato, minhas amigas nunca haviam me ouvido cantar e eu sabia que Georgia se importava demais com a sua imagem para sequer correr o risco de passar vergonha em público. E conhecendo a garota, o tal “ensaio” ao qual ela se referia seria mais semelhante com um treinamento militar do que qualquer outra coisa.

Mas tudo bem. Eu estava tão animada quanto ela!

— Toda quarta-feira depois que acabarmos com as rotinas de cheerleaders, ok?

— Geo, estamos mais do que combinadas.

[...]

As aulas comuns tinham cinquenta minutos de duração. As aulas de história antiga tinham dois anos e meio.

Saí me arrastando após ser bombardeada por uma série de perguntas para as quais eu não estava preparada e um tanto depressiva pela possibilidade de ter ido mal no teste. Eu não havia tirado um F, isso com certeza, mas não estava tão confiante assim no meu A+. Eu tinha que manter minhas notas altas porque era minha única obrigação e eu não queria, de forma alguma, decepcionar os meus pais.

Eu teria que esperar o resultado do teste e depois ir conversar com Srta. Miller para ver se havia algum projeto extra que eu pudesse fazer para subir a minha nota.

Já estava no meio da criação do meu plano de ação para fechar história antiga com A+ quando fui completamente arrancada do meu caminho. Tudo bem que eu estava andando distraída, mas sequer percebi que alguém se aproximou de mim até o momento em que estava sendo arrancada para fora do corredor e jogada dentro de um espaço apertado que cheirava a produtos de limpeza muito fortes.

Senti meu coração disparar pelo susto, apenas intensificando suas batidas quando reconheci meu sequestrador.

Tate colou os lábios nos meus antes que pudesse sequer dizer alguma coisa. Soltei uma risada gostosa, observando o espaço com uma careta e me perguntando por que diabos ele havia escolhido justo o armário do zelador.

— Faça silêncio, eles podem te ouvir.

— Os gobblins? — Perguntei em um sussurro, imitando o tom exagerado com que ele falava comigo. Sorri ao vê-lo revirar os olhos. — Ah, sim. Os trolls.

— Quem é o lunático aqui mesmo?

Ele perguntou em tom divertido, fazendo com que eu risse em resposta. Bem, não havia sido eu quem havia sequestrado ele e sussurrado exageradamente que “eles” podem nos ouvir.  Seja lá quem eles forem.

— Você estava pensando em que? Fantasmas?

— No FBI, é claro. — O loiro deu de ombros, soltando uma risada sonora. Abracei seu pescoço, observando seu rosto com um sorriso estampado no meu. — O que?

— Você.

— O que tem eu?

Tate ergueu uma sobrancelha. Dei de ombros.

— Você me dá vontade de sorrir. — Dei de ombros, intensificando ainda mais minha expressão de completa idiota quando percebi ele corar. Meu Deus! Como ele ficava fofo com as maçãs do rosto avermelhadas! — E eu tenho novidades! Georgia e eu vamos nos apresentar no show de Halloween!

— Vão? — Tate ergueu uma sobrancelha, parecendo legitimamente surpreso com a notícia. Assenti. — Você e Georgia realmente estão levando pra frente esse lance de amizade.

Revirei os olhos com o tom de desaprovação em sua voz.

— Ela é legal depois que você conhece. Estou cansada de ouvir um falando mal do outro e ser conivente com isso.

Percebi certo desconforto cruzar a expressão de Tate mesmo que ele tenha tentado disfarçar.

— O que ela fala de mim?

— Desde quando você se importa?

Retruquei em tom divertido. Eu jamais teria coragem de contar quais eram as coisas que minhas amigas falavam dele porque, bem, nem eu acreditava nelas. Não na imagem terrível que elas queriam me convencer que estava por trás do garoto que eu conhecia muito melhor do que qualquer uma delas.

— Eu me importo com o que você pensa. Então...

— Eu não as escuto, pode ficar tranquilo.

Sorri, sentindo meu coração apertar com aquele comentário. Colei meus lábios brevemente aos dele.

— Só... Não acredite no que elas falam.

— Tate, nada do que elas possam falar irá um dia me assustar mais do que as coisas que você me falou.

Uma risada baixa escapou dos seus lábios conforme ele assentia e fitava o chão, sem jeito. A parte mais engraçada daquela pequena piada era a sua veracidade. Tate tinha o costume de falar coisas bem intensas em prol de afastar as pessoas e eu havia experienciado aquilo em primeira mão.

— Olha... Pior que você tem razão.

— E é por causa da minha razão e da minha amizade com a Geo que não vou poder ficar para estudar hoje. Perdão. Eu prometi que íamos ensaiar.

— Porra. — Ele soltou um suspiro alto, fitando o teto. Dei risada da sua reação propositalmente exagerada. — Bom, ok. Mas eu te vejo de noite?

— De noite?

Ergui uma sobrancelha em tom curioso. Tate sorriu de canto conforme aproximou seu rosto do meu.

— Posso passar na sua casa.

—  Meus pais estão lá.

— Eu subo pela janela.

Ele rebateu. Soltei uma gargalhada divertida, apoiando a cabeça contra a parede da apertada salinha do zelador.

Teríamos ficado mais tempo ali, mas logo o sinal soou alto, tirando nossa atenção e me lembrando que eu estava — mais uma vez — atrasada para a minha próxima aula. Droga! A professora do coral já não era minha maior fã e agora eu me atrasaria para o início da sua lição. De novo. Quis bater em Tate, mas me limitei em depositar um beijo em seu rosto e voar para fora do armário, ouvindo ao longe apenas uma risadinha divertida.

— Te vejo de noite, Langdon!

— Mal posso esperar, cereja.

Sorri ao ouvir sua fala, agora coberta pela fala mais alta dos alunos que se dirigiam às suas salas de aula. Eu tinha três minutos e meio para cruzar três corredores sem tomar uma advertência por estar correndo.

Let the games begin.


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Notas finais do capítulo

Tks



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