Entre vãos escrita por Miss Birth


Capítulo 18
Dedução


Notas iniciais do capítulo

Todos a bordo da minha máquina do tempo! Captem as referências e bom divertimento! :)



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Manhattan, abril de 1970.

—“Howard? Howard!”, chamou Maria, caminhando em direção ao laboratório mantido pelo marido no apartamento em Nova Iorque. “Você está aí, querido?”

—“Sim, amor. Já estava no fim de alguns cálculos...”, ele respondeu, depositando um lápis ao lado do caderno de anotações que jazia mais do que riscado em cima da bancada.

—“Eu trouxe um chá de camomila.”, disse ela, carregando uma bandeja prateada com um elegante bule de porcelana, além de duas xícaras e açúcar em cubos. “Num dia chuvoso é importante se manter aquecido. Isso espanta resfriados.”

—“Meu preferido. Obrigado, meu bem.”, Howard agradeceu, sentando-se ao lado da esposa no confortável sofá do cômodo. “Desculpe a minha desconfiança, mas é só isso?”

Maria o olhou confusa.

—“Só isso?”, ela perguntou.

—“Geralmente, nos últimos meses, aliás”, ele explicou, “você mal caminha pela casa. E de repente aparece aqui pra me trazer chá?”

—“Sua dúvida quanto às minhas intenções são notáveis e até mesmo ofensivas, sr. Stark.”, Maria rebateu.

—“Sei que você ama isso.”, disse Howard, bebericando o chá cuidadosamente. “Mas diga-me o que tem pra dizer. A menos que já tenha dito.”

—“Peggy ligou.”, ela avisou. “Disse que a diretoria foi escalada para uma reunião em Washington.”

—“Como não ouvi o telefone tocar?”

—“Não posso fazer muita coisa.”, ela lamentou. “Foi ideia sua retirar o aparelho desta sala.”

—“Assim não sou incomodado.”, retrucou ele. “E então, nós vamos? Quero dizer, você vai ficar bem?”

—“Não temos escolha, How.”, disse Maria. “Além do mais, o médico nos deu um mês, lembra?”

—“Claro. Um mês para conhecermos nosso melhor projeto.”, Howard respondeu, acariciando levemente o ventre da esposa. “Estamos ansiosos, Tony.”

—“Tony? E se for nossa pequena Collins?”

—“Tendo uma mente brilhante... Tanto faz. Mas eu sinto que será Anthony. Tony Stark, para os íntimos. Gênio como o pai.”

—“Lindo como a mãe.”, Maria completou.

—“Vai ser lindo se for igual a mim também!”, ele protestou, beijando suavemente os lábios rosados de Maria.

*****

—“Tudo certo, querido? O carro está nos esperando. O avião partirá às duas da tarde.”, Maria chamou, olhando muitas vezes para o relógio em seu pulso.

—“Pra quê tantas malas, Maria?”, perguntou Howard, que tentava equilibrar as bagagens nas duas mãos. “Apenas dois dias na capital.”

—“Suas coisas, minhas coisas e as coisas da Collins. Caso ela queira chegar mais cedo.”, ela respondeu, abrindo as portas o máximo possível.

—“É Tony, amor.”, ele insistiu. “Anthony Edward Stark.”

—“Isso não importa agora. Estamos atrasados!”, Maria relembrou.

—“Qual a vantagem em ser dono de um avião se ele não pode me esperar?”

—“Até Howard Stark precisa ser pontual.”, respondeu ela. “Vamos embora.”

—“Às suas ordens, sra. Stark.”, Howard disse, fechando as portas atrás deles.

O caminho para o hangar particular da família Stark fora rápido e sem interrupções – logo o casal estava a bordo da aeronave que o próprio Howard projetara à sua maneira; poltronas confortáveis, semelhantes às camas de um hotel cinco estrelas, cozinha compacta, porém completa e mais que suficiente para o serviço aéreo, assim como TV, um piano de pequeno porte, massagens e uma vitrola clássica, equipada com os melhores discos da época. Certamente, um modo de sentir em casa enquanto cruzavam os céus em busca do seu destino.

—“Estou pensando em fazer um fondue. O que você acha?”, ele perguntou, interrompendo Maria, que lia um dos seus muitos livros que guardara ali.

—“Tudo bem, querido.”, ela concordou. “Traga-me uma taça de vinho tinto, por favor.”

—“Tem certeza?”, Howard indagou. “Não quero um filho com tendências ao alcoolismo.”

Maria sorriu.

—“Talvez assim ele durma e pare de se mexer tanto.”, ela respondeu, abraçando protetoramente sua barriga.

Conforme planejado, ambos ficaram por dois exaustivos dias em Washington, acompanhando as tradicionais reuniões estratégicas do há pouco reativado Departamento de guerra. O conflito no Vietnã estava cada vez mais tenso, exigindo a destreza excepcional que somente Howard e seus inventos podiam proporcionar. Além da espera pela chegada de seu primeiro filho e herdeiro, ele também ansiava retomar suas pesquisas a respeito de energia limpa. Desde seu trabalho com o Tesseract, após resgatá-lo do fundo do mar, alimentava a ideia de desenvolver um modelo de geração de energia que mudaria o rumo das coisas, tirando o foco das ogivas nucleares que por pouco não reduziam o planeta a cinzas em meio ao caos causado pela guerra entre as potências. Com o apoio e sigilo absoluto da S.H.I.E.L.D, a proposta para a construção do protótipo Reator Ark foi levada a diante, embora surgissem impasses vez por outra.

—“Sr. Stark. Posso entrar?”

—“É claro.”, Howard autorizou. “A menos que seja um maldito espião soviético.”

—“Fique tranquilo. Nicholas J. Fury, Major do exército americano.”, respondeu um jovem com cerca de vinte e poucos anos, devidamente uniformizado.

—“Major? Você não é jovem demais para isso?”, Stark questionou, o olhando dos pés à cabeça.

—“Modestamente, sou o melhor da minha geração, senhor. Fiz por merecer.”, disse ele. “A propósito, estou aqui para pegar o seu relatório a pedido do General Morisson.”

—“Tudo bem.”, concordou Stark, caminhado até a grande gaveta de arquivos de seu laboratório pessoal na base secreta da S.H.I.E.L.D. “Aqui está.”

Howard rapidamente assinou a primeira página do conteúdo e o entregou a Fury, que parecia com pressa.

—“Vai a algum lugar importante, Nicholas?”

—“Sim, senhor.”, ele disse prontamente. “Vou escoltar uns deportados até Moscou.”

—“Malditos traidores.”, Stark murmurou. “E maldito lugar também. Frio e socialista.”

Sete anos depois...

—“Para onde vai mandá-lo, Howard?”, Fury perguntou, ao observar a bagagem organizada na entrada do apartamento.

—“Andover, Massachusetts.”, respondeu ele, dando outro gole em sua dose de uísque. “Um colégio muito bem conceituado.”

—“Um internato, certo?”

—“Não vejo lugar melhor onde Tony possa estar, Nick.”, Howard justificou. “Ele vai exercitar sua genialidade enquanto fica seguro, longe do meu trabalho.”

—“Talvez uma decisão drástica demais.”, Maria disse, carregando o filho adormecido em seus braços. “Tony precisa de nós, querido.”

—“É o melhor que podemos fazer, Maria. Estamos no meio do fogo cruzado, torcendo para não jogarem uma bomba sobre nosso país, sobre a nossa casa!”

—“E se por acaso nos acontecer alguma coisa?”, ela instigou, contendo as emoções que a destruíam por dentro. “Nosso menino ficará sozinho?”

—“Anthony é esperto demais, meu bem. Só estamos o direcionando para um futuro melhor. Ele estará ocupado na sua formação escolar, aprendendo a resolver os desafios da próxima geração. Estou envelhecendo. Mas não vou morrer sem antes prepará-lo. Acredito no potencial deste rapazinho.”, Howard frisou, bagunçando carinhosamente os cabelos do filho.

*****

—“Agente Romanoff? Na escuta?”, Fury perguntou.

—“Sim, senhor. Estou na escuta.”

—“Venha até a diretoria.”, ele ordenou. “Tenho uma missão especial para a senhorita.”

—“Entendido.”, Natasha confirmou, desligando a conexão entre os intercomunicadores e dirigindo-se à sala do chefe.

Em poucos minutos de caminhada pelos corredores do Triskelion, o maior quartel general da S.H.I.E.L.D, localizado às margens do rio Potomac, em Washington D.C., pegando carona em um dos silenciosos elevadores de vidro da base, Romanoff chegara ao andar do escritório de Fury, que a aguardava para o repasse de sua nova atuação como agente especial.

—“Sente-se, agente Romanoff.”, Nick pediu, indicando-lhe uma poltrona.

—“Já vi que a conversa não será curta.”, ela disse, seguindo a sugestão do chefe e acomodando-se sobre o assento.

—“E a missão urgente.”, ele completou. “A S.H.I.E.L.D vem monitorado cada passo de seus possíveis aliados, ou seja, está na cola daqueles que apresentam qualquer tipo de habilidade aproveitável aos interesses da segurança mundial.”

—“Seja específico, Fury.”

—“Veja isso.”, disse Nick, abrindo diante deles uma tela holográfica com diversas informações aparentemente aleatórias. “Você reconhece este homem?”

—“Tony Stark, certo? O playboyzinho da América.”, ela desdenhou.

—“Esse mesmo. Filho de Howard Stark, um dos fundadores desta organização. O garoto prodígio impressionou o mundo com sua última invenção e chamou minha atenção também.”

Romanoff franziu o cenho.

—“Como ele conseguiu?”

—“Segundo os dados obtidos pelo departamento de inteligência de nossa base em Los Angeles”, Fury continuou, “Stark alimenta sua armadura utilizando a tecnologia desenvolvida pelo pai no século passado. Um projeto grandioso, baseado num antigo artefato que a H.Y.D.R.A utilizou para fabricar armas durante a guerra.”

—“Qual o problema? O riquinho está fazendo algo errado?”, ela indagou.

—“Receio que Stark esteja correndo sério risco de vida.”, respondeu ele. “Quero enviá-la para ficar de olho nele.”

—“Como uma babá?”

—“A infiltraremos nas Indústrias Stark. Seu disfarce já está sendo preparado. Dê um jeito de se aproximar dele, da assistente Virgínia Potts... Descubra o que Tony está fazendo para remediar um problema em potencial.”

—“E quando começo?”

—“Você pegará um avião para a Califórnia hoje mesmo.”, Fury instruiu. “Marcamos uma entrevista de emprego na Stark para amanhã a tarde. Outras informações sobre a missão estarão disponíveis no pacote que Coulson lhe entregará pessoalmente no desembarque.”

—“Mais alguma coisa, senhor?”, Romanoff perguntou, aprontando-se para sua partida.

—“Abrace Phillip Coulson por mim!”

*****

—“Bem vinda à Los Angeles, agente Romanoff.”, Coulson cumprimentou ao recebê-la no aeroporto da cidade.

—“Obrigada, Phil.”, ela agradeceu. “Por que tive que vir num voo comercial?”

—“Faz parte do sigilo da missão.”

—“Tão importante assim?”, Natasha questionou.

—“Ajudará a manter a neutralidade de seu disfarce.”, Phil explicou. “Agora vamos embora. O carro nos espera lá fora.”

Base da S.H.I.E.L.D, localização confidencial.

—“Nick lhe mandou um abraço, Coulson.”, Romanoff repassou o recado do chefe. “Parabéns por ser o favorito do diretor.”

—“Não tanto como Stark.”, ele disse.

—“A S.H.I.E.L.D está pensando em recrutá-lo, é isso?”

—“A Iniciativa Vingadores, lembra? Stark está sendo cotado para fazer parte da equipe.”

—“Isso vai dar certo mesmo?”, perguntou Natasha, pensando na reputação um tanto problemática do homem no qual eles se referiam.

—“Fury parece confiar nele.”, Coulson se limitou a dizer.

—“Talvez ele esteja tentando homenagear Howard Stark por colocar seu único filho na lista de aprimorados.”, ela observou.

—“Talvez.”, Phillip concordou. “Bom, é melhor ir pro seu quarto, dar uma olhada no material e preparar-se para sua entrevista.”

—“Sem jantar?”

—“Depois do jantar, claro.”

*****

Embora se sentisse mais a vontade num combate corpo a corpo, enfrentando um brutamontes qualquer pelos trabalhos em campo da vida, Natasha era mais do que qualificada para missões de infiltração sob disfarce. Seu alto índice de aproveitamento durante o tempo em que passara na Academia de operações da S.H.I.E.L.D a colocava em primeiro lugar na lista de agentes escalados para missões desse tipo em circunstâncias incrivelmente voláteis, isto é, que estavam sujeitas a mudanças em seu curso original. Sem pestanejar, após vestir um pijama largo e confortável, ela sentou-se sobre a cama, abrindo cuidadosamente o dossiê que encontrara na gaveta do criado mudo posto no cômodo.

Percorrendo os olhos pela grande demanda de detalhes acerca do alvo, ela rapidamente absorveu informações que a auxiliariam em sua futura estadia na Stark. Desde banalidades a respeito da figura de Tony até seu currículo que, em parte, ostentava verdades sobre suas habilidades notáveis como profissional.

A parte mais irritante nessa história toda se tratava de lidar com o jeito egocêntrico e galanteador do presidente da empresa, sempre tão comentado na TV, principalmente após revelar-se como o alter ego Homem de ferro. Ao menos Natasha desfrutou do privilégio de conhecer um pouco sobre sua missão e o que encontraria pela frente – uma preparação a mais para o leão com o qual lutaria em troca de seu objetivo.

—“Viúva Negra está pronta para atacar.”, ela murmurou, jogando a pasta no chão e apagando as luzes. “Ou Natalie Rushman. Que se dane!”


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Notas finais do capítulo

Pensem no trabalho que dá se manter atualizada com a linha cronológica do UCM! O que me dizem sobre este capítulo?



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